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Covid19 - Portugal e Espanha revelam como lidaram com a crise

Numa altura em que o mundo inteiro teve de se readaptar aos impactos provocados pelo SARS-CoV-2, os sistemas de saúde foram postos à prova durante o pico da pandemia. O novo coronavírus não deu tréguas a ninguém, exigindo respostas imediatas e eficazes de governantes, gestores e profissionais de saúde. Para debater a forma como tal foi feito, a Associação Portuguesa de Administradores Hospitalares (APAH) e a sua congénere espanhola, a Sociedad Española de Directivos de la Salud (SEDISA), organizaram um ciclo de quatro webinars subordinado ao tema “Partilha de experiências na luta contra a Covid-19”, no qual participaram especialistas de ambos os países, oriundos de contextos diferentes na área médica, farmacêutica e de gestão da saúde. Na abertura do primeiro encontro, no dia 30 de abril, Alexandre Lourenço, presidente da APAH, deixou claro que “não existem formas de enfrentar esta crise sem um trabalho comum”, realçando que “a experiência dos colegas espanhóis é muito importante para nós num combate que será longo”. Também no papel de moderador esteve José Soto Bonel, da direção da SEDISA e diretor do Hospital Clínico San Carlos, de Madrid, que partilhou o contexto espanhol na luta contra a Covid-19, o qual foi consideravelmente diferente do português, tendo em conta que, como recordou Alexandre Lourenço, “Portugal teve a sorte de não sofrer a pressão sobre o sistema de saúde que se observou em Espanha”.

Numa altura em que o mundo inteiro teve de se readaptar aos impactos provocados pelo SARS-CoV-2, os sistemas de saúde foram postos à prova durante o pico da pandemia. O novo coronavírus não deu tréguas a ninguém, exigindo respostas imediatas e eficazes de governantes, gestores e profissionais de saúde. Para debater a forma como tal foi feito, a Associação Portuguesa de Administradores Hospitalares (APAH) e a sua congénere espanhola, a Sociedad Española de Directivos de la Salud (SEDISA), organizaram um ciclo de quatro webinars subordinado ao tema “Partilha de experiências na luta contra a Covid-19”, no qual participaram especialistas de ambos os países, oriundos de contextos diferentes na área médica, farmacêutica e de gestão da saúde. Na abertura do primeiro encontro, no dia 30 de abril, Alexandre Lourenço, presidente da APAH, deixou claro que “não existem formas de enfrentar esta crise sem um trabalho comum”, realçando que “a experiência dos colegas espanhóis é muito importante para nós num combate que será longo”. Também no papel de moderador esteve José Soto Bonel, da direção da SEDISA e diretor do Hospital Clínico San Carlos, de Madrid, que partilhou o contexto espanhol na luta contra a Covid-19, o qual foi consideravelmente diferente do português, tendo em conta que, como recordou Alexandre Lourenço, “Portugal teve a sorte de não sofrer a pressão sobre o sistema de saúde que se observou em Espanha”.

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COVID-19<br />

<strong>Portugal</strong> e <strong>Espanha</strong><br />

<strong>revelam</strong> <strong><strong>com</strong>o</strong> <strong>lidaram</strong><br />

<strong>com</strong> a <strong>crise</strong><br />

ORGANIZAÇÃO<br />

APOIO<br />

PT-7023 aprovado a 08.06.2020


A Associação Portuguesa de Administradores Hospitalares (APAH) é, desde 1981, a<br />

organização representativa dos profissionais <strong>com</strong> funções de administração e gestão na<br />

área da saúde dedicando-se a apoiar o desenvolvimento de elevados padrões de exercício<br />

profissional, nos múltiplos contextos organizacionais onde desempenham funções,<br />

tendo em vista contribuir para a melhoria do seu desempenho, garantia da qualidade e<br />

excelência dos resultados em saúde em <strong>Portugal</strong>.<br />

Face à atual emergência da saúde pública, e porque globalmente a necessidade de<br />

resposta das organizações de saúde implicou a sua reorganização célere e eficaz, a<br />

APAH posicionou-se desde a primeira hora <strong><strong>com</strong>o</strong> entidade promotora e disseminadora<br />

do conhecimento e de boas práticas, numa lógica orientadora de partilha de soluções<br />

e respostas dos cuidados de saúde, dando uma ampla visão intra-hospitalar e<br />

extra-hospitalar <strong>com</strong> novo tempo <strong>com</strong> a Covid-19.<br />

Visite a APAH em www.apah.pt e siga a APAH no Facebook, Twitter, LinkedIn & Instagram<br />

e subscreva o Canal APAH no YouTube.<br />

A Sociedad Española de Directivos de la salud (SEDISA) é uma entidade sem fins<br />

lucrativos que agrupa mais de 1900 profissionais que ocupam um cargo diretivo na<br />

área da saúde. A missão da SEDISA consiste em transformar e fazer evoluir o modelo de<br />

saúde em vigor ao encontro da excelência, através da profissionalização dos diretores e<br />

da gestão da saúde, bem <strong><strong>com</strong>o</strong> da autonomia desta mesma gestão, formando diretores<br />

profissionais e líderes que orientem a transformação. Para tal, conta <strong>com</strong> associações<br />

territoriais fortes e grupos de trabalho que fomentam e elevam a investigação e o<br />

conhecimento em gestão da saúde, sócios satisfeitos e participativos, assim <strong><strong>com</strong>o</strong> a<br />

colaboração de profissionais de saúde e entidades assistenciais e de cuidados médicos.<br />

A <strong>crise</strong> sanitária provocada pela Covid-19 originou muitas mudanças, pelo que devemos<br />

fazer <strong>com</strong> que o sistema evolua até ao ponto em que seja possível estar a funcionar <strong>com</strong><br />

qualidade e eficácia. O ciclo de webinars <strong>com</strong> a Associação Portuguesa de Administradores<br />

Hospitalares (APAH) teve <strong><strong>com</strong>o</strong> objetivo partilhar experiências vividas e tirar lições das<br />

mesmas, o que é, sem dúvida, fundamental para avançar <strong>com</strong> esta transformação.<br />

Visite a SEDISA em www.sedisa.net e no blog www.medium.<strong>com</strong>/sedisa, siga-nos no<br />

Twitter @SEDISA_NET e LinkedIn e subscreva o nosso canal de Youtube.<br />

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COVID-19<br />

<strong>Portugal</strong> e <strong>Espanha</strong><br />

<strong>revelam</strong> <strong><strong>com</strong>o</strong> <strong>lidaram</strong><br />

<strong>com</strong> a <strong>crise</strong><br />

Ainda a viver o impacto da pandemia, este é o momento para partilhar experiências<br />

de boas práticas na gestão da <strong>crise</strong>. Profissionais de saúde de diversas áreas que<br />

têm estado na linha da frente, em <strong>Portugal</strong> e em <strong>Espanha</strong>, reuniram-se em quatro<br />

webinars <strong>com</strong> o apoio da AstraZeneca.<br />

Numa altura em que o mundo inteiro teve de se readaptar aos impactos provocados pelo<br />

SARS-CoV-2, os sistemas de saúde foram postos à prova durante o pico da pandemia. O<br />

novo coronavírus não deu tréguas a ninguém, exigindo respostas imediatas e eficazes de<br />

governantes, gestores e profissionais de saúde. Para debater a forma <strong><strong>com</strong>o</strong> tal foi feito,<br />

a Associação Portuguesa de Administradores Hospitalares (APAH) e a sua congénere<br />

espanhola, a Sociedad Española de Directivos de la Salud (SEDISA), organizaram um<br />

ciclo de quatro webinars subordinado ao tema “Partilha de experiências na luta contra a<br />

Covid-19”, no qual participaram especialistas de ambos os países, oriundos de contextos<br />

diferentes na área médica, farmacêutica e de gestão da saúde. Na abertura do primeiro<br />

encontro, no dia 30 de abril, Alexandre Lourenço, presidente da APAH, deixou claro que<br />

“não existem formas de enfrentar esta <strong>crise</strong> sem um trabalho <strong>com</strong>um”, realçando que “a<br />

experiência dos colegas espanhóis é muito importante para nós num <strong>com</strong>bate que será<br />

longo”. Também no papel de moderador esteve José Soto Bonel, da direção da SEDISA<br />

e diretor do Hospital Clínico San Carlos, de Madrid, que partilhou o contexto espanhol na<br />

luta contra a Covid-19, o qual foi consideravelmente diferente do português, tendo em<br />

conta que, <strong><strong>com</strong>o</strong> recordou Alexandre Lourenço, “<strong>Portugal</strong> teve a sorte de não sofrer a<br />

pressão sobre o sistema de saúde que se observou em <strong>Espanha</strong>”.<br />

“NÃO EXISTEM FORMAS DE ENFRENTAR ESTA CRISE SEM UM TRABALHO COMUM.”<br />

ALEXANDRE LOURENÇO<br />

Presidente APAH<br />

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MEDICINA INTENSIVA – ESPERANÇA NO FUTURO<br />

“Medicina Intensiva: organização e desafios da gestão da procura” foi o tema da<br />

primeira reunião online, que juntou José Artur Paiva, diretor do Programa de Prevenção<br />

e Controlo de Infeções e das Resistências aos Antimicrobianos (PPCIRA) e diretor do<br />

Serviço de Medicina Intensiva do Centro Hospitalar Universitário de São João (CHUSJ), no<br />

Porto, e Ricardo Ferrer, presidente da Sociedad Española de Medicina Intensiva, Crítica<br />

y Unidades Coronarias (SEMICYUC) e especialista no Serviço de Medicina Intensiva do<br />

Hospital Universitário Vall d’Hebron, em Barcelona.<br />

“A ORGANIZAÇÃO DOS HOSPITAIS POR ESPECIALIDADES MÉDICAS NÃO ESTÁ<br />

FOCADA NO DOENTE, NÃO ATINGE A SUA MÁXIMA EFICIÊNCIA, SENDO DE<br />

PREFERIR UMA ORGANIZAÇÃO POR PROCESSOS DE TRABALHO INTEGRADOS.”<br />

JOSÉ ARTUR PAIVA<br />

Diretor do Programa Nacional para a Prevenção e Controlo de Infeções e de Resistência aos Antimicrobianos (PPCIRA),<br />

Diretor do Serviço de Medicina Intensiva do CHUSJ e Presidente do Colégio de Medicina Intensiva da Ordem dos Médicos<br />

Se a tendência de muitos será a de olhar para as <strong>crise</strong>s <strong>com</strong> pessimismo, José Artur Paiva<br />

recusa fazê-lo. Bem pelo contrário. Até porque o que se observou foi uma preparação para<br />

a situação, tendo a task force da Direção-Geral da Saúde e Ministério da Saúde (grupo do<br />

qual faz parte) produzido linhas orientadoras para os planos de contingência dos serviços<br />

e da rede de medicina intensiva para o doente Covid-19 crítico. Quanto à resposta dada<br />

ao nível da Administração Regional de Saúde do Norte, o médico observou o aumento<br />

do número de camas alocadas à medicina intensiva (de 251 camas em janeiro deste<br />

ano para 409 em abril), <strong>com</strong> o primeiro caso de infeção a ser diagnosticado no nosso<br />

país no dia 2 de março. Durante o debate, o especialista sublinhou que “é importante<br />

fazer desta pandemia um momento de esperança no futuro da Medicina Intensiva”. Ao<br />

mesmo tempo, considerou que “a organização dos hospitais por especialidades médicas<br />

não está focada no doente, não atinge a sua máxima eficiência, sendo de preferir uma<br />

organização por processos assistenciais integrados”.<br />

“A PANDEMIA FOI O MAIOR DESAFIO DA HISTÓRIA DA MEDICINA INTENSIVA.”<br />

RICARDO FERRER<br />

Presidente da Sociedade Espanhola de Medicina Intensiva, Crítica e Unidades Coronárias (SEMICYUC)<br />

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Para Ricardo Ferrer, “a pandemia foi o maior desafio da história da Medicina Intensiva”,<br />

lembrando que, em meados de abril, <strong>Espanha</strong> registava mais de 210 mil casos de infetados<br />

e mais de 23 mil mortes, o que implicou a adoção de diversos planos de contingência,<br />

nomeadamente no que diz respeito ao número de camas alocadas às unidades de<br />

cuidados intensivos (UCI). O especialista recordou que o isolamento no seu país foi<br />

decretado em meados de março, quando estavam já internadas nestas unidades cerca<br />

de 250 pessoas, pelo que “tendo em conta o que se viu depois, esta terá sido uma decisão<br />

tardia, porque a circulação <strong>com</strong>unitária do vírus era já muito importante”.<br />

LIÇÕES DA LINHA DA FRENTE<br />

Tendo lidado <strong>com</strong> escassez de recursos humanos, de equipamentos e até de fármacos<br />

no <strong>com</strong>bate à Covid-19, Ricardo Ferrer partilhou algumas das aprendizagens que reteve<br />

da sua experiência na linha da frente, em Barcelona:<br />

• Os profissionais de saúde devem receber formação sobre equipamentos de proteção<br />

individual (EPI) e procedimentos de alto risco, <strong><strong>com</strong>o</strong> reanimação cardiorrespiratória<br />

e intubação;<br />

• É importante que haja um uso racional de EPI e verificação frequente de stocks;<br />

• Há que estabelecer tempos de descanso frequente para os profissionais de saúde<br />

em áreas adequadas;<br />

• Devem prevenir-se situações de stress e ansiedade, permitindo acesso a apoio<br />

psicológico e garantindo uma correta distribuição de trabalho;<br />

• São necessários planos de contingência a nível nacional;<br />

• A fase de contenção deve ser iniciada antes de haver doentes nas UCI;<br />

• Reconhecer a transmissão <strong>com</strong>unitária o mais cedo possível é determinante;<br />

• As equipas devem ser multidisciplinares.<br />

URGÊNCIA – UM SERVIÇO FULCRAL NO SISTEMA<br />

“Resposta da Urgência: acesso, despistagem e encaminhamento” foi o tema do segundo<br />

webinar, no dia 5 de maio, durante o qual ficou patente a relevância dos serviços de<br />

urgência (SU) na resposta à situação provocada pelo SARS-CoV-2. Nelson Pereira,<br />

coordenador Covid-19 no SU do CHUSJ, apresentou a experiência vivida naquele que<br />

é o maior hospital da região Norte e também o que, sobretudo no início da <strong>crise</strong> no<br />

nosso país, “estava verdadeiramente na linha da frente, <strong>com</strong> maior número de casos”.<br />

Sobre a forma <strong><strong>com</strong>o</strong> a instituição se preparou para lidar <strong>com</strong> a situação, referiu a criação,<br />

logo a 26 de fevereiro, de uma área específica no hospital para doentes suspeitos; a<br />

instalação preventiva, a 7 de março, de um hospital de campanha; a suspensão das visitas<br />

hospitalares a 9 de março e, um dia depois, a reorganização do espaço de triagem. No<br />

dia 12 de março, quando havia 77 casos registados em <strong>Portugal</strong>, foi decidida a suspensão<br />

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de toda a atividade programada não urgente e também a suspensão dos campeonatos<br />

de futebol, sendo que o dia seguinte foi o último dia de aulas. Segundo o especialista,<br />

“todas as medidas políticas que foram tomadas muito cedo, <strong>com</strong>parativamente <strong>com</strong><br />

outros países, foram muito importantes”, reforçando que “tivemos a possibilidade de ler<br />

os sinais que os outros países nos transmitiam e atuámos muito cedo”.<br />

“TODAS AS MEDIDAS POLÍTICAS QUE FORAM TOMADAS MUITO CEDO,<br />

COMPARATIVAMENTE COM OUTROS PAÍSES, FORAM MUITO IMPORTANTES.”<br />

NELSON PEREIRA<br />

Coordenador COVID Serviço de Urgência do Centro Hospitalar e Universitário São João<br />

Na altura da apresentação, o clínico referiu que estavam à espera “que os próximos dias<br />

e semanas trouxessem alguma estabilidade para permitir voltar à nova normalidade”, o<br />

que de facto acabou por acontecer. Segundo Nelson Pereira, “Esta <strong>crise</strong> veio mostrar que<br />

os SU são fulcrais no sistema, pelo que os seus profissionais têm de ser reconhecidos,<br />

empoderados e ver a sua carreira reconhecida por todos e não apenas em momentos de<br />

<strong>crise</strong>”, resumiu.<br />

É IMPORTANTE QUE HAJA PLANOS DE CUIDADOS DE SAÚDE QUE POSSAM SER<br />

ESCALADOS EM CASO DE NOVAS ONDAS.”<br />

TATO VÁZQUEZ LIMA<br />

Primeiro Vice-Presidente da Sociedade Espanhola de Medicina de Urgências e Emergências<br />

e Membro do Comité Covid-19 da Junta da Galiza<br />

Por sua vez, Tato Vázquez Lima, primeiro vice-presidente da Sociedad Española de<br />

Medicina de Urgencias y Emergencias (SEMES) e membro do Comité Covid-19 da<br />

Junta da Galiza, reforçou que “só podemos construir o futuro conhecendo o passado”,<br />

sustentando que “é necessário muito cuidado <strong>com</strong> os passos que vamos dar agora”.<br />

Acima de tudo, destacou que “é importante que haja planos de cuidados de saúde que<br />

possam ser escalados em caso de novas ondas”. De igual forma, Juan González Armengol,<br />

presidente da SEMES, frisou que “é importante ter memória”, invocando a mortalidade<br />

da epidemia de gripe que marcou o século XX e deixando no ar o que pode vir ainda a<br />

acontecer no que diz respeito à Covid-19: “Ao contrário do que se disse no princípio, não<br />

estávamos preparados.” O especialista passou em revista o plano posto em prática pelo<br />

Governo espanhol para dar resposta à situação, tendo acabado por sintetizar aquilo que<br />

retém de toda a experiência.<br />

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Este segundo encontro contou <strong>com</strong> a moderação de Miguel Lopes, secretário-geral da<br />

APAH, de Domingo del Cacho, responsável da SEDISA em Madrid e diretor do Hospital<br />

Universitário Severo Ochoa, na mesma cidade, e ainda de Pascual Piñera Salmerón,<br />

segundo vice-presidente da SEMES.<br />

“BILL GATES AVISOU”<br />

Juan González Armengol sintetizou em quatro pontos as aprendizagens mais relevantes<br />

que a pandemia lhe trouxe:<br />

1. Cientistas, políticos e até Bill Gates avisaram que “a globalização é um vetor<br />

de transmissão de pandemias” e algumas medidas devem ser agora tomadas,<br />

nomeadamente, “a política veterinária terá de ser, de alguma maneira, uniformizada”;<br />

2. A apoiar as decisões políticas é necessário que estejam epidemiologistas;<br />

3. A pedagogia junto dos cidadãos sobre o vírus funcionou bem e foi importante. O<br />

trabalho de equipa também;<br />

4. O trabalho da prevenção em saúde é fundamental.<br />

A RESPOSTA FARMACÊUTICA<br />

Crucial na forma de gerir a <strong>crise</strong> foi também a resposta dada pelos farmacêuticos,<br />

sobretudo os hospitalares, tendo esta dimensão sido alvo de análise no terceiro webinar,<br />

no dia 7 de maio. Na reunião participaram Olga Delgado, presidente da Sociedad<br />

Española de Farmacia Hospitalaria (SEFH) e diretora do Serviço de Farmácia do Hospital<br />

Universitário Son Espases, em Palma de Maiorca, e Helena Farinha, da direção da Ordem<br />

dos Farmacêuticos. De acordo <strong>com</strong> a oradora espanhola, “enfrentar a pandemia tem sido<br />

um desafio profissional enorme”, porque “estamos habituados a lidar <strong>com</strong> evidência,<br />

mas neste caso a evidência não era sólida”. Aliás, “não só faltou a evidência <strong><strong>com</strong>o</strong> faltaram<br />

também medicamentos para tratar doentes críticos”, afirmou, dizendo que a situação<br />

enfrentada foi “muito <strong>com</strong>plexa”.<br />

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“ENFRENTAR A PANDEMIA TEM SIDO UM DESAFIO PROFISSIONAL ENORME.”<br />

OLGA DELGADO<br />

Presidencia de la Junta Directiva de la Sociedad Española de Farmacia Hospitalaria<br />

y Jefa del Servicio de Farmacia del Hospital Universitari Son Espases<br />

Desde a gestão dos recursos humanos – “que já são escassos” – até à gestão de stocks e<br />

de disponibilidade de medicamentos, a farmacêutica confessou que os desafios foram<br />

inúmeros. “Como fazer a aquisição de novos medicamentos que surgem <strong><strong>com</strong>o</strong> hipótese<br />

de <strong>com</strong>bate ou controlo à doença, mas tratando-se de uma utilização off-label?”, foi uma<br />

das questões a necessitar de resposta urgente, tendo ainda sido necessário repensar os<br />

“sistemas de proximidade para disponibilidade de medicação a doentes em ambulatório”.<br />

Helena Farinha apontou dificuldades idênticas, reforçando a necessidade de “manter a<br />

atividade assistencial aos doentes não Covid-19, ao mesmo tempo que se dava resposta<br />

pronta, eficaz e segura à pandemia”. Ainda assim, lembrou que a capacidade de organizar<br />

uma resposta deste tipo “faz parte do ADN dos farmacêuticos”. Quanto ao futuro, a<br />

profissional de saúde lembrou que “sempre se falou em otimizar e reforçar os recursos<br />

humanos”, sendo que “a nossa demografia vai acabar por impô-lo”. Todavia, assumiu que<br />

“não há uma resposta simples e entre todos teremos de encontrar o melhor caminho,<br />

aproveitando a capacidade instalada e também o online, sem <strong>com</strong>prometer a qualidade<br />

assistencial”.<br />

“NÃO HÁ UMA RESPOSTA SIMPLES [PARA ENFRENTAR O FUTURO] E ENTRE<br />

TODOS TEREMOS DE ENCONTRAR O MELHOR CAMINHO, APROVEITANDO<br />

A CAPACIDADE INSTALADA E TAMBÉM O ONLINE, SEM COMPROMETER A<br />

QUALIDADE ASSISTENCIAL”<br />

HELENA FARINHA<br />

Dirección Nacional de la Orden de Farmacéuticos<br />

A moderar o encontro, Miguel Lopes sustentou o desejo de que “os políticos reconheçam<br />

que o investimento em saúde é o melhor investimento que se pode fazer em políticas<br />

públicas” e de que “é fundamental assegurar que a construção de um novo modelo<br />

assistencial deve ter presente o envolvimento e a participação dos cidadãos na sua<br />

construção”. A moderar esteve ainda Rafael López Iglesias, da direção da SEDISA e antigo<br />

responsável regional de saúde de Castela e Leão, que refletiu <strong>com</strong> a audiência o quanto<br />

“esta pandemia transformou os nossos sentidos, nomeadamente, desenvolveu a visão<br />

e a audição, mas atrofiou os restantes”, o que poderá ter consequências em sociedades<br />

<strong><strong>com</strong>o</strong> a portuguesa e espanhola, em que “o contacto físico é prioritário”, afirmou.<br />

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RESPOSTA IMEDIATA NA ÁREA DA FARMÁCIA<br />

Olga Delgado enumerou algumas das soluções postas em marcha pela SEFH <strong>com</strong><br />

grande rapidez:<br />

• Microsite alojado na página da SEFH <strong>com</strong> informação sobre procedimentos de<br />

farmácia hospitalar para a gestão da Covid-19, nomeadamente sobre medicamentos,<br />

investigação clínica, normas nacionais e internacionais e até informação sobre<br />

utilização de EPI;<br />

• Criação de um fundo solidário coordenado pela SEFH para melhorar a cobertura<br />

de necessidades nos serviços de farmácia hospitalar, que contou <strong>com</strong> donativos de<br />

inúmeros laboratórios farmacêuticos, entre outros;<br />

• Consultas de telefarmácia para dar apoio a doentes em ambulatório;<br />

• Apoio aos alunos do 5.º ano do curso de farmácia que precisavam de fazer as aulas<br />

práticas, sendo que esta lacuna foi suprida através do site da SEFH;<br />

• Criação de um Registo Nacional de Resultados de Farmacoterapia no âmbito da<br />

Covid-19, que contou <strong>com</strong> 6 mil doentes registados para investigação científica.<br />

HOSPITAIS EM TEMPO DE CALAMIDADE<br />

“Resposta através dos hospitais de campanha” foi o tema do último debate deste ciclo<br />

de conferências, no dia 12 de maio, <strong>com</strong> a participação de Javier Marco, especialista em<br />

Medicina Interna no Hospital Clinico San Carlos, em Madrid, e codiretor do hospital IFEMA,<br />

também na capital espanhola. Este foi um dos hospitais de campanha construídos no<br />

país vizinho para dar resposta ao coronavírus, o qual levou ao limite os recursos do sistema<br />

nacional de saúde, “numa <strong>crise</strong> sem precedentes”, <strong><strong>com</strong>o</strong> descreveu na abertura da reunião<br />

Pere Vallribera Rodríguez, secretário-geral da SEDISA e presidente da Sociedade Catalã<br />

de Gestão Sanitária. Em concreto, os primeiros módulos deste hospital foram instalados<br />

de um dia para o outro, literalmente, na Feria de Madrid (IFEMA), depois de, no dia 20 de<br />

março, ter sido decidida a sua instalação <strong><strong>com</strong>o</strong> consequência de os SU da cidade terem<br />

ultrapassado o seu limite: estima-se que, na altura, cerca de 2500 pessoas esperavam<br />

para ser atendidas. No dia 21 de março, 15 horas depois de iniciadas as obras, <strong>com</strong>eçaram<br />

a admitir os primeiros doentes e 48 horas depois estavam a esgotar a lotação do primeiro<br />

pavilhão <strong>com</strong> 350 camas ocupadas.<br />

“SE DEMORASSE MAIS [A CONSTRUÇÃO DO HOSPITAL IFEMA]<br />

NÃO TERIA SIDO ÚTIL.”<br />

JAVIER MARCO<br />

Especialista em Medicina Interna no Hospital Clínico San Carlo e Co-diretor do Hospital de IFEMA<br />

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Segundo Javier Marco, para a concretização do hospital de campanha beneficiaram do<br />

contributo de mais de duas centenas de voluntários, que “durante dois dias instalaram<br />

35 quilómetros de condutas de oxigénio”, para que cada cama dispusesse deste recurso.<br />

Mas o maior problema <strong>com</strong> que se debateram foi mesmo a “disponibilidade de médicos,<br />

porque todas as unidades de saúde estavam a trabalhar no limite”. De acordo <strong>com</strong> o<br />

clínico, a “premissa desde o início foi a de que este hospital de campanha funcionasse<br />

<strong><strong>com</strong>o</strong> um hospital normal”, razão por que foi necessário escrever mais de 30 circuitos e<br />

protocolos, “para que todos soubessem o que fazer, para que ninguém inventasse”.<br />

O ciclo de webinars foi encerrado por Miguel Lopes e Pere Vallribera Rodríguez, que<br />

realçaram o enriquecimento proporcionado a todos pelas partilhas. Nas palavras do<br />

secretário-geral da SEDISA, ficou demonstrado que “o sistema de saúde conseguiu dar<br />

resposta a uma <strong>crise</strong> inesperada”, mas agora “todos temos a obrigação de aprender <strong>com</strong><br />

o que fizemos mal”, até para melhor sabermos enfrentar futuras situações idênticas.<br />

O QUE A PANDEMIA ME ENSINOU<br />

Estar no terreno a instalar aquele que se tornou no maior hospital de <strong>Espanha</strong> durante<br />

o pico da pandemia, deu a Javier Marco uma experiência única e cujos três maiores<br />

ensinamentos partilhou <strong>com</strong> a audiência:<br />

1. A chave do êxito foi a rapidez <strong>com</strong> que o hospital foi construído: “Se demorasse mais<br />

não teria sido útil.”<br />

2. “As pessoas entregaram-se e isso foi muito importante”, disse referindo-se ao<br />

voluntariado de quem trabalhou de forma “muito intensa”.<br />

3. “Coincidiram pessoas muito boas – não eu - na parte diretiva e isso também foi muito<br />

importante”, resumiu.<br />

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MAIO 2020<br />

ORGANIZAÇÃO<br />

APOIO

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