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Revista Sarava Science, Ano 2, n 1, Jun 2019

revista saravá science – é uma publicação de responsabilidade do Percurso Livre em Psicanálise (PLP), Natal, RN, Brasil.

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Artigo

Ara Yara Monteiro

AAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAA

AAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAA

O Romantismo é caracterizado como um

modo de pensar no qual se usa e abusa dos

conflitos, contradições e choques entre pares

de opostos; no entanto, todas as polaridades

tendem a se resolver numa síntese ou se

desenham sobre o pano de fundo de uma

unidade fundamental.

Paralelamente às noções de Romantismo, e

principalmente de amor romântico, busca-se

compreender, na história de amor trágica de Norma e

Polione, os movimentos e deslocamentos ocorridos

com a pulsão de morte e, eventualmente, também com

a pulsão vida, dentro da concepção freudiana das

pulsões.

Antes de iniciar esse percurso é relevante comentar

incompatibilidades existentes entre o Romantismo e a

Psicanálise de Freud, o que, todavia, não impede a

realização desta proposta. Primeiramente, é preciso

observar que o Romantismo é considerado um cultor

de ilusões, em função da sua pretensão de

reencantamento do mundo, enquanto a Psicanálise, de

acordo com as palavras de Loureiro (2001, p.248),

“apresenta-se como uma trituradora de ilusões” Em

segundo lugar, ainda seguindo as trilhas de Loureiro

(2001), a obra de Freud opera um desvio em relação à

tradição romântica, pois não partilha daquilo que é

considerado a principal característica do estilo

romântico: “a aspiração à unidade, à completude ou à

transcendência”. Segundo a autora, a teoria freudiana

carece de qualquer intuito de reencantar o mundo.

Pois bem, o objetivo aqui não é aproximar a Psicanálise

do Romantismo, ou mesmo encontrar convergências

entre eles. A proposta é utilizar a teoria das pulsões de

Freud para buscar uma compreensão de alguns

movimentos de destruição, e mesmo de morte, que

ocorrem em situações de rompimento amoroso. A

história de Norma servirá de diretriz para ilustrar essas

tentativas de análise.

Norma, suma sacerdotisa dos druidas. Por ser uma

sacerdotisa da lua, tem como compromisso e

juramento, manter-se casta. Contudo, apaixona-se por

Polione, guerreiro romano, torna-se sua amante e com

ele tem dois filhos. Além de não manter o compromisso

com seu povo e com sua crença – deixando de ser

virgem – Norma trai a confiança de seu povo quando,

utilizando-se de sua posição de suma sacerdotisa,

tenta destituí-los da ideia de guerrear contra os

romanos, para poupar seu amante.

É interessante introduzir, nesse momento, um

esclarecimento acerca do amor romântico que, como

todo o estilo romântico, vem carregado da noção de

completude, de fusão com a pessoa amada, para

formar com esta uma totalidade. Assim, o amor

romântico pode ser entendido como um amor

arrebatado, sem medidas e sem limites.

A ideia de fusão entre dois amantes implica a anulação

da individualidade de quem ama em nome de algo

maior, que nesse caso é a relação amorosa, oferecida

aos amantes como o grande trunfo, o prêmio da

unidade restabelecida. Norma anula sua

individualidade quando trai seu povo e seus costumes

em nome do amor a Polione. Todavia, Norma descobre

que Polione está apaixonado por outra sacerdotisa,

mais jovem que ela. Adalgisa, sem saber da relação

entre Norma e Polione, procura a suma sacerdotisa

para se aconselhar, pois jurou castidade e está

apaixonada. Norma se identifica com a história de

Adalgisa, lembrando de quando foi seduzida, e quando

pergunta sobre o amante de Adalgisa, descobre que se

trata de Polione.

O que pode acontecer quando uma relação do tipo

fusional, sem medidas, como a de Norma e Polione, se

rompe? Seguindo alguns preceitos da Psicanálise,

entendemos que toda relação amorosa é ambivalente,

ou seja, é constituída de amor e ódio. Em O Ego e o Id

(1923), Freud comenta que as observações clínicas

demonstram que freqüentemente, amor e ódio se

encontram juntos, seja um como precursor do outro, ou

mesmo um se transformando no outro em

determinadas circunstâncias. Anteriormente, em Luto e

Melancolia (1917[1915]), ele já havia dito que: “a perda

de um objeto amoroso constitui excelente

oportunidade para que a ambivalência nas relações

amorosas se faça efetiva e manifesta” (p.283).

Pode-se considerar que enquanto a relação é mantida,

as pulsões de morte e de vida permanecem ligadas,

sustentando a relação. À partir do momento que há um

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REV. SARAVÁ SCIENCE, Nº 1, JUNHO, 2019.

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