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sobre mim
Nasci em 1996, na cidade de Diadema, localizada
na região metropolitana de São Paulo. Minha
terra natal é uma zona periférica da capital
e historicamente perigosa. Em 1997, quando eu
tinha um ano, Diadema foi considerada a cidade
mais violenta do Brasil com 140,4 homicídios por
100 mil habitantes¹.
Minha família é composta por mineiros e paraibanos.
Ambas as partes migraram para São Paulo
em busca de melhores condições de vida e, se
possível, a perspectiva de um futuro melhor para
os que ainda estavam por vir.
Em 2014, ano do resultado do meu vestibular,
fui aprovado em três faculdades privadas através
do Programa Universidade para Todos, o ProUni.
Mas minha vontade sempre foi estudar em uma
universidade pública. Não apenas pelo título e pela
“gratuidade”, mas pela projeção que tinha na minha
cabeça sobre como seria a experiência de sair de
casa para viver e crescer ao lado de desconhecidos.
Na lista final de aprovados, vi meu nome na
136ª posição no sistema universal. Nas cotas eu
precisava de três desistências para conseguir uma
vaga na UNESP e, consequentemente, me mudar
para Bauru. Desacreditado, fiz minha matrícula no
curso de Moda da Santa Marcelina, 100% gratuito
pelo ProUni.
Dias entre o anúncio da primeira e segunda lista,
resolvi entrar no site da Vunesp por pura ansiedade.
Lá estava uma errata que corrigia as notas
finais do curso de Arquitetura e Design. Com o
novo cálculo, sai da posição 136 e fui para 62. O
curso oferecia 60 vagas. Não era certeza, mas em
comparação ao primeiro resultado, estava dezenas
de posições mais próximo da minha aprovação. E
foi o que aconteceu. Fui aprovado em Design na
Faculdade de Arquitetura, Artes e Comunicação da
UNESP Bauru. O primeiro da família a entrar numa
universidade pública.
No começo foi tudo muito difícil. Sou naturalmente
uma pessoa reservada e, com as consequências
da rígida criação dada por minha mãe,
tudo era muito mais inédito e trabalhoso. Ao lado
de amigos, especialmente de uma amiga que me
acolheu desde o começo, consegui sair da minha
zona de conforto — às vezes a força, mas sempre
necessário. E tirei, aos poucos, as camadas de
insegurança que existiam em mim desde que me
conheço por gente. Bebi muito, dancei muito, chorei
muito. Tudo o que eu fiz teve o “muito” como advérbio.
E, de tudo isso, são pouquíssimas as coisas
que eu realmente me arrependo de ter feito.
No meio da faculdade percebi que estava me
encaminhando para uma maturidade que me cobrava
um rumo profissional. Afinal, me mudei para
Bauru a procura disso. Me interessei por ementas
de várias disciplinas, mas sempre senti que meu
processo de aprendizado funcionava melhor de forma
isolada. Já tinha experimentado alguns projetos
da faculdade, mas não me interessei o bastante
por nenhum. De qualquer forma, eu fazia questão
de entrar e, mesmo que minimamente, deixar mi-
1 Segundo matéria da Folha de São Paulo, escrita por José Roberto de Toledo
e disponível neste link (acesso em janeiro de 2020)
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