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Revista Sarava Science, Ano 2, n 1, Jun 2019

revista saravá science – é uma publicação de responsabilidade do Percurso Livre em Psicanálise (PLP), Natal, RN, Brasil.

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44

Erotomania

Cecília Santos

AAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAA

AAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAA

sozinho.” (Sic)

Então eu me questionava: seria a erotomania o que

possibilitava o estabelecimento do vínculo necessário

ao tratamento? Ou a erotomania estava para um

escape às vivências do desamparo? Ou ainda, ambas

as situações se contrapunham para as elaborações

necessárias a análise de Gilberto?

Freud (1856-1939), sobre a transferência, ressalta as

possibilidades de ela se manifestar durante o

tratamento, seja como resistência, ou como modos

ambivalentes de afetos endereçados ao analista, em

que o amor indica a transferência positiva e o ódio a

transferência negativa. Em qual seja o modo pelo qual

ela se apresenta, é ela a própria condição necessária

ao tratamento.

No texto “Destinos Contemporâneos do Narcisismo:

Atualidade de Heinz e Kohut” Cunha (2016) propõe que

os autores supracitados acrescentam que, na

transferência com os pacientes narcísicos, embora haja

superinvestimento do analista por parte do analisante,

para este, o analista não está para o vínculo objetal,

mas como sustentáculo de seu próprio psiquismo, a

considerar a fragilidade de seu self fragmentado, o que

se acrescenta um ponto central na positivação do

narcisismo, e cita-se:

Mesmo sobre a forma de idealização,

megalomania, ou reações de fúria narcísica, o

laço transferencial pode constituir-se em

etapa necessária, ainda que retardada, do

processo de construção de um self coeso e

de reconhecimento da alteridade, ou seja, de

ultrapassamento da fase transicional na qual

o sujeito encontra-se capturado (Cunha, 2016,

pag.105).

Ao se debruçar sobre a temática da erotomania,

Berlinck (2009), dentre as variadas maneiras de

manifestação deste fenômeno, ressalta o amor de

transferência como um dos destinos ao material de

amor, onde o paciente coloca o analista numa posição

idealizada, de quem sabe sobre o seu sofrimento.

“Sendo importante que o analisante seja capaz de

substituir o amor pelo desejo de análise” (Chaves,

2013) e que o processo de análise e a transferência se

tornem possibilidades de viabilizar o acontecimento de

algo novo.

Contudo, entre o uso da cisão, a fim de proteger o seu

ego frente as ameaças advindas das relações objetais,

e as manifestações da erotomania, Gilberto parece ter

reeditado um modo alternado e antagônico como

resposta à minha figura, a partir do que eu ia lhe

ofertando em cada experiência na análise.

As apostas por mim realizadas, de uma posição de

maior reserva, e alguns cortes no simbólico, por vezes

ressoaram em consequentes desinvestimentos do

processo analítico, por parte do Gilberto. Um exemplo

acontece quando retorno de um período (longo) de

férias e noto o quanto intrusiva pode ter sido a minha

ausência, considerando que, o paciente que retorna a

análise, estava mais próximo daquele que em

frangalhos iniciou o processo, do que, aquele de quem

me despedi em sessão anterior ao recesso.

Talvez, sua resposta a tais intervenções tenha ocorrido

pelo modo como as coloquei para ele,

Similarmente, Minerbo (2013), traz que:

Não é como no caso da neurose, resultado

de uma falha do objeto erótico, mas de uma

falha do objeto narcísico. Em lugar de salvar o

narcisismo do sujeito, o objeto foi fonte de

ameaça. Estamos num terreno em que as

vivências subjetivas são de vida ou morte; o

ódio arcaico é muito violento, proporcional à

ameaça de morte vivida pelo eu. É um ódio

que não chegou a ser integrado ao amor;

está sempre latente, pronto a ser acionado à

repetição da experiência dolorosa. Na

contratransferência, sentimos que o vínculo

analítico pode ser destruído pelo ódio do

analisando. (Minerbo, 2013, Pag.101).

Por outro lado, em alguns momentos em que eu lhe

ofertava mais continência e acolhimento, entoavam da

parte de Gilberto, discursos idealizados sobre mim e

sobre o vínculo clínico, entre eles, o de sentir-se como

uma criança quando acolhida por sua mãe.

Contudo, tal dialética me fazia pensar a dificuldade em

privilegiar um dos polos destas posições éticas e

técnicas, sem que pudesse oferecer riscos ao processo

vivenciado com Gilberto. Entretanto, ocupar o lugar

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REV. SARAVÁ SCIENCE, Nº 1, JUNHO, 2019.

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