34[...] a psicanálise evocou-sedesse outro fluxo sanguíneo(desrazão) quando decidiutransitar no corpus doconhecimento através de seupróprio suporte epistêmico deconstrução desaber.” [...]Ciência & Psicanálise
35Inconsciente: entre Razão e DesrazãoPedro von SohstenAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAA"Ouvimos muitas vezes a opinião de que uma ciênciadeve se edificar sobre conceitos básicos claros eprecisamente definidos, mas, na realidade, nenhumaciência, nem mesmo a mais exata, começa com taisdefinições. O verdadeiro início da atividade científicaconsiste muito mais na descrição de fenômenos quesão em seguida agrupados, ordenados ecorrelacionados entre si." (Sigmund Freud)Trabalhar algumas idéias pertinentes para a construçãode conhecimento oriundo da psicanálise, e que, noentrelaço, ao longo da história do conhecimento dacientificidade, propiciaram ou influenciaram a emersãodo saber psicanalítico, é foco desse percurso deimbricações teóricas. Busca-se, assim, um recorte detrabalho, que discorrerá, tentando elencar, a relação doobjeto de estudo da psicanálise – o inconsciente –frente a um binômio, de traçado filosófico e epistêmico,caracterizado enquanto Razão e Desrazão.E em tal apreciação de caracteres disparadores para aconstrução desse ensaio, aponta-se que, buscar-se-áaqui, apenas, uma breve aproximação de algumasidéias, que permitam, no campo da associação desentidos, entre elucidação e questionamentospossíveis, de elementos que podem ser pertinentes aoprojeto de produção de conhecimento que é galgado apartir do campo ideacional psicanalítico, além de tentarproblematizar, neste ensejo, algumas intercessões anteditames proximais do discurso científico.Então, para tal, se torna fator imprescindível e degrande relevância para iniciar este traçado, apontarcerta posição do campo da psicanálise enquantoelemento de relação com o campo de produção doconhecimento, na cientificidade. Michel Foucault(1966/1999) em seu livro “As palavras e as coisas”parece nos apontar algo para se principiar, de maneiraconcisa e confusa, nesse caminho de fazerconhecimento a partir do campo psicanalítico, e cita-se:Dando-se por tarefa fazer falar através daconsciência o discurso do inconsciente, apsicanálise avança em direção desta regiãofundamental onde se travam as relaçõesentre a representação e a finitude. Enquantotodas as ciências humanas só se dirigem aoinconsciente virando-lhe as costas,esperando que ele se desvele à medida quese faz, como que por recuos, a análise daconsciência, já a psicanálise apontadiretamente para ele, de propósitodeliberado – não em direção ao que deveexplicitar-se pouco a pouco na iluminaçãoprogressiva do implícito, mas em uma direçãoao que está ai e se furta, que existe comsolidez muda de uma coisa, de um textofechado sobre si mesmo, ou de uma lacunabranca num texto visível e que assim sedefende. (p.518).Foucault faz um apontamento decisivo de certaespecificidade do caminho de produção doconhecimento em psicanálise. O objeto de estudopsicanalítico, o inconsciente, definido por Freud(1900/2001) em seu livro “A Interpretação dos Sonhos”,ressoa e abre campo de questões problemáticas naedificação do campo de idéias psicológicopsicanalíticas.No livro citado acima Freud nos revelaalgo desse objeto de estudo, ao anunciar, numa tônicade certo quantum de assertividade que: “Oinconsciente é a verdadeira realidade psíquica; em suanatureza mais íntima, ele nos é tão desconhecidoquanto a realidade do mundo externo” (p.584).O inconsciente, enquanto objeto de estudo dapsicanálise – e tomado, neste campo, comosustentáculo de teorização sobre o psíquico –, em suasformulações e definições, traz diversos problemas decunho epistêmico para a relação do campopsicanalítico de conhecimento com o conhecimentocientificado, como assim já ressaltou, anteriormenteFoucault.Trabalhar com a construção do conhecimento provindo....................................................................................................................................................................................................REV. SARAVÁ SCIENCE, Nº 1, JUNHO, 2019.