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Que uma nova paixão não possa levar_Grossi, o Antigo (2020)__

Baseado nas histórias de ‘Carne viva’ e ‘A faca e o queijo na mão’ Uma obra de Grossi, o Antigo

Baseado nas histórias de ‘Carne viva’ e ‘A faca e o queijo na mão’
Uma obra de Grossi, o Antigo

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“Que uma nova paixão não possa levar”

Baseado nas histórias de ‘Carne viva’ e ‘A faca e o

queijo na mão’

Uma obra de Grossi, o Antigo


“Tudo é perigoso neste mundo, e tudo é necessário,

disse como Eremita”

Voltaire


Primeira parte,

Uma data no espaço e algo novo? Ou todos esses

anos passaram e realmente ainda me sinto como uma

Astarté criminosa? Aquela que não era culpada mas

sentia que ia morrer assim? Estou fazendo um livro

sobre uma Julia que não existe mais totalmente – eu

nem existo!? Sou pura ficção da minha própria

cabeça? Tudo isso, mais, e estou aqui, apresentando

um corpo literário e nem um pouco conceitual – de

lado com os esquemas, Julia sem subtítulos! É minha

vida, meu lado pessoal, meu olhar para dentro, eu

mesma. A desordem me atrai, intimidade jogada ao

vento; sou muito mais mulher do que tantas piratas

por aí! Nem se conhecem (…)

Não preciso e nem tenho disponibilidade para ficar

aqui enriquecendo muito, não sou nenhuma

profissional. As coisas são, fatos existem. Somente

falo o necessário; aquilo que veio do jeito bobo que

é fica como tal.

Analisar é bom, surpreender é, sei lá, interessante.

Sei que poderia dar alguns caminhos, contudo, vai…

deixar pistas é mais revelador. Sei também que vou

deixar muitos fatos, pessoas e tal de lado, mas isso é

normal, são acidentes do subconsciente – quem liga

para tanto? Quem… não mais? Quem não

considerou então os homens como eles na realidade

são, são insetos se devorando uns aos outros em um

átomo de… lama?

Ler não é criar uma expectativa? Qual o porquê de

se escrever este livro? Uma resposta pessoal ou coisa


de mulher interativa...? E meu nome é Julia! Parando

aqui, mostrando tantas páginas sobre uma Julia que

não existe mais totalmente – eu nem existo! Vinte

anos se passam, sou pura ficção da minha própria...

cabeça moderninha. Mas ando aqui, me

apresentando, esmagando dedinhos, literária e nem

um pouco conceitual... de lado com os esquemas

descritos, escritivos. É minha vida, o lado pessoal,

olhar para dentro, por eu mesma, já que a desordem

atrai (...) Não preciso, ué. É história, impressão,

biografia, é quotidiano e mentalidade. E logo é a

concentração bastarda; nada do que disse realizei no

total, fica ainda faltando um cado (...) Espalho Julia

em várias formas e ações, hunf, para aí colher uma

mulher tentando abraçar o mundo, e ele é claro e

vazio. Como um rio, tem dificuldades; é história, é

narração, é o que há de momento. No canto, entre

quatro paredes sujas à base de seduções e

psicotrópicos, é pelo silêncio dos intervalos de fluxo

mental seguido do jorrar que desenvolvo. Daí vem a

composição, o mosto vale!

Dançar sobre mim? Nesse desejo, durante o

tratamento? Escrevo, um dia alguém vai ver ou ouvir

as cartas de amor rasgadas e picadas em pedacinhos

que foram jogadas no bolso; roubos, furtos, mentiras,

reflexos, hábitos litigiosos, alguma adolescência

cambaleando nas ruas. Às vezes, muitas vezes, roubo

e minto coisas imateriais, mas porque é boa a

adrenalina nas veias. É... de propósito, moças. Julgar

as pessoas, autocrítica, perfeccionismo, mau humor,

autoritarismo etc... ‘Ela é realista demais. Ela é frágil

e tácita’, diziam. Tácita? Não pode ser real. Mas

escondo, secreta, senhora de mim, tenho coisas a

dizer… acho demasiado relevantes, fortes, feministas.


Não pensem que eu sou esquisita ou má pessoa.

Muito pelo contrário, sou apenas sincera e emotiva,

adoro a vida e novos ares, a música que sai aleatória.

Sou simples, mais do que pensam. Apenas pensativa

um tanto – um óleo entre dedos me surpreendendo,

cheiros, corpos, ahhh.

Óleo, as juntas renovadas e penso, vivo. Amante em

todos, Julia conflituosa, louca, e não escondo; quem

é que pode me proibir? Em que lugar que não vemos

referências? Não viemos do nada, Lispector também

não! Deus na figura de um homem ou um homem

na figura de um deus, quem veio do nada? Não

adianta camuflar o instrumento, a curiosidade e a

teimosia humana fazem mostrar o contrário. Vejam

só as crianças, e crianças precisam de estrutura

familiar, a positiva, para se tornarem adultos sem

problemas. Mas vem a adolescência e aí... desculpem

as crianças. Desculpem também as adolescentes, não

é para atingir ninguém. Desculpa, claaro. Os sonhos

da juventude devem ser cultivados e concretizados

enquanto há tempo, porque quando se é adulta eles

não voltam, sim, porque já foram esquecidos. Por

isso, tento dizer tudo agora; por isso os dualismos, é

necessário. No final das contas, humana demais. É da

minha natureza ser assim; já sei até que ‘egoísmo é

coisa da essência da gente, humanos sedentos por

carne, devendo este mesmo egoísmo ser controlado

e subjugado o mais rapidamente. Que conceito!

Também não é só atual ser dramática, tudo deve é

deixar de ser tabu, e de ser chato. Eu sou jovem, sinto

isso, posso voltar ao Cosmos, voltar para tudo!


Nesta continuação de algo, estou realmente suada. É

assim que converso comigo mesma e chego à

conclusão de que vou ser o que quero, porque não

tenho mais limite – este foi o último desjejum do tipo

sociedade, família. Ainda suada, muito mesmo! Mas

e meu cérebro? Nossa, neste negócio já vou para me

explodir, eu que dito as regras... até parei de pensar

nas roupas de gola branca e casa mobiliada. Vou ter

poucas coisas, intensamente suada. Serei a vergonha

da sociedade em pessoa! Por exemplo, comer com

colher e cuspir na mesa do patrão enquanto digo que

me demito! Hahaha, e ter uma sanidade inventada,

fazer tudo que anseio dar certo, como planejei, como

é para ser. Já vejo até no meu delírio a sala aberta e a

mulher que eu teria parecido, tudo embolado entre

passado e futuro. Eis que vejo também que sou pura

ânsia de liberdade, de ser arredia, feminista ou

machista quando for a hora, mas um pouco sólida. A

humana integral! Quero o conforto da emoção

suprível, e alcançável é minha organização. Quero ser

a imagem em um filme que admiro e minha

consciência no livro que me identifico. Afundo a cara

que tenho em mim e em mais ninguém, muitas vezes

e muitas vidas em um só corpo encarnado. Voltei ao

meu tempo, agora e nexo. Folheio! Tudo nestas

folhas de caderno são impressões e a gaveta é bem

restrita, não acham?

‘Ei, barbudos? Quem são essas pessoas em trajes? É,

trajes!! Ah, não... não traga, cara! Cansei de acreditar,

me disseram demais que ser normal é o lance.’ Não?

Irreal. Não é isso que quero. Basta de balas na

cabeça, já fui torturada de verdade de outras formas,

mesmo assim... abri minha mente, eu vi! Abri a

cabeça para outro alguém, e soltei os cabelos em uma


estrada sem volta. Aqui vai, aqui foi, ah, sim, é

cotidiano e mentalidade. E lá no final a nãoconcentração,

nada mais do que preciso (...)

Espalho Julia em várias formas e ações; sou uma

mulher tentando abraçar o mundo, e ele é claro e

vazio... Como um rio, tem dificuldades, de novo e de

novo. Hunnf, o silêncio dos intervalos, mais do fluxo

mental seguido do jorrar, da composição… eu me

desenvolvo. Daí vem o desejo, tratamento; escrevo.

Um dia alguém vai ver ou ouvir as cartas de amor

rasgadas e picadas em pedacinhos que foram jogadas

no bolso; também os roubos, furtos, mentiras,

reflexos, hábitos litigiosos, florescer, repetição. Mas

eu me escondo, existo secretamente, senhora de mim

com as coisas que tenho a dizer, não precisa uma

aprovação! Não estão aqui porque tudo é pensativo

demais?

Reflito, vivo, que mais posso dizer? Sou conflituosa e

não escondo o que amo, quem é que pode me

podar? E quem deve deixar de ser tabu, deixar para

poder viver em paz? Que posso fazer? O melhor no

que faço?

Nesta continuação, vinte anos sem subtítulo, o suor é

que mantém tudo vivo, tudo às pressas, quente, bem

(…) estava presa, até gostei por um tempo, ainda

que… fosse necessário. Talvez como em uma

gambiarra!

Converso comigo mesma? Quem mais está aí, quem

deve se juntar para assistir ao desenvolvimento?

Querem um pouquinho? Ah é!

Já não quero mais uma bala na cabeça, já fui torturada

de verdade de outras formas, mesmo assim... minha

mente! Abri e para outro alguém. ‘Como eu faria


para liga-las???’ alguns diriam, hunnf, as mentes.

Aqui vai, aqui foi, eu me vi quando estive

compartilhando (…)

Botar tudo para fora é difícil, mas gratificante e então

prazeroso. Sei, e por que para muita gente é preciso

se vender, render? Não há como, nesta nossa época,

fazer, produzir extravagâncias literárias sem um

movimento, sem um apoio? Sozinha, eu tento não

ser comum – digo na voz de uma pessoa que está

para, por exemplo, declamar seus poemas em praça

pública... mas odeio o fato, não faria. Eu não vou

fazer!

Sou uma aprendiz, mas geralmente tudo o que

escrevo é pequeno, não gosto de alongar algo em que

posso me expressar por algumas linhas. Por isso, vou

falar de “Maria” – quase esqueço! Maria é uma

situação, um grupo de pessoas. Onde é que mora a

sua Maria, hein? Quem é o obvio nesse algo, alguém?

Ela tem a ver comigo e com como me sinto perdida

às vezes, uma personagem meio fictícia, irada, morta

de visões. Maria também era eu, sem rumo e em um

lugar estranho; eu achava que não tinha casa, morava

com meus avós. Da mesma premissa, Maria são

pessoas perdidas, comum até demais – se acharem

esquisito, não liguem, verão que tem a ver com o

próximo capítulo.

Tenho também que falar desse nome de menina,

Maria. Não era nada, somente isso? Nem precisavam

discutir, nem procurar soluções em… coisas

estúpidas? Lálálá, heiiei, ohoh... huhuuu, quê? Se

chamasse Julia ou Maria daria no mesmo, por que

nunca olham de verdade para a gente, só para os

próprios narizes. O ruim de ser uma Maria era a


timidez daquela época, meu único problema era

timidez; que fato, tinha um nome de menina nas

atitudes de mulher. Qual nome? Ah, precisava dizer?

Vocês gostam das coisas mastigadinhas para caramba

(risos)

Onde a Julia Maria viveria? Onde vivo, droga? Onde

me largaram? Ela vive nas ruas, é? Ela sente fome e

raiva. E quando aquele garoto rico jogou lixo nela, ela

sentiu como se realmente fosse aquela sujeira; as

mulheres merecem tudo isso? Parimos vocês,

rapazes!

Depois disso, e qualquer uma de nós vive onde quase

não há sinal de liberdade, igualdade ou fraternidade.

No coração, aqui, olha… somos tomadas pelos seus

ódios sociais, pelos seus preconceitos raciais, seus,

vários deles. Onde Maria vive? Onde tantas assim,

ah, Maria. Oh, é por todo lado, tão (…)

A inibição, a vergonha e o sentimento de

inferioridade são fundamentos dessas vidas? Onde

Maria vive? Poxa Maria! Ah... eu!

Mulher a... botar tudo para fora! Só que não é o

epíteto de uma fútil qualquer – se bem que eu tenho

uma cara na moral, posso tirar umas fotocas; nunca

disseram que sou das que assustam. Calma, é uma

zoeira.

Se bem que uma fútil diria que, sozinha, teria que ser

visível. Fútil, ah fútil 1, 2, 3, vira você também uma

aprendiz, um quadro de curiosidades ou ‘você sabia,

e o sentido se multiplica. Porém, não é Sócrates o

meu mestre, então, vocês que deem um jeito de ligar

as partes e achar sentido…. Assim como para as

Mariazinhas de que tanto falo, acudam as marias

desse mundo!


Vive? Oh, Maria! Ah, querida. E nesse raro ato de

desespero ou alívio, cortei meu cabelo; antes ele era

longo e castanho até o ombro; ficou bem curto agora,

como Elis em seu auge. Aqui em casa ouço suas

interpretações, lindas músicas repetidamente no

som. Brindo ao meu vigésimo aniversário, sozinha e

desconfiada da vida, som alto. Eu não me importo, é

como deve ser uma pedra. Mas, olha, não posso

aceitar perder, esperar o chute! É uma guerra, dura;

tenho minhas armas, tenho uma pistola pregada na

parte de dentro da perna, tenho belas saias sexy!

Acham isso ruim? Quais juízes escolher? Vocês se

perguntaram por que falei da “Maria”, certo? É só

para ilustrar, queridinhos. Acontece que essa tal é

como eu, um exemplo. ‘E mulheres retratadas’

Deixa quieto, ainda sou Julia, e digo que é

impressionante como um só dia pode conter e

acarretar tantos fatos relevantes e rumos ‘quiçá ‘irrelevantes,

sei lá (…)

E alguém me disse, ‘Para Julia, um recado: consorte,

apenas por sorte ei de esquecer que já li o teu livro.

E apenas por esporte, Julia, não volte.’ Nossa, e esse

alguém era alguém significante, uma mulher? Ah,

sim, uma mulher. Dizer o nome seria trivial já que

vocês não a conheçam e eu tenho um pouco de

receio. Só rindo! O fato é que ela me deixou triste

algumas vezes, cabe relembrar, estão embaixo de

mim em subdivididas partes desordenadas; são letras

sempre prontas para recordar ontem e hoje. Estão aí.

E eu disse pelo bilhete, ‘Não há uma única mulher,

por mais fria que seja, que uma nova paixão não

possa levar aos maiores excessos. Para provar o que

digo, não é preciso recorrer às antigas tragédias, citar


nomes famosos dos séculos passados. Para isso,

conto um episódio ocorrido em nossos dias’

Petrônio, Satíricon, já leram? E aqui tudo se embola,

vamos falar da minha paixão.


Segunda parte,

Hoje ia te preparar um jantar à luz de cinema e flores

secas daquela loja; e daí te colocar na parede, porque

continua a mesma de quem fiquei com raiva. É que

teu pouco esforço para gente me fez te deixar a sós,

um quadro. Ainda gosto de tudo, mas sei muito bem

viver longe daqui. O que vai acontecer, então? Não

sei, é totalmente imprevisível, quase como ser uma

anti-heroína; quase como ser uma anti-heroína você,

e eu a vilã.

Hoje então é um dia de decisão, agora que refleti já

não tenho o que temer nem perder; e esse meu

cabelo agora é meu mesmo. A influência passou,

como o dia.

Quando estiver derretendo de verdade, e começar a

apodrecer, vou te perguntar se é verdade ou mentira,

paixão ou ilusão, hora ou ano? Já não tenho o que

perder, Larissa, agora que sei o que sou; quero e faço

à minha imagem. Sou minha princesa e, se me tem

como amiga, te quero longe, as coisas mudam.

Ontem e hoje, ah. E sobre esta água de piscina, à mão

de caneta amostra grátis, aí é que eu declaro, vou ser

uma dessas rainhas! Já vi o ruim e caminho sobre o

inventado, é bom. Já este e o mais estrelado dos céus

e já sem lua minguante sobre guarda-sol, nossa

piscina enchendo d’água. É a confirmação das noites

estreladas, estrelas cadentes e insônia. Visto a

armadura de pássaro sem casa; na cultura e quando

varrer escritório dos outros, serei reconhecida; dita

por ruim e palavras lembradas. Terei um canto sem


esse calor que me adequa e poderei usar várias

roupas sobrepostas como uma Judas Gato de botas.

Vem e vai, zigue-zague, ganhei um chaveiro de

bronze e uma conta bancária, mas e as despesas?

Sim, sim, chegam sim. Há luz, que de longe é

mimada, peixinhos de espécies diversas, pia com

restos de almoço, mosquitos e sopas do governo, mas

também há uma mulher com seu eu lírico inquieto,

que vem e vai, zigue-zague, é assim (...) Ganhei um

chaveiro de bronze e uma conta bancária, amiga, mas

e as despesas sem norte? Sim, e elas, como as

pagarei? Só na boa vontade, na poesia?

Uma tira de lã escreve no ar o nome de mulher numa

camisa verde. É a camisa em forma de tira; tinha furos

que foram drenados pelos traçados contornos “x”,

que, aliás, não foi dito, era verde também, mas tinha

uma coloração clara e fina em seus traços pequenos.

Depois do transcrito na camisa, essa tornou-se nova,

tinha de novo a beleza de vitrine. Tudo mais que lhe

faltava era o toque de artista da próxima dona – digase

de passagem que ficou linda, mesmo já gasta e com

bolinhas de algodão. Ela tinha uma nova

apresentação, ainda que a mesma cara, mesmo

cheiro. Por que, então, te deixaram assim? É distinta,

já pode ser vendida! E no mostruário fica escrito que

‘se for confortável, esteja disponível’. Mas em outra

loja terá o seguinte aviso ‘Vida a objetos inanimados.

Preço justo!’ O subconsciente pôs uma etiqueta ruim

na tua estampa, cara camisa nova, e impôs ‘Produza,

faça mais desse tecido modificado’ É aí que eu

comparo, o tempo é longo, devagar, cheio de

surpresas a lápis (…) Um café, vou pegar um!


Desculpe, mas tinha que contar esse episódio,

mesmo ainda estando triste (…) A primeira vez que te

vi você estava quente, você... ficou umedecida e me

molhou os olhos e dedos. Ouvi a música lenta e

deslizei como uma menina agradecida, seu gosto

salgado e pouco azedo grudou no meu cérebro, tanto

que meus cabelos tiveram de ser lavados. Tudo virava

um macio e anestesiado, mas ela só me usou e testou

até mandar embora, com fome, ah, querida folha

de papel, minha mulher. Minhas pernas paradas,

você contra mim, me beijou, e suas pernas também.

Ainda está em mim, e ela sabe quando reclama,

chora, faz tudo voltar, mas não vou te ajudar. É como

o óleo entre dedos, só sentimentalismo, esse lance

que escorre, Srta. Larissa.

Viram? Está bom para alguém? Me condenem. Esse

é o nome, e... apesar da vida curta, ela já foi muita

coisa para muita gente diferente, depois para mim,

daí segue.

Srta. Larissa. Às vezes, ela mesma não sabe o que é

ou quem é. Sentindo-se diferente, tenta lembrar o

que aconteceu, mas apenas sabe que procurava algo

– todos nós sabemos o que é. Por quanto tempo ela

ficou cega? ‘As trevas a cercaram, envolveram aquela

cabecinha, cresceram dentro dela, estavam sobre ela;

tudo o que foi repugnante, peças e ação. Só então,

neste momento frio e cotidiano, é que ela viu a

verdade do instinto – sempre esteve lá, mas a tonta

não tinha percebido. Sempre disseram a ela que

desafinava, que não se importava com droga

nenhuma. Por que aquela escuridão interferiu em sua

vida tanto tempo? Todos nós sabemos o porquê. Ela

desejava isso – validava sua existência. Bruxas e gritos,


feitiços, quanta besteirada ‘Não se importa com nada

nem conosco, não é’ Roupas pretas e botas com salto

de agulhas, usa e nos usa. Nossa, como poderia ter

sido boa para você, querida. ‘Eu quero sexo bom,

Lari, Larissa, ah porcaria!’ Como repito essa bomba

de nome! O que você vai me dar, além de munição

para aniquilar ex-marido? Larissa, a mulher sozinha.

Pensa e anda para lá e para cá, além de munição

contra nós mesmas (…)

A sua mulher, separada, mas não só, vivendo ali em

um novo ângulo. Dessa forma, fica fácil trocar de

vida, sair da rua, da velha rua, agora molhada pela

chuva da estação. Tantas por aí, personagens das

ruas; de pinguças de bares noturnos a mães como as

nossas, todas olham as alternativas. Menos essa. Peço

que repare por trás do palco, ele está limpo, mas

também há alguma sujeira. É relativo, tantos cérebros

não aproveitados passaram por ali. E tu? Fica

sozinha, minha querida. Te amo tanto para que fique

dessa maneira.

Tudo está se modificando, é melhor ficar só então?

Sei que prefere a mesma companhia, normal,

cotidiana, não tiro a sua razão, você está certa.

Porém… tenta algo tipo, sei lá, viajar! Muito fazem.

Viaja para uma praia linda, tranquila, azul, doce,

sono, amor... de mulher, casinha aconchegante, tudo

para você. E manda a conta da água de coco! Não

ficar só é a solução, vai mudar nossas vidas? Eu juro,

leitura, escrita, fala... tudo na aprendizagem – e o

mais difícil neste percurso é a audição –, dá para usar.

Não é vazio tudo o que digo, o que digo é da mais

pura sinceridade infantil descoberta – posso me

orgulhar dessa qualidade. Se eu escrevi muito disso

aqui, escrevi por você, Lari. E confundi, amei isso aí


desde o dia do nosso carnaval a três, antes de tu gostar

de crianças, antes de ter e largar o marido travesso.

Quem sabe o porquê de haver química entre os

corpos? Olha, eu gosto dela e acabou, fim de papo.

Não resisto. Nestes últimos parágrafos acima disse o

que poderia ter dito com uma só frase: ‘Venho aqui

me apresentando, confundindo e escrevendo sobre

saudade e aflição de você estar tão longe de mim,

fofa’ Sim, o nome é Larissa – cabelo roxo, boca rosa,

óculos amarelos, pele verde. Ela é o quê?

Limbo, limo, mofino e acidular, ainda algo ou coisa,

ainda é dia (...) Já estou cansada, já fui cobrada,

irritada. ‘Só resta esperar’, vivem me dizendo, aff, e

que mês que vem serei recompensada com meu

salário de vozes. Acho é que vou gritar, espatifar o

abajur, mostrar que não sou uma idiota! É a realidade

a que se acostuma, o bisturi contra as veias, vexame e

glória de mãos dadas transformados em supernovas

de prazer... amordaçado.

‘Personagem é quem eu gostaria ou teria sido em

minha vida imaginativa, a melhor, grande show. Não

era melhor para esquecer, apagar, bloquear

mentalmente as coisas ruins? Bom, é o que tento

com essas passagens, fazer o quê, correto!?

Para mim, só o ideal serve, caso contrário fico assim,

deprê. E Julia para baixo nem é legal. Droga, suja e

fedida de tanto escrever e pensar acerca desse

mundo, poros expostos. Devemos pedir perdão? Por

quê?? Tudo isso e ainda adoro meu cheiro; quando

bom ou ruim, me ponho como uma doida se

coçando e snifando... hunf, quer dizer, tenho minha

marca. De madrugadas, sem luz, fico em casa só

pensando, inválida, dengosa. Se eu pergunto tanto é

porque preciso tanto, ahh. Com o tempo, a


paciência vai paro beleléu!! Essas paradas de

humanos cansativos, ah minha paciência, quem não?

Agora outro assunto, o outro lado das coisas; há

alguma coisa relevante nas estranhezas e, ah, esquece.

Não quero ser tão chata quanto já estou sendo. Vou

falar de meu jeito de escrever. Bom, eu gosto das

quebras para deixar os escritos mais estranhos, mas

para se ler é diferente; de uma forma que qualquer

um possa ler, aí já é diferente. Depende de uma

interpretação nada vocal. Eu sou bem desregulada no

quesito quebra, pontuação, lógica. O que faço é bem

livre e pausado, cheio de pedaços, igual nessa vida.

Não acham que há beleza em esquemas assim?

Coisas mais simples, digeríveis, ou mesmo bizarras?

E no encaixe das partes, o têm a dizer?

Calma. Devem estar se perguntando como essa

desgraçada sabe escrever? Digamos que eu estudei

‘bastante quando deu vontade, ainda que escola

pública no Rio de Janeiro deixe tanto a desejar. Não

que sejamos burros, apenas o ensino foi pouco.

Existe gramática na escola pública? Merenda tem?

Para mim não! Enfim, odeio política. Não cedo.

Ah, sempre volta, desculpem. Aqui estou sozinha,

falando sozinha? Já falei da história da máscara que

vi em um museu? Eu a achei linda, nem um pouco

enrugada, até escrevi para ela. Hum... Leiam!

Olhei para ela, ela para mim, estávamos naquele

museu? Obsessão me prejudica, pensei, eu sei, é

sabido, mas não tem mais nada para fazer. Peço

desculpas a quem acreditava em mim, nessa máscara

posta, e a quem já se irritou comigo com o que for.

Comigo... deixa para lá, nem importa tanto assim.

Olha aqui! A traidora, isso já fora de controle, não


tenho mais limites. Chega de vida dupla, tantas caras,

aventuras. Onde me esqueci? Minha consciência está

dura. O que me tornei? Meu pulmão me expele. Sou

uma traidora? Ou reveladora? Cheiro à

desconfiança? E você, mulher de L, falará algo? É

tempo de mortos-vivos, escravos, ufa! Uh, hahah,

falei demais, opa (…)

Lembro das mariposas, as cheias de vaidade,

ambição; ambas nós, filhas de lares sem pão,

calejadas, sempre lembradas como essas de carne e

osso, assim como cogumelos na terra úmida. Ambas,

sina? Seremos? As nuances dos desejos, deitadas

iguais a felinos e felinas se entregando, qualquer

sorte, aos nós.

Desesperada, recorri às pequenas orações, bebi da

água turva onde ninguém vê, pus meu útero em

ruínas ao comércio sexual e... dessa forma tosca, me

jogaram no cárcere do Homo Lascivus. −Quanto é o

programa? −Importa? Tu não é rico? −Mas eu

quero ouvir da tua boca o ‘teu preço! Eu calo. Vamos

lá (...)

Ter simplicidade, o tempo que for, foi. Tenho que

dizer, não há verdade estática no mundo, somente

pessoas com a sensibilidade exposta, e na incoerência

é que moram todas as leis ditas e fraseadas. Por

exemplo, uma noite estrelada é só uma noite

estrelada, a incrível capacidade de associações da raça

humana é que a transforma em poesia, literatura,

verdade universal, e lá vai. Acontece mesmo o nadica

de nada estigmatizado e estilizado? O vazio seco,

absurdo, um complexo de viagens lisérgicas de alguns

poetas virtuosos? Só porque saem do nada para a

imaginação? Não me levem a mal, porfa. É a era


moderna, pendular mas ainda arcaica, ser o que quer

ser ainda é puro instinto. A repressão é um evento de

domingo, como verdades falhas, eus estatelados.

Pensem de novo, quis mesmo no medo morar uma

verdade? Essa é a insegurança, o pudor. Que pouco!

Sou contra isso pura intuição e vontade jovem,

inspirei na observação. Senti na pele, carne, ossos...

que para uma pessoa que se contenta com tão pouco

e ao mesmo tempo busca tanto, uma palavra de

coragem ou agradecimento conta muito, ah sim! É

gratificante, tanto que quase choro de alegria. Mas

sou dura.. alegria, um desenho, uma pintura do

estado de graça. É a vez de se sentir bem comigo e

com essa consciência? Eu converso com ela, falo,

digo tudo para essa alegria. Porém, só consigo dizer

tudo escrevendo; fosse uma pessoa, cara a cara

desconversaria, fugiria, falava só besteira. É quase

meu papel nessa peça chamada ‘vivência sendo

descoberta. Me inspiro nas crianças que dizem o que

vêm à cabeça, na sabedoria dos velhos que passaram

por tanto. Agora, tento repassar. É na simplicidade

das particularidades que me acalmo. Até os objetos

inanimados podem ter vida – lembram da tira de lã

de que comentei antes?? Só depende do seu amor

pela cara e importância que eles podem dar para a

gente. Pode haver relevância em tudo. Já disse o

quanto sou fã da imaginação? Ainda tenho bonecas

velhas e rasgadas de quando era menorzinha, e as

trato como se só estivessem dormindo. Quem me

dera o mesmo? Poderia até ter nascido uma planta.

Sim, uma planta. Gosto de vê-las sendo tão lindas e

mundanas; de um esplendoroso vigor, sua delicadeza

e cor verde orgânico, as plantas são como a sabedoria

de um povo, represando, sempre para fora. É

verdade, gosto da ideia de ser uma planta, uma linda


plantinha a ser observada por gente que me acha tão

bela quanto a própria existência, tão significante

quanto a natureza, vistosa à brisa, representando.

Poderia ainda até ter nascido uma planta; profunda

vida e amor; ser vivo, parte da coisa de átomos.

A planta sempre vive e é sinônimo de realização, ser.

A verdade, quase sempre ela, é tão simples. E, às

vezes, nem tanto dolorosa quanto dizem. É o

momento. O caminho da realização completa o ciclo

na felicidade, hummm

Vão dizer se rodo a bolsinha, e daí?? Tanto que,

exemplificando, uma velhinha ficaria me

encarando... muitas vezes. Eu estaria bolada com um

monte de troço, daria um berro no ouvido dela,

subitamente, feito louca ‘Que foi, chata??’ E ela

estremeceria toda, soltaria um “Jesus!!!”, enfiaria o

rabo entre as pernas. Mereceu? Aguenta. Mas já faz

tanto que passou, dona velhota. O caminho do

autoconhecimento não é tão difícil quanto pensam os

cultos? Está vendo, nós, plebeias de tempo de vida,

observamos externa e internamente, e vemos o

quanto é simples, fácil pacas estragar tudo. É isso,

antes de morrer você precisa entender. Não pode me

enxergar vaga demais, recusa ‘isso. Não sei se logo,

logo depois, ‘isso seria libertar, ser. Um dia

conquistarei mais que isso, melhor. Isso é, um dia,

vão ver! Um dia, uma hora liberto a Julia tanto

quando me olho; e no espelho me identifico como

pessoa e rio. Por que não disseram antes que há

tantos sentidos nas sensações e palavras ao nosso

redor? Tanto a se entender; queria agora poder

domar o tempo e conduzir à perfeição levando a mil

reflexões. Queria mais disponibilidade para crescer –

cresço muito devagar, trabalho como uma formiga.


Cadê a outra meia-lua? Eu tenho um fígado para ser

comido. Sou muito esperta! em tudo. Já disse o

quanto sou fã de minha imaginação? Bonecas,

velhas, rasgadas, plantas, fêmeas, que mundo!

Um antes de… simplicidade. Ter disso também em

um livro cheio de aventuras de situações e fatos de

brinquedo é complicado. Às vezes, penso que

poderia ter me inspirado mais em Crusoé, por

exemplo, e me aplicar em alguns momentos. Vejam

abaixo ‘−Robinhouuu, me empresta uma agulha.

−Mas para que, minha cara Julia? −Preciso costurar

um vestido bem lindo. −Eu não preciso desses

apetrechos por aqui, nem possuo!’ Isso responderia

Róbinson Crusoé, tranquilamente, e com o clássico

sotaque inglês. Mas os grandes livros da humanidade

talvez não sejam tão bons quanto eu imaginava, é só

a primeira impressão, nomes engordados!

Enfim, escrever tem sido mais que uma distração.

Para tanto, peço desculpas se me expressei mal em

algo. Tenho tentado trazer para o coletivo o que em

vários instantes passei, é quase uma impressão

gigante. Mas não se preocupem, o papel branco não

assusta, muito pelo contrário, ajuda. Afinal, a cor

branca dá vazão à decoração. Viu?

Apesar de nem gostar assim de tudo do que escrevo,

poxa, admito que faço porque relevo o que meu

inconsciente expulsa; sabe, dar sentido ao algo e não

perecer uma ostra; até porque somente reclamar

seria comum e fácil demais – puxei isso de família!

Talvez gostando de sofrer eu seja mais forte e melhor

a cada dia. Expurgando (…) Não algo tipo exaltar a

morte ou o suicídio, não sou assim tão extrema.

Nunca vi alguém que podia rir, chorar e sonhar virar


carniça na minha frente, então não posso vir a ser

tachada de hipócrita. O mal existe; a morte é algo

sério, transparente, sóbrio.

Aqui, rolo e enrolo, mas este é o relato de uma

menina,

Estou tremendo. Meu coração batendo acelerado em

pique, o corpo nesse susto intenso. Nasci com um

sopro; isso me agita e quase morro de tão eufórica

nas batidas desse coração enfurecido. Meu peito duas

vezes mais a pulsar, enlouqueço, gozo ao me

perceber estática, silenciosa de êxtase (…) quase sento

o sangue ferver e me arrepiar, embaçando os olhos.

É um filme a minha vida (…) oh, merda, um tosco

pornô? Tento ser meu tratamento, prazer aqui

dentro... respirando rápido; seria um assassinato ter

de ver de longe a Julia encarcerada. Cérebro meu,

expulsa alguma coisa que preste para o resto da vida,

vaaai (...)

Palavras avulsas, vou para cama. Morta de sono, não

consigo pensar em nada, somente digo essas coisas

com coisas, coisas com palavras, coisas que dão

errado, quase sonho. Haveria uma chuva para toda

essa enxurrada, lavando tudo?

Passando os canais, vendo a tantas bobeiras e

imagens de todos os gêneros inúteis; são imagens

sobre imagens, passando por elas sem dar

importância, só para ver algo passar pelos meus olhos

e nada fazer. Porra, nada. Mas já cansei disso

também, TV não presta, prefiro cinema, livros, ruas.

Meu nome já deve estar até soando mais suave e

familiar aos ouvidos de quem diz, quem repete, não?

Sou uma mulher em crise; até que provem o

contrário, não me entrego ao chocolate e coca cola


vendo TV ou filmes à noite no sábado – que, aliás, é

a hora de atividade mesmo. Flerto com a banalidade

e o vital, eu, eu tenho que dizer algo, falar não há

verdade estática no mundo, somente pessoas com a

sensibilidade exposta; eu digo que na incoerência é

que moram todas as leis ditas e fraseadas, moldes.

Por exemplo, quando dizem que a verdade é que o

nada prevalece, que não existem os preenchimentos;

dá para acreditar nesse vazio que é também

complexo? Pior que sim!

Mascar quebra-cabeças e pregos? Bem, bem, chega

de encher linguiça à toa, já percebi que isso está

parecendo um diário fútil, a textura de casca de ovo.

Mas entendam, eu ainda estou viva – isso soa

melodramático, mas não tem nada a ver –, e sou eu

mesma que estou descrevendo minha ‘obra, canteiro

de obras, eucarionte, doida. Ei, é compreensível,

frequentemente. Não me condenem por nada – veio

aqui, foi por ‘sua vontade! Alguém te impôs ler isso

aqui?? Até poderia ter parado, entretanto viu de novo

(...)

Poderia existir um recanto onde eu me escondesse e

estivesse lendo alguma coisa e pensando no que

escrevo aqui, nesses tempos. E com gosto de sabão

na boca o que eu faria é escrever, lidando com a

realidade e associações, nenhum método e à moda

‘sem compasso; inspirando-me em vidas – minha e

sua, Larissa, o objetivo seria fazer da gente um

joguinho, tudo lascado.

Um tipo raro, com finalidade; sim, de esclarecer isso

e tentar alertar sobre os defeitos desse tipo de casal.

Não é bem uma crítica, nem alusão – acho que

pensaram isso; é o que acontece no dia a dia dessas

uniões, lance indignado.


É que Larissa tinha, ou tem!? uma particularidade a

seu favor, era a mesma mulher de dia e de noite;

desde a hora que acordava era uma corriqueira. Não

seriam disfarces nem coisa forçada, era de verdade,

uma humana. Larissa ingrata! Profunda desordem,

ah... Onde fica a disposição conveniente? Em você

que lê? A chave das associações?

Caprichos. Onde se recolhe a disposição

conveniente? Estilo camping? Em você, que lê? Você

que é a chave das associações, então pensa aí. Olha

que como é engraçado ver a gente na rua, digo, se ver

em uma tela ou foto, selfie. A imagem, a cor que só

o artista ou câmera sabe reproduzir. Contudo,

quando me enxerguei, obscura, vi uma de mim que

não conhecia, nem gestos ou fisionomia – no papel é

ainda mais difícil explicar. Assim como convencer

qualquer criatura sobre aquela lenda de pescador que

fala das escamas, das virgens, dos peixes, e do bobó

de camarão em suas férias de anos. Pensem nesse

filme e na personagem que mais se identificam.

Agora se imaginem lá. Viram? Serão o que quiserem

– adoro imagens, adoro climas bem passados nelas!

Há tantas possibilidades e formas além de

sentimentos a se mostrar, humm, mas tudo isso é

invenção ainda.

Mergulho. Peço desculpas à minha natureza e caio

nesse buraco que é a distração da leitura, a outra

realidade! Caixa arquivo, eu entro. Despreocupada

adentro como metamorfose ambulante, vários títulos

de músicas tocando enquanto leio! Em minhas mãos,

eu, mulher. Como meu pai um dia ensinou, ‘Vamos

fazer tudo certo para não haver decepções. Te amo

muito e quero teu bem. Digo isso para ressaltar

minhas expectativas para o teu futuro, e rezar contigo,


minha filha. Vamos, ajoelhados, no escuro, ao lado

da cama, antes de dormir, pedindo que sejamos

felizes’ E assim, tomada pela sabedoria dele, ‘Meu

pai não queria que eu dissesse, mas rezamos todos os

dias à noite pedindo felicidade’ Essa é uma boa

lembrança da infância, dos nossos testamentos, bom

lembrar disso. Aí minha cara – minha cara é ela, a

Larissa. – ela falou um dia da situação de estar com

a mente em branco – ir e vir como baratas tontas?

Daí é que começamos o próximo diálogo juliar

Atacando seres humanos, há sentido… nesse ponto?

A rotina nem é tão importante assim, os grandes fatos

relevantes sim.

Certo dia, um cliente perguntou: −E agora, pra onde

vai? −Eu?

Me assustei! −É, tu! Nos divertimos aqui e tal... −Pra

onde vai, pra tua mulher?

−Hã? embranqueceu e mixurucou o cara. Devia ter

uns 33 anos, casado há pouco, ainda sem filhos. Um

tipo normal, que dá umazinha com a universitária

depois do trabalho, para na casa de um amigo e toma

banho para tirar o cheiro da outra, bebe sua cerveja,

papeia um monte de escrotice, volta para os braços

despreocupados da esposa. De quem é a culpa? Eu?

Quem manda ele perguntar um troço desses?? Só

porque sei e não reajo? Prendam o machista em

flagrante, vai, corre que acham fácil! Da minha parte,

eu adianto que sou uma viciada, acessível, essa falta

de afeto que reclama não é só minha, é de todos. Sei

que vivemos sob o signo do medo, que me resta se

não lucrar?? −O que disse? ele pergunta novamente,

como que se certificando. −Nada, só tava te zoando,

bobinho! Vai ligar de novo pra mim?

−Vou pensar no teu caso, gatona. E dessa forma se


despede, não sem antes deixar algumas notas sobre

um criado-mudo. Ah, o apego, as aortas que o digam!

Também já desisti de ser como as outras,

horizontalmente. Mas todos sabem, é malvadeza sim.

Fatos lamentáveis com as esposas acontecem..

Eu ri? Mas por quê faria isso? Penso na cara do meu

cliente, hunf, aquele a me assassinar no olhar, que me

sustenta e condena ao vivo. É, os idiotas são os que

detém as moedas! Fico suando, eles vêm e vão, são

isso, monte de vãos. É ruim mesmo olhar por grana.

Às vezes, suporto a dualidade vendo o chão, para

baixo, tipo baixinho, punindo. Há sentido... nisso?

Tem mesmo? Pelo que sei, aqui a fé se perdeu,

escangalhada por usos e abusos, um sonoro não! E

como me salvar se não possuo dindin para ter uma,

sei lá, religião? Ah esse mundo despreocupado,

desajeitado, nem sabe onde ir. E eu digo mais,

guardem… merecemos, quem não foi envolvido? A

rotina nem era tão importante, os grandes fatos

relevantes sim. Só que ninguém liga muito (…)

Eu saio, rodo por aí. Será que eu conseguiria?

Imunda, pensei em refúgio nos braços da Lari. Mas

cadê ela? Voluptuosamente atrapada, sofrendo de

raiva; preciso daquelas mãos sujas também, são vários

tipos né. Mas a terra me suga, eu rejeito ainda. Mas

Larissa, escuta, eu preciso de carinho, explosões

vulcânicas de emoção. Não que me escape das mãos

a vaidade, invento tudo isso, mas é que... claro que

entende, poxa!

Sigo meus passos, monte de ideias, memoriais. Ainda

pequena, como na vez em que fui à praia com meu

padrinho, irmão da minha mãe, a esposa e filha

dele… me ocorreu um negócio filhadapííí!*** Ele


não sabia que eu não nadava!? E nesse esquecimento

versus brincadeira, meu tio me largou numa parte

funda do mar, e eu… ia afundar, ops, e tchau. Não,

na verdade eu só me afoguei, mas tentei demonstrar

orgulho e saí sozinha, ‘nadando algo do tipo para

frente, quase sem ar, desesperada, ahhhhhrr,

realmente debaixo d’água, roxa. Sobrevivi, mais uma

vez. Mas o que isso tem com o quê desse capítulo?

Na verdade não sei o que vou fazer, me perdi de novo

no quebra-cabeças repetitivo, minhas pernas

bambearam, penso de tudo (…) Eii, ainda quero falar

de pessoas egoístas que não percebem a rotina que

passa diante da fuça, nos significados e palavras

atribuídas a sentenças que não deveriam relatar.

Confuso? Olha para uma árvore e pensa em tudo o

que ela está para a Vida – lembra de que a observação

vale muito. Tenta, eu sei que pode. Agora olha ao

redor, o que você faz pela Natureza? Dou minha

trégua, mas sem resposta concreta nesse paradoxo de

amor em significados distintos para cada mulher.

Não depende só de minha vontade, compaixão deve

ser recíproca, a vida em pares idem. A questão é que

a responsabilidade materna em você, Lari, aflora. Em

tal caso, a transviada sou eu, sirvo de lição de moral

às outras mulheres – até porque o mal e o bem têm

conotações diferentes. Isso, sempre a errada, te

querendo mesmo que você tenha um filho, e criar o

menino é algo mais importante que um antigo lance

estritamente carnal – isso para ela. É uma pena ter

sido tão ingênua – digo pelas duas, sim. Jogo a titica

no ventilador mas sempre revejo suas pernas na

minha cara, eu e meus gritinhos de pode mais. E

pensamentos onde tudo é proibido e saboroso.

Tenho que me descontrolar para ter cura? E tomar

suco de laranja ou abrir a mente e mostrar um outro


lado conotativo? Dominar meu corpo é minha

cobiça, meu estado, e nela é sentir. Aprendi que a

faca corta, a faca endemoniada despreza esses meios.

A faca vs. o zero vestígio sentimental e seus delitos

degenerados. Era para ter dito a ela que eu sou a faca,

a faca e seus déjà vures curativando-se, cada dia sendo

nova ou ainda eu mesma. Cada dia? Pois é, bem,

mais uma fase, gratuidade alertando, a fase do píííí-íí

Sim, eu sou Julia, uma índia cidadã; isso, é um livro

de uma pessoa que nem existe totalmente; uma

personalidade oculta; uma projeção; um exemplar de

explicações. Trace meu rosto; eu, a criadora, nem

pensei em nada. Serei o que você quiser, sua ilusão

ou fetiche – é meu trabalho! Me limito em nome,

nome esse que é uma referência. Sou a história e a

interpretação, turbilhão de ideias perdidas,

zombeteiras com minha paciência. Tanto que a Lari

sempre perguntava: −Você não consegue parar

quieta? −É que pensotudo aomesmo tempo! Que

posso fazer, poxa? Eu ria e ria. −Tem calma. Vê se

relaxa de vez em quando. Só isso. −Tem uma

bebidinha, hãn? (…)

A observação vale muito mesmo; talvez este seja um

teste, mas será que ele ficou escroto ou cafajeste?

Queria saber, já que não era a intenção. Foi tudo

escorrido. Acho até que o título deveria ser “Julia e

as confissões”, ou, hum, delitos, tais, confissões

introspectivas; e mais reflexões, conclusões. Chato

né, literatura, interação. E lá houve conhecimento

prévio? Sai fora, quem uma hora não é pego em

flagrante?

Acho que errei no começo... nos meus princípios

não. Ah, droga! De resto, nada existe como


realmente pretendo, e não pensem que sou um ser

narcisista, tampouco me deixo ser altruísta. Ah Lari,

antifísica! Chama por Julia, sei lá, atendente. Será que

ainda me resta poder de escolha? Mas não está

pronta, não para a conjunção carnal de verdade, para

a natureza ardente, as seguidas cópulas. Não você

Lari, imagine ações antinaturais, e dia após dia.

Larissa atrasada, peculiar. Provavelmente nem sabe

também que eu só existo porque existem

prostituidores, a inesgotável imaginação.

Talvez eu devesse jogar na cara dela que eu sou a fada

e a feiticeira, que a puta já existe antes de tu aí, que

eu posso inventar quando quiser, o que for!! Como

sou maleável, isso me faze lembrar o que um cliente

certa vez disse no livro ‘É sério que pensa que vai ser

assim gostosinha o resto da vida?’ Acho que ele não

queria pagar. ‘Mas o que será que acontece com as

putas velhas???’ Nem consigo mensurar. E aí,

voltando para casa sozinha, pensei, tipo… ao me

deparar com a cidade em movimento, repetindo a

frase ‘Olhei para queles bonecos e ri. Vivos e

controlados! Olhando daqui de cima, até que dá para

brincar com eles’ É muito difícil escrever por extenso.

Acho que não estou conseguindo fazer ter coerência

direito, mas entendam… é difícil, é por causa da

quantidade de assuntos e o espaço temporal. Poxa,

também fico perdida na cidade que nomearei Briluz,

a dos sonhos – Briluz, meu reino utópico!! Brilhou,

nem vi, estou chapada em mágoas ilusórias! E que

bom!

Os remédios me afastaram das pessoas, vão dizer que

é por isso, minha culpa, as dopações, as dopaminas,

e deve ser, e eu me lasco. Como sou de libra, também


balanço, mas pesei a mais, fui muito crítica como os

defeitos das pessoas que vejo, tenho, essas coisas.

Deve ser por causa da sua, da minha, da fragilidade

por todo lado. É algo que tento consertar para o bem.

Eis que acabo é estrebuchando tudo no asfalto pobre

de tudo, ah. Por que a gente tem que estar sempre se

ferrando? Por que não posso ganhar mais e viver

melhor? Por que não me deixam escrever um

romance sobre o proletário carioca? O título poderia

ser “Os subalternos”. Por que não? O fato de não ser

erudita atrapalha? Uma, é… que aprendeu na marra,

ajudou na medida em que ditou os termos? É como

me vêm, pensamento sobre pensamento? O mais

real possível. Acho que essa parada é intuição do meu

sangue indígena, obrigada.

Com um pouco de amor, até que enfim. Aff, vida

mastigada, compreensão fácil. Da grande percepção

da existência tento cuidar, e sabe de uma coisa? A

próxima frase é terrível ‘O viver é passível de

limitação’, isso me dá arrepios; isso me causa revolta.

Ei, eu sou mulher. Me dá asco, caraca. Odeio coisa

pouca. Devia é receber um salário para poder existir

assim tão bem, mas o dinheiro só nos isola, o amor

como museu também! Julgo um porquê de nossa

relação, e um porquê de nossa é... dês(…) relação?

Hunn, como um filho pode mudar tudo. Essa tua

cria, Larissa, que está para nascer, fruto de uma noite

correta e de parceiro ocasional – e ocasional de raiva

–, desgarrou até nós duas. O verbo do agora é parar

e antecedido de poderia. Erramos, fazer o quê, o que

é bom, dura pouco!

Preciso voltar, pagar a língua. Há em mim um

pesadelo de sangue e angústia cinza. E já sei o fim


disso. Por que então é que sempre volto aqui? Está

uma bagunça, talvez seja mesmo um pouco

ignorante, gosto de aprender vivendo errando e tal,

só que já fiquei melhor. Sabe, as jovens do meu

tempo pensam que estão perdidas, procurando afeto

onde nem existe mais, daí se iludem umas com as

outras na infrutífera festa que termina no dia dos

normais. Quem nunca caiu nisso? Eu mesma, fiz

alguns rodeios necessários, mas volto ao assunto que

me causa tristeza atualmente, ela, a cauuusa! Lembro

agora de quando ouvi as tais palavras “não dá mais”,

uma bomba tic-tac-tic-tac explodiu na minha

esperançazinha. Olhei para o lado e vi só os pombos

sujos do Rio. Mééér... ah! Abri essa porta

quebradiça... ela é azul, tipo ausência de sentido, com

amor (risos) Sim, mas eu preciso voltar! Já não sei o

fim disso? Opaa. Por que, então, eu gosto de voltar?

Sei não. Nada é sério quando se está um pouco

chateada e dopada. O que preciso é amor; é isso um

conto ou música? O que eu andei fazendo na casa

dela? E deles? Que invasora, anos e anos pensando

nisso, de destruidora de lares, que isso! O único que

me mantém viva é idealizar, reclamar mesmo a honra

dessa dança. Nisso me dou conta, eu te vejo,

personificada na praça, no meio do público,

desaplaudida e mirada, um vulto, a própria. Droga!

O vento soprava, fiquei sóbria.

Saio dali. Já que fui conduzida ao xadrez, serei a que

atrai o adversário a fim de queimá-lo logo após?

Passeio, eu me arrasto, quem sabe; minha maliciosa

figura desaparece depois do vulto. Eram chamarizes.

Meu casaco com pele impregnada, só ele suporta o

frio do mar e dessa brisa. Mas acabo por dar de cara

com um sujeito de rosto enigmático e expressão de


reles... fanfarronice. Só para mudar meu rumo, ele

vem e me pede um cigarro, assim: −Um

fósforozinho, bela dama! −Aqui – passo a caixinha.

−Agora o cigarro, diz isso com a maior calma do

mundo... −Qual a tua? E como sabe que eu tenho

essas coisas na bolsa, se eu nem fumava na tua frente?

−Perdão, nem me apresentei! Meu nome é (...)

Nesse instante bate um baita vento e meus cabelos

me rodeiam, mó barulhão, eu, hein!

Empretebranquei e o cara sumiu, aáái! Só gente

maluca, entulho inútil de tentativas, dá descarga nisso,

bate a poeira

‘E se ainda há poesia, liberdade’, eu poderia citar,

fazer mais desses versos sem saber se fiz ‘certo. Bom,

não teria mais característica de poesia, seria quase um

recado; quem sabe mais fácil para os que têm

preconceito com poesia – para ler, eu quero dizer.

Olha, se vou desperdiçar ou não, se vou estragar ou

não, não sei. Nem sei, de verdade. Igual, se vou

borrar um título, não importa, pelo menos eu tentei.

Tenho que deixar de lado a hipocrisia, ostentações,

o materialismo, vergonha e sei lá mais o quê, tem

tantas coisas que são irrelevantes, vamos só pensar e

dar nossas interpretações dos fatos, não distorcer.

Cada um tem uma visão relevante das coisas, não é

assim que falam? Não precisa padrão. É o seu poder

de interpretação em jogo. Estou aqui chamando

vocês de atrizes e eu de roteirista, vamos lá, pensem

aí, mas não achem que classificar é o mesmo que

achar sentido!

‘E se ainda há poesia, ahhh, merece o ponto final.’

Repito isso sob o influxo incompreensível, até

selvagem, que é a curiosidade. Tive que ir lá, dei um


pulo lá na terra dela!! Poetas disseram que ‘Bostafogo

é um filme idealizado’, mas ‘Bota não é tão

mitológica assim para mim. Ainda mais vindo desses

mesmos poetas que disseram que ‘uma jovem mãe

faz o sinal da cruz, refletindo seus anseios no bebê

sorridente. Eu choro? Por isso? Forçação, já não era

certo. Mas, e minha Larissinha? Peço crença, isso eu

faço, escrever às pressas, as sem-vergonhice dessa

descarada! Da mesma personalidade, mesma forma

que invadi muitos lares, usei dos outros, me fartei de

inocentes incêndios, tudo intencional; da mesma

beleza sempre fui sinônimo de poesia, eu sim. Sou

bela, sou então poesia? Preciso é de autoria? Ou seria

melhor eu resolver esses troços sozinha, tocando no

meu centro, exibindo a origem de tudo; desde

felicidade até tristeza, o centro, o sexo!? Chafurdar,

ui! Bom, não teria mais característica de poesia, de

percalço, seria quase um recado. Ficaria mais fácil aos

que têm preconceito com o tema – fazer poesia sem

saber se está certo, ainda disso. Ser burra mesmo não

seria mais fácil, né, querida? Tem mesmo é que

deixar de lado sei lá mais o que possa impedir o

corpo de mover.

Filha, ei, estou aqui te chamando de atriz e eu de

roteirista. Será que ainda é viável curtir a

simplicidade? Tenho consciência de que me

descaracterizo quando longe do cantinho. Odeio por

isso ser tão metódica de vez em quando; dependo de

mim e da forma com que me organizo e a meu

espaço. Sei que preciso da parte feminina, da dócil

de volta, por isso sinto tanto; falta a Lari aqui, no meu

lar respirando levemente ao ler um bom livro ou

roubando meu ar quando os rostos ficam próximos.

Confesso que me deu um friozinho quando consegui

uma fêmea depois de tanto, mas passa. Mas me deu


um friozinho também perdê-la, e ouvir ‘Hey Ju, aiii.

Só rindo.

Porra de confusão, apenas quero um poema da

individualidade, da realização, do chute na bunda da

hipocrisia que ainda reina apesar dos esforços das

nossas antepassadas!!! Eu lá me deixei levar? Só eu

sonhei em ser mais que uma mulher atraente, é, gosto-sa,

em roupa colada, exibindo as coxas pelas ruas,

corrompendo eu mesma minha inteligência? Como

agora, passeando pela cidade cegamente sem dar

nem um oi fácil? É que sempre vou e volto? Talvez

devesse, talvez se fosse a minha opinião, minha.

Para finalizar, droga (…) repito porque é necessário,

é o poder de interpretação que vai em jogo,

chamando muitas de nós de atrizes e roteiristas.

Vamos, pensa! Quem foi o último que fez isso com a

gente, o que já nem devia??! Classificar, dar sentido,

ou acham? Eles achavam, e lá ficaram no passado!

Algo se transforma, está é cansando; não escrevo só

por mim, nem sobre meu eu; tive esse interesse de

escrever sobre a vida dos outros – na verdade uma

outra vida, sei lá, muitas… e ser uma observadora. As

vivências tristes e traumas das sofredoras me

interessam, no entanto percebi que isso cansa para

caramba, isso para mim e para quem foi citada (…)

Vou é deixar logo de lado; se algo dedicado a mim

mesma já é dose, imagina o contrário com este

cotidiano e mentalidade..! Tenho que me firmar, é

isso. Por que o mal cobiça a nós, jovens? Eu hein.

Algo se transforma, acaba. Seriam as respostas

vindo? Será porque senti algo como saudade, coisa

da minha língua(…) Tomara que para o meu bem!

Ao cabo de três dias, mavontadeando, fui até uma

loteria próxima para quitar a praga de uma conta.


Wow, R$ 69,00 que poderia ser? Vocês sabem, essas

contas vivem tendo que ser pagas. Nisso, saio

pensando em comprar algumas miudezas novas... e

sou surpreendida! Digo que obscureceu-se e apaguei,

é, desmaiei, fui atropelada, estatelada, igual estrela no

chão. Daí foi tudo embora, me senti a mãe dos

outros, que baita coincidência! Logo eu atropelada, a

devassidão, labéu daquilo? Imaginem quantos

clientes ocasionais, quantos excessos de álcool pelas

noites afora e quais improvisos premeditados não

cometeria? Seria…? Que piada, eu ri da mortezinha.

Acordo com um branco e olhares. Mas que pá de cal,

que mentirosa sou. −Que passou comigo?

perguntei, fraca ainda, como que recuperando do

parto. Uma voz que não identifico disse, longe:

−Calma, foi só um susto. −Ahãmn.. −Qual o seu

nome, bela? −Julia... respondi zonza, montando os

pensamentos e articulações. Se eu disser que era

muuuuito igual à voz, ao timbre do esquisitão do

fósforo, alguém estranharia? Me levanto. No

sobressalto, verifiquei que já não estava mais lá, que

danado! Bati a poeira, agradeci aos curiosos e fui.

Mais tarde, no aconchego de casa, minha fotografia é

a da caneta que ia na minha boca. Era o símbolo de

algo que bem conheço e gosto, sim. Olhei pela janela

e olha minha pose! Eu era tão fria quanto essa rua,

não mais debaixo das asas ou barra da saia de

mamães, mas um gelo brabo. Preciso ter doces de

comer? Será que ajuda? Em caminho rápido? Deixo

a caneta de lado; será que não faço mesmo só para

mim, nem sobre eu? Tantos capítulos curtos e

indiretos, hunnf, é sobre tudo. Antes não, mas hoje

tive mais interesse de escrever sobre a vida dos

outros, ser mesmo uma observadora, aquela surda


que só presta atenção; na realidade, uma outra que

não era do mesmo signo. As vivências tristes e

traumas das sofredoras me interessam. Mas percebi

que depois de estar no papel isso cansa, no meu caso

e para quem foi citada. Vou deixar isso de lado por

causa disso? Não, é um treco dedicado a um vão

entendimento, este cotidiano e mentalidade, sei lá,

meu dever.

E agora essa janela, essa barra de chocolate que se

derrete ante meus dedos! Por que o mal cobiça a nós,

jovens? As jovens, idem. É isso, Larissa? Vou te

encontrar, ser supersimpática mas não te ter, porra?

Mas você sim, mais simpática que deveria, beirando

a forçação? E eu também, ainda que fazendo

ceninhas de ciúmes na pista, tipo semana passada? Já

semana que vem só te ligo para marcarmos algo, do

meu jeito; será que consigo ser assim e não uma dama

de feriado?? Não quero te conhecer mais, nem mais

ninguém, só olhar agora. Quero é esquecer tudo e,

ai, me reapaixonar! Pois a vida é de verdade, opa, e

algo se transforma, acaba, azeda, uma hora vai.

Acaba, meu bem. C’est jolie, foi, daqui da janela eu

vejo. O passado significa a volta ao lar, e você a carne

humana a fazer sabão, ruum, tomara que para o meu

melhor.

Senti, droga, algo como saudade, coisa da minha

língua. Bem, isso passa. Ao esfoliar todo

encantamento dos meus poucos aniversários, foi-se,

voltei aos tempos da pedra e dos incensos,

reencarnando dessa maneira a feiticeira que tantas

vezes encarnei. Agora tão acordada e nem bonita

nem simpática; vivo nessa tarde encoberta, bem-bom

de café e biscoitos e cobertas. Que chuva que não se


aproxima? É cerrrrto, chuva sempre vem no Rio de

Janeiro a plenos julho e agosto. Estou só, anotando

anotações, pesquisando. Agora ‘o próximo’


Terceira parte,

E teve o dia em que choveu e ventou bastante, todos

corriam, até homens e mulheres, até a gente esquisita,

ai, ai. Os guarda-chuvas, como pássaros, quebrados,

jaziam no chão. Era novembro, um tipo de desfecho?

Não, ou sim? Depende da entonação, hãnn!? Como

naquele epílogo prematuro, eu diria, ou o laço.

Não, não quero mais escrever sobre mim, tenho

responsabilidades; venho abandonando a ideia de

uma biografia; queria me dedicar a escrever mas será

que eu sei fazer isso? Momentaneamente,

constantemente? Não é só falar em primeira pessoa?

Estou brincando, rs; isso de perder o dia todo

rabiscando e no final ainda ficar com uma enxaqueca

irritante é para os mártires. É coisa de desocupado?

Porém…?

Humm, queria me dedicar ainda mais a escrever

sobre outros temas, talvez um romance. Acho, e

tomara, que não vá passar fome, tem muito mais por

aí. Aliás, não posso passar fome, com meu trabalho

nunca fico sem nada, raramente alguém me esquece!

Enfim, La... Lariss... Lalá, é muito difícil explicar; ter

tantos cromossomos em comum e sermos tão…

disparas, umas palavrinhas hein. Somos pessoas,

portanto, este livro ficou assim incompleto, em várias

partes, mal acabado, foi mal.

Sei que a forma que utilizei foi desconexa, e como

pude pensar que seria o contrário? Juntei as palavras

e deixei o sentido subjetivo – a interpretação cabe a

quem se esforçar. Aviso logo que tenho problemas,

viu, tudo muda rapidão, o mundo girando mais e


mais. Mas e o desenvolvimento emocional... ficou

bom? ‘Não vivi; sobrevivi, cara’

Olha, desculpa de novo, por tudo; já disse até para

minha família. Ah... abusei de esquemas de conteúdo

e blocos associativos, todo por um ciclo para se

chegar a isso. E plaft, foi por cano abaixo! Rs. Como

te olhar na cama, abraçada a um macho, a umas

memórias de fumaça? Poxa Larissa, você só por

baixo, baixo, aaahh. Me deu raiva na hora, porque

peguei vocês em flagrante, sabe?! Mas fiquei e olhei,

olhei fundo. Estive na fresta da porta e meio que

gozei junto, humm. Mas tua cara de satisfeita não foi

tão legal. Ri mais, evaporei daí. Na saída do prédio as

luzes das vidas e mundos pela cidade me agrediam.

O tóc, tóc, tóc surdo e enfurecido do meu salto alto

chama a atenção, uma senhora vira para ver. Ela

repara distante e retrai o corpo a si mesma, nota que

está em outra enrascada. A doida que canta que

‘Prudência não, aaah meu Deus!!!’ Porém, mesmo

ela vende umas jujubas bem visíveis, rs. Eu paro,

escuto, presencio tanta bujinganga de camelô,

desculpem se bizarrei a velhinha, estou rindo para

tudo. Falei com ela, é apenas uma pobre ambulante

chamada: −Tia Luka! Meu nome di verdadi, fiia!

−Eu sei, minha querida. Eu te dei quatro reais. Falta

cinquenta de troco.

−Olha, antes de tu consegui erguê o narizinho eu já

tinha alugado us modo na sarjeta, sabi e.. −Se tu

soubesse que minha casa é que tem lanterna

vermelha... −Pois então, mi dá essa gorjetinha,

heheh, já qui somos tão parecida, amiga. Que papo

estranho. Tchau, Tia! ‘Poxa, eu sigo meu caminho,

ahh’ Eu hein! Deboche! Dita ruim e desalmada, não


quero ser chamada de anti-heroína, nenhuma de nós,

é que vivemos. Quem mais seria uma mulher rica

quando ganhasse todos esses obrigadas ou parabéns?

Aí sim me sentiria uma realizada? Mas que nada,

ainda há necessidade de muita, mas muita água em

pequenas doses ao longo do dia... meu rosto...

refrescando a pele macia. Portanto, a água e a mulher

são irmãs, dissolvem. Bato palmas para as mulheres,

nós podemos com a razão de tudo! Assim para a

água, a mesma premissa. Ah ia esquecendo! Algumas

perguntas finais, prometo não ser mais tão, tão…

pentelha! Somente para fechar o fluxo de

pensamento desse troço, escuta 1) Já tomou forma?

2) Ocorreu a característica de algo? 3) Você, ao ler,

teve qual impressão? 4) Qual a imagem que formou

de mim e das situações aqui relatadas? 5)

Entenderam o conceito de “Epílogo”? 6) Como anda

a tua imaginação?

Mas espera, pera,pera! E o epílogo secreto, o real

gran finale das pobres almas? Ver o conceber de uma

cena na cabeça é algo que me faz realizar? Você aí

entrou no espírito, no campo da descoberta, da

junção de ideias? E se ela voltasse, será que ia caber?

É difícil separar. Boa sorte, Larissa. Pelo menos

podemos tirar a grande lição de perdoar e tal, é justo.

Para este final, poderia até ficar muito triste, mas é

desnecessário tamanho clichê – sei que tudo isso

passa, sei que qualquer melhora é melhor que zero.

Sei também que em uma grande biografia os fatos

ruins vão sendo sobrepostos pela síntese do bom

tema. O ruim passa, é claro, reclama não. Por que se

desesperar, não aprendemos tanto? Faz assim, a

partir de agora agradecemos por viver e aprender

todas essas coisas! Somos fortes, gostamos dessa vida,


aprendemos todo dia. A vida é muito mais

interessante que lamentar; a experiência conta tanto

quanto se matar aos poucos. Você me disse isso,

anotei e tudo, rs. Sabemos o que é melhor agora,

acho que crescemos; viu como tentamos não vacilar

nem cambalear?

Ah, e sobre aquele assunto, é, aqueele, te digo que

ainda há tantas sensações, deleites, vamos encontrar

mais. E eu também não saberia ajudar na criação do

teu filho, teeeeu fillho. Vocês devem se entender, eu

vou tentar daqui, eu mesma não me criei toda ainda.

E olha que sou mais desorientada, à mercê do

mundo; pena não ser só homossexual, só um epílogo,

um apêndice ou final, alguém que é brilhante, cheia

de juventude, que… não sabe o quanto é incrível, rs.

Quem também não? As que sabem não dizem, é

coisa íntima.

Aí! Sim, Julia… alguém que se constrói por tempo; eu

decorro de vivência; sou alguém que dá

oportunidades a quem acha que merece. E agora

paramos aqui, é o agora, romance moderno de

vitrine. Como é mesmo que chamam aquilo que

desconhecem?

Não tento nem responder. Me queimem junto,

queima essa merda sem trama se não escrevermos

com força! Não dá para entender? Ahhh Larissa, seu

espectro... não me dana! Entra para o meu time,

vamos tentar pensar aí, poxa ☺

Oi? Emblema volta? Até seria difícil separar, mas

fiquei é bolada, talvez porque foi assim repentino

demais, sei lá. Boa sorte, lero-Lari. Naquela época até

inventei uma história para não ficar muito por baixo,

enviei por e-mail para evitar ter a desagradável

surpresa de ouvir tua voz. Olha, já passou, e por isso


vou falar de novo. Saca só: ‘Oi, francamente, eu não

gostaria mais de receber nenhum recado seu. Das

últimas vezes, meu novo namora-do não gostou (…)

nem eu estou mais interessada em saber notícias do

que você faz ou deixa de fazer. O que já tivemos

terminou. Amo meu homem e não desejo que nada

atrapalhe nosso relacionamento. Para que não haja

mais desentendimentos entre eu e meu na-mo-ra- do,

não quero mais que isso se repita. Boa sorte na sua

vida e adeus. Cháaau!’ Foi polida, né!? Atira a

primeira pedra quem faria diferente, éramos bobas,

nem pensava direito.

Cara, que tempo foi aquele? Ainda tenho algumas

sensações, éramos as patinhas feias kkkk; é, as

melhores são as que têm estilo, ficam memória.

Inclusive achei outro bilhete aqui, se liga “Porém, vêse

apenas normal... à mercê do mundo, é, numa era

de violência, pena não ser homossexual

integralmente. Nesse contexto existirá logo um

epílogo, apêndice e o final? Hein, filha!? Já para

aquela que é brilhante, cheia de juventude, é, minha

Julia... e não sabe o quanto é incrível? Ladra, linda,

hipócrita. Algumas também não, mas as que sabem

não dizem, é uma fatalidade íntima. Nada de dona de

casa! Ééé, doninha de casa de touca e avental. Que

pervertida, que fora da lei, à espreita relaxando um

marido. A dona de casa vira é a carranca da

sociedade, toda desmilinguida! Já uma sereia envolta

em aura aliciadora, assassina, ela é como você. ‘A

mulher que se deixa pouca nos antros caseiros é que

devia ser enforcada’, Julia diz. ‘A quantos me

procurarem eu direi que sempre fui contra’, outra

frase dela. Sim, aqueçam suas questões. Minha Julia

constrói pilares; esqueçam as Julia com corjas;

atentem às oportunidades das Julias que acham que


merecem. Isso é agora, fetiche moderno de vitrine

(...) Como é mesmo que chamam aquilo que

desconhecem? Ãn? Jus, jura, Julia, júbilo, e charme.

Mas de mentira? Isso mesmo? Mas foi opcional,

prazeroso, lucrativo, ah é. Mesmo iludida pela linda

cliente aqui (…) Corta! Boa semana, Julia. A cena foi

perdida.”

Acho que falei tanto, mas ainda tem outro bilhete,

direto do sarcófago, rs! “Volta para ele, vai, Larissa,

para o cara que faz coisas bestas do tipo esculachar os

outros. ‘Dexa eu lavar o vrido aí tio?’, pede um

flanelinha. E o teu maridão diz não. ‘Natal sem fome

pô’, fala o menor. O teu marido arranca com o carro,

e você pasma ao lado pede por perguntar: ‘Você não

tem pena?’ Ele responde: ‘Quem tem pena é galinha,

Lari. Você é o quê’ Viram? Um grosso. Sacaram

mesmo, não é?? Um caldo de testosterona e titica no

lugar da cabeça! Você deveria ter se vendido ao

casamento quando esse namoradinho te usou, sabe.

Não é pouco divertido pensar como seria diferente?

Agora eu é que estou desvirginada, enganada pela

vida? Ainda queria possuir uma cara de pau como

eu? Ou pensa mais além? Seríamos sacerdotisas? E

lá nobreza é hereditária!? Seríamos, ah é, vai achando

bobagem. Eu daqui vou passando, descobri ser

mesmo é observadora, já disse. Sem esperar a hora

de morrer, quero só que aconteça. ‘Eu tô fudrida

mêêrmo!’ fica ecoando. Boiando nesse rio indígena,

desabando nos hotéis decadentes com seus loucos

bêbados estrebuchando de cana na mente, na poesia

pós demais, no zap! Que mais queriam que eu fosse?

Assim é.”


Diante dessa beberagem, só precisa girar o botão e

zerar teus vestígios sentimentais, só não esquece que

o valor é simbólico, como “esperanssas”... blé! ‘A

prestação do corpo, sempre ela, é versada na língua

da enganação, e que belo exemplo já dito! Os

apreciadores amam’, eu lembrei também. E não foi

essa a Larissa que tentou mutilar com navalhadas o

rosto que esculpimos? O sangue ferveu, senti as

ondas de vermelho alastrando e enchendo minha

cara. Te faltou energia para largar o osso hoje,

ontem? A reação teve sua finalidade, empatamos.

Sabe, foi naquele dia que babou geral, fomos cada

uma para um canto. ‘Ah, mais uma vez?’, vocês

devem pensar, mas foi assim que chegamos a algum

lugar, queimando essas porcarias sem trama! Não é

para entender tudo, de primeira é mais difícil; certo

é que tudo caminha a algum final perdido, sem trato

social. ‘Aprende, ó menina. A Terra é para isso!’

Seria Deus se embananando e esquecendo os seres

vivos fazendo idiotices? E nós fazemos, ôô! Que

nada, é a gente mesmo, foram as nossas atitudes

então acho melhor não voltar para escola; não volto

atrás, ficamos com o que dá. Eita, caraca de bagunça;

e que viagem, amiga. Ninguém te dá rumo, né vida

loka!? É isso. Mas foi engraçado, sssssssiiiiii, fuuuu.

Foudassi, Lari


Última edição 2020 © Grossi, o Antigo

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