SCMedia News | Revista | Abril 2020
A revista dos profissionais de logística e supply chain.
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O MUNDO É REDONDO, por Cláudia Brito<br />
The Diet Myth, Tim Spector,<br />
Weidenfeld & Nicolson, 2015 edition<br />
Comer correctamente, dormir bem e fazer exercício adequado podem fazer toda a diferença entre a vida e a<br />
morte duma pessoa, ao fortalecerem o seu sistema imunitário. Enquanto não há uma vacina, e os tratamentos<br />
são muito experimentais, a única barreira eficaz entre nós e um vírus novo, altamente contagioso e mortífero,<br />
é a nossa imunidade natural. Assim, uma dieta correcta não é tanto aquela que nos faz ficar magros como a<br />
que nos faz ser saudáveis, embora muitas vezes as duas coisas andem de mãos dadas.<br />
O que é comer correctamente? Por incrível que<br />
pareça, dado que comemos desde os primórdios<br />
da nossa existência, esta é uma pergunta para<br />
a qual não há uma resposta consensual.<br />
A razão principal, diz Tim Spector, baseado<br />
em investigação científica, sólida apesar de<br />
por vezes controversa, é que somos muito<br />
mais diferentes uns dos outros do que os<br />
nossos genes indicam. A mesma comida tem<br />
efeitos diferentes até em gémeos idênticos<br />
(que são virtualmente clones) porque o<br />
seu microbioma ou microbiota individual<br />
(população de micróbios existente no intestino),<br />
reconhecidamente um novo órgão do corpo,<br />
forma-se desde o nascimento e varia de pessoa<br />
para pessoa. Diferenças no microbioma podem<br />
explicar porque algumas pessoas se dão bem<br />
com algumas dietas, as quais são desastrosas<br />
para outras.<br />
O microbioma evoluiu connosco ao longo de<br />
milhões de anos, alinhando cuidadosamente<br />
os seus genes com os nossos, para evitar<br />
sobreposições desnecessárias. Dado a sua<br />
capacidade de replicação exponencial, os<br />
micróbios podem adaptar-se mais rapidamente a<br />
novas dietas. Contudo, dietas restritivas de certos<br />
alimentos, assim como os antibióticos, reduzem<br />
a diversidade do microbioma e levam a uma<br />
saúde mais frágil. Há quinze mil anos, os nossos<br />
antepassados consumiam cento e cinquenta<br />
ingredientes diferentes numa semana, enquanto<br />
que a maioria de nós agora consome menos de<br />
vinte itens alimentares (sobretudo milho, soja,<br />
trigo e carne).<br />
Em relação aos mitos propriamente ditos, um<br />
dos mais difundidos é que a epidemia da obesidade<br />
se deve a comermos demais e nos exercitamos<br />
de menos. Uma caloria é uma caloria, certo? Na<br />
realidade, testes experimentais demonstraram que<br />
o mesmo número de calorias de “fast-food” e de<br />
alimentos integrais, fruta e vegetais têm efeitos<br />
muito diferentes em termos energéticos no nosso<br />
organismo. Isto porque o excesso de peso se deve<br />
maioritariamente a um microbioma desequilibrado<br />
e pouco diverso.<br />
Tim Spector dá-nos ainda a boa notícia de que<br />
(em moderação!) o vinho tinto, o alho, o chocolate,<br />
o azeite extra virgem e as algas marinhas são<br />
benéficas para nós, por conterem polifenóis. Estes<br />
alimentam os micróbios “bons” que limpam o nosso<br />
organismo de compostos tóxicos e inflamatórios,<br />
afastam os micróbios “maus” e produzem antioxidantes<br />
e anti-cancerígenos. Como disse o pai<br />
da medicina, Hipócrates, há vinte e cinco séculos:<br />
“Que o teu alimento seja o teu remédio e o que o<br />
teu remédio seja o teu alimento”.<br />
Tim Spector é professor de Epidemiologia Genética no<br />
King’s College em Londres. É especialista em estudos<br />
de gémeos, genética, epigenética, microbioma e dieta.<br />
Dedicou este livro “à sua família e a outros micróbios”.