Revista Sarava Science, Ano 2, n 1, Jun 2019
revista saravá science – é uma publicação de responsabilidade do Percurso Livre em Psicanálise (PLP), Natal, RN, Brasil.
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Artigo
Ara Yara Monteiro
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da suma sacerdotisa dos druidas – Norma. Nesse
momento, ele reaparece como alvo para sua pulsão de
morte, mas reaparece também a ambivalência de
Norma em relação a ele.
A pulsão de morte é deslocada em direção à relação
entre Adalgisa e Polione, e Norma promete perdoá-lo
se ele abandonar a jovem sacerdotisa. Novamente
Polione nega. Outro deslocamento da pulsão acontece
e Norma, depois de ameaçar os filhos, resolve
denunciar Adalgisa, para que ela morra queimada e
assim, a vingança contra Polione seja realizada. A
respeito desses deslocamentos da pulsão de morte,
Freud observa em O Ego e o Id (1923) que,
essa libido deslocável é empregada a serviço
do princípio de prazer, para neutralizar
bloqueios e facilitar a descarga. Com relação
a isso, é fácil observar uma certa indiferença
quanto ao caminho ao longo do qual a
descarga se efetua, desde que se realize de
algum modo (p.60).
Ainda sobre os deslocamentos de pulsão, mas
considerando-se a ótica do Romantismo, vemos Norma,
numa busca desesperada, pendendo cada hora para
uma direção, sem conseguir resolver seu problema.
Loureiro (2001, p.258), num comentário sobre a
estrutura da ironia romântica, nos remete a algo
interessante: a “oscilação entre pólos opostos, no
intuito de eludir/superar uma impossibilidade da qual
já somos plenamente conscientes”. Diante de tantas
recusas de Polione, por mais que tentasse fugir ou se
negar a aceitar, estava explícito para Norma que sua
relação com Polione havia chegado ao fim.
Quando está diante de todos para anunciar sua
decisão e denunciar Adalgisa, Norma entra num
conflito moral, não concebendo que outra pessoa
pague por seus erros. A pulsão de morte é
reintrojetada e Norma se entrega, confessando que ela
é a sacerdotisa traidora. Norma e Polione morrem
juntos, atingindo todas as metas do amor romântico.
Pelbart (2000, p.195) discutindo o sentido da morte,
comenta “a morte como promessa de um absoluto que
o presente lhe recusa, a morte como promessa da
perfeição que a vida lhe nega.” O paradoxo máximo do
Romantismo se explicita: no plano real, tudo é
PHOTO BY KEN HOWARD/METROPOLITAN OPERA
destruído (Norma, Polione, a relação dele com
Adalgisa), no plano ideal, o amor se consuma de forma
plena.
Assim como a pulsão de morte ocupa lugar de
destaque na teoria freudiana, a morte, dentro do
Romantismo, também encontra uma conotação
interessante, bem de acordo com anseios românticos.
Loureiro (2001, p.331), destacando a temática da morte
como predominante, diz que esta é “uma forma de
resolução privilegiada para as antinomias e conflitos
românticos. No limite, poderíamos dizer que ela chega
a se apresentar como uma das vias preferenciais de
realização dos anseios românticos”. A morte
apontando para a transcendência, para um além vida,
onde tudo pode se realizar.
Para concluir, serão tecidas algumas considerações a
respeito de um outro sentido possível para a morte.
Naffah Neto (1998), no texto denominado Para além da
morte, o amor , ao contrário do sentido romântico de
transcendência, procura “tematizar o processo de
acolhimento e elaboração da morte como um advento
necessário para o amor”. Segundo o autor, o processo
psicanalítico, dentro dessa temática, alcança
efetivamente seu objetivo quando ajuda criar espaço
psíquico para produzir o sentido da morte como
contraparte imanente à vida. Não só a morte do corpo,
do organismo vivo, mas também a morte vivida como
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REV. SARAVÁ SCIENCE, Nº 1, JUNHO, 2019.