EQUITAÇÃO 143
Revista Equitação - toda a informação sobre mundo equestre
Revista Equitação - toda a informação sobre mundo equestre
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
<strong>EQUITAÇÃO</strong><br />
M A G A Z I N E<br />
2020 | N.º <strong>143</strong>| MAIO/JUNHO | BIMESTRAL | CONT. PREÇO 5,00€ | DIRECTORA ANA FILIPE<br />
<br />
<br />
Luís Sabino Gonçalves<br />
Figura maior<br />
do hipismo
EDITORIAL<br />
PUB<br />
Os números<br />
falam por si<br />
E<br />
stão<br />
de volta os eventos<br />
hípicos, as provas<br />
equestres, está de volta<br />
a Revista Equitação<br />
às bancas!<br />
É com agrado que vemos o recomeço<br />
das competições e com um<br />
bom número de participantes, fazendo<br />
votos de que todas as regras da Direcção-Geral<br />
de Saúde (DGS) estejam a ser<br />
cumpridas para bem de todos, pois as consequências<br />
de uma segunda vaga de Covid-<br />
19 são inimagináveis, para o sector equestre<br />
em particular e para o país (e mundo) em<br />
geral.<br />
Mas regressemos aos aspectos positivos. A<br />
última edição da <strong>EQUITAÇÃO</strong> foi a primeira<br />
em 25 anos de existência<br />
da Revista em que<br />
esta não foi dada à estampa<br />
e apenas publicada<br />
online. Os números<br />
falam por si: em dois<br />
meses ultrapassámos<br />
as 120 mil visualizações!<br />
Estamos a falar de quatro<br />
vezes mais do que a<br />
nossa tiragem em papel!<br />
E os números vão<br />
continuar a aumentar,<br />
pois a edição vai manter-se<br />
na plataforma digital<br />
e disponível gratuitamente. São registos<br />
que nos enchem de orgulho e aos quais se<br />
juntam diversos telefonemas e e-mails de<br />
leitores com pedidos para que essa edição<br />
seja impressa, à posteriori, visto que a EQUI-<br />
TAÇÃO é para muitos uma publicação de colecção.<br />
directora Ana Filipe<br />
Em d o i s m e s e s<br />
a v e r s ã o digital<br />
u l t r a p a s s o u<br />
a s 120 m i l<br />
v i s u a l i z a ç õ e s,<br />
o u s e j a, q u a t r o<br />
v e z e s m a i s d o q u e<br />
a t i r a g e m e m papel<br />
Aos números da Revista acrescem ainda os<br />
do Portal Equitação, que só no mês de Maio<br />
passou as 300 mil page views, e a ascensão<br />
das Redes Sociais, onde já ultrapassámos a<br />
fasquia dos 180 mil seguidores só no Facebook<br />
e ao qual se juntou a conta de Instagram<br />
(@revista_equitacao). Com<br />
um crescimento exponencial em<br />
poucas semanas e inúmeras marcas<br />
a quererem associar-se para<br />
diversas iniciativas, está a revelarse<br />
um sucesso absoluto.<br />
Não é a primeira vez que o faço,<br />
mas considero que também não é<br />
demais repeti-lo: a todos os que nos leêm e<br />
seguem, obrigado por tornarem o nosso trabalho<br />
tão gratificante! E, para todos vocês,<br />
leitores que preferem ler em papel, e/ou leitores<br />
das plataformas digitais, nesta edição<br />
estaremos em ambos os formatos com uma<br />
revista em que chamamos à capa um português<br />
que, apesar de ainda ter muito para<br />
dar, já inscreveu o seu nome na história do<br />
hipismo nacional e internacional. Cavaleiro,<br />
comerciante de cavalos,<br />
professor, está também<br />
ligado à criação e tem<br />
até uma marca própria<br />
de material equestre,<br />
falo de Luís Sabino Gonçalves,<br />
com quem conversámos,<br />
na Quinta das<br />
Varandas, no Cartaxo.<br />
Aos poucos, também<br />
nós vamos desconfinando<br />
e percorremos vários<br />
pontos do país para lhe<br />
trazer diversas temáticas<br />
que o vão deixar colado da primeira à última<br />
página.<br />
Não posso terminar este Editorial sem deixar<br />
uma palavra aos recém eleitos Órgãos Sociais<br />
da Associação Portuguesa de Criadores<br />
do Cavalo Puro Sangue Lusitano (APSL) e<br />
da Associação Portuguesa de Atrelagem<br />
(APA) para o triénio 2020-2022, presididos<br />
respectivamente por João Grave e Vítor Amaral<br />
Vergamota, pois ambos têm pela frente<br />
enormes desafios, em virtude dos tempos<br />
que vivemos mas, igualmente, a oportunidade<br />
de um novo recomeço. m<br />
<strong>EQUITAÇÃO</strong> 1 MAGAZINE
ÍNDICE<br />
REVISTA BIMESTRAL | 2020 | N.º <strong>143</strong><br />
01 Editorial<br />
02 Índice<br />
04 Imagem do mês<br />
06 Dicas do Juiz<br />
por Frederico Pinteus<br />
08 Na Opinião de…<br />
por Daniel Pinto<br />
12 Entrevista<br />
José Veiga Maltez<br />
24 Treino<br />
por José Miguel Cabedo<br />
28 Tema de Capa<br />
Luís Sabino Gonçalves<br />
40 Editor’s Choice<br />
Casaca Rack Equiline<br />
42 Coaching<br />
por Mariana Silva<br />
44 Equitação Natural<br />
por Sandra Dias<br />
da Cunha<br />
56 Tauromaquia<br />
por Domingos<br />
da Costa Xavier<br />
58 Veterinária<br />
por Joana Alpoim<br />
Moreira e João Paulo<br />
Marques<br />
62 Nutrição<br />
por Marta Cardoso<br />
64 Crónica<br />
por João Pedro<br />
Gorjão Clara<br />
18 Cavalos<br />
Xiripiti<br />
20 Criação<br />
Coudelaria<br />
Cunha e Costa<br />
48 reportagem<br />
Comercialização<br />
Pós covid-19.<br />
O que se aprendeu<br />
e como reagir<br />
66 Raides<br />
por Mónica Mira<br />
70 Histórias<br />
por Rita Gorjão Clara<br />
FOTO de capa Bárbara M. Da Costa/Equestrez<br />
DIRECTORA Ana Filipe | EDITOR Eduardo de Carvalho | EDITOR ADJUNTO José Costa| REDACÇÃO Cátia Mogo; Marta Clemente<br />
DIRECÇÃO DE COMUNICAÇÃO E MARKETING Nuno Francisco| PUBLICIDADE David Pereira da Silva; José Afra Rosa; Margarida Nascimento<br />
ASSINATURAS Fernanda Teixeira | EDIÇÃO/REDACÇÃO/PUBLICIDADE R. Maria Pimentel Montenegro, 5B - 1500-439 Lisboa | Telefone +351 21 591 42 93<br />
E-mail equitacao@invesporte.pt ; equitacao@netcabo.pt Site www.equitacao.com | PROPRIEDADE Invesporte Lda, R. Maria Pimentel Montenegro, 5B - 1500-439<br />
Lisboa | Capital Social 5.000 euros (Eduardo de Carvalho 50%, Supered Unipessoal Lda 50%) | Contribuinte n.º 505 500 086<br />
Empresa Jornalística Registada na ERC N.º 223632 | ADMINISTRAÇÃO Eduardo de Carvalho | IMPRESSÃO Monterreina, Área Empresarial Andalucia 28320<br />
Pinto Madrid - Espanha | DISTRIBUIÇÃO VASP – Distribuidora de Publicações, SA. Media Logistics Park - Quinta do Grajal - Venda Seca - 2739-511<br />
Agualva-Cacém TIRAGEM MÉDIA 30.000 exemplares | REGISTO ERC N.º 123900 | DEPÓSITO LEGAL N.º 93183/95<br />
Todos os direitos reservados. Interdita a reprodução total ou parcial dos artigos, fotografias, ilustrações e demais conteúdos sem a autorização por escrito<br />
do Editor. Os artigos assinados bem como as opiniões expressas são da responsabilidade exclusiva dos seus autores, não reflectindo necessariamente<br />
os pontos de vista da Direcção da Revista, do Conselho Editorial ou do Editor.<br />
Estatuto Editorial disponível em www.equitacao.com
Imagem do mês<br />
7 de Junho de 2020, Centro Equestre Internacional<br />
de Alfeizerão (CEIA): os irmãos Viktor e Vilgot Janson<br />
preparam-se para iniciar a prova de 30cm, na companhia<br />
dos pais e professores, devidamente protegidos com<br />
máscara e viseira. A classe inseriu-se na Poule que<br />
decorreu em simultâneo com o CSN-B, o primeiro<br />
após o recomeço do calendário nacional de provas,<br />
interrompido durante quase três meses devido<br />
à pandemia mundial Covid-19.<br />
foto Mariana Vivaldo<br />
<strong>EQUITAÇÃO</strong> 4 MAGAZINE
<strong>EQUITAÇÃO</strong> 5 MAGAZINE
Dicas do Juiz<br />
Transições<br />
Entendo as transições como um dos exercícios mais completos das provas de Dressage.<br />
Reconheço que esta afirmação pode causar estranheza a alguns leitores, todavia, as transições<br />
revelam o equilíbrio, descontracção, impulsão, rectitude, capacidade de concentração, submissão,<br />
ligeireza, etc; ou seja, as transições revelam-nos a verdadeira qualidade do ensino do cavalo.<br />
A título de curiosidade, veja-se que a prova de Grande Prémio contém 26 transições das quais<br />
cinco são avaliadas individualmente.<br />
DEFINIÇÃO<br />
A transição é uma mudança de andamento ou a variação do tempo<br />
(velocidade do ritmo) dentro do mesmo andamento (ex: concentrado-largo-concentrado).<br />
As transições devem ser executadas de forma bem definida, na letra<br />
estipulada, mantendo a cedência (excepto no passo, onde esta não<br />
existe) e a qualidade do andamento até ao momento da transição. As<br />
transições devem ser executadas de forma fluída, sem hesitação ou<br />
tensão, permanecendo o cavalo numa posição correcta.<br />
Objectivo<br />
As transições visam encorajar o cavalo a desenvolver a capacidade de<br />
concentração, maior flexibilidade e movimento da linha de cima, melhorando,<br />
consequentemente, o seu equilíbrio e ligeireza (self-carriage).<br />
Erros comuns<br />
Os erros que geralmente vemos associados às transições são: pouca<br />
definição (especialmente no que se refere à concentração), não<br />
execução das transições na letra (muito cedo ou muito tarde), per-<br />
da de rectitude (geralmente garupa a dentro), perda de<br />
regularidade ou até mesmo de ritmo (precipitação), contra-flexão<br />
(geralmente na transição ao trote após o trabalho<br />
de galope), tracção das rédeas (o que leva o cavalo<br />
a baixar a nuca, colocar mais peso nas espáduas, abrir a<br />
boca), resistências (essencialmente por falta de preparação<br />
- meias-paragens), algumas passadas de passage/<br />
passagê nas transições da paragem ao trote, entre outros…<br />
Dicas<br />
1) Visualização do exercício<br />
Há alguns anos numa conversa informal com o criador e<br />
cavaleiro Paulo Caetano, sobre este tema, o mesmo referiu<br />
que: “(...) as transições são como o avião a descolar e<br />
a aterrar. Deve descolar forte e aterrar suave”. Naturalmente<br />
que não devemos simplificar em demasia o conceito,<br />
mas creio que esta citação transmite uma boa ideia<br />
visual daquilo que se pretende ver.<br />
<strong>EQUITAÇÃO</strong> 6 MAGAZINE
PUB<br />
2) Conhecer o protocolo (exercícios combinados)<br />
Apesar desta dica ser aplicável a todos os exercícios, o motivo<br />
pelo qual sinto a necessidade de referir este aspecto é porque<br />
em diversas provas a nota da transição inclui o andamento na<br />
parede pequena (ex: na prova de Grande Prémio a transição<br />
ocorre em “E” e o cavalo é avaliado até “F”; na prova St. George<br />
a transição ocorre em “K” e o cavalo é avaliado até “F”) e nem<br />
sempre os cavaleiros tem este aspecto em consideração.<br />
3) O andamento antes da transição<br />
A qualidade do andamento antes da transição é tido em consideração<br />
na nota da transição.<br />
Assim, se o cavalo apresentar um galope quase a decompor<br />
antes da transição ao trote ou um passo quase por laterais na<br />
transição ou trote (ou à passage) a nota da transição não<br />
pode ser elevada. Tente manter a qualidade do andamento<br />
até ao momento da transição.<br />
TEXTO Frederico Pinteus<br />
Juiz FEI3* e de Cavalos Novos<br />
FOTOs Aurélio Grilo<br />
4) Precisão<br />
Se bem que as transições descendentes (ex: galope-paragem)<br />
podem ter uma dificuldade acrescida, a generalidade<br />
das transições ascendentes são menos difíceis (ex: paragem-trote),<br />
pelo que se executadas correctamente permitem<br />
alcançar uma boa nota, mesmo que o cavalo não tenha<br />
muita qualidade. Por ex: na paragem inicial ou após o recuar,<br />
evite que o cavalo dê 2/3 passos de passo antes de sair a<br />
trote, pois isto levará a perda desnecessária de pontos.<br />
Para finalizar, gostaria de sublinhar que é importante que os<br />
cavaleiros dêem a devida atenção às transições, pois estas<br />
fazem parte da maioria dos exercícios, na generalidade das<br />
provas têm uma nota individual e, fundamentalmente, porque<br />
revelam o treino do cavalo e o empenho com que o cavaleiro<br />
está em prova. m<br />
Nota: Esta análise<br />
é feita à luz<br />
do Regulamento<br />
da Federação Equestre<br />
Internacional (FEI),<br />
tendo por objectivo<br />
ajudar os praticantes<br />
de Dressage a<br />
“conservar” pontos que<br />
estão essencialmente<br />
relacionados com a<br />
execução do exercício<br />
e não com a qualidade<br />
do cavalo.<br />
<strong>EQUITAÇÃO</strong> 7 MAGAZINE
NA OPINIÃO DE...<br />
CARTOLA OU TOQUE<br />
NÃO DEVERIA ESTA SER UMA ESCOLHA INDIVIDUAL DE CADA CAVALEIRO ?<br />
Fo t o :RPG<br />
Fo t o :Ri ta Fe r n a n d e s ©Lu s i ta n o Wo r l d<br />
<strong>EQUITAÇÃO</strong> 8 MAGAZINE
PUB<br />
Esta tem sido uma temática sobre a qual tenho reflectico bastante.<br />
Se por um lado entendo as novas directivas da Federação Equestre<br />
Internacional (FEI), por outro, corremos o risco de passar<br />
a mensagem de que a Dressage pode ser perigosa.<br />
Acredito que a segurança se atinge ao construir uma relação<br />
com o nosso parceiro baseada na confiança e compreensão total,<br />
muito mais do que por usar equipamento de protecção.<br />
Ocavalo e o homem têm caminhado<br />
lado a lado durante<br />
toda a história da humanidade.<br />
Desde a sua domesticação,<br />
há mais de 10 000 anos, os cavalos e o<br />
homem estão juntos, sendo esta simbiose<br />
parte do caminho de evolução da raça humana.<br />
A globalização viu o seu início nos dorsos dos<br />
cavalos e os reis conquistaram os seus reinos<br />
com estes nobres animais.<br />
A nossa relação existe desde que há memória<br />
e o cavalo viu a sua evolução desde alimento,<br />
a uma ferramenta de trabalho,<br />
a um companheiro que dá<br />
ao homem liberdade e nos faz sentir<br />
completos: é uma relação de<br />
cumplicidade, amizade, parceria.<br />
A Dressage, como disciplina Olímpica,<br />
levou esta ligação a todo um<br />
outro nível. Com o objectivo de<br />
atingir uma harmonia total entre<br />
TEXTO daniel pinto<br />
homem e o cavalo é de uma beleza digna<br />
de contemplação.»<br />
O Grande Prémio, como nível mais alto deste<br />
desporto, torna-se o expoente da harmonia<br />
e parceria entre cavalo e cavaleiro.<br />
Assistir a uma Freestyle de Grande Prémio,<br />
é observar arte pura, em que cavalo e cavaleiro<br />
dançam juntos.<br />
Os cavaleiros preparam-se para uma prova<br />
de Grande Prémio como se de uma gala se<br />
tratasse: impregnado de tradição, este desporto<br />
requer que os cavaleiros empreguem<br />
traje formal de Dressage, que tenham um<br />
aspecto altamente elegante. São<br />
seguidas regras restritas do “dress<br />
code”, incluindo a casaca de abas<br />
de uma só cor, na qual são permitidos<br />
discretos ornamentos como<br />
uma gola de tonalidade diferente,<br />
um bordado modesto ou ornamentos<br />
em cristal, botas de ensino pretas<br />
e uma cartola elegante.<br />
A Dressage n ã o é a p e n a s u m d e s p o r t o:<br />
é a e p í t o m e d e e l e g â n c i a e a r t e d a e q u i t a ç ã o<br />
e m h a r m o n i a c o m o c a v a l o<br />
cavalo e cavaleiro, em que dois corações<br />
batem como um só, a Dressage não é apenas<br />
um desporto: é a epítome de elegância<br />
e arte da equitação em harmonia com o<br />
cavalo.<br />
Como um desporto competitivo, a Dressage<br />
é definida pela FEI como “a expressão<br />
máxima do treino do cavalo, onde é esperado<br />
que cavalo e cavaleiro executem, de memória,<br />
uma série de movimentos pré-determinados”.<br />
Os cavaleiros de Dressage almejam um<br />
completo conhecimento, comunicação<br />
sem falhas e uma harmonia perfeita de<br />
equilíbrio, em que o cavaleiro leva o cavalo<br />
à sua manifestação máxima de movimentos.<br />
No website da FEI pode ser lido: «Dressage<br />
é a expressão máxima do treino do<br />
cavalo e elegância. Frequentemente comparada<br />
ao ballet, a intensa conexão entre o<br />
Desde há alguns anos, a FEI tem vindo a<br />
envolver-se numa campanha global para<br />
promover o uso de dispositivos de protecção<br />
para a cabeça - vulgo toque. Em Novembro<br />
de 2019, foi aprovado o uso obrigatório<br />
de toque para desportos equestres:<br />
seguindo as novas regras, «os cavaleiros de<br />
Dressage terão de usar o toque a todos os<br />
momentos decorridos em eventos FEI, quer<br />
dentro da carriére durante a sua prova, quer<br />
fora da mesma, a partir do dia 1 de Janeiro<br />
de 2021.» Esta nova regra retira das disciplinas<br />
individuais o seu poder de regulamento<br />
próprio, em que o uso de equipamento de<br />
protecção, em contexto de prova, seria decidido<br />
pelas mesmas. Deste modo, a nova<br />
norma torna obrigatório o uso do toque<br />
sempre que o cavaleiro esteja a montar em<br />
locais pertencentes a uma organização FEI.<br />
No entanto, esta regra permite que as dis-<br />
<strong>EQUITAÇÃO</strong> 9 MAGAZINE
NA OPINIÃO DE...<br />
ciplinas individuais decidam a possibilidade de os cavaleiros<br />
retirarem o equipamento de protecção durante as<br />
cerimónias de entrega de prémios e no momento em que<br />
são tocados os hinos nacionais.<br />
Numa notícia recente, o website britânico EuroDressage<br />
ressalvou o facto de «a decisão ter vindo rodeada de criticismo<br />
entre federações representantes de países com forte<br />
cultura na Dressage. Especificamente, o facto de a Atrelagem<br />
e o Volteio Artístico não serem abrangidos pela nova<br />
regra é considerado “estranho”, de acordo com o delegado<br />
holandês Maarten van der Heijden, Director e Secretário<br />
Geral da Federação Equestre Holandesa (KNHS).»<br />
Inicialmente proposta como<br />
uma regra com início a partir<br />
de 1 de Janeiro de 2021, a<br />
Holanda requisitou um adiamento<br />
de um ano, de modo<br />
a “criar realmente uma boa<br />
preparação para esta regra”,<br />
citando van der Heijden.<br />
Este tem sido um tópico sobre<br />
o qual, pessoalmente,<br />
tenho refletido bastante. Ao<br />
ler este comunicado da FEI,<br />
percebi de imediato as razões<br />
que levaram à proposta<br />
desta nova regra. No entanto,<br />
simultaneamente,<br />
senti que estamos a correr o<br />
risco de passar uma mensagem<br />
errada: a de que a Dressage,<br />
como desporto, pode<br />
ser perigosa.<br />
Eu próprio sou 100% apologista<br />
de que a segurança<br />
deve vir primeiro. É da minha<br />
responsabilidade como pai,<br />
treinador e empregador, garantir<br />
que os meus alunos,<br />
entre eles o meu filho, estão sempre seguros! Assim, concordo<br />
que as provas de Dressage deveriam exigir o uso<br />
obrigatório do toque, até ao nível do Grande Prémio.<br />
Enquanto preparamos cavalos jovens ou estamos no caminho<br />
para conquistar a harmonia perfeita com o nosso<br />
parceiro, devemos estar protegidos e utilizar equipamento<br />
de protecção adequado. A meu ver, a segurança surge<br />
pela relação de entendimento e confiança entre o cavalo<br />
e o cavaleiro. Acredito que a segurança se atinge ao construir<br />
uma relação com o nosso parceiro baseada na confiança<br />
e compreensão total, muito mais do que por usar<br />
equipamento de protecção. Ao nível do Grande Prémio, a<br />
sintonia entre ambos os atletas atinge o seu expoente<br />
máximo. Não penso que esta nova regra deva ser aplicada<br />
a provas de Grande Prémio, como obrigatória. Deveria<br />
ser dada aos cavaleiros a possibilidade de demonstrar o<br />
nível máximo de comunicação entre si e o seu cavalo durante<br />
a prova de Grande Prémio.<br />
Ut i l i z a r u m t o q u e<br />
d u r a n t e u m a Fr e e s t y l e<br />
d e Gr a n d e Pr é m i o<br />
é c o m o ir a u m a g a l a<br />
d e Óp e r a d e<br />
c a l ç õ e s e t é n i s<br />
Eu próprio monto os meus cavalos jovens de toque. Não<br />
obstante, irei sempre honrar os meus cavalos de Grande<br />
Prémio com um traje de gala e esse traje inclui, incontornavelmente,<br />
uma cartola.<br />
A liberdade de expressão deve ser permitida aos cavaleiros<br />
que, a este nível, mostram grande confiança e controlo<br />
absoluto sobre as suas montadas, ao executar movimentos<br />
de GP sincronizados na perfeição com as<br />
batidas da música.<br />
A este nível, a comunicação entre cavalo e cavaleiro não<br />
deve ter qualquer falha e o desporto atinge o seu expoente<br />
máximo, tornando-se muito mais que um desporto<br />
- é uma arte.<br />
Utilizar um toque durante<br />
uma Freestyle de Grande<br />
Prémio é, para mim, como ir<br />
a uma gala de Ópera de calções<br />
e ténis - chamem-me<br />
antiquado, mas uma das<br />
coisas que mais valorizo é a<br />
história, tradição e honra<br />
que sinto ao entrar na carriére<br />
vestido com a minha casaca<br />
de aba longa e cartola.<br />
O argumento principal da FEI<br />
assenta no facto de o Comité<br />
Médico priorizar a mudança<br />
de regras, promovendo o uso<br />
de toque como o seu foco na<br />
segurança dos atletas. No<br />
entanto, não consigo recordar<br />
nenhum acidente que tenha<br />
ocorrido durante uma<br />
prova de Grande Prémio.<br />
Esta nova regra, que assenta<br />
na promoção da segurança,<br />
faz ainda menos sentido ao<br />
permitir que as disciplinas<br />
individuais decidam se os<br />
seus cavaleiros podem ou não retirar os seus toques durante<br />
as entregas de prémios e quando tocam os hinos<br />
nacionais.<br />
É, no mínimo, irónico! Durante a prova, o cavalo está no<br />
seu nível máximo de concentração, uma performance<br />
onde o silêncio é absoluto e cavalo e cavaleiro são julgados<br />
como um só. Contudo, no preciso momento em que<br />
temos vários cavalos juntos, o público celebra com o<br />
aplausos e as voltas de honra levam a excitação ao máximo:<br />
é aqui que as regras permitem aos cavaleiros a decisão<br />
individual de retirar o toque.<br />
Aqui fica a minha proposta, como cavaleiro de Dressage<br />
que iniciou a sua carreira há 30 anos, dono de um grande<br />
sentido de tradição: quando chegamos ao Grande Prémio,<br />
deve ser permitido ao cavaleiro a liberdade de usar,<br />
ou não, a sua cartola! No final de contas, é uma escolha<br />
própria e uma liberdade poder expressar a nossa simbiose<br />
com o cavalo. m<br />
<strong>EQUITAÇÃO</strong> 10 MAGAZINE
Entrevista<br />
Falar da Golegã é falar de José Veiga<br />
Maltez. Com ligações familiares<br />
ancestrais à terra, é uma figura<br />
emblemática da história do município,<br />
do qual já foi e voltou a ser autarca.<br />
Homem de cavalos, na sua verdadeira<br />
essência, no seu seio nasceu, das suas<br />
tradições bebeu e é o seu ar que respira.<br />
TEXTO ana filipe | fotos BÁRBARA M. DA COSTA/EQUESTREZ<br />
Q<br />
uinta do Salvador. Este é o cenário desta<br />
entrevista, o mesmo que viu o jovem José<br />
dar os primeiros passos, as primeiras quedas,<br />
as primeiras voltas a cavalo (ou de<br />
garrano, como veremos mais à frente).<br />
Homem de personalidade e ideais fortes, ao conhecê-lo é<br />
impossível ficar-lhe indiferente. Talvez por consequência do<br />
seu carácter, é também um homem de paixões. O cavalo<br />
está no topo delas e associado a quase todos os cargos que<br />
ocupa. Mas como um diamante, também Veiga Maltez tem<br />
muitas faces, algumas talvez não tão conhecidas do público<br />
em geral, habituado a vê-lo durante a Feira da Golegã a distribuir<br />
sorrisos e acenos.<br />
Casado, pai de dois filhos e já avô, a <strong>EQUITAÇÃO</strong> conversou<br />
com José Tavares Veiga Silva Maltez, numa entrevista intimista,<br />
onde é abordado o passado, presente e futuro.<br />
<strong>EQUITAÇÃO</strong> - É Presidente da Câmara Municipal da Golegã,<br />
da Feira Nacional do Cavalo (por inerência de cargo),<br />
da Associação Portuguesa de Criadores de Raças<br />
Selectas (APCRS) e da Associação Nacional de Turismo<br />
Equestre, sendo que também desempenhou funções de<br />
Assistente da Cadeira de Geriatria da Faculdade de Medicina<br />
de Lisboa. Este é José Veiga Maltez, a figura pública.<br />
Mas quem é José Veiga Maltez, o Homem?<br />
JOSÉ VEIGA MALTEZ - Como qualquer Homem, é fruto<br />
das circunstâncias e de ser o que os outros o deixam ser!<br />
Não é Político, mas sim, Médico-Autarca e que prefere que<br />
sejam os outros a defini-lo, do que falar de si próprio, já que<br />
não tem falsa humildade, nem falsa modéstia, quando os lê<br />
ou os ouve!<br />
Nasceu entre os cavalos, no seio de uma família de grande<br />
tradição equestre e de uma Coudelaria ancestral. Ainda<br />
se recorda das primeiras vezes que montou e do que<br />
este animal lhe transmitia?<br />
Recordo-me muito bem! Num garrano, que tinha o nome de<br />
“Garoto”, o qual comecei a montar com 3 ou 4 anos, tendo<br />
essa vivência me mostrado que, para uma criança, será<br />
sempre melhor um cavalo velho ou de confiança, do que um<br />
pónei ou um garrano. Mais tarde, com 10 anos foi-me “atri-<br />
<strong>EQUITAÇÃO</strong> 12 MAGAZINE
O Homem, a Obra<br />
e a sua Terra<br />
José Veiga Maltez, o Médico-Autarca<br />
<strong>EQUITAÇÃO</strong> 13 MAGAZINE
Entrevista<br />
buída” uma égua, a “Salgadeira”, cujo nome se devia ao<br />
ter nascido nos Salgados, em Vila Franca de Xira onde,<br />
as éguas Veiga pastavam, sazonalmente, em tempo de<br />
“transumância”.<br />
Com quem aprendeu equitação e quais as suas referências<br />
em termos equestres?<br />
Com algum autodidatismo, mas sobretudo “ensinado” pelos<br />
da Casa e a ver como se fazia. O meu Pai, durante uns tempos,<br />
enviou um cavalo para a Póvoa de Santo Adrião, para o Picadeiro<br />
de Mestre Nuno Oliveira, para que pudesse aprender algo<br />
de jeito. Penso que não foi o momento certo, nem a idade certa.<br />
Com nove anos, pouco absorvi e não poderia compreender<br />
a “arte”, nem os conhecimentos do grande Mestre! Na verdade,<br />
há um atavismo, que é a propriedade que têm os seres vivos,<br />
de transmitirem caracteres seus aos descendentes, com<br />
um intervalo de uma ou mais gerações, sendo a vulgar semelhança<br />
com os Avós ou com os Tios. Comigo não foi só, a predisposição<br />
e o “jeito” para montar a cavalo, mas, também noutras<br />
funções. E entre elas, também o atavismo familiar, pelo<br />
meu Bisavô, Manuel Tavares Veiga, que criou os célebres “Veiga”,<br />
ter sido o primeiro Presidente da Câmara Municipal da Golegã,<br />
da I República, em 1910, assim como, o meu Tio materno,<br />
Carlos Veiga, que foi o último Presidente da Câmara da Golegã,<br />
da II República, em 1974, e na III República, a partir de 1998, têlos<br />
secundado no mesmo cargo, como Edil da Golegã.<br />
Continua a montar com a regularidade que gostava?<br />
A regularidade com que monto é totalmente irregular! É quando<br />
me apetece, quando sinto essa vontade, mas, sobretudo,<br />
por prazer, por lazer, aquando do convívio e da confraternização<br />
com outros, seja num passeio marcado, numa Romaria ou<br />
numa Feira!<br />
Conte-nos um pouco da origem e da história da Coudelaria<br />
Veiga Maltez.<br />
A origem e a história da Coudelaria Veiga Maltez confunde-se<br />
com a da Coudelaria Veiga, já que foi uma parte dessa Éguada,<br />
que o meu irmão e eu recebemos, por via do nosso Tio-<br />
Avó João Veiga, que a havia legado a sua Sobrinha, Maria<br />
Mercedes Tavares Veiga Maltez, nossa Mãe, por herança de<br />
seu Pai, o Eng. Manuel Tavares Veiga.<br />
Herdou linhas ancestrais, isso tem sido uma vantagem ou<br />
uma limitação no actual desenvolvimento da Coudelaria?<br />
Felizmente, herdámos uma linhagem antiga, que é o pilar e a<br />
base da nossa Coudelaria. Tem sido uma vantagem porque<br />
sem uma boa base é sempre mais difícil seleccionar e criar<br />
cavalos bons. Temos o caminho facilitado, porque já fazem<br />
parte da nossa base, características morfológicas e funcionais<br />
boas, que apenas temos de desenvolver e melhorar no<br />
sentido do cavalo, que pretendemos criar. Por outro lado, poderemos<br />
considerar alguma limitação, apenas pelo tempo<br />
que demora, abrindo um pouco a outras linhagens dentro do<br />
Lusitano, mas utilizando sempre como mães, as éguas, fruto<br />
da nossa base inicial. Uma das maiores provas da consistência<br />
da base de uma coudelaria, como a nossa, é quando ao<br />
mesmo grupo de éguas largamos três cavalos diferentes e<br />
não conseguimos “distinguir” nos poldros nascidos, qual foi o<br />
padreador.<br />
O que deve ter um Lusitano para ser o tal cavalo de sonho<br />
que todos os criadores desejam?<br />
Respeitando o Padrão da Raça, pelo qual se rege a nossa Associação,<br />
cada criador é livre de sonhar com o cavalo que<br />
gosta de criar. Assim, o cavalo dos meus sonhos, além de “corajoso”<br />
e dócil, será um cavalo, com um certo tamanho, uma<br />
<strong>EQUITAÇÃO</strong> 14 MAGAZINE
PUB<br />
O que dizem<br />
de José Veiga<br />
Maltez...<br />
“É altivo sem ser arrogante.<br />
Bairrista sem ser tacanho. Vaidoso sem<br />
ser pedante. Ergue-se todos os dias,<br />
numa guerra sem tréguas, contra mentes<br />
fechadas e horizontes limitados.<br />
É hiperactivo, um autêntico tornado,<br />
quando decide pôr mãos à obra.<br />
Eléctrico. Electrizante”<br />
(António Bastos, in O Mirante)<br />
“(…) é bem o exemplo (raro!) do<br />
modelo de Autarca por vocação,<br />
longe das politiquices dos Partidos,<br />
exercendo o cargo apenas por amor<br />
à sua terra, empenhado na criação de<br />
melhores condições para a sua gente<br />
e na projecção da imagem da Golegã,<br />
Concelho” (José Pinto,<br />
in Jornal do Douro)<br />
“Vi v o o u v i n d o a v o z<br />
d a m i n h a c o n s c i ê n c i a,<br />
e n s a i a n d o s e r i n d e p e n d e n t e<br />
d a opinião d o s o u t r o s“<br />
frente leve, boa cara, pescoço fino, orelha pequena, bom dorso,<br />
boa ligação de rins, boa garupa, curvilhões baixos e com<br />
membros fortes.<br />
Temos vindo a assistir a cada vez melhores performances<br />
e resultados de Lusitanos nos mais importantes concursos<br />
de Dressage internacionais. Ainda assim, alguns defendem<br />
que o futuro do Lusitano na alta competição passará<br />
por uma maior abertura do livro genealógico. Sendo<br />
criador de Lusitanos, mas também Presidente da APCRS,<br />
qual a sua opinião sobre o assunto?<br />
A abertura que refere do Livro Genealógico do Puro Sangue<br />
Lusitano, é algo que exige um grande cuidado, que tem de ser<br />
muito bem ponderado, equacionado e analisado, pelos responsáveis<br />
e associados da Associação Portuguesa de Criadores<br />
do Cavalo Puro Sangue Lusitano (APSL). Não se deve<br />
desvirtuar o que actualmente denominamos de Puro Sangue<br />
Lusitano, mas nele “investir”! Paralelamente, com ele, deve<br />
coexistir, para certos objectivos e vontades, o Cavalo Português<br />
de Desporto, PSH (Portuguese Sport Horse), entre o<br />
qual, se encontra o “Luso Sport”, denominação aprovada pela<br />
APCRS para os produtos, a partir de uma determinada percentagem<br />
de sangue Lusitano.<br />
“Pela sua qualidade, profissão,<br />
ascendência e dependência pessoal,<br />
oferece garantias de não estar na política,<br />
para se servir nem para enriquecer,<br />
não querendo para si nem para os<br />
seus qualquer privilégio, como é típico<br />
daqueles, que entram no carrossel<br />
das lides autárquicas, apenas para se<br />
servirem das posições a que ascendem<br />
ou para usufruto de honrarias e acesso<br />
a bens, que de outro modo, nunca<br />
poderiam alcançar”<br />
(Pedro Barroso, Autor, Compositor<br />
e Interprete)<br />
“Numa breve conversa, que ambos<br />
tivemos no velho Central, verificámos<br />
como é importante estarem à frente<br />
das Autarquias personalidades com<br />
uma verdadeira preparação de base,<br />
para saberem interpretar a mensagem<br />
sociológica e cultural, que as populações<br />
locais exprimem, procurando através<br />
da sua gestão, depositar nas futuras<br />
gerações esse legado histórico valorizado,<br />
só assim dando carácter e sentido<br />
às regiões”<br />
(Alberto Tavares Barreto,<br />
in Cavalos Veiga, Tradição e<br />
Actualidade, Edições Inapa, Lisboa)<br />
“É um Autarca com uma personalidade<br />
única, carismática e diferenciada”<br />
(Teresa Sena de Vasconcelos,<br />
in Universidade Aberta, Lisboa)<br />
Na sua opinião, que consequências pode a Covid-19 ter na<br />
criação nacional, em geral?<br />
As consequências, quer directas ou indirectas são óbvias, já<br />
que as fronteiras encerraram não permitindo o afluxo de es-<br />
<strong>EQUITAÇÃO</strong> 15 MAGAZINE
Entrevista<br />
Licenciou-se em Medicina e exerceu<br />
durante muitos anos. E, tanto quanto julgo saber, alguns<br />
dos seus pacientes não gostaram nada de o perder<br />
como médico. Houve um momento em que sentiu uma<br />
espécie de apelo para dar o seu contributo à terra que o viu<br />
nascer? Foi isso que o levou a entrar na vida política?<br />
Sobretudo, o que me levou a entrar na vida autárquica, foi a<br />
percepção que tinha da Golegã, Concelho, em 1997, se demarcar<br />
dos outros, mas pela negativa, com um então presente<br />
cinzento e um futuro pouco colorido, mostrando aos cidadãos,<br />
naquele ano em que me candidatei, a necessidade de<br />
uma disposição reformista, para combater o “status quo” da<br />
terra dos meus bisavós, dos meus avós, dos meus pais e aonde<br />
os meus filhos cresciam. Na verdade, ser Médico e Presitrangeiros,<br />
com grande paixão pelo Lusitano, assim como, as<br />
vicissitudes e agruras, com que os Criadores, dentro do país,<br />
se confrontam e irão enfrentar.<br />
Falamos de criação e da evolução dos cavalos, mas quanto<br />
ao nível da equitação praticada pelos nossos cavaleiros<br />
- e não falo só dos “profissionais” também me refiro<br />
aos chamados “pica-pica” - montamos hoje melhor, com<br />
mais qualidade e noções equestres, do que no passado?<br />
Sem dúvida nenhuma! Sobretudo, imensa quantidade!! O<br />
aumento da qualidade, deve-se a uma questão de melhoria<br />
“educultural”, que era necessária e desejável!!! Não foi por<br />
qualquer razão, que como Autarca da Capital do Cavalo, instituí<br />
a Equitação, como Actividade de Enriquecimento Curricular<br />
(AEC), para todos os alunos das escolas do concelho da<br />
Golegã. Porque as “bases” são importantíssimas e a Equitação<br />
começa pela vertente didáctico-pedagógica, sobretudo<br />
num país, em que aquela integra a sua identidade e cultura,<br />
devendo por tal, ser promovida e desenvolvida.<br />
É também autor de diversas publicações. Escrever é outra<br />
das suas paixões?<br />
É na verdade uma paixão imensa, além da pintura, com a<br />
qual, noutros tempos mais tempo lhe dispensava. Ambas,<br />
tão só necessitam que usemos os sentidos, como a fotografia,<br />
que muito ensaio. Todas requerem observação do que<br />
existe à nossa volta! Para “escrever” também, é preciso<br />
“olhar”! Olhar comportamentos, olhar detalhes. E não é difícil<br />
ser atento, num mundo de muitos desatentos! Umas vezes,<br />
olho para dentro, mergulho em mim mesmo, reflectindo,<br />
outras, inspiro-me nos outros, nomeadamente, no que<br />
dizem, no que falam, no que resmungam, no que gritam ou<br />
sussurram!<br />
Que outras actividades gosta de praticar? Com tantos<br />
cargos, sobra tempo para as executar…?<br />
Entre outras, como é do conhecimento<br />
geral, sou “Motard” atravessando<br />
fronteiras, com a minha Yamaha 600<br />
Diversion. Como todos devem inferir,<br />
há um sentimento, o qual não tenho,<br />
que é aquela sensação de vazio e isolamento,<br />
a que chamam de solidão,<br />
já que o meu dia-a-dia é quase frenético,<br />
pleno de pessoas à minha volta e<br />
de assuntos para tratar, para resolver. Daí, necessitar de um<br />
ou outro momento a sós, comigo próprio, enfim, solitário, esquivando-me,<br />
isolando-me, sendo a minha “duas rodas” ideal,<br />
para ser um “eremita” do séc. XXI, muito transitório e temporário,<br />
restaurando-me psíquico-fisicamente, para as novas<br />
“batalhas”!<br />
Sabemos também que é um exímio bailarino. A que música<br />
não resiste…?<br />
Dizem! Na maioria das vezes, é tão só uma forma de expressar<br />
o meu estado de espírito, em termos de lazer e de prazer.<br />
Para dançar é preciso sentir, mexer o corpo com uma cadência<br />
de movimentos e ritmos, criando uma harmonia. É uma<br />
“Pa r a n ó s, a Fe i r a<br />
[d a Go l e g ã] e s t á d e pé<br />
e t u d o e s t a m o s a<br />
f a z e r p a r a q u e o<br />
e v e n t o a c o n t e ç a”<br />
manifestação artística de igual modo, que a escrita e a pintura,<br />
só que nela utilizamos o corpo, como instrumento criativo.<br />
Há vários tipos de música, que me são mais agradáveis para<br />
dançar ou “bailar”, mas com alguma facilidade me adapto ao<br />
ritmo e à coreografia, que cada uma exige!<br />
Qual o seu lema de vida?<br />
Sinceramente, não tenho “lema”, tão só a intensidade que imprimo<br />
à minha vida, já que muitos se limitam a “existirem”,<br />
não a vivendo. Vivo ouvindo a voz da minha consciência, ensaiando<br />
ser independente da opinião dos outros, apesar de<br />
tentar ser consensual, convergente<br />
e pelo equilíbrio, harmonia. Quem<br />
me conhece e me rodeia, conhece<br />
bem a minha liberdade de agir, assim<br />
como, de expressar aquilo que<br />
sinto, mesmo que me traga dissabores.<br />
<strong>EQUITAÇÃO</strong> 16 MAGAZINE
Neste momento, não podemos ser “mais Papistas, que o<br />
Papa”. Para nós, a Feira está de pé e tudo estamos a fazer<br />
para que o evento aconteça. Os meses que se avizinham<br />
serão indicadores do que se irá passar e das determinações<br />
da Tutela da Saúde.<br />
dente de Câmara são cargos e funções com alguma afinidade.<br />
Ambos, lidam com as agruras e os factos negativos<br />
das pessoas. Geralmente, ninguém vai ao consultório para<br />
dizer que está bem, assim como, não vão ao Gabinete do<br />
Presidente da Câmara, referir que está tudo óptimo!<br />
A Feira do Cavalo é uma feira conhecida em todo o mundo,<br />
que atrai milhares de visitantes. Contudo, quem a visita<br />
em Novembro e se decide regressar em Maio para a<br />
Expoégua, encontra uma feira menos popular. Sendo o<br />
“pai” da Expoégua e estando esta a caminho da 22.ª edição<br />
(o que não aconteceu este<br />
ano devido à Covid-19), considera<br />
que a feira de Maio já atingiu o<br />
seu ponto máximo em termos organizativos<br />
e programáticos ou<br />
ainda há um caminho a percorrer,<br />
e se sim, o que tem em mente?<br />
A Expoégua nasceu, cresceu e atingiu<br />
a sua maturidade, ao fim de<br />
duas décadas, cumprindo o seu objectivo! Conseguimos o<br />
que desejávamos, incitando a deferência dos criadores, pelas<br />
mães do efectivo equino de todas as raças, criadas em<br />
Portugal, os quais reconheceram este evento, que será sempre<br />
melhorado e actualizado, como o ideal e o mais nobre<br />
espaço, para as apresentar, as exaltar, para as premiar e para<br />
as elevar!<br />
Devido à pandemia e consequente estado de emergência<br />
decretado em Portugal, a FNC viu-se obrigada a cancelar<br />
a Expoégua. A sete meses da Feira Nacional/Internacional<br />
do Cavalo, já é possível antever se esta se irá<br />
realizar e em que moldes?<br />
“Se r Mé d i c o<br />
e Pr e s i d e n t e<br />
d e Câ m a r a s ã o c a r g o s<br />
e f u n ç õ e s c o m a l g u m a<br />
a f i n i d a d e”<br />
Há dois temas que são assunto recorrente pelo S. Martinho,<br />
reporto-me ao traje com que se apresentam os cavaleiros<br />
na feira e ao bem-estar do nobre animal. É possível<br />
implementar mais medidas não só para fomentar o<br />
uso do Traje Português de Equitação que de facto conferem<br />
uma singularidade ao certame e, por outro, prosseguir<br />
na adopção de mais decisões que visem o bem-estar<br />
do cavalo?<br />
Como é do conhecimento geral, temos vindo a implementar<br />
definições e critérios para o período da Feira, que cada<br />
vez mais visam o bem-estar animal, quer com a criação de<br />
uma Comissão própria, que retira do Recinto da Feira e de<br />
outros espaços públicos, equinos que apresentem sinais<br />
clínicos de “sofrimento”, quer com a restrição horária de circulação<br />
de animais e veículos de tracção animal, entre as<br />
duas e as sete da manhã. Foram decisões bem conseguidas<br />
e desejáveis, no sentido da prevenção do mal-estar animal.<br />
Quanto ao Traje, a tradição da Feira de São Martinho é<br />
a de uma Feira Franca, a que todos acorriam, acontecendo<br />
no séc. XX, uma maior exigência na Apresentação e Concursos,<br />
de um Traje condigno. Penso, que é um desrespeito<br />
a forma e o modo como muitos se apresentam e fazem arrear<br />
os seus cavalos. Prefiro interpretá-la como uma questão<br />
educacional e cultural. Conseguimos já, que só as pessoas<br />
trajadas correctamente, tenham acesso ao Picadeiro<br />
Central, que é onde se focam os principais olhares e apreciações.<br />
Progressivamente, tentaremos que na Manga<br />
aconteça o mesmo. Trajarem bem, correctamente e se à<br />
Portuguesa, ainda melhor!<br />
Não querendo ser o arauto dos<br />
seus feitos, mas é graças ao seu<br />
trabalho que a Golegã passou a<br />
ser reconhecida como a Capital<br />
do Cavalo, encontrando-se dotada<br />
de infraestruturas que fazem<br />
jus ao nome (Picadeiro Público<br />
Coberto, Centro de Alto Rendimento<br />
de Portugal para Desportos<br />
Equestres, Equuspolis…). Como aliás já referiu, a<br />
Equitação foi introduzida como complemento curricular<br />
das Escolas do Concelho da Golegã. Como gostava de<br />
ser recordado no futuro?<br />
Tão só, como alguém que contribuiu para pôr a Golegã, no<br />
“mapa” a nível nacional e internacional, devolvendo-lhe a<br />
sua memória, a sua história, ao mesmo tempo, que lhe foi<br />
promovendo a qualidade de vida, exigida pelo séc. XXI,<br />
numa simbiose, entre a sua identidade cultural e a modernidade,<br />
desvanecendo a Golegã “velha”, preservando a “antiga”<br />
e construindo a “nova”, usando o que foi transmitido de<br />
geração em geração, para estímulo do presente e referência<br />
para o futuro! m<br />
<strong>EQUITAÇÃO</strong> 17 MAGAZINE
Cavalos<br />
XIRIPITI<br />
Um PSL (de ranking) mundial<br />
Não é todos os dias que encontramos um cavalo no ranking mundial<br />
da Federação Equestre Internacional (FEI) posicionado cinco vezes<br />
e que tenha estado presente em três Campeonatos da Europa<br />
e dois Jogos Equestres Mundiais em representação de duas nações.<br />
Xiripiti é esse cavalo.<br />
Foi no Monte de Vila Formosa, na Coudelaria<br />
Torres Vaz Freire que Xiripiti<br />
nasceu e onde Paulo Caetano o viu<br />
pela primeira vez, era ele ainda um<br />
poldro de 5 anos, e logo o impressionou pela<br />
“precocidade com que fazia exercícios de grande<br />
dificuldade mas, sobretudo, em termos de<br />
andamentos. Era um cavalo com uma actividade<br />
de posteriores, com um poder invulgar para a<br />
raça nessa altura”, recorda o criador, cavaleiro e<br />
treinador. Depois do desbate e ensino inicial realizado<br />
por Rodrigo Torres, após a aquisição, foi<br />
Maria Caetano, com a ajuda do pai, que prepararam<br />
o jovem lusitano e o iniciaram em competição<br />
a nível internacional, aos 7 anos, em S.<br />
Jorge, e um ano depois, em Grande Prémio, num<br />
começo que acabou por ser mais precoce do<br />
que o esperado, devido à perda de Útil. Apesar<br />
da inexperiência, logo nesse ano Xiripiti foi seleccionado<br />
e integrou a equipa nacional no Europeu<br />
de Roterdão. Depois disso, com Maria, fez<br />
ainda mais dois Europeus, um Mundial e juntos<br />
sagraram-se Campeões de Portugal em 2013 e<br />
2014.<br />
Com Coroado a ganhar cada vez maior relevo<br />
na quadra da cavaleira, após algum tempo a<br />
exercer funções de garanhão na casa da família<br />
XIRIPITI<br />
•Data de Nascimento:<br />
29.05.2003<br />
•Sexo: M<br />
•Pelagem: Ruça<br />
•Altura ao garrote: 1.63m<br />
•Studbook: Lusitano<br />
•Disciplina: Dressage<br />
•Criador:<br />
Coudelaria Torres Vaz Freire<br />
•Proprietário: Paulo Caetano<br />
•Descendência:<br />
8 exemplares<br />
QUALIFICADO<br />
CRIADOR:<br />
MANUEL MENDES<br />
DA ASSUNÇÃO COIMBRA<br />
REBOLEIRA<br />
CRIADOR:<br />
MARCOS TORRES<br />
VAZ FREIRE<br />
TEXTO ana filipe<br />
(até porque é reprodutor recomendado de 4 estrelas<br />
de Dressage e Modelo e Andamentos),<br />
Xiripiti foi entregue a João Oliva, atleta brasileiro,<br />
treinado também por Paulo Caetano.<br />
Com 15 anos, já do outro lado do globo, Xiripiti<br />
voltou a estar sob os holofotes de todo o mundo<br />
ao entrar em pista para o Grande Prémio,<br />
desta vez nos Jogos Equestres Mundiais de<br />
Tryon, nos EUA.<br />
No suadouro em vez da bandeira portuguesa<br />
estava a brasileira, mas o coração do cavalo e a<br />
vontade era a mesma.<br />
Garanhão já com uma larga carreira, em 2019<br />
passou ainda sob a sela de Roberto Brasil<br />
(POR), Pedro Manuel Tavares de Almeida (BRA)<br />
e Edneu José Senhorini (BRA), alguns dos quais<br />
na tentativa de conquistar os mínimos para a<br />
vaga olímpica individual. “É um cavalo de uma<br />
enorme generosidade e aponto-lhe como principais<br />
qualidades em termos mecânicos e físicos<br />
a força e a actividade inusual de posteriores<br />
e em termos psicológicos a coragem e a garra<br />
dos bons lusitanos pois é um animal que em<br />
pista nunca ficou indiferente a ninguém e isso é<br />
uma característica muito bonita de qualquer<br />
cavalo de dressage”, afirma o proprietário, que<br />
tem dele três descendentes.m<br />
HABIL<br />
CRIADOR:<br />
MANUEL TAVARES VEIGA<br />
ZEBRA<br />
CRIADOR:<br />
MANUEL MENDES<br />
DA ASSUNÇÃO COIMBRA<br />
MOSCATEL<br />
CRIADOR: ANA MARIA BRITO<br />
ELIAS DE MOURA LUPI<br />
IDEAL<br />
CRIADOR: COUDELARIA<br />
TORRES VAZ FREIRE<br />
<strong>EQUITAÇÃO</strong> 18 MAGAZINE
Principais resultados:<br />
Com Maria Caetano<br />
• 2011 – Presença no Campeonato da Europa de Roterdão (HOL)<br />
• 2013 – Campeão de Portugal<br />
• 2013 – Presença no Campeonato da Europa de Herning (DIN)<br />
• 2014 – Campeão de Portugal<br />
• 2014 – Presença no Campeonato do Mundo da Normandia (FRA)<br />
• 2015 – Presença no Campeonato da Europa de Aachen (ALE)<br />
Com João Oliva<br />
• 2018 - Presença no Campeonato do Mundo de Tryon (EUA)<br />
<strong>EQUITAÇÃO</strong> 19 MAGAZINE
Coudelarias<br />
Coudelaria<br />
Cunha e Costa<br />
Uma história escrita em família<br />
<strong>EQUITAÇÃO</strong> 20 MAGAZINE
Às portas de Évora, é entre o Convento da Cartuxa<br />
e o Convento de S. Bento de Castris, com o Aqueduto das Águas de Prata<br />
bem perto, que encontramos a Coudelaria Cunha e Costa, um projecto familiar<br />
dedicado à criação de cavalos Puro Sangue Lusitano (PSL).<br />
TEXTO Ana Filipe | FOTOS Inês Parente<br />
À<br />
nossa espera estão Rui, Cristina, os filhos Pedro,<br />
Inês e Catarina (e alguns companheiros de quatro<br />
patas). Num cenário com tanta riqueza histórica e<br />
beleza natural, os tons de azul e branco que pintam<br />
a casa não nos deixam esquecer que estamos em pleno<br />
Alentejo, onde os campos e o clima se têm mostrado ideais<br />
para o crescimento do efectivo desta Coudelaria, que conta<br />
com pouco mais de uma década de existência. Durante a semana<br />
em Lisboa, devido à actividade profissional, é aqui que<br />
o criador se refugia, sempre que pode, na companhia da mulher<br />
e dos três filhos que, tal como o patriarca, partilham o gosto<br />
pelos cavalos e pela vida de campo. O ferro da coudelaria,<br />
por exemplo, foi desenhado por Inês. “Temos paixão pelo que<br />
fazemos e vivemos intensamente os nascimentos e o desenvolvimento<br />
destes animais. Os meus pais também gostam e<br />
ajudam. Sem paixão nada gira e depois é o trabalho árduo. Já<br />
diz o ditado: «Alcança quem não cansa»”, comenta Rui Esteves<br />
da Costa.<br />
A Coudelaria Cunha e Costa nasceu do sonho do casal, ambos<br />
com ligações familiares ao meio rural e agrícola, ele na<br />
Beira Baixa e ela no Algarve. O projecto foi criado em 2007,<br />
“numa pequena Quinta em Alenquer comprada ao Alfredo<br />
Coelho (um estudioso do cavalo lusitano e que escreveu vários<br />
artigos sobre o assunto). Em 2013 vendemos essa Quinta<br />
e estabelecemos o sonho no Alentejo. Escolhemos a vetusta<br />
cidade de Évora. Bem situada entre Lisboa e Espanha, com<br />
excelentes vias de comunicação. De uma centenária Quinta<br />
em ruínas, erguemos a Quinta Flor do Convento”, explica Rui. A<br />
localização não deixa dúvidas sobre a escolha do nome da<br />
casa que tem visto crescer esta coudelaria, cujas primeiras<br />
éguas foram adquiridas à Dressage Plus, “descendentes do<br />
Peralta e do Vulcão dos Pinhais. Animais de estrutura e dimensão<br />
que resultavam de uma selecção desportiva feita por<br />
um criador brasileiro.” Desse primeiro núcleo restou apenas<br />
Formosa do Convento: “a primeira reprodutora que correspondia<br />
aos nossos objectivos de criação.” Todas as outras foram<br />
vendidas, pois Rui “não estava satisfeito com o rumo que<br />
tinha traçado” e, por isso, socorreu-se dos conselhos de “três<br />
pessoas que respeito neste meio: Diogo Lima Mayer, Luís Pidwell<br />
e Francisco Cancella de Abreu. A opinião foi unânime:<br />
vender os animais e fixar-me em duas poldras filhas do Ciclone<br />
e da Formosa do Convento de nome Luz do Convento e<br />
Musa do Convento. A primeira ainda levei à Expoégua aos 3<br />
anos e ficou em 3.º lugar. Mais tarde comprei duas éguas ao<br />
Luís Silva, da Herdade das Silveiras, a Cigana e a Uva do ferro<br />
Miguel Cintra; duas éguas pretas com estrutura, tamanho, excelentes<br />
andamentos e pontuadas com 77 pts. Com os meus<br />
produtos e com estas aquisições fizemos uma base de crescimento<br />
com qualidade.” Fruto do contributo do garanhão<br />
Guardião do Penedo (ferro Resina Antunes) “os produtos saí-<br />
<strong>EQUITAÇÃO</strong> 21 MAGAZINE
Coudelarias<br />
O garanhão<br />
Hectare<br />
da Cartuxa<br />
Poeta do Convento<br />
dos foram de excelente qualidade”, afirma. É por esta altura<br />
que vemos a nossa conversa interrompida. Acaba de chegar<br />
Dra. Cristina Cosinha, médica veterinária da Lusopecus que,<br />
em plena época reprodutiva, veio ver as éguas. Integra a equipa<br />
que presta apoio a esta coudelaria, também o Dr. Tomé<br />
Fino, da Equimuralha, assim como, “no maneio, o Pedro Ricardo,<br />
pessoa com muita experiência<br />
e, no aconselhamento, o Eng.º<br />
João Vinhas que me tem ajudado<br />
desde o princípio”, explica o criador,<br />
à medida que vamos entrando<br />
em casa, em busca de ar mais<br />
fresco, que o calor do final de<br />
Maio não nos deixa esquecer que estamos em pleno Alentejo,<br />
apesar do dia ainda não ir a meio!<br />
“Cr i a r c a v a l o s<br />
é u m a i l u s ã o c o n s t a n t e<br />
d e f a z e r m a i s e m e l h o r”<br />
Ru i Co s t a<br />
A regra dos três Bs<br />
É já “à fresca”, numa sala onde facilmente perdemos o olhar<br />
entre quadros e esculturas equestres, que continuamos a conhecer<br />
melhor a Coudelaria Cunha e Costa e onde Rui nos<br />
confessa que o seu grande objectivo é fazer “o que designo a<br />
regra dos três Bs: cavalos Bonitos, com Bons andamentos e<br />
Boa cabeça. Bonitos no sentido de apelativos morfologicamente<br />
e de constituição, Bons andamentos no sentido da<br />
funcionalidade, do ritmo, do equilíbrio e da correcção e Boa<br />
cabeça no sentido de ter animais dóceis, com nobreza e carácter.<br />
Estes são os princípios e a base do nosso projecto familiar”.<br />
Não tendo como desejo inicial a competição, a casa chegou<br />
a ter um cavalo em Dressage. “Comprámos o Ciclone à<br />
Sabine Rolfs. Filho do Napolitano, ferro Arsénio Cordeiro e descendente<br />
do Novilheiro, um dos grandes cavalos da nossa<br />
raça e que brilhou no desporto, mais precisamente nos Saltos<br />
de Obstáculos, com John Withaker, sendo Campeão Inglês e<br />
da Europa. Da parte da mãe, o Ciclone era todo linha Alter.<br />
Depositei muitas ilusões nesse cavalo que estava entregue à<br />
Jeannette Jenny e ao Jorge de Sousa e chegou ao nível de<br />
Grande Prémio, tendo ganho vários<br />
concursos e uma Taça de<br />
Portugal. Infelizmente, um aguamento<br />
pôs termo à sua vida. Na<br />
criação cavalar a sorte também<br />
conta. Pontuei-o como reprodutor<br />
e usei-o, durante uns anos,<br />
como garanhão numas éguas que tinha comprado entretanto.”<br />
No ano passado, foi em terras espanholas que Rui encontrou<br />
o garanhão que lhe pareceu ter “boas qualidades morfológicas<br />
e de andamentos, presença e altura”. Falamos de<br />
Hectare da Cartuxa (Ferro Fundação Eugénio de Almeida).<br />
“Não temos apostado no seu desenvolvimento desportivo<br />
mas, este ano, vamos inverter. Revelou-se um bom progenitor.<br />
Estou satisfeito com os seus descendentes. Com o núcleo de<br />
éguas referidas e com este garanhão, por agora vou seguir este<br />
rumo. Criar cavalos é uma ilusão constante de fazer mais e<br />
melhor.” Com isso em mente, o futuro da coudelaria, com um<br />
efectivo de 13 animais, passa assim por “criar melhores estruturas<br />
de apoio (nunca estamos satisfeitos), seleccionar, apurar<br />
características e criar animais de encher o olho com futuro<br />
promissor. Seleccionar é muito mais que simples cruzamentos.<br />
Não tenho, ainda, muitos produtos mas estão todos a funcionar<br />
e a causar prazer aos seus donos.”<br />
<strong>EQUITAÇÃO</strong> 22 MAGAZINE
PUB<br />
Luz do<br />
Convento<br />
Égua afilhada Musa<br />
do Convento com<br />
Quartzo do Convento<br />
Ávido leitor e sedento de aprender cada vez mais sobre a raça,<br />
Rui Esteves da Costa tem como referências o Eng.º Manuel Veiga,<br />
o Eng.º Ruy de Andrade, Guilherme Borba, Sommer de Andrade<br />
e Nuno Oliveira. “Com os seus escritos e ensinamentos<br />
temos muito a aprender”, frisa o criador, para quem o cavalo<br />
Lusitano é um “animal funcional em várias vertentes mas, vincadamente,<br />
na sua montabilidade. É dos melhores para iniciar<br />
cavaleiros e lhes causar prazer. Apostar no PSL só numa linha<br />
de desporto acho muito difícil. Os cavalos do centro e norte da<br />
Europa vão muito à frente nesta selecção. Existe, depois, todo<br />
um mercado que prefere os Lusitanos pela sua docilidade, nobreza<br />
e arte, que proporciona momentos inolvidáveis ao seu<br />
cavaleiro. Se vão para o ensino, equitação de trabalho, escolas,<br />
apresentações ou simples amadores já é indiferente. Têm é de<br />
funcionar. O lusitano é um produto de excelência do mundo rural<br />
português, tal como o vinho, o azeite e a cortiça. Tem uma<br />
cabeça extraordinária. A Feira da Golegã só é possível com o<br />
nosso cavalo: crianças, carros de bebé, uma multidão à volta<br />
dos cavalos, tudo em tranquilidade. Com cavalos do centro ou<br />
norte da Europa era impossível, andava tudo num virote. E depois<br />
a ancestralidade: Xenofonte, Homero, Gregos, Romanos e<br />
Árabes. A Península Ibérica era famosa pelos seus cavalos «filhos<br />
do vento» e pela sua equitação que permitiu, por exemplo,<br />
aos Lusitanos fazer frente aos exércitos romanos. Portugal devia<br />
ter como símbolo o cavalo lusitano, o seu «ex libris», e não o<br />
galo de Barcelos, que não tem sentido nenhum.” Bem português<br />
é também o pão e o queijo alentejano e é na sua companhia<br />
que concluímos esta agradável conversa, antes de nos fazermos<br />
à estrada, deixando para trás esta encantadora família<br />
e efectivo promissor. m<br />
Sabia que…<br />
Para além de criador de cavalos,<br />
Rui Esteves da Costa é igualmente<br />
produtor de ovinos, contando com<br />
um rebanho com cerca de 70<br />
ovelhas. Apesar de habituado aos<br />
números, devido à sua actividade<br />
profissional na área da Banca,<br />
também as letras o seduzem.<br />
Autor do romance “Soberano<br />
Lusitano”, editado em 2012<br />
(disponível no Clube Equitação<br />
em http://www.equitacao.com/<br />
clube ), Rui tem na forja mais<br />
um romance e uma biografia<br />
romanceada do rei D. Carlos.<br />
<strong>EQUITAÇÃO</strong> 23 MAGAZINE
TREINO<br />
A ARTE<br />
DE BEM SALTAR<br />
Diz um provérbio árabe que “O Paraíso na Terra é sobre o dorso dos cavalos”.<br />
Não poderia estar mais de acordo! Para todos os que comigo concordam, escrevo<br />
este artigo, que divido em duas partes: a primeira sobre a colocação em sela e,<br />
a segunda, sobre a iniciação aos saltos, de cavaleiro e cavalo.<br />
Comecemos então pela colocação<br />
em sela. É evidente que sobre<br />
“Equitação”, muito já se escreveu<br />
e é por isso mesmo que, para escrever<br />
este artigo, me socorri de alguns escritos<br />
de diferentes autores. Sempre que souber<br />
quem são, aqui o direi.<br />
O assunto versado neste meu escrito é dirigido,<br />
mais uma vez, aos que se iniciam nesta<br />
arte do que aos sabichões que, alguns, mesmo<br />
que nunca tenham montado a cavalo, se julgam<br />
conhecedores de todos os segredos da picaria (General<br />
Júlio de Oliveira in “Coisas e Loisas de Equitação”).<br />
Comecei este artigo com um provérbio e, de facto, não<br />
faltam ditos e outros provérbios interessantes e elucidativos,<br />
alguns dos quais cabem bem neste início da<br />
educação do cavaleiro. Assertivas são as declarações<br />
do Coronel Eng.º Vasco Ramires, segundo o qual “um<br />
homem nunca se zanga com um cavalo. Só se zanga<br />
com outro homem.”; ou de Buffon (in História Natural),<br />
para quem “a mais nobre conquista feita pelo homem<br />
é a deste orgulhoso e fogoso animal, que comparte<br />
com ele as fadigas da guerra e a glória dos combates.”<br />
Algumas afirmações que se seguem são da minha autoria,<br />
resultado da maneira como, durante grande parte<br />
da minha vida, montei os meus cavalos, ou aqueles<br />
que me eram distribuídos para trabalhar. Admito que<br />
podem ser contestadas, e reconhecerei os erros que<br />
porventura tenha cometido, se reconhecer que as sugestões<br />
melhoram a minha maneira de montar, e tragam<br />
benefícios para os cavalos.<br />
Entendo que a Equitação é um Hino à descontracção.<br />
Se não houver descontracção por parte do cavaleiro,<br />
mais tarde ou mais cedo vai parar ao chão. É claro que<br />
não é só por falta de descontracção que se vai parar ao<br />
chão. Em Mafra, um dia fui passear para a Tapada com<br />
o Napalm. Vamos sempre tentando pedir algo ao cavalo:<br />
colocação, paragens, recuar, descida do pescoço,<br />
etc. E foi numa extensão, a passo, que o Napalm colaborou<br />
comigo: estendeu o pescoço com a cabeça, até<br />
ao chão, e recuou um passo. Sem nada à frente, caí<br />
que nem um prego e vi o Palácio Nacional de Mafra de<br />
TEXTO<br />
José Miguel Cabedo<br />
fOTOS<br />
Hugo Amorim<br />
cabeça para baixo. O cavalo ficou ali parado<br />
muito admirado com a minha aselhice – a passo.<br />
Já viram as lutas japonesas? Um lutador só<br />
consegue deitar o adversário por terra quando<br />
o apanha contraído e, por isso, tenta agarrá-lo<br />
pelas bandas do quimono. Um homem que<br />
pesa 80kg (por exemplo) não vai ao chão com<br />
facilidade se estiver absolutamente descontraído.<br />
Vamos então estudar a descontracção a cavalo.<br />
O ABC da Equitação já sabem: o cavalo tem quatro<br />
patas, duas orelhas, etc. Partamos desse princípio. Vamos<br />
então passar a DEFS: descontracção, equilíbrio, flexibilidade<br />
e solidez. Olhando para o desenho que apresento<br />
na Fig. 1 (que não é da minha autoria e que não me<br />
lembro de quem é), vamos começar pela cabeça: esta<br />
não deve estar aparafusada ao pescoço, mas também<br />
não deve andar para cima e para baixo, como às vezes<br />
vejo, e que não serve para nada, a não ser que queira dizer<br />
ao cavalo que ele está a ir bem. Será? Deve olhar em<br />
frente e manter o olhar paralelo ao chão.<br />
Quanto aos ombros, além de deverem estar ligeiramente<br />
para trás, têm no seu músculo deltóide de (forma da letra<br />
do alfabeto grego – delta Δ), a grande base da descontracção.<br />
Com os deltóides contraídos, eles levam para<br />
cima e para baixo, os braços e por consequência as mãos,<br />
nos andamentos do cavalo que estão a montar. Isso vai<br />
incomodar fortemente a boca do animal já que as nossas<br />
mãos pertencem à boca do cavalo e não a nós (!). O cavalo<br />
acaba por ficar contraído e aí, decerto, prega com o<br />
cavaleiro no chão, plantando nós, uma figueira (como dizemos<br />
na cavalaria).<br />
As mãos com os dedos cerrados segurando as rédeas,<br />
polegares para cima e afastadas mais ou menos 25cm.<br />
Os rins e costas flexíveis. O assento bem colocado, puxado<br />
à frente na sela só deixa de estar em contacto com a<br />
sela no trote levantado ou no galope para os saltos (como<br />
preconizou o Capitão Frederico Caprilli em 1868 – 1907),<br />
chamada posição à frente. (Fig. 2)<br />
As pernas caem naturalmente e estão em contacto com<br />
as abas da sela, com a parte plana das mesmas. Como<br />
os loros devem estar sempre verticais quando o cavaleiro<br />
<strong>EQUITAÇÃO</strong> 24 MAGAZINE
Dedos cerrados segurando<br />
as rédeas, polegares para cima<br />
1 A posição do cavaleiro<br />
Músculo Deltóide<br />
Cabeça direita, bem destacada<br />
dos ombros<br />
Ombros ligeiramente para trás<br />
Rins e costas flexíveis<br />
Cotovelos ligeiramente<br />
dobrados<br />
Pernas caindo naturalmente<br />
Estribos calçados na parte mais<br />
larga do pé<br />
Calcanhares<br />
descidos<br />
Assento bem colocado puxado<br />
à frente na sela<br />
Pernas em contacto<br />
com o cavalo<br />
calça os estribos, a soleira dos estribos deve estar na parte<br />
mais larga do pé, a posição do pé fica no sítio onde deve<br />
estar para que a colocação em sela seja correcta. Mas… (há<br />
sempre um “mas”) a articulação do pé tem de estar completamente<br />
descontraída, e, para isso, dizemos “calcanhar<br />
para baixo”. Se se apoiarem no bico do pé, a perna sobe e<br />
mais uma vez a contracção aparece. O contacto com o cavalo<br />
diminui e a solidez também. (Fig. 3)<br />
Em suma: tudo o que escrevi pode resumir-se nos princípios<br />
base da Educação do cavaleiro.<br />
D – Descontracção – Só à vontade em cima do cavalo é<br />
que conseguimos ter acção (ajudas) justas e precisas (Manual<br />
de Monitor de Equitação do Coronel Neves Veloso e<br />
Tenente-Coronel Almeida e Sousa).<br />
E – Equilíbrio – Só com ligação ao movimento é que conseguimos<br />
estar equilibrados. Mas também é preciso pensar<br />
no equilíbrio do cavalo.<br />
F – Flexibilidade – Relaxamento dos músculos como os<br />
deltóides e articulação dos pés. Os rins e costas sempre<br />
prontas a dar uma ajudinha de flexibilidade.<br />
2<br />
S – Solidez – A aderência ao cavalo não é aparafusar as<br />
pernas ao arreio. Houve tempo em que se mandava apertar<br />
bem os joelhos. Só que assim os joelhos sobem no arreio<br />
e a solidez desaparece. Havia até um limitador na aba<br />
do arreio, para o joelho não ir para a frente. É estarem<br />
encostadas com a maior superfície possível – parte plana<br />
das coxas, barriga das pernas justas e quietas, quer dizer,<br />
3<br />
sem parecerem um limpa pára-brisas dos carros, que actuam<br />
quando chove. O segredo da solidez a cavalo reside<br />
essencialmente na elasticidade do cavaleiro e em empregar<br />
a força apenas quando e como é preciso. (F. Caprilli).<br />
Iniciação aos saltos,<br />
cavaleiro e cavalo<br />
Entendo que o grande segredo de um bom percurso num<br />
concurso de saltos, reside em o cavaleiro sentir a distância<br />
ao salto e o sítio onde deve fazer a batida para saltar sem<br />
faltas. Claro que tudo depende do tipo de obstáculos - vertical,<br />
largo, vala de água, compostos.<br />
É também evidente que temos de ter a montada equilibrada,<br />
porque não será durante o percurso que vamos conseguir.<br />
Acabaríamos por nos contrair e contrair o cavalo, fazendo<br />
uma má prova.<br />
O cavalo tem de estar descontraído quando vai saltar (Cor.<br />
de Cavalaria Vasco Ramires).<br />
Também é preciso ter em conta a raça do cavalo. Um PSI<br />
tem uma passada bem maior que um Lusitano e mesmo<br />
que saibamos falar com ele em inglês, ele, por birra, não vai<br />
<strong>EQUITAÇÃO</strong> 25 MAGAZINE
TREINO<br />
5 A passo<br />
4<br />
6 A trote<br />
7 A galope<br />
saltar se não o quiser fazer. O Lusitano, de passada mais<br />
curta, chega, normalmente, bem ao salto. Pode não saltar<br />
tanto como o PSI, mas cria menos problemas que este.<br />
Para que se saiba, o recorde do mundo do salto em altura,<br />
2,47 m, pertence, desde 1949, ao Huaso, um PSI, montado<br />
pelo capitão chileno Alberto Larraguibel.<br />
Então como vamos sentir a<br />
“A Eq u i t a ç ã o é u m Hi n o<br />
à d e s c o n t r a c ç ã o.<br />
Se n ã o h o u v e r<br />
d e s c o n t r a c ç ã o p o r p a r t e<br />
d o c a v a l e i r o, m a i s t a r d e<br />
o u m a i s c e d o v a i<br />
p a r a r a o c h ã o.”<br />
<strong>EQUITAÇÃO</strong> 26 MAGAZINE<br />
distância ao salto para o cobrir<br />
sem faltas? Como tenho<br />
dito em artigos anteriores,<br />
ainda não vi ninguém tropeçar<br />
no passeio quando atravessa<br />
uma rua, ou alarga o<br />
passo ou o encurta ou o mantém,<br />
se sente que, procedendo<br />
assim, com uma das três<br />
alternativas, não vai tropeçar.<br />
Pondo no chão varas de saltos<br />
em qualquer sítio vamos a pé e a passo, passar as varas<br />
sem as pisar (Fig. 4). Feito isto, fazer o mesmo com o cavalo<br />
montado e dando-lhe um jeitinho para ele não pisar<br />
as varas, como fizemos a pé. Sentir é fundamental. Depois<br />
pôr as varas paralelas à distância entre 0,70m a 0,80m, se<br />
formos a passo; entre 1,40m e 1,60m se formos a trote e<br />
entre 2,80m e 3,00 m se formos<br />
a galope. (Fig. 5, 6 e 7)<br />
Cria-se uma situação de fácil<br />
e muito útil exercício ginástico<br />
em que o factor dominante é<br />
o equilíbrio, além da souplesse<br />
(agilidade elástica) do cavalo<br />
e do cavaleiro (in “A Equitação<br />
Elementar” do Cor.<br />
Joaquim Arnaut Pombeiro).<br />
Quando se vai saltar devem<br />
verificar se a soleira está bem
8 Salto de través<br />
soldada ao resto do estribo. Em Cascais, na recepção de<br />
um salto, perdi a soleira, e isso teve, como se imagina, consequências<br />
desagradáveis.<br />
A seguir, e com bom senso, vamos saltar saltos pequenos,<br />
como nos diz Gudin de Vallerin, o princípio é nunca saltar<br />
obstáculos grandes, antes de ter obtido franqueza e calma<br />
nos obstáculos pequenos. Mesmo para um cavalo velho, o<br />
trabalho sobre obstáculos de 1,20 m é suficiente (Chevalier<br />
d’Orgeix). Aí sim, teremos um bom cavalo de obstáculos.<br />
É essencial nunca esquecer o que nos ensinou o General<br />
L’Hotte: “Os fins essenciais a atingir no ensino do cavalo<br />
podem exprimir-se em três palavras: calmo, para diante e<br />
direito. A ordem é invariável e não podemos obter o seguinte<br />
enquanto não for alcançado o precedente.”<br />
Há um exercício de grande utilidade, para um cavalo que<br />
ajusta mal a sua trajectória ao obstáculo: é o salto de través<br />
(Fig. 8). Lembre-se que um cavalo, normalmente,<br />
muda de mão quando salta.<br />
Vai fazer uma prova? Então, quando entrar em pista, faça-o<br />
com um bom trote para ter a certeza de que o cavalo<br />
está bem para diante.<br />
Por esta altura iniciaram a carreira de cavaleira/o de obstáculos.<br />
Que desfrutem do vosso cavalo, mas sem violências,<br />
porque ele não merece isso. E tentem sempre ser os melhores<br />
a chegar ao top das provas!<br />
Boa sorte amigos!m<br />
PUB<br />
Tempo de viver<br />
esta experiência.<br />
EQUINICULTURA<br />
Licenciatura<br />
DESPORTO E<br />
FORMAÇÃO EQUESTRE<br />
Curso Técnico Superior Prossional<br />
Formação Prática e Elevada Empregabilidade<br />
www.ipportalegre.pt<br />
<strong>EQUITAÇÃO</strong> 27 MAGAZINE
Tema de Capa<br />
Luís Sabino Gonçalves<br />
figura maior<br />
do hipismo<br />
Aos 55 anos, Luís Sabino Gonçalves dispensa apresentações. Referência do hipismo<br />
português, inspiração para muitos jovens cavaleiros, já foi Campeão Nacional, venceu<br />
diversos CSIO de Lisboa, levantou Taças das Nações e já nem sabe o número de vezes que<br />
envergou a casaca da selecção nacional. Diz que perde a cabeça por um bom vinho tinto e<br />
com um bom poldro. Tal como ambos, tem sabido envelhecer da melhor forma possível.<br />
TEXTO Ana Filipe | FOTOS Bárbara M. da Costa/Equestrez<br />
<strong>EQUITAÇÃO</strong> 28 MAGAZINE
Vai já longo o currículo deste cavaleiro que começou<br />
por montar os lusitanos que o pai criava e a<br />
andar no meio dos touros, tinha pouco mais de<br />
seis anos. Aí ganhou muita da desenvoltura e bravura,<br />
tão úteis na disciplina que escolheu como profissão e na<br />
hora de se fazer aos saltos a passadas largas de varas colocadas<br />
a 1.60m. Embora de cara séria em prova ou na hora de<br />
reconhecer os percursos, o sorriso é uma das suas características.<br />
Quem o conhece bem, diz ter dificuldade em apontarlhe<br />
defeitos e define-o como prestável, sempre pronto a ajudar<br />
o próximo. Ao longo dos anos conquistou alunos e, na era<br />
das redes sociais, uma legião de fãs que ultrapassa os 12 mil<br />
no Facebook e Instagram (sendo o cavaleiro português com<br />
mais seguidores).<br />
Quando a pandemia mundial foi decretada, Luís encontravase<br />
no Médio Oriente, tendo regressado mais cedo a Portugal.<br />
É precisamente por esse tema que iniciamos esta entrevista.<br />
<strong>EQUITAÇÃO</strong> - Nos últimos anos, Janeiro é sinónimo de<br />
uma temporada no Médio Oriente. Como tem sido esta<br />
experiência e de que forma começar o ano civil nessa parte<br />
do globo o tem ajudado para o resto da temporada?<br />
LUÍS SABINO GONÇALVES - Há quatro anos, fui pela primeira<br />
vez assistir a um concurso a Abu Dhabi, nos Emirados<br />
Árabes Unidos (EAU), para ver e analisar a hipótese de, no<br />
futuro, aí competir. Durante anos, de Novembro a Fevereiro,<br />
costumava trabalhar bastante no Brasil, no negócio de cavalos<br />
e a dar estágios. A importação de cavalos para o Brasil<br />
tornou-se difícil, pelo aumento dos custos e dificuldades formais,<br />
o que levou a uma enorme redução nas vendas. Percebi<br />
que tinha de reagir e apostar noutro mercado com potencial.<br />
Foi quando decidi arriscar e investir no Médio Oriente o que<br />
acabou por ser uma boa aposta. O negócio de cavalos tem<br />
vindo a aumentar e a Sabino Saddle tem crescido exponencialmente<br />
de ano para ano, com vendas para os EAU, Síria,<br />
<strong>EQUITAÇÃO</strong> 29 MAGAZINE
Tema de Capa<br />
Arábia Saudita, Egipto, Jordânia, etc. No plano desportivo, os<br />
concursos têm todos óptimas condições e bons prémios, os<br />
organizadores e os cavaleiros criam um ambiente super amistoso<br />
e quando chego a Vilamoura, para o circuito de Inverno,<br />
já levo as montadas mais prontas a competir. Tenho conseguido<br />
bons resultados que me ajudam a valorizar os cavalos,<br />
a pagar as contas e a pontuar para o Ranking Mundial FEI, o<br />
que me facilita a entrada nos concursos de 4* e 5* na Europa.<br />
No passado, muitos cavaleiros europeus participavam nestes<br />
concursos pelo facilitismo em pontuar para o Ranking, mas a<br />
realidade mudou. Essas provas deixaram de ter uma média<br />
de 30 conjuntos para passarem a ter mais de 60 e, na sua<br />
grande maioria, competitivos.<br />
A nível pessoal, como passo o ano a viajar, de segunda a<br />
quarta-feira à procura de cavalos e de quinta-feira a domingo<br />
em competições por toda a Europa, este mês e meio nos EAU<br />
permite-me descansar, ter tempo para me preparar fisicamente<br />
para a nova época e desfrutar de espectaculares programas<br />
com os amigos locais que já lá tenho.<br />
Na Europa, no início do ano são os circuitos de saltos de<br />
obstáculos que marcam o calendário hípico. Com tantos<br />
circuitos a decorrer em simultâneo, cada vez com melhores<br />
condições para cavalos e cavaleiros, quais os critérios<br />
que utiliza para escolher onde competir?<br />
São sem dúvida a minha prioridade: a qualidade dos pisos, a<br />
dimensão das pistas de competição e de aquecimento e as<br />
boxes onde ficam instalados os cavalos. Em seguida procuro<br />
concursos em lugares agradáveis, com uma organização sim-<br />
pática e onde se encontrem a competir amigos meus, se possível.<br />
Tudo isto dentro de um enquadramento de CSI de 3* a<br />
5*, dependendo dos concursos onde consigo entrar em função<br />
do Ranking e dos meus contactos pessoais.<br />
E no que diz respeito aos concursos, como escolhe onde<br />
marcar presença?<br />
Depende dos objectivos a que me proponho para cada época.<br />
Se for ano de Campeonato da Europa ou do Mundo, por<br />
exemplo, faço a agenda de concursos para o meu cavalo<br />
principal poder chegar no top da forma nesse fim-de-semana<br />
e depois encaixo por prioridades cada um dos seguintes<br />
cavalos nos concursos durante o ano. A minha vida pessoal e<br />
profissional é completamente dependente da agenda de<br />
concursos do meu cavalo principal.<br />
Sabendo que a alta roda dos concursos decorre no centro<br />
da Europa, nunca ponderou deixar o Cartaxo e radicar-se<br />
num desses países?<br />
Contando os dias todos do ano, passo praticamente nove<br />
<strong>EQUITAÇÃO</strong> 30 MAGAZINE
PUB<br />
NEW TEAM<br />
COLLECTION<br />
#RidersTeam Collection<br />
meses no estrangeiro. Mas, a vida não é só feita de resultados<br />
desportivos e financeiros. Gosto muito de estar perto da minha<br />
família, amigos e de viver em Portugal, embora não o tenha<br />
conseguido fazer muito nos últimos anos. Para conciliar<br />
tudo isto com os concursos no centro da Europa, faço um<br />
programa de competições em que vou “subindo” com os cavalos<br />
e fico um mês ou dois, depois “desço” quando há concursos<br />
internacionais em Portugal e parto de novo para fora.<br />
Os cavalos acabam por andar de concurso em concurso e<br />
nos fins-de-semana de descanso ficam em boxes de cavaleiros<br />
amigos perto do próximo evento. Não se justifica ter<br />
mais uma estrutura, só para dar apoio à minha equipa de<br />
competição. Por outro lado, não escondo que tenho o sonho<br />
e objectivo de um dia poder vir a construir uma estrutura na<br />
Holanda, mas só como negócio para rentabilizar o aluguer de<br />
boxes e apartamentos para cavaleiros e tratadores.<br />
“A m i n ha v i d a pessoal<br />
e p r o f i s s i o n a l<br />
é complet amente<br />
d e p e n d e n t e d a a g e n d a<br />
d e c o n c u r s o s d o m e u<br />
c a v a l o p r i n c i p a l”<br />
A quadra<br />
para esta<br />
temporada...<br />
• Argan de Beliard:<br />
SF, ruço, castrado, 10 anos,<br />
filho de Mylord Carthago;<br />
• Biloba des Chaînes:<br />
SF, castanho, castrado, 9 anos,<br />
filho de Winingmood;<br />
• Apremier:<br />
SF, castanho, castrado, 10 anos,<br />
filho de Diamand de Semilly;<br />
• Camino Império Egipcio:<br />
BAV, ruço, castrado, 10 anos,<br />
filho de Colman;<br />
• Adiamood de L’Abbaye:<br />
SF, castanho, castrado, 10 anos,<br />
filho de Winingmood.<br />
Como é o Luís num dia de prova? Gosta de ver os concorrentes<br />
antes de si? Pratica algum tipo de alimentação especial?<br />
Prefiro ver alguns cavaleiros antes para poder fazer uma melhor<br />
leitura do percurso. Em algumas situações, quando reconhecemos<br />
o percurso, nem sempre as passadas que pensamos<br />
fazer em determinada linha são a melhor opção. O<br />
bonito deste desporto é que não é nem previsível nem matemático,<br />
está sempre tudo em aberto.<br />
Tenho a tensão baixa e por isso toda a minha vida tive um ligeiro<br />
conflito entre o que deveria comer para me sentir bem e<br />
ter energia e, ao mesmo tempo, não engordar e não me sentir<br />
cheio para competir. Tive a sorte de encontrar a equipa da<br />
<strong>EQUITAÇÃO</strong> 31 MAGAZINE<br />
VALE DE VAZ<br />
3350-110 VILA NOVA DE POIARES<br />
Tel.: 96 2001 001<br />
www.hippusb.pt - geral@hippusb.pt
Tema de Capa<br />
Sabino Saddle<br />
Apesar do gosto pelo ensino,<br />
actualmente o cavaleiro encontra-se<br />
totalmente dedicado ao comércio<br />
e competição. Como muitos<br />
cavaleiros internacionais de<br />
renome, desenvolveu uma linha<br />
própria de material equestre ligada<br />
aos obstáculos. A Sabino Saddle<br />
nasceu, como o nome indica, com<br />
uma sela, mas hoje em dia inclui<br />
uma pequena gama de produtos<br />
complementares como cabeçadas,<br />
arreios, peitorais, entre outros<br />
artigos, distribuídos na Europa,<br />
Brasil e EAU.<br />
Nordic Health, que me acompanha, através de consultas, testes<br />
e análises e me fornece os suplementos indicados para<br />
poder manter os níveis de energia desejados durante as competições<br />
e poder ter uma melhor performance.<br />
“Te n h o u m o b j e c t i v o<br />
d e u m d i a p o d e r v i r a c o n s t r u i r<br />
u m a e s t r u t u r a n a Ho l a n d a”<br />
Diz o ditado que “a pressa é inimiga da perfeição”, mas nas<br />
barrages, onde os vencedores se decidem à milésima de<br />
segundo, não há tempo para pensar muito. O que lhe passa<br />
pela cabeça antes de entrar em pista e durante um<br />
jump-off?<br />
Numa barrage é muito importante<br />
traçar uma estratégia<br />
em função do nosso<br />
cavalo, do percurso e da<br />
concorrência. Admitindo<br />
que temos um cavalo com<br />
experiência e que, embora seja quase sempre difícil ganhar<br />
mas ainda assim possível, temos de entrar em pista bem focados<br />
na execução do que planeamos, cheios de adrenalina<br />
e, ao mesmo tempo, com um mental sereno, sem o cavalo se<br />
aperceber de que queremos ir depressa. Assim que passamos<br />
a linha de partida, temos de montar com todo o sentimento,<br />
deixar fluir com alguma irresponsabilidade e sem<br />
medo do risco para poder ganhar.<br />
Na última década, o CSIO de Lisboa marcou a sua carreira<br />
com quatro vitórias em seis anos. De que forma o encara<br />
anualmente?<br />
Julgo que participo sempre desde 1981, a primeira vez aos 16<br />
anos. Ao longo de toda a minha carreira, foi um objectivo ten-<br />
tar melhorar o resultado no Grande Prémio (GP) do CSIO de<br />
Lisboa, até que um dia aconteceu ganhá-lo! Agora é um desafio<br />
tentar bater o recorde de vitórias pelo mesmo cavaleiro<br />
no GP, que tenho ideia de serem quatro, ganhas pelo Brigadeiro<br />
Henrique Callado e por mim.<br />
Estas vitórias no CSIO tiveram desfechos semelhantes: a<br />
venda das montadas dias depois. Ainda que seja algo a<br />
que já está habituado – e que faz parte da sua vida como<br />
cavaleiro e empresário – em 2010, numa entrevista que<br />
deu à <strong>EQUITAÇÃO</strong> TV, revelava<br />
algum descontentamento<br />
pelo facto de<br />
não poder manter os cavalos<br />
ganhadores, assim<br />
como pelo facto de se um<br />
se lesionar, não ter substituto à altura. Muito mudou na<br />
sua vida desde então, em termos de apoios e patrocinadores,<br />
mas a venda dos cavalos ganhadores continua a<br />
ser uma constante. Como se lida com esta realidade de<br />
ficar sem a principal montada?<br />
É uma maneira de estar na vida como outra qualquer. Hoje<br />
em dia, Graças a Deus, tenho um grupo de cavalos em que<br />
posso vender um sem ficar momentaneamente “descalço”.<br />
Durante toda a minha vida, o meu objectivo principal e o dos<br />
meus proprietários/sócios, sempre foi a venda. Quando vendia,<br />
sempre tive de ser rápido a encontrar outro do mesmo<br />
nível ou melhor, e a torná-lo competitivo o mais rapidamente<br />
possível. A sustentabilidade da minha organização e da minha<br />
vida pessoal passa principalmente pelo comércio de ca-<br />
<strong>EQUITAÇÃO</strong> 32 MAGAZINE
<strong>EQUITAÇÃO</strong> 33 MAGAZINE
Tema de Capa<br />
valos. Adoraria guardá-los mais tempo mas como em todos<br />
os negócios, eles vendem-se bem quando estão a ganhar e<br />
aparece o cliente a querer comprar. Foi a vender que eu cresci<br />
e por vender não desapareci.<br />
De referir que tenho agora, pela primeira vez, uma proprietária/criadora<br />
belga que está instalada na Normândia, a Isabel<br />
Delferriere, do Haras du Coq, que me entregou um cavalo de<br />
GP Internacional, o Apremier, cujo objectivo principal não é<br />
vender.<br />
De que forma a psicologia desportiva o tem ajudado a<br />
lidar com este tipo de acontecimentos e, acima de tudo,<br />
a melhorar o seu psíquico no que à competição diz respeito?<br />
As conversas/sessões que tive com abordagens diferentes de<br />
vários psicólogos com quem trabalhei, foram todas muito interessantes,<br />
enriquecedoras e principalmente muito esclarecedoras.<br />
Ajuda-nos muito a clarificar e trabalhar em cada<br />
momento, diferentes atitudes, vários pensamentos e a eliminar<br />
as diversas inseguranças que limitam o conseguir obter o<br />
foco necessário para optimizar a concentração e permitir assim<br />
atingir o resultado desejado.<br />
Aconselho vivamente os jovens que se façam acompanhar<br />
de um psicólogo/mental coach, desde que possível. Vivemos<br />
num mundo cada vez mais competitivo, o desporto em geral<br />
é também cada vez mais competitivo e exigente nos resultados,<br />
não há espaço para desculpas, o resultado tem que ser<br />
sim ou sim, e no final o atleta que aguenta melhor a pressão<br />
e que é o mais consistente é aquele que continua.<br />
O meu primeiro psicólogo foi o meu grande Amigo, Mentor e<br />
quem me ensinou verdadeiramente a montar a cavalo, o meu<br />
Mestre João Martins Abrantes que, já à época, me perguntava<br />
antes de entrar em pista: “qual é o teu plano desde que entras<br />
na pista até que sais, para que depois possamos analisar os<br />
desvios que possam existir?” Por palavras dos mental coach<br />
de hoje em dia, isto quer dizer: “visualiza o percurso e foca-te<br />
no processo, depois analisamos”. Apesar de ter encontrado<br />
ao longo da minha vida um equilíbrio para digerir as derrotas<br />
e lidar sem euforia com as vitórias, embora de uma maneira<br />
caseira, devo dizer que depois de ter trabalhado com psicólogos<br />
do desporto, passei a analisar ainda melhor o que deveria<br />
fazer para evitar os possíveis desvios ao meu plano.<br />
<strong>EQUITAÇÃO</strong> 34 MAGAZINE
PUB<br />
<br />
O pioneiro em construção<br />
de pistas equestres.<br />
Complexo Hípico Deodoro, Rio de Janeiro, Brasil.<br />
Construção completa „turn-key“<br />
Sistema clássico ou subterrâneo de irrigação.<br />
Saneamento de pistas<br />
Venda de materiais em separado<br />
(pranchas, Geotextil, rastelos, etc.)<br />
<br />
com padrão FEI<br />
Pranchas perfuradas patenteadas OTTO Sport<br />
As únicas que garantem o conforto dos cavalos,<br />
absorvendo 40% do impacto.<br />
Aumenta a elasticidade e portanto o rendimento.<br />
Retém até 4 litros de água por metro quadrado,<br />
mantendo a humidade necessária na pista.<br />
Garante o funcionamento correto da drenagem.<br />
Evita derrapagens desnecessárias.<br />
ENTRE EM CONTATO CONNOSCO, SEM COMPROMISSO!<br />
<strong>EQUITAÇÃO</strong> 35 MAGAZINE<br />
www.ottosport.com<br />
OTTO Sport- und Reitplatz GmbH<br />
Am Umspannwerk 6 | 90518 Altdorf b. Nürnberg | GERMANY<br />
Tel. +49 (0) 9187 97 11-0 | info@ottosport.com
Tema de Capa<br />
Quando vai trabalhar cada<br />
um dos seus cavalos, o que é<br />
que procura e como planeia a<br />
sessão de cada um?<br />
Procuro sempre que cada cavalo<br />
consiga trabalhar descontraído,<br />
feliz e motivado. Para<br />
conseguir tudo isto, vou variando<br />
o programa e os lugares<br />
onde os trabalho. Por exemplo,<br />
no dia “A”, faço um passeio,<br />
onde introduzo algum trote e<br />
por vezes um pouco de galope<br />
em terrenos variados, mais duros e menos duros, regulares e<br />
irregulares, com e sem inclinação, etc. No dia “B” posso fazer<br />
um trabalho mais técnico ao nível de dressage no picadeiro<br />
coberto. No dia “C” incluo trabalho aeróbico em diferentes<br />
amplitudes de passada de galope, intensidade e duração na<br />
pista exterior. No dia “D” salto cavalettis e exercícios de varas<br />
no chão, para repetir os gestos que faço em pista. No dia “E”<br />
só trabalho à guia. No dia “F” salto um exercício específico<br />
para trabalhar algum pormenor num determinado cavalo.<br />
No dia “G”, posso soltá-los em liberdade, mesmo os cavalos<br />
das provas grandes, para trotarem e galoparem.<br />
Em época de concurso adapto a programação em função<br />
da carga de esforço que têm tido, das viagens, da próxima<br />
competição, etc.<br />
Procuro trabalhar de uma maneira inteligente. Quero dizer,<br />
olhando e analisando o físico de cada cavalo, estudando as<br />
dificuldades técnicas que o físico e o carácter me causam<br />
para as poder trabalhar, tudo isto levando em conta, a fase<br />
técnica, física, nível de experiência e idade de cada um. Mas<br />
sempre a treinar e a pensar na relação e no impacto que o<br />
treino terá na competição. É<br />
importantíssimo estarem sempre<br />
relacionados.<br />
Qual é para si a importância<br />
do trabalho de varas e treino<br />
no chão?<br />
Este trabalho é cada vez mais<br />
utilizado pelo mundo inteiro<br />
porque permite trabalhar os<br />
cavalos, repetindo os mesmos<br />
gestos que necessitamos em<br />
pista, limando algumas resistências,<br />
mecanizando os bons movimentos para maximizar a<br />
impulsão, activando músculos, melhorando o equilíbrio através<br />
do recuo do seu centro de gravidade, permitindo ao cavalo<br />
utilizar melhor o seu corpo e desempenho, sem o desgastar<br />
fisicamente.<br />
Depois dos resultados (individuais e por equipas) dos últimos<br />
tempos, esperava uma representação nacional diferente<br />
nos Jogos Olímpicos de Tóquio?<br />
Todos tínhamos a ambição e desejo de participar por equipas<br />
nos Jogos de Tóquio, embora estando bem conscientes da<br />
realidade, que seria bastante difícil porque fazemos parte do<br />
continente mais competitivo e com mais países a disputar<br />
essas possíveis vagas. A Luciana Diniz conseguiu com mérito,<br />
dedicação e sucesso a vaga individual. Estou convicto que vamos<br />
estar bem representados individualmente.<br />
Nos Jogos do Mediterrâneo, em 2018, foi quase como se<br />
todas as estrelas se alinhassem, o que culminou na medalha<br />
de ouro por equipas para Portugal. Na sua opinião po-<br />
<strong>EQUITAÇÃO</strong> 36 MAGAZINE
EXELÊNCIA EM NUTRIÇÃO EQUINA<br />
LINHA COMPLETA DE ELECTRÓLITOS<br />
Melhora o seu rendimento<br />
Previne a desidratação do seu cavalo<br />
Várias apresentações para cada momento e situação<br />
SOLUÇÃO LÍQUIDA e Equilibrada<br />
de Electrólitos<br />
APRESENTAÇÃO<br />
3.75L<br />
10L<br />
Electrólitos de RÁPIDA<br />
ABSORÇÃO em Seringa<br />
APRESENTAÇÃO<br />
3X70G<br />
Suplemento de Electrólitos<br />
E VITAMINAS ANTIOXIDANTES<br />
APRESENTAÇÃO<br />
30X50G SOBRES<br />
Suplemento ISOTÓNICO<br />
de Electrólitos<br />
APRESENTAÇÃO<br />
1.5KG<br />
10KG<br />
João Torrão<br />
PATROCINADO POR TRM<br />
Distribuidora Veterinária Especializada em Equinos<br />
Tel./Fax 217971685 Tmv. 918575861 W: www.equinvest.pt E: portugal@equinvest.pt<br />
Fabricado na Irlanda por: TRM. Distribuido em Portugal por: Equinvest Portugal /EQUINVESTPORTUGAL @EquinvestPT<br />
<strong>EQUITAÇÃO</strong> 37 MAGAZINE
Tema de Capa<br />
demos sonhar com mais idas ao pódio em competições<br />
internacionais (como selecção)?<br />
Acredito que sim porque existe um grupo crescente de cavaleiros<br />
com muita ambição, muita motivação, com uma mentalidade<br />
e atitude cada vez mais competitiva e profissional.<br />
Nos últimos anos, ao nível de 3*, passámos de participantes a<br />
favoritos nas Taças das Nações onde aparecíamos, ao ponto<br />
de ganharmos e ficarmos várias vezes em segundo lugar por<br />
uma diferença mínima. Agora, temos de dar o salto qualitativo<br />
para o nível de 5*, e aí sim, conseguirmos ter a possibilidade<br />
de qualificar para os próximos Jogos Olímpicos.<br />
Passando grande parte do ano fora do país, como é feita a<br />
gestão da Equivarandas?<br />
O meu irmão João gere a Quinta das Varandas integralmente<br />
durante todo o ano, e a minha cunhada Carolina faz a gestão<br />
completa e treino de todos os cavalos . A minha Mãe é a directora<br />
financeira e o meu novo irmão Tiago Lopes, faz a gestão<br />
dos patrocínios e da minha imagem nos social media.<br />
Passando tantos dias fora ou em viagens, sobra tempo<br />
para a vida pessoal e para o descanso?<br />
Como eu costumo dizer, estou sempre de férias, porque adoro<br />
o que faço. Com certeza que tenho momentos durante o<br />
ano mais trabalhosos e menos simpáticos, mas faz parte.<br />
Tento todos os anos marcar duas ou três semanas inteiras e<br />
separadas, de férias sem cavalos, para poder estar mais tempo<br />
com a minha mulher e por vezes também com amigos.<br />
Em 2019 a selecção mudou de treinador. Sendo membro<br />
assíduo da equipa, como vê a interrupção do trabalho que<br />
vinha sendo feito por Antonis Petris e a mudança para Gilles<br />
de Balanda? De que forma é que isso afectou os vossos<br />
projectos competitivos?<br />
A saída do Antonis Petris foi muito comentada e argumentada<br />
mas na realidade foi o culminar de um choque entre duas<br />
personalidades (Antonis<br />
Petris/João Moura), que<br />
“não se entenderam enquanto<br />
juntos trabalharam.<br />
O Antonis foi e é um<br />
óptimo treinador, que era<br />
bem aceite pela grande<br />
maioria dos cavaleiros e<br />
que devido ao sucedido<br />
não continuou.<br />
A mudança de treinador,<br />
como tudo na vida, tem vantagens e desvantagens, mas tenho<br />
a certeza que pelo conhecimento e experiência equestre<br />
que o Gilles de Balanda tem, vai ser sem dúvida muito enriquecedor<br />
e complementar ao que os cavaleiros trazem.<br />
Em termos competitivos, pode existir um pequeno período<br />
de adaptação à sua abordagem mas o Gilles vem seguramente<br />
para melhorar e não para mudar os cavaleiros.<br />
Com o futuro tão incerto o que espera do desenvolvimento<br />
do hipismo nacional (sendo que tem, nos seus sobrinhos,<br />
dois seguidores directos das suas passadas!) e internacional<br />
para os próximos anos?<br />
Vivemos uma época na qual é extremamente difícil projectar<br />
o futuro, porque de um momento para o outro, podemos<br />
ficar completamente condicionados por novas e potentes<br />
variáveis, onde não<br />
“Assim q u e p a s s a m o s<br />
a l i n h a d e p a r t i d a, t e m o s d e<br />
m o n t a r c o m t o d o o s e n t i m e n t o,<br />
d e i x a r f l u i r c o m a l g u m a<br />
i r r e s p o n s a b i l i d a d e e s e m m e d o<br />
d o r i s c o p a r a p o d e r g a n h a r”<br />
conhecemos o seu impacto<br />
a curto, médio ou<br />
longo prazo. Com este<br />
panorama de incerteza, é<br />
extremamente difícil para<br />
as organizações, montarem<br />
e promoverem qualquer<br />
evento nacional ou<br />
internacional. Infelizmente,<br />
tenho conhecimento<br />
de organizações nacionais e internacionais, que perderam os<br />
principais patrocinadores, anulando assim a concretização<br />
de vários eventos no futuro. Os meus sobrinhos, continuam a<br />
estudar e a crescer mas sempre com muita paixão e envolvimento<br />
pelo mundo dos cavalos. São os primeiros sinais de<br />
uma possível continuidade da ligação da família ao mundo<br />
hípico. Espero que tudo volte ao normal o mais rapidamente<br />
possível e que o impacto da Covid-19 na economia global,<br />
seja minimizado ao nível dos possíveis efeitos indesejados.<br />
Tenho muito receio que a pandemia tenha provocado o fecho<br />
de pequenas estruturas hípicas, que são muito importantes<br />
para o desenvolvimento e crescimento da base da pirâmide<br />
dos praticantes. m<br />
<strong>EQUITAÇÃO</strong> 38 MAGAZINE
www.epdra.pt<br />
EPDRA<br />
<br />
1990 - 2020<br />
Inscrições<br />
abertas<br />
ESCOLA PROFISSIONAL<br />
DE DESENVOLVIMENTO RURAL DE ABRANTES<br />
<br />
TÉCNICO(A) DE GESTÃO EQUINA<br />
Nível IV - Equivalência ao 12ºano<br />
TRATADOR(A)/DESBASTADOR(A) DE EQUINOS<br />
Nível II - Equivalência ao 9ºano<br />
FORMAÇÃO GRATUITA - INTERNATO M/F<br />
ESTÁGIOS - SUBSÍDIO DE ALIMENTAÇÃO/ALOJAMENTO/TRANSPORTE<br />
PARCERIAS INTERNACIONAIS - CERTIFICAÇÕES COMPLEMENTARES<br />
www.epdra.pt<br />
FAZ-NOS UMA VISITA - VEM CONHECER A TUA ESCOLA<br />
241 870 020<br />
geral@epdra.pt<br />
www.epdra.pt<br />
Herdade da Murteira, Mouriscas, ABT
Editor’s Choice<br />
CASACA EQUILINE RACK<br />
Nascida da paixão de dois<br />
irmãos – Paolo e Renato<br />
Marchetto – a marca<br />
Equiline foi fundada há<br />
três décadas e iniciou uma revolução<br />
na indústria têxtil equestre italiana, ao<br />
aliar inovação, conforto, estilo e tecidos<br />
técnicos que garantem uma postura<br />
adequada, máxima flexibilização de<br />
movimentos e durabilidade, mesmo<br />
com utilização quotidiana.<br />
A casaca Rack não é excepção e foi<br />
concebida com um tecido<br />
revolucionário elástico e confortável,<br />
que combina elegância e estilo<br />
atlético, ao mesmo tempo que<br />
potencia o óptimo desempenho,<br />
sendo perfeita para suportar os dias<br />
mais exigentes de competição.<br />
Não é por acaso que é a casaca usada<br />
pelos embaixadores da Equiline em<br />
todo o mundo como os cavaleiros<br />
olímpicos Nick Skelton ou Ben Maher.<br />
Personalizável em fábrica, é dos<br />
artigos mais comercializados da<br />
marca e que nunca sai de moda! m<br />
<strong>EQUITAÇÃO</strong> 40 MAGAZINE
<strong>EQUITAÇÃO</strong> 41 MAGAZINE
Coaching<br />
Estratégias para<br />
LIDAR COM<br />
A INCERTEZA<br />
Treinar a mente é um dos aspectos fundamentais no desporto para se alcançar<br />
excelentes performances. Devem estar sempre em sintonia a componente<br />
física, técnica e táctica com a mental.<br />
Nos dias que correm, a incerteza é um dos aspectos<br />
que tem estado bastante presente<br />
na vida de cada um de nós. Não sabemos<br />
quando tudo o que estamos a viver neste<br />
momento vai passar. No caso dos atletas, também estão<br />
neste momento sem saber quando<br />
vão voltar à prática normal do desporto<br />
que realizam. Existem também<br />
pessoas que estão em casa e<br />
viram os seus trabalhos suspensos,<br />
não sabendo quando poderão retomar<br />
a sua actividade profissional.<br />
No fundo, vemos neste momento a nossa<br />
liberdade condicionada por um<br />
bem maior, a saúde de todos nós! Acredito que todos os<br />
esforços quando são feitos por um bem maior, merecem<br />
todo o nosso empenho, mesmo que isso possa causar<br />
sofrimento no momento presente. Acredito que quando<br />
tudo passar, vamos saborear as coisas com muito mais<br />
sentido, muito mais amor.<br />
No entanto, sabemos que as situações<br />
de incerteza, por norma, causam<br />
ansiedade, angústia, medo,<br />
simplesmente porque as coisas saem<br />
do nosso controlo. Nós gostamos de<br />
ter controlo sobre tudo, porque isso dános<br />
segurança, confiança e sentimo-nos<br />
mais confortáveis. Quando as coisas<br />
saem do nosso controlo, automaticamente<br />
estamos fora da nossa zona de<br />
conforto e isso deixa-nos claramente<br />
desconfortáveis.<br />
A forma como lidamos com o desconforto<br />
da incerteza, depende de<br />
nós, e isso vai fazer com que nos sintamos<br />
mais tranquilos, mais confiantes<br />
e positivos, mesmo no meio do<br />
caos.<br />
Que estratégias posso adoptar para<br />
lidar com a incerteza? Aqui vos deixo<br />
seis:<br />
TEXTO Mariana Silva<br />
Licenciada e Mestre<br />
em Psicologia do Desporto<br />
Email: marianasilva.mentalcoach<br />
@gmail.com<br />
Blog: treinomentalealtorendimento.<br />
wordpress.com/<br />
foto: Shutterstock<br />
<strong>EQUITAÇÃO</strong> 42 MAGAZINE
1. Meditar: Respirar. Acolher. Aceitar. Deixar ir.<br />
Buscar Respostas<br />
A prática da meditação permite-nos aprender a lidar com<br />
os nossos pensamentos, a acolhê-los, a aceitá-los, e a<br />
deixá-los ir (desapegar). Esta é uma excelente atitude<br />
para aprender a manter perante momentos de incerteza.<br />
Começar por respirar, acalmando-se; a acolher aquilo que<br />
vem, sem julgar; a aceitar que tudo faz parte, para lhe ensinar<br />
algo maior e que não tem controlo sobre tudo; deixe<br />
ir a sensação de que tem de ter controlo sobre todas as<br />
coisas, assim como os pensamentos negativos, julgadores;<br />
quando deixa ir, abre espaço para que possa procurar novas<br />
respostas.<br />
2. Concentrar-se naquilo que controla<br />
(manter o foco no presente)<br />
Nós apenas controlamos o momento presente. Nós controlamos<br />
as acções e os pensamentos que temos agora.<br />
Concentrar-se naquilo que controla, canaliza a energia<br />
para aquilo que é verdadeiramente importante e pelo qual<br />
pode fazer algo.<br />
3. Praticar a gratidão (manter-se positivo)<br />
A prática da gratidão é um exercício fantástico! Mesmo no<br />
meio do caos, quando nada parece dar certo, aprender a<br />
“parar” e a olhar para a nossa vida, para o nosso dia, e tomar<br />
consciência daquilo que temos de positivo, é uma verdadeira<br />
bênção! Quantos de nós param para agradecer e<br />
valorizar tudo aquilo que têm? O conforto do lar, a sua família,<br />
a sua saúde, o respirar, a comida, o sol, a natureza,<br />
etc. Temos muitas coisas para agradecer! Só precisamos<br />
olhar para isso.<br />
4. Desenvolver autoconfiança<br />
Nós temos medo do desconhecido, porque não nos sentimos<br />
seguros ou capazes de lidar com ele. Por isso, um dos<br />
aspectos fundamentais para superar esse receio é desenvolver<br />
a nossa autoconfiança. Volte a atenção para si,<br />
aprenda a reconhecer o potencial que possui e identifique<br />
aquilo que precisa de desenvolver para que se possa tornar<br />
mais confiante e mais forte.<br />
5. Desenvolver autoconhecimento<br />
Conhecermo-nos é algo muito importante. Quando nos<br />
conhecemos verdadeiramente, sabemos lidar melhor com<br />
os desafios que nos surgem no caminho. Quando nos conhecemos<br />
sentimo-nos mais confiantes e mais seguros.<br />
6. Manter um plano semanal<br />
Manter um plano dos nossos dias, ajuda-nos a manter o<br />
foco naquilo que é realmente importante e no que controlamos.<br />
Convido-o a começar já a praticar algumas destas estratégias<br />
e a perceber como se sente melhor ao longo dos dias.<br />
Boas práticas!m<br />
PUB<br />
<strong>EQUITAÇÃO</strong> 43 MAGAZINE
Equitação Natural<br />
Elsa Sinclair ensinou uma<br />
égua mustang a obedecer às<br />
ajudas completamente sem<br />
equipamento e documentou<br />
tudo no filme Taming Wild<br />
Experimente montar completamente<br />
sem cabeçada, apenas com o neck ring,<br />
uma argola à volta do pescoço,<br />
no Sundance Ranch<br />
TEXTO Sandra Dias da Cunha<br />
FOTOS Bruno Barata, Freya Voigt von Munzert,<br />
Waltraud Marsoner e Kevin Smith<br />
<strong>EQUITAÇÃO</strong> 44 MAGAZINE
Como<br />
controlar o<br />
seu cavalo<br />
Quem já teve aulas comigo sabe que o título deste artigo tem um sentido<br />
irónico. Na minha opinião, o controlo absoluto do cavalo é impossível.<br />
O cavalo é simplesmente mais forte do que nós em quase qualquer<br />
situação e quando realmente quer fugir, não temos hipótese.<br />
A maioria dos cavaleiros acredita que a embocadura é o que nos dá<br />
controlo. Vamos analisar o assunto e descobrir alternativas.<br />
É<br />
arriscado falar sobre a<br />
questão de usar ou não<br />
embocadura. Parece<br />
que cada um de nós<br />
tem uma opinião forte, que defende<br />
com entusiasmo. O seu treinador,<br />
professor, os seus colegas de equitação são capazes<br />
de achar um erro enorme tentar montar sem<br />
embocadura. No mundo da competição há regras<br />
para cumprir, normalmente não é permitido montar<br />
como nos apetece. Por isso, nunca é uma escolha fácil<br />
experimentar uma das alternativas ao bridão.<br />
Nem estamos todos de acordo sobre o efeito do bridão.<br />
Mas vamos ser honestos: quando escolhemos<br />
um freio-bridão, em vez do bridão, e dizemos que<br />
queremos um maior controlo sobre o cavalo, o que<br />
realmente estamos a dizer é que queremos poder<br />
exercer uma maior pressão física sobre a boca do<br />
cavalo, para ele nos obedecer. E vamos ser ainda<br />
mais honestos e brutos e chamar as coisas pelos<br />
nomes: quando digo “exercer pressão física”,<br />
o que realmente estou a dizer é “causar dor”.<br />
“Mas”, dizem logo os defensores das embocaduras,<br />
“o bridão é apenas tão duro quanto<br />
as mãos do cavaleiro”. Não é verdade,<br />
infelizmente. A pressão que fazemos<br />
com as nossas mãos multiplica-se por um factor muito elevado<br />
na boca do cavalo, principalmente porque a zona de<br />
contacto é muito pequena e é uma zona de alta sensibilidade<br />
no corpo do cavalo.<br />
Não podemos esquecer o efeito psicológico. A conhecida<br />
blogger americana Anna Blake escreve, “using a stronger bit<br />
is like winning an argument, not because you’re right, but<br />
because you’re holding a gun.” [usar um bridão mais forte é<br />
como ganhar uma discussão, não porque temos razão, mas<br />
porque empunhamos uma arma] . Quando vemos um cavaleiro<br />
controlar o cavalo na perfeição quase sem tocar na<br />
rédea, mas o cavalo tem um freio na boca, se calhar não<br />
estamos a ver a violência a acontecer naquele momento.<br />
Mas podemos ter a certeza de que o cavalo só anda assim<br />
tão perfeito na mão, porque conhece a dor que o freio lhe<br />
pode causar. É o equivalente a ter uma pistola a apontar<br />
para a cabeça de alguém e dizer, “olha, ele faz tudo o que<br />
quero e nem sequer lhe estou a tocar!”<br />
Mesmo sem puxar as rédeas, mesmo sem contacto nenhum,<br />
será que o bridão é agradável?<br />
Imagine um passeio a cavalo onde o cavaleiro anda de rédeas<br />
compridas. Se o bridão está bem adaptado ao cavalo<br />
– e não podemos assumir que isso é óbvio – até pode ser<br />
que o cavalo não sinta dor, mas ele sabe que está a passear<br />
com uma peça de metal na boca que a qualquer momento<br />
lhe pode causar dor. Gostaria de ir passear assim? Vamos<br />
<strong>EQUITAÇÃO</strong> 45 MAGAZINE
Equitação Natural<br />
tirar o efeito da dor: experimente dar um passeio com uma<br />
colher de chá a atravessar a sua boca. Está à vontade? Ia<br />
adorar o passeio?<br />
Uma das questões importantes dessa discussão eterna é o<br />
que pretendemos fazer com o cavalo. Se vou pedir muito,<br />
vou precisar de meios fortes para o conseguir. Concursos de<br />
nível elevado para as capacidades do cavalo e do cavaleiro,<br />
passeios à beira-mar com pessoas que nem sabem montar,<br />
percursos de saltos, corridas a galope, cavalos desbastados<br />
em poucos dias... Podia continuar a lista, mas o problema<br />
é sempre o mesmo: se queremos atingir objectivos<br />
ambiciosos em pouco tempo e sem nos esforçarmos muito<br />
para aprender técnicas sofisticadas, temos de usar meios<br />
fortes. A fórmula é simples: objectivo alto + falta de conhecimento<br />
= necessidade maior de (ter a possibilidade de)<br />
causar dor. A solução é igualmente simples: se não quero<br />
causar dor ao meu cavalo, posso reduzir os meus objectivos<br />
e investir na minha formação, para não necessitar de dor.<br />
Qualquer pessoa pode ter uma experiência muito enriquecedora<br />
com um cavalo sem lhe causar dor, mas se calhar, é<br />
só uma volta a passo com uma pessoa experiente a andar<br />
ao lado do cavalo. Ou mesmo sem sequer montar!<br />
Se quero evitar o desconforto do bridão ao meu cavalo,<br />
posso adaptar os meus objectivos e aprender a usar o peso<br />
do meu corpo e a minha voz para comunicar, para não ser<br />
tão dependente das rédeas. E posso usar uma das muitas<br />
formas alternativas de comunicar com a cabeça do cavalo.<br />
Mas com cuidado: vários desses instrumentos exercem<br />
muita pressão, ou mesmo dor, em outras zonas da cabeça<br />
do cavalo!<br />
Como treinar o meu cavalo<br />
para aceitar as minhas<br />
ajudas sem bridão?<br />
A resposta é uma das que mais vezes me ouvem<br />
dar: passo a passo. Escolha um dia e uma hora<br />
em que possa estar a sós no picadeiro com o<br />
seu cavalo. Um dia sem vento nem chuva,<br />
Alfonso Aguilar a montar com o bosal, cabeçada típica da<br />
equitação do estilo “Old California”. Alfonso dá cursos sobre a<br />
equitação com bosal e escreveu um livro sobre o tema<br />
sem pressão de tempo. Em vez de colocar o bridão na cabeça<br />
do cavalo, use uma das cabeçadas sem bridão. Para<br />
uma primeira experiência, o cabeção normal com rédeas<br />
afixadas ao lado serve perfeitamente.<br />
Experimente então andar ao lado do seu cavalo. Consegue<br />
parar o cavalo com um ligeiro toque na rédea? Coloque-se<br />
ao lado do cavalo e experimente se um toque na rédea o<br />
faz virar a cabeça para si. São simples exercícios de trabalho<br />
no chão, tal como os americanos os praticam ao desbastar<br />
um cavalo. É prática muito comum, hoje em dia, começar<br />
o ensino do cavalo apenas com o cabeção e usar o<br />
Passeio junto ao mar<br />
sem embocadura com<br />
hackamore mecânica<br />
pela Adventure Riding<br />
em Aljezur<br />
<strong>EQUITAÇÃO</strong> 46 MAGAZINE
Também é possível<br />
montar apenas com<br />
um cabeção, por<br />
exemplo um de cordas,<br />
como nessa foto<br />
Mesmo com as<br />
cabeçadas alternativas<br />
mais simples, como<br />
o sidepull, podemos<br />
conseguir um cavalo<br />
bem colocado<br />
O princípio m a i s impor tante<br />
d e m o n t a r s e m b r i d ã o é<br />
e n s i n a r o c a v a l o a r e s p o n d e r<br />
a a j u d a s m u it o f i n a s<br />
bridão muito mais tarde. Actualmente, não penso duas vezes<br />
sobre o assunto. Já não tenho bridões em uso há muito<br />
tempo.<br />
Qualquer cavalo que me chega para treino é simplesmente<br />
montado com o sidepull, depois de uns dias para se habituar<br />
ao sítio novo e de algumas sessões de treino do chão,<br />
claro. Mas, realmente, já não sinto grande diferença. Mesmo<br />
cavalos menos experientes conseguem aprender em poucas<br />
sessões a usar uma cabeçada sem bridão. O princípio<br />
mais importante de montar sem bridão é ensinar o cavalo a<br />
responder a ajudas muito finas. Se o cavalo pára porque eu<br />
expiro e me sento fundo, não preciso de puxar as rédeas. Se<br />
o cavalo vira porque sentiu que olhei para o lado esquerdo,<br />
não preciso de puxar a rédea. Se o leitor tiver dúvidas sobre<br />
como comunicar de forma fina com o seu cavalo, pode procurar<br />
um dos meus artigos anteriores chamado “Como falar<br />
com o seu cavalo.” m<br />
Tipos de cabeçada sem bridão<br />
• O bosal é a cabeçada sem bridão mais antiga e tem a sua origem no<br />
estilo de equitação da Califórnia. Usa uma focinheira de diâmetro fixo,<br />
que faz pressão na face do cavalo. Através do nó no queixo do cavalo,<br />
o cavaleiro pode dar um pré-sinal. O objectivo do bosal é atingir o nível<br />
mais alto da equitação com o mínimo de ajudas. É particularmente adequado<br />
para cavalos jovens e para cavalos que precisam ser corrigidos.<br />
• Tal como no bosal, o hackamore mecânico usa pressão no nariz do<br />
cavalo, mas, para além disso, pode ter uma corrente que pressiona atrás<br />
do queixo e exerce pressão na nuca do cavalo. Enquanto o hackamore<br />
não facilita uma ajuda clara lateral para a direcção, permite efectivamente<br />
um sinal vertical claro para desacelerar ou parar. Dependendo<br />
do tamanho dos cambas, o efeito de alavanca na face do cavalo pode<br />
ser bastante forte. É usado com frequência nos concursos de Saltos de<br />
Obstáculos.<br />
• O sidepull é um design moderno inspirado no bosal, embora funcione<br />
de forma diferente, sem alavanca. Tem uma focinheira com anéis laterais<br />
que prendem as rédeas em ambos os lados da cabeça, permitindo<br />
que uma pressão muito directa seja aplicada de um lado para o outro.<br />
A focinheira é feita de couro, couro crú ou corda. Embora a severidade<br />
possa ser aumentada usando uma corda mais dura ou mais fina, o sidepull<br />
carece da sofisticação do bosal. A principal vantagem de um sidepull<br />
sobre o bosal é que ele dá comandos laterais directos mais fortes e é um<br />
pouco mais fácil de usar para um cavaleiro não sofisticado.<br />
• O neck ring ajuda o cavalo a relaxar o pescoço, andar mais livremente,<br />
aumentar o passo e melhorar o equilíbrio. O cavaleiro aprende<br />
a montar sem depender das rédeas. Feito de corda de lasso revestido<br />
de plástico, é firme, mas ajustável para qualquer tamanho. Não é fácil<br />
montar apenas com neck ring, mas é uma experiência fantástica tentar.<br />
PUB<br />
To d o s o s c a v a l o s d e Pia<br />
e Da n i e l s ã o n a c i o n a i s<br />
e v ê m d e s i t u a ç õ e s d e a b u s o<br />
<strong>EQUITAÇÃO</strong> 47 MAGAZINE
REPORTAGEM<br />
Poldros do Monte da Tramagueira<br />
Comercialização<br />
Pós Covid-19<br />
O que se aprendeu e como reagir<br />
<strong>EQUITAÇÃO</strong> 48 MAGAZINE
PUB<br />
COUDELARIA<br />
VEIGA TEIXEIRA<br />
Com início em 1880, é uma das mais antigas<br />
coudelarias de Puro Sangue Lusitano<br />
em Portugal, sendo o atual proprietário<br />
a 6.ª geração dos seus criadores.<br />
Os cavalos são conhecidos pelo seu<br />
excelente carácter: são extremamente<br />
dóceis, não abdicando da força e agilidade,<br />
tendo sido já exportados para<br />
toda a Europa, Brasil e Estados Unidos.<br />
O mundo mudou e a pandemia trouxe consigo novos desafios<br />
e, consequentemente, novas realidades. O teletrabalho<br />
manteve-se para muitos, mesmo após o desconfinamento;<br />
as reuniões presenciais tornaram-se obsoletas, e são agora feitas<br />
recorrendo a plataformas digitais; as compras online subiram<br />
a pique durante a quarentena, tornando-se numa opção cada vez<br />
mais primordial pelos consumidores mundiais. Mas conseguirá<br />
o sector equestre sobreviver ao (tão desejado) distanciamento<br />
social? E se houver uma segunda vaga?<br />
TEXTO Ana Filipe | JOSÉ COSTA | MARTA CLEMENTE<br />
Telefone: 243 660 041<br />
e-mail: aveigateixeira54@gmail.com<br />
facebook.com/pg/coudelariaveigateixeira<br />
Localização: Coruche<br />
<strong>EQUITAÇÃO</strong> 49 MAGAZINE
REPORTAGEM<br />
Joana Gaspar está<br />
habituada a vender<br />
cavalos à distância.<br />
Lidador (na foto) partiu<br />
para a Alemanha<br />
durante a quarentena<br />
Fo t o : Ca r o l i n a Du a r t e /Eq u e s t r e z<br />
Se lhe parece estranho comprar um cavalo sem o ver<br />
ao vivo, sem lhe tocar e sem o montar, saiba que<br />
esta é já uma realidade em diversos países da Europa<br />
e muitos são os cavaleiros que procuram os produtos<br />
nacionais. Joana Gaspar dirige o Páteo Lusitano na<br />
Malveira, onde é equitadora e se dedica ao comércio de cavalos.<br />
Durante a quarentena vendeu quatro animais para a Alemanha,<br />
Noruega, Suécia e Itália, três Lusitanos e um cruzado<br />
Nenhuma das compradoras<br />
os viu presencialmente e um<br />
dos exemplares já se encontra<br />
na nova casa, tendo seguido<br />
viagem durante o período<br />
em que vigorava o<br />
estado de emergência.<br />
“Sempre que coloco um cavalo<br />
à venda tenho uma apresentação do mesmo, com boas<br />
fotografias, informações detalhadas e vídeo, e promovo-o no<br />
nosso website (agora em remodelação) e nas redes sociais.<br />
Quando somos contactados enviamos tudo o que nos pedem,<br />
incluindo vídeos dos cavalos soltos, no maneio, no paddock,<br />
ou mesmo imagens a entrarem e saírem das roulotes”.<br />
Para o cliente ter a máxima percepção do cavalo, apenas são<br />
editados os vídeos dos animais montados. “Não deixamos de<br />
exibir qualquer detalhe, pois o cliente confia no nosso trabalho<br />
e é preciso mostrar exactamente como se o estivesse a<br />
ver ao vivo. O objectivo é que fique satisfeito e feliz, pois ao<br />
vendermos um cavalo ganhamos um novo amigo!”. Neste<br />
Ca v a l o s d e d e s p o r t o,<br />
d e v a l o r e s e l e v a d o s, d e i x a m<br />
d ú v i d a s a o s c o m p r a d o r e s<br />
e m investir s e m e x p e r i m e n t a r<br />
tipo de transacção, os cavalos são acompanhados por exames/relatórios<br />
veterinários e é feito um contrato de compra e<br />
venda, com informações detalhadas do animal, como o<br />
nome, pelagem, número de microchip, até aos pormenores<br />
relativos ao nível do ensino. Joana esclarece que a pandemia<br />
trouxe “mais procura”, sendo este modelo de negócio já uma<br />
rotina. Após a venda, é mantido contacto com os novos proprietários,<br />
sendo comuns as publicações nas redes sociais a<br />
recomendar o serviço: “Não<br />
há melhor publicidade do<br />
que um cliente satisfeito!”<br />
comenta a jovem empresária<br />
que, em pouco mais de<br />
um ano, criou uma estrutura<br />
comercial que inclui aulas de<br />
equitação, estágios, desbaste<br />
e ensino de cavalos. Habituada a exportar para países<br />
como a Alemanha, Suécia, Finlândia, Suíça, Áustria ou Inglaterra<br />
está também a Coudelaria Monte da Tramagueira, uma<br />
casa dedicada exclusivamente à criação de cavalos Puro<br />
Sangue Lusitano. À semelhança de Joana Gaspar, também<br />
José Filipe Guerreiro Santos costuma promover os seus produtos<br />
nas redes sociais e transaccionou animais durante a<br />
quarentena. “Vendi dois poldros a clientes que já conheciam<br />
a coudelaria e que têm confiança em nós. Claro que, antes do<br />
negócio, enviei vídeos e fotografias mostrando uma série de<br />
características dos cavalos, mas tratou-se sobretudo de uma<br />
relação de confiança. Tenho também nesta altura já apala-<br />
<strong>EQUITAÇÃO</strong> 50 MAGAZINE
vrado uma série de reservas de cavalos e poldros para o próximo<br />
ano. Mesmo em quarentena, várias pessoas quiseram<br />
visitar a coudelaria.”Apesar de, neste momento, as fronteiras<br />
já estarem a reabrir, o espectro de um novo encerramento,<br />
consequência de uma segunda vaga da pandemia, continua<br />
a pairar. A confirmar-se esse cenário, “a comercialização de<br />
cavalos será complexa principalmente quanto aos que precisam<br />
ser experimentados”, comenta o criador que acredita<br />
que até se podem vender alguns cavalos devido a uma relação<br />
de proximidade, confiança<br />
e profissionalismo, quando<br />
se conhecem os envolvidos<br />
mas, quando se trata de cavalos<br />
de desporto, de nível superior, José Filipe não tem dúvidas:<br />
“a compra de um cavalo de valores elevados deixa as pessoas<br />
com dúvidas em partir para um investimento sem experimentar<br />
o animal. Se me perguntar se há alternativas, digo-lhe<br />
que sim. Existem possíveis caminhos para se montar um negócio<br />
muito profissional e credível na base da confiança que<br />
dê segurança aos clientes.” E que caminhos ou modelos de<br />
negócio são esses? “É necessário criar uma relação forte do<br />
ponto de vista promocional e comercial com os clientes. Tenho<br />
cimentado essa relação ao longo dos tempos, pois não é<br />
possível fazê-lo em meia dúzia de meses. De qualquer forma,<br />
as novas tecnologias podem dar uma ajuda para colocar cavalos<br />
à venda através de vídeos bem feitos, juntamente com<br />
exames veterinários efectuados por profissionais credíveis ou<br />
opiniões e testagem por parte de cavaleiros de mérito e reco-<br />
“Na d a v a i s e r c o m o a n t e s”<br />
Do r a Si l v a<br />
nhecidos. Este negócio tem sobretudo de passar por uma<br />
relação de confiança entre quem vende e quem compra.”<br />
Confiança parece ser mesmo a palavra a reter, pois curiosamente<br />
ou não, foi também utilizada por Pedro Escudeiro, da<br />
empresa de distribuição de viaturas para transporte de cavalos<br />
ATM Horsetrucks para nos explicar como têm “rolado” estes<br />
dias em que se viram impedidos de estar presentes em<br />
feiras e concursos, no contacto directo com o público. “Somos<br />
uma empresa que privilegia as relações pessoais, temos um<br />
excelente vínculo com os nossos<br />
clientes em toda a Europa e são<br />
eles que nos recomendam, pois<br />
acreditam em nós. Todos os produtos<br />
são entregues de forma muito profissional e com elevada<br />
qualidade de transporte e isso acrescenta credibilidade<br />
e confiança. As fronteiras nunca estiveram fechadas para o<br />
transporte de mercadorias e, por isso, nunca sentimos dificuldades<br />
nesse sentido. Também como o nosso produto está<br />
exposto ao ar livre, os clientes não deixaram de nos visitar.<br />
Funcionamos com entregas a longo prazo e embora na Europa<br />
tenhamos baixado um pouco o volume de encomendas,<br />
com o arranque dos concursos, esperamos restabelecer os<br />
valores.” E se realidade voltar a “pregar uma partida”, Pedro<br />
Escudeiro garante que estão preparados para reagir, pois a<br />
marca já é sobejamente conhecida. A maior dificuldade poderá<br />
advir se as construtoras de veículos, como a Renault e a<br />
Fiat, fecharem as fábricas por tempo indeterminado, o que<br />
levará a atrasos nos prazos de entregas.<br />
PUB<br />
<strong>EQUITAÇÃO</strong> 51 MAGAZINE
Fo t o : Nu n o Pr a g a n a<br />
REPORTAGEM<br />
K. Libra da Gandarinha,<br />
Campeã Nacional<br />
do Critério de Cavalos<br />
Novos de 4 anos em<br />
2019, montada por<br />
António Vozone<br />
Marina e António Frutuoso<br />
de Melo têm aproveitado<br />
os últimos meses para<br />
dar continuidade ao trabalho<br />
diário dos cavalos<br />
A união faz a força<br />
Montra dos seus exemplares, para muitos criadores de cavalos<br />
de desporto de Saltos de Obstáculos, são os concursos.<br />
Sem provas, não há visibilidade.<br />
A <strong>EQUITAÇÃO</strong> conversou com Dora Silva, criadora e proprietária<br />
da Quinta da Gandarinha, uma coudelaria localizada<br />
em Fermentões (Aveiro), assente na criação de cavalos de<br />
raça KWPN mas que, nos últimos anos, por uma questão estratégica,<br />
“em que almejamos uma participação num futuro<br />
Campeonato do Mundo de Cavalos Novos”, tem registado os<br />
últimos poldros no Portuguese Sport Horse (PSH). A criadora<br />
não tem dúvidas de que “esta pandemia veio afectar de<br />
forma devastadora toda a economia e certamente nada vai<br />
ser como antes. As grandes casas de criação de cavalos têm<br />
feito uma forte aposta nas vendas online e através de leilões,<br />
mas também porque já têm uma imagem bastante consolidada<br />
no mercado a nível internacional, o que não se passa<br />
com os criadores nacionais. Seria o momento certo para os<br />
criadores se unirem e, quem sabe, apostarem numa imagem<br />
mais forte do PSH. É uma ideia…” Uma ideia partilhada por<br />
António Frutuoso de Melo, cavaleiro, também ele criador, em<br />
exclusivo desta raça nacional, que é da opinião de que “seria<br />
muito produtivo os criadores registarem os seus produtos<br />
nesse studbook, até para um maior controlo das éguas mães<br />
e dos garanhões. A notoriedade da criação nacional fora de<br />
Co n f i a n ç a e n t r e<br />
q u e m v e n d e e c o m p r a p a r e c e<br />
s e r a p r i n c i p a l c h a v e<br />
p a r a o sucesso<br />
Portugal deveria ser via PSH e não através de outros studbooks<br />
que acabam por ter os registos nos seus livros mesmo<br />
que sejam criados cá.”<br />
Na Quinta de S. Francisco, casa do Sobreiro Velho Sociedade<br />
Agrícola Lda, a quarentena permitiu que fosse feita uma reorganização<br />
do modelo negócio, clarificadas dúvidas e postas<br />
em prática novas ideias. “Em caso de nova paragem, vejo<br />
com bastante preocupação o facto de a competição ter de<br />
ser novamente suspensa, pois prejudicará não só o negócio<br />
da compra e venda, mas também todo o desenvolvimento<br />
da prática equestre. Há muitos clubes que estão a recuperar<br />
lentamente desta catástrofe e se houver uma nova vaga de<br />
Covid-19 ou outra pandemia qualquer, temo que encerrem”,<br />
comenta António. Juntamente com Marina Frutuoso de<br />
Melo, o casal tem aproveitado para dar continuidade ao trabalho<br />
diário dos cavalos, bem como às tarefas e programação<br />
em relação à criação e não apostado tanto num modelo<br />
de negócio que passe pela exposição mediática dos animais.<br />
Na verdade, uma estratégia não muito diferente da que está<br />
a ser seguida na Gandarinha, como explica Dora Silva: “No<br />
que concerne à comercialização dos nossos cavalos propriamente<br />
dita, não estamos muito preocupados em desenvolver<br />
uma política de «push» sobre o mercado mas sim pelo<br />
estímulo do «pull». Quero com isto dizer que o potencial<br />
cliente deverá estar ciente que quer mesmo um Gandarinha<br />
<strong>EQUITAÇÃO</strong> 52 MAGAZINE
pelas suas características intrínsecas (equilíbrio, doçura, finura<br />
e performance). Esta teoria parecia utópica até há bem<br />
pouco tempo, mas começa a fazer sentido pelo feedback<br />
dos proprietários.”<br />
Unânime entre estes dois criadores é a ideia de que Portugal,<br />
ao contrário do que se passa no centro e norte da Europa,<br />
não está ainda preparado para leilões de venda de cavalos<br />
online. E nos Lusitanos, o mesmo defende José Filipe Guerreiro<br />
Santos. “A experiência portuguesa não é favorável aos<br />
leilões online, nem aos físicos, pois é necessário um público<br />
fidelizado e habituado a este tipo de compra. Por isso acho<br />
arriscado massificar-se ou pensar-se nesta questão dos leilões<br />
sem ter uma experiência credível e sólida. Não poderemos,<br />
contudo, descartar esta forma de venda e acreditar que<br />
no futuro, com os pés bem assentes no chão, venha a ser<br />
uma realidade. Para tal, deveremos recorrer a pessoas já habituadas<br />
e com larga experiência no ramo, para nos auxiliar<br />
na organização e credibilizar os leilões.”<br />
Medidas ao “clic”<br />
A Celeris, marca de calçado equestre famosa pelas botas<br />
personalizadas, com atelier em Felgueiras, foi uma das primeiras<br />
empresas do concelho a encerrar por iniciativa própria<br />
quando começaram a surgir os primeiros casos de Covid-19<br />
no norte do país. Assim durante três semanas, mas a<br />
Celeris não parou, como explica Hugo Moreira: “Durante esse<br />
tempo o nosso departamento comercial a nível internacional,<br />
ou seja, os nossos agentes e responsáveis, incluindo eu,<br />
não parámos as vendas, mas passámos a utilizar plataformas<br />
como o Zoom e o Skype para conversar com os clientes<br />
e mostrar os produtos. Dos que já eram nossos clientes tínhamos<br />
as medidas em base de dados, aos novos tivemos<br />
de tirar por videochamada.”<br />
Mas como se tiram medidas à distância? “Nestes casos<br />
quem o fazia era o próprio cliente com o nosso acompanhamento,<br />
ou seja, dávamos uma formação explicando como<br />
obter todos os dados necessários, no pé, na perna, se a fita<br />
métrica estava no local certo, se estava devidamente ajustada,<br />
etc…”. Apesar da Celeris ter tido uma quebra nas vendas,<br />
como muitas outras empresas, “encontrámos soluções para<br />
o que aparentava vir a ser um descalabro. Este é um serviço<br />
que no futuro vamos disponibilizar na nossa página web e<br />
aproveitamos para pensar uma nova estratégia sobre como<br />
os nossos clientes se podem aproximar da marca.”<br />
Com as feiras canceladas, à semelhança do que aconteceu<br />
com a ATM, também a Celeris deixou de ter nestes eventos<br />
uma solução de apresentação de produtos. Ainda assim, a<br />
marca encontra-se representada por agentes em todos os<br />
países da Europa e, nos extracomunitários, na Rússia, Japão,<br />
Hong Kong e EUA, que ajudam na divulgação. Para uma<br />
maior comunicação entre todos, durante este período de<br />
confinamento “realizámos por três vezes, nos diferentes países,<br />
um evento a que chamámos «Discover Celeris» em que<br />
seleccionámos alguns agentes e clientes e abrimos uma sala<br />
online para conversar sobre a marca: como foi criada, que<br />
modelos existem, etc.”, recorda o gestor. A melhoria do<br />
PUB<br />
<strong>EQUITAÇÃO</strong> 53 MAGAZINE
Hugo Moreira<br />
da Celeris no atelier,<br />
onde REPORTAGEM<br />
o computador<br />
passou a ser uma<br />
ferramenta de<br />
trabalho<br />
indispensável<br />
do dia-a-dia<br />
website vai ser a próxima<br />
grande aposta da marca<br />
como estratégia de reacção<br />
à nova realidade, assim<br />
como o serviço pós-venda.<br />
“Temos de nos aproximar<br />
dos clientes de modo a que<br />
se sintam mais confortáveis.<br />
Foi também isso que a<br />
Celeris aprendeu durante esta fase”, afirma Hugo Moreira.<br />
Um novo amanhã<br />
Apesar de alguns receios e incertezas quanto ao futuro, os<br />
entrevistados demonstram, em geral, um sentimento de<br />
positivismo, até porque, os eventos hípicos tiveram início<br />
no mês de Junho (com excepção do Horseball), o que<br />
veio trazer uma “lufada de ar fresco” a toda a comunidade<br />
hípica. “Estou bastante optimista” afirma Pedro Escudeiro.<br />
“Assim que os concursos retomarem a regularidade,<br />
“Pa s s á m o s a u t i l i z a r<br />
a s v á r i a s p l a t a f o r m a s p a r a<br />
c o n v e r s a r c o m o s c l i e n t e s<br />
e m o s t r a r o s p r o d u t o s”<br />
Hu g o Mo r e i r a<br />
tudo voltará a ser como era, muito embora tenhamos de<br />
nos adaptar às circunstâncias.” Um pouco mais cauteloso,<br />
António Frutuoso de Melo encara o futuro “com esperança<br />
mas ao mesmo tempo com preocupação. Este vírus<br />
está longe de estar controlado e se as pessoas não se<br />
mentalizarem que temos de continuar com todos os cuidados,<br />
podemos ter de recuar, o que seria uma pena, pois<br />
fomos um país exemplar no cumprimento do confinamento<br />
durante o estado de emergência.” José Filipe Guerreiro<br />
Santos, que se define como um “optimista por natureza”<br />
diz não duvidar do “potencial da raça Lusitana” e,<br />
por isso, em termos de criação, “a resposta para os cépticos<br />
e críticos é que cada vez estamos a fazer melhores<br />
cavalos Lusitanos. Se virmos vídeos e nos lembrarmos<br />
dos cavalos que tínhamos há duas ou três décadas, percebemos<br />
que hoje são muito melhores. A funcionalidade<br />
é cada vez mais comprovada, estamos com um maior número<br />
de animais, nomeadamente no Ensino, onde são<br />
cada vez melhor pontuados, para não referir outras modalidades.<br />
O futuro do cavalo Lusitano é muito promissor e<br />
risonho desde que consigamos manter-nos de uma forma<br />
muito profissional e séria. Isso é um facto fundamental que<br />
vejo nos clientes que nos<br />
procuram. Eles querem acima<br />
de tudo seriedade.<br />
Existe um problema de excesso<br />
de intermediários do<br />
cavalo Lusitano que não<br />
têm qualquer preparação<br />
ou conhecimento para realizar<br />
este trabalho. É cada<br />
vez mais premente que consigamos transmitir segurança<br />
ao cliente do Lusitano. Se não o conseguirmos fazer irão<br />
continuar os negócios duvidosos. Acredito que o futuro é<br />
risonho, mas não escondo que se esta crise se prolongar<br />
por muito mais tempo possa criar restrições grandes ao<br />
negócio de cavalos.”<br />
Sejam cavalos, botas, ou viaturas, comercializar é possível:<br />
online, no “passa a palavra”, expondo, ou resguardando.<br />
O importante é continuar a trabalhar e a manter a<br />
qualidade. m<br />
A ATM garante estar<br />
preparada para reagir<br />
caso haja uma nova<br />
quarentena<br />
<strong>EQUITAÇÃO</strong> 54 MAGAZINE
MATERIAL EM PVC DE ALTA QUALIDADE<br />
LEVE E RESISTENTE<br />
10%<br />
Desconto<br />
Até 15/07/2020<br />
Rua da Indústria | Zona Industrial Vilar dos Prazeres | 2490-742 Ourém | Portugal<br />
Tel. +351 249 095 284 | Tlm. +351 916 334 347 | E-mail: geral@celicerca.com | www.celicerca.com
Tauromaquia<br />
Que Cultura…?<br />
O que se está passando é tão grave que merece ser devidamente equacionado.<br />
Dá que pensar… A Festa de Toiros está legalmente afecta ao Ministério da Cultura<br />
e é oficialmente reconhecida como património cultural (com toda a justiça, que o<br />
passado já não se apaga…); mas que tem feito a “Cultura” oficial pela Festa de Toiros?<br />
Ao momento, uma Ministra da Cultura com<br />
gostos de vida que fogem à norma comum<br />
de viver, declara-se abertamente contra uma<br />
área que devia em seu todo defender, dado<br />
que a tauromaquia é, na realidade e legalmente, património<br />
cultural. Como é que é???<br />
A primeira coisa que os eleitos cinicamente fazem<br />
é que se dispõem a servir todos os eleitores<br />
de todas as facções do país. Tal declaração de<br />
intenções devia corresponder à verdade intrínseca,<br />
que nos levasse a acreditar na sua verdade,<br />
mas é triste que não corresponda à realidade,<br />
como por desgraça é patente. É urgente<br />
mudar a “agente” por alguém que assuma a<br />
responsabilidade das promessas<br />
genéricas do programa<br />
eleitoral que divulgaram<br />
e prometeram<br />
honrar. Basta!!!<br />
Mas, importa que se recorde<br />
que a coisa táurica não<br />
TEXTO<br />
DOMINGOS XAVIER<br />
Po r t u g a l f o i o p r i m e i r o<br />
d o s p a í s e s a l e g a l i z a r a<br />
t a u r o m a q u i a n o l u g a r q u e<br />
l h e p e r t e n c e: a Cu l t u r a!<br />
se esgota com o Ministério que a tutela. Curiosamente,<br />
no universo taurino, Portugal foi o primeiro dos países a<br />
legalizar a tauromaquia no lugar que lhe pertence: a Cultura!<br />
Seguiram-se-lhe a França e só depois Espanha, em<br />
que bizarramente ainda hoje Comissários da Polícia, na<br />
sua maioria, dirigem as corridas. É facto, com a<br />
grave consequência dos critérios espúrios e quase<br />
irracionais de atribuição de troféus. Com a lei<br />
colada à sola dos sapatos, esquecem a vontade<br />
dos povos que enchem as Praças pagando na<br />
bilheteira o seu acesso ao desfrute da “Festa”.<br />
Que saudades dos tempos em que os taurinos,<br />
com valor, eram premiados com orelhas, rabo e<br />
pata. Sei bem que as arenas não devem ser confundidas<br />
com “dessolladeros”,<br />
mas a actual falta de<br />
respeito pela arte e pelo<br />
valor, em nome do que<br />
pensam os “animalistas”<br />
(gente que engana a indústria<br />
da “pet food” e por<br />
<strong>EQUITAÇÃO</strong> 56 MAGAZINE
ela é subsidiada), não nos tem levado a lado nenhum. Desde<br />
que a economia de troféus se instalou, a Festa decresceu,<br />
as rivalidades diminuíram pela falta de expressão e as<br />
faenas reduziram-se a estatísticas. É bom que se recorde<br />
que “Cañabate” um dia afirmou que em Sevilha até o silêncio<br />
(por respeito) é um prémio.<br />
Nos tempos que correm, importa que se abandonem os<br />
pensares das tutelas, coutadas<br />
pequeninas e se pensem<br />
medidas de fomento.<br />
Seria da maior utilidade<br />
que se promovessem as<br />
garraiadas com zero de impostos<br />
e diminuição das<br />
“folhas de Praça”, que se<br />
dessem festivais sem as<br />
exigências do fisco e confessemos<br />
do fundo de assistência<br />
dos toureiros, à<br />
margem do que “pensou” Diamantino Viseu, que se bem o<br />
criou (com a utilidade conhecida – hoje um bandarilheiro<br />
por ter filhos licenciados e assistência na saúde, ao invés de<br />
penhorar trajes de tourear em fim de temporada), também<br />
teve de “forma inconsequente” um evidente estrangulamento<br />
da Festa.<br />
Alguém imagina que um festival pague mais ao “fundo”,<br />
do que impostos, mesmo beneficente?<br />
Vã o s é c u l o s q u e a Fe s t a<br />
d e To i r o s é u m a m a n i f e s t a ç ã o<br />
d e m a s s a s n o l u s o t o r r ã o.<br />
A c o r r i d a d e t o i r o s<br />
t r a n s p o r t a o c a m p o à u r b e,<br />
s e n d o assim u m f a c t o r<br />
d e Cu l t u r a e c o e s ã o<br />
Temos, em tempos de crise, que provar que os inimigos da<br />
Festa de Toiros não somos nós os taurinos assumidos. Para<br />
que vos não canse e finalizando, toda a “Cultura” reclama<br />
subsídios e quase fazem o pino para provar a sua extrema<br />
necessidade. Está certo! Que seria o mundo sem Cultura?<br />
Verdade, verdadinha é que o mundo do toiro só reclama<br />
liberdade. Cultura é liberdade! Mais, Cultura em toda a verdade<br />
da sua existência é<br />
adaptação às circunstâncias<br />
e ao meio ambiente.<br />
Vamos lá reflectir. Por definição<br />
a Política é a arte da<br />
condução dos interesses<br />
da “Res publica”. Certo?<br />
Por assim ser, o que dos<br />
tempos da “Lex Romana”<br />
ninguém se atreve a contestar,<br />
não podemos deixar<br />
que a política se transforme<br />
tão só na “arte manhosa” de ganhar eleições. Vão séculos<br />
que a Festa de Toiros é uma manifestação de massas<br />
no luso torrão.<br />
A corrida de toiros transporta o campo à urbe, sendo assim<br />
um factor de Cultura e coesão. Vamos, portanto, respeitar<br />
o respeitável e rir a bom rir das tais vozes de burro que jamais<br />
chegarão ao céu, por muito que o burro cenicamente<br />
se ponha de costas a coçar-se e espernear! m<br />
PUB<br />
<strong>EQUITAÇÃO</strong> 57 MAGAZINE
VETERINÁRIA<br />
Avaliação<br />
do Arreio<br />
Aspectos práticos<br />
(1.ª parte)<br />
No artigo anterior debruçámo-nos sobre a necessidade<br />
da avaliação regular do arreio em termos de compatibilidade<br />
de cada conjunto cavalo/arreio e sobre algumas situações<br />
em que essa avaliação está particularmente indicada -<br />
nomeadamente em caso de compra de um cavalo ou arreio<br />
novo, se há sinais de dor à palpação do dorso ou desconforto<br />
ao colocar o arreio, em caso de assimetrias ou atrofias<br />
musculares, marcas de suor assimétricas, desvios do arreio<br />
ou simplesmente quebra de Performance!<br />
<strong>EQUITAÇÃO</strong> 58 MAGAZINE
Neste artigo e no próximo vamos referir numa<br />
perspectiva prática 10 parâmetros objectivos<br />
a verificar durante o processo de avaliação.<br />
1 - Posicionamento do Arreio<br />
Um erro frequente (especialmente na disciplina de saltos<br />
de obstáculos) é a colocação do arreio demasiado<br />
à frente, sobre o garrote e as espáduas, limitando a liberdade<br />
de movimentos das espáduas o que pode resultar<br />
em andamentos mais curtos, além de originar<br />
que o arreio fique inclinado para trás, “a subir”, alterando<br />
o equilíbrio e a distribuição do peso do cavaleiro<br />
(Fig. 1a e 1b).<br />
Para evitar este problema e determinar o correcto posicionamento<br />
do arreio, este deve colocar-se (sem qualquer<br />
protector de dorso ou suadouro) propositadamente<br />
um pouco à frente da sua posição ideal, já em<br />
cima do garrote, e fazer pressão sobre a arcada da frente<br />
à medida que deixamos o arreio deslizar para trás até<br />
à sua posição ideal (Fig. 2).<br />
Podemos repetir este processo várias vezes até confirmar<br />
a posição em que a sela deixa de “deslizar”, e será<br />
esse o local adequado. Na prática, a estrutura rígida do<br />
arreio (correspondente ao vaso no seu interior) deve<br />
assentar logo atrás da escápula (a base óssea da espádua),<br />
apenas com poucos centímetros de margem para<br />
permitir a rotação da espádua quando o cavalo avança<br />
o membro (Fig. 3).<br />
2 - Comprimento do Arreio<br />
O arreio não deve apoiar atrás da última costela (Fig.<br />
4), o que pode acontecer se o seu comprimento não for<br />
adequado à conformação do cavalo (ou se for colocado<br />
demasiado para trás, o que é menos frequente).<br />
3 – Equilíbrio do Arreio<br />
O centro do arreio (na zona do assento ou “coxim”)<br />
deve ficar paralelo ao chão quando colocado sobre o<br />
dorso, para que o peso do cavaleiro também fique centrado<br />
a meio do arreio, distribuindo-se com pressão<br />
uniforme ao longo de toda a superfície de contacto do<br />
arreio com o dorso (Fig. 5).<br />
Dependendo do modelo, a arcada de trás (ou “patilha”)<br />
deve ficar um pouco mais alta que a arcada da frente,<br />
nunca mais baixa.<br />
TEXTO Joana Alpoim Moreira<br />
TEXTO João Paulo Marques<br />
4 - Espaço entre o garrote<br />
e o arreio<br />
Deve existir espaço livre suficiente em torno do garrote,<br />
não só por cima mas também dos lados (Fig. 6). Para<br />
um garrote normal, essa distância deve ser de cerca de<br />
dois a três dedos quando o cavaleiro está montado. Se<br />
esse espaço for superior a três dedos, provavelmente o<br />
vaso é demasiado estreito para o seu cavalo.<br />
5 - Largura e ângulo do vaso<br />
A largura e o ângulo do vaso (Fig. 7) devem ser adequados<br />
às espáduas do cavalo (Fig. 8). Num cavalo<br />
<strong>EQUITAÇÃO</strong> 59 MAGAZINE
VETERINÁRIA<br />
1 A 1 B<br />
Arreio colocado<br />
demasiado para<br />
a frente<br />
Mesmo arreio colocado<br />
ligeiramente mais para<br />
trás, mais equilibrado<br />
Fo t o : equilibriumproducts.c o m<br />
2<br />
Fo t o : n at u r a l h o r s e m a n s a d d l e s.c o m<br />
Fo t o :sy n e r g i st s a d d l e.c o m<br />
4<br />
Fo t o : equilibriumproducts.c o m<br />
Colocação do arreio à frente da sua<br />
posição normal, deixando-o deslizar<br />
para trás até à sua posição ideal<br />
3<br />
A estrutura rígida do arreio (vaso)<br />
deve assentar logo atrás da escápula,<br />
com uma pequena margem para<br />
permitir a rotação da espádua<br />
quando o cavalo avança o membro<br />
O arreio não deve apoiar para trás<br />
da última costela<br />
À esquerda: ilustração de vasos<br />
com o mesmo angulo e larguras<br />
diferentes, e o inverso à direita<br />
5 6 7<br />
Fo t o : s c h l e e s e.c o m<br />
Ilustração do equilíbrio do arreio<br />
Deve existir espaço<br />
suficiente entre<br />
o garrote e a arcada<br />
do arreio<br />
Um dos métodos de<br />
avaliação do ângulo das<br />
espáduas<br />
Caso extremo (mas real!),<br />
ilustrando a ausência de<br />
qualquer espaço livre entre<br />
o garrote e o arreio<br />
Exemplo de arreio desequilibrado com o vaso muito<br />
estreito, em que a adição de protectores de dorso<br />
ainda agravou a situação<br />
8 9 10<br />
<strong>EQUITAÇÃO</strong> 60 MAGAZINE
c o m u m a r r e i o c o m o v a s o<br />
m u i t o e s t r e i t o o u u m â n g u l o<br />
d o v a s o m u i t o f e c h a d o,<br />
o e s p a ç o e n t r e o g a r r o t e<br />
e a a r c a d a d a f r e n t e v a i s e r<br />
e x a g e r a d o e o a r r e i o<br />
t e r á t e n d ê n c i a p a r a f i c a r<br />
i n c l i n a d o p a r a t r á s<br />
com um garrote mediano, um arreio com um vaso muito<br />
largo ou com um ângulo muito aberto (na parte da frente<br />
do arreio) vai fazer com que não haja espaço suficiente<br />
entre a ponta do garrote e a arcada da frente (Fig. 9) especialmente<br />
depois de apertar a cilha e com o peso do<br />
cavaleiro, podendo causar “assentaduras” em casos extremos.<br />
Esse arreio terá tendência para ficar mais baixo à<br />
frente e descair um pouco para cima das espáduas, aumentando<br />
a pressão nessa zona.<br />
Essa situação pode ser parcialmente compensada aumentando<br />
a espessura dos materiais (com um protector<br />
de dorso aberto à frente em forma de “U”, por exemplo)<br />
aplicados entre o dorso e a parte inferior do arreio (pai-<br />
néis) – mas só dos lados e não na linha central directamente<br />
sobre o garrote! - ou mesmo mandando aumentar<br />
o enchimento dos próprios painéis nessa zona.<br />
Pelo contrário, com um arreio com o vaso muito estreito<br />
ou um ângulo do vaso muito fechado, o espaço entre o<br />
garrote e a arcada da frente vai ser exagerado e o arreio<br />
terá tendência para ficar inclinado para trás (ou seja, fica<br />
com a frente muito levantada), deslocando também o<br />
centro de gravidade do cavaleiro para trás e aumentando<br />
a pressão no dorso por baixo da parte de trás do arreio.<br />
Essa situação não pode ser corrigida aumentando a espessura<br />
dos protectores de dorso, o que ainda agravaria<br />
mais o problema (Fig. 10).<br />
Naturalmente que um Puro Sangue Inglês necessita geralmente<br />
de um arreio com um vaso mais estreito ou um<br />
ângulo mais fechado, enquanto que um warmblood provavelmente<br />
irá necessitar de um vaso mais largo ou um<br />
ângulo mais aberto.<br />
No próximo artigo terminaremos este assunto abordando<br />
mais cinco parâmetros objectivos a ter em conta na<br />
avaliação do arreio. m<br />
J. P. M.<br />
Email: jpaulomarques@hotmail.com<br />
PUB<br />
<strong>EQUITAÇÃO</strong> 61 MAGAZINE
nutrição<br />
Cuidados a ter com a<br />
alimentação<br />
do poldro<br />
TEXTO | Marta Cardoso<br />
(Médica Veterinária)<br />
A alimentação do poldro é um factor<br />
fundamental para o seu desenvolvimento e<br />
para a prevenção de doenças. Só com uma<br />
alimentação equilibrada se poderá assegurar<br />
que o crescimento e desenvolvimento do<br />
poldro correspondem ao potencial genético<br />
que o mesmo apresenta.<br />
<strong>EQUITAÇÃO</strong> 62 MAGAZINE
A<br />
alimentação do poldro inicia-se no útero (alimentação<br />
do feto), sendo importante para o<br />
mesmo que a égua tenha um regime equilibrado<br />
ao longo de toda a gestação, e que as necessidades<br />
nutricionais, acrescidas, sobretudo no último trimestre,<br />
sejam respeitadas.<br />
Após o nascimento, o poldro recém-nascido desempenha<br />
actividades que consomem energia. Sendo as suas reservas<br />
energéticas endógenas limitadas, é através do colostro<br />
(nome designado à primeira secreção mamária da égua)<br />
que obterá os nutrientes necessários ao desempenho dessas<br />
actividades. O colostro é, assim, o primeiro alimento do<br />
poldro e a sua ingestão precoce é essencial do ponto de vista<br />
nutricional, imunológico e intestinal (efeito laxante).<br />
Até cerca dos três meses de idade, as necessidades nutricionais<br />
do poldro lactante são supridas pelo leite materno, cuja<br />
composição varia ao longo da lactação, período a partir do<br />
qual o poldro deverá complementar a ingestão de leite com<br />
pastagem e/ou alimento composto específico. Esta suplementação<br />
do poldro lactante, com alimento composto específico<br />
fornecido selectivamente ao poldro (através da utilização<br />
de comedouros selectivos<br />
O c o l o s t r o é o p r i m e i r o<br />
aliment o d o p o l d r o<br />
e a s u a i n g e s t ã o p r e c o c e<br />
é e s s e n c i a l d o p o n t o<br />
d e v i s t a n u t r i c i o n a l,<br />
i m u n o l ó g i c o e i n t e s t i n a l<br />
ou áreas dedicadas à alimentação<br />
dos poldros), é designada por creep<br />
feeding. Esta prática promove<br />
uma habituação ao alimento sólido,<br />
promovendo a autonomia alimentar<br />
do poldro e reduzindo os<br />
efeitos do stress do desmame. De<br />
referir apenas que a introdução da<br />
prática de creep feeding deverá ser<br />
feita a partir das oito semanas de forma gradual (como<br />
qualquer processo de introdução alimentar), e que a quantidade<br />
de alimento composto específico fornecido deverá<br />
variar de acordo com a idade, raça e composição do alimento<br />
(por exemplo: para um poldro com idade inferior a<br />
quatro meses, a quantidade de alimento composto fornecida<br />
deverá variar entre 0.5-1.0 Kg por cada 100 Kg de PV<br />
do poldro).<br />
De uma forma geral, o desmame traduz-se numa diminuição<br />
na taxa de crescimento do poldro. Para a prevenir, deve<br />
garantir-se que o poldro ingere uma quantidade de matéria<br />
seca suficiente para cumprir com as necessidades nutricionais<br />
que apresenta. A monitorização do plano alimentar e<br />
do crescimento, nesta fase, deverá ser rigorosa, não sendo<br />
desejável também a sobrealimentação.<br />
Relativamente aos órfãos, a importância da ingestão de colostro<br />
nas primeiras horas de vida mantém-se, podendo,<br />
posteriormente, transitar para aleitamento artificial através<br />
de biberão ou balde (recorrendo às fórmulas comerciais específicas<br />
para poldros) ou tentar-se a amamentação por<br />
mãe adoptiva (caso se tenha disponível uma égua que tenha<br />
perdido o seu poldro à nascença). Nos poldros órfãos<br />
não adoptados, pode disponibilizar-se alimento sólido a<br />
partir das duas semanas (recorrendo a um alimento composto<br />
específico e a feno de boa qualidade), de forma a<br />
complementar ao leite de substituição. O desmame deverá<br />
ocorrer entre as 14 e as 16 semanas.<br />
Após o desmame, o maneio alimentar do poldro deverá ser<br />
igualmente cuidadoso. Entre os doze e os quinze meses de<br />
idade, o poldro atingirá cerca de 90% da altura ao garrote,<br />
95% do crescimento ósseo e cerca de 70% do peso em<br />
adulto. O restante crescimento ocorrerá posteriormente de<br />
forma gradual, verificando-se diferenças significativas no<br />
tempo de crescimento remanescente em função da raça.<br />
Uma alimentação adequada, que evite períodos de stress,<br />
continua a ser essencial, sendo a regularidade do crescimento<br />
preferencial a picos de crescimento. As deficiências,<br />
excessos ou desequilíbrios nutricionais têm sido associadas<br />
a doenças ortopédicas de desenvolvimento (DOD), sendo<br />
como tal indesejáveis. Na escolha do alimento, deve privilegiar-se<br />
uma componente forrageira<br />
de boa qualidade (feno ou<br />
pastagem) e um alimento composto<br />
específico para poldros,<br />
com boa digestibilidade e que<br />
privilegie um aporte adequado de<br />
lisina, de vitaminas, de macrominerais<br />
(como o cálcio e o fósforo)<br />
e microminerais (como o zinco, o<br />
cobre), necessários para um correcto<br />
desenvolvimento ósseo e articular.<br />
A reter:<br />
• A ingestão precoce de colostro (idealmente primeiras oito<br />
horas após o parto) é essencial para o sucesso da transferência<br />
de imunidade passiva;<br />
• Observar o poldro a mamar com a regularidade adequa<br />
da é um indicador de bem-estar e saúde do poldro;<br />
• A composição do leite varia ao longo da lactação (sendo a<br />
quantidade, o teor de gordura e de proteína superiores na<br />
fase inicial da lactação), considerando-se a partir dos três<br />
meses insuficiente por si só para suprir as necessidades do<br />
poldro;<br />
•A prática de creep feeding a partir das oito semanas de idade<br />
contribui para a redução do stress do desmame;<br />
• Após o desmame, o plano alimentar deverá ser adequado,<br />
promovendo um crescimento regular;<br />
• Deficiências, excessos ou desequilíbrios nutricionais são indesejáveis,<br />
predispondo ao aparecimento de doenças ortopédicas<br />
de desenvolvimento. m<br />
<strong>EQUITAÇÃO</strong> 63 MAGAZINE
CRÓNICA<br />
Fig.1 - D. Carlos em<br />
Vila Viçosa. Em segundo<br />
plano está o cavalo ruço,<br />
com a sela que el-Rei usava<br />
A sela usada por<br />
dos no extremo das perneiras. Uma protecção<br />
adicional ao cavalo através de uma manta<br />
grosseira dobrada várias vezes e colocado por<br />
baixo do selim. Neste conjunto estão presentes<br />
a almofadinha para proteger o cavalo do<br />
roçar do rabicho, o rabicho, a manta, os alforges,<br />
os loros, os estribos e o coldre da espingarda.<br />
Arreio de utilização rural também para<br />
a caça.<br />
A descrição refere todas as partes da sela, em que a<br />
“protecção adicional ao cavalo” é o que denominamos<br />
de “suadouro”, (que não está nesta fotografia) e tem<br />
um adereço que nunca tinha visto nas selas daquele<br />
mesmo modelo.<br />
Esta sela era usada nas regiões rurais do país e os Campinos<br />
denominavam-na de Almatrixa (Fig. 3), por proel-Rei<br />
D. Carlos<br />
Numa crónica anterior escrevi sobre uma fotografia de el-Rei D. Carlos<br />
montado no Bolero. Agora pretendo escrever sobre a sela, a mesma que se vê nesta<br />
outra fotografia (Fig.1) bem conhecida de todos.<br />
TEXTO<br />
João Pedro Gorjão Clara<br />
E<br />
sta sela d’el-Rei D. Carlos (Fig. 2)<br />
está hoje no Museu dos Coches<br />
com esta descrição:<br />
Inv. : A 0128 Título: Sela à vaqueiro<br />
de arreio de montada à alentejana de D. Carlos<br />
I (rural/caça)) Denominação: Sela à vaqueiro<br />
(rural) Instituição / Proprietário: Museu<br />
Nacional dos Coches Super-Categoria: Arte<br />
Categoria: Meios de transporte Subcategoria:<br />
Arreios Equestres Outras denominações: Selim N.º(s)<br />
Inventário anteriores: 2117<br />
Descrição: Selim de couro forrado de pele de borrego<br />
com argolas por onde se suspende o coldre da espingarda<br />
e aberturas para a passagem dos loros. O peso<br />
da sela é repartido por uma vasta área do dorso do cavalo,<br />
as abas do selim foram alargadas, os estribos fixa-<br />
<strong>EQUITAÇÃO</strong> 64 MAGAZINE
Fig.2 - Sela que está<br />
representada na<br />
fotografia anterior<br />
Fig.3 - Albardão sem a pele<br />
de borrego que deixa ver a<br />
almofada (almatrixa que deu<br />
o nome ao albardão) que<br />
reforçava a comodidade do<br />
assento, com a farinheira<br />
enrolada no garrote e a manta<br />
enrolada na garupa<br />
Fig.4 -Almofadinha,<br />
da sela de D. Carlos,<br />
que colocada atrás da sela,<br />
assenta sobre a garupa<br />
do cavalo<br />
Fig.5 - A almofadinha<br />
com a rabicheira que a<br />
atravessa ao meio e com<br />
duas tiras de cabedal com<br />
fivelas que apertavam a manta<br />
Fig.6 - A manta apertada por correias,<br />
sobre a almofadinha<br />
A s e l a u s a d a<br />
n o c a m p o p o r<br />
D. Ca r l o s e r a<br />
u m a l b a r d ã o,<br />
t a m b é m c h a m a d a<br />
Alm atrix a<br />
vável corruptela da palavra árabe “almadraquexa” (ver<br />
crónica da Equitação n.º 103).<br />
Os campinos deixaram de usar a almatrixa quando a redução<br />
do efectivo cavalar do exército colocou à venda as<br />
selas militares modelos de 1873 e de 1914. Ao adaptarem<br />
estas selas militares colocaram-lhes por cima a pele de<br />
borrego e fizeram-lhe outras alterações, que persistiram<br />
até aos nossos dias.<br />
Mas voltando atrás. O que nunca vimos nas selas daquele<br />
modelo foi a almofada presa ao bordo posterior da<br />
sela que assenta sobre a garupa (Fig. 4).<br />
Esta almofadinha, no meu entender, não servia “para<br />
proteger o cavalo do roçar do rabicho”. A almofadinha,<br />
protegia a manta lobeira, fixada com duas correias com<br />
fivela, do suor do cavalo. (Fig. 5)<br />
Neste modelo de sela para usar no campo, colocava-se à<br />
frente, sobre o garrote, “a farinheira”, (uns panos enrolados<br />
com múltiplas utilidades quando o campino se apeava)<br />
e atrás, sobre a garupa, a manta grossa, para proteger<br />
da humidade e do frio da noite (Fig. 3).<br />
No número da Revista Equitação em que mostrei D. Carlos<br />
montado no Bolero, observam-se aqueles dois atavios<br />
e percebe-se a presença da almofadinha (seta vermelha),<br />
e sobre ela a manta lobeira apertada por correias<br />
com fivela (seta amarela) (Fig.6).<br />
Como conclusão: a sela usada no campo por D. Carlos<br />
era um albardão, também chamada Almatrixa, singela e<br />
igual à que os trabalhadores do campo utilizavam no trabalho<br />
diário, com a particularidade de apresentar, ocasionalmente,<br />
uma pequena almofada na garupa que servia<br />
para proteger a manta do suor do cavalo.<br />
Agradeço à Senhora Dra. Rita Dargent, Conservadora<br />
do Museu Nacional dos Coches, a simpatia, a amabilidade<br />
e a disponibilidade na informação e à Direcção<br />
do Museu pela autorização da divulgação das imagens<br />
que me permitiram escrever esta crónica. m<br />
<strong>EQUITAÇÃO</strong> 65 MAGAZINE
Raides<br />
Riscos de intoxicação<br />
por plantas<br />
em cavalos de endurance<br />
TEXTO Mónica Mira<br />
Pastagem altamente contaminada<br />
com soagem (Echium plantagineum)<br />
no Alentejo esta Primavera<br />
<strong>EQUITAÇÃO</strong> 66 MAGAZINE
PUB<br />
Ao contrário de outras modalidades em que os cavalos permanecem<br />
estabulados a maior parte do tempo, na resistência equestre<br />
está convencionado que os cavalos devem permanecer no exterior.<br />
Os paddocks e, em particular, as cercas em que são colocados, têm<br />
na sua maioria algum tipo de pastagem espontânea, na qual podem<br />
existir plantas tóxicas. Por outro lado, as modificações climáticas,<br />
o aumento de infestantes nas pastagens e ausência de variedades<br />
forrageiras para cavalos, particularmente em regiões desfavorecidas<br />
em termos meteorológicos, como Portugal, torna difícil conseguir<br />
feno livre de plantas tóxicas.<br />
Estando a modalidade situada sobretudo na região<br />
entre Alcochete, Sines e Elvas, com grande<br />
representatividade na região de Évora, com este<br />
artigo pretendemos alertar para a toxicidade de<br />
determinadas plantas que, por desconhecimento geral, são<br />
frequentemente negligenciadas nas pastagens. Particularmente<br />
preocupantes são a soagem (Echium plantagineum),<br />
na Primavera, e a tasneirinha, ou senécio (Senecium vulgaris<br />
e Senecium jacobea), no final do Verão e Outono. Menos comum<br />
também, o tornassol (Heliotropium europeum). Tóxicas<br />
tanto para equídeos como para ruminantes, estas plantas<br />
contêm em comum componentes alcalóides pirrozilídicos<br />
que causam dano hepático.<br />
Uma intoxicação silenciosa<br />
Estas plantas contêm substâncias tóxicas que causam uma<br />
intoxicação do tipo cumulativo e não agudo. São intoxicações<br />
não de carácter fulminante, mas sim insidioso, passando por<br />
isso despercebidas. O que isto significa é que o tecido hepático<br />
vai sendo substituído por áreas de fibrose, ou seja, áreas<br />
que perdem a sua capacidade funcional. No dia-a-dia, esta<br />
perda de funcionalidade não tem qualquer manifestação clínica<br />
ou, se existir, será inespecífica, como por exemplo, perda<br />
de condição corporal, na presença de apetite ou episódios de<br />
cólica ligeira recorrente. Só quando há cerca de 80% de tecido<br />
hepático afectado é que a sintomatologia se torna mais<br />
óbvia, com perda de peso associada a anorexia, icterícia e sintomas<br />
neurológicos associados à presença de amónia no<br />
sangue. Normalmente transformada em ureia para ser eliminada<br />
pelos rins, a amónia atravessa a barreira hemato-encefálica,<br />
sendo particularmente tóxica para o cérebro, causando<br />
apatia profunda com headpressing (encosto da cabeça a<br />
uma parede ou outro elemento sólido), episódios de agressividade<br />
e por fim recumbência.<br />
Papel do fígado no esforço<br />
físico e consequências para<br />
os cavalos de competição<br />
Órgão indispensável para a vida, com múltiplas funções, o fígado<br />
fica especialmente sobrecarregado no esforço físico<br />
<strong>EQUITAÇÃO</strong> 67 MAGAZINE
Raides<br />
quando há um aceleramento inerente do<br />
metabolismo e a consequente produção<br />
de subprodutos que necessitam de ser<br />
transformados para ser eliminados. Nos<br />
cavalos de resistência equestre, os danos<br />
hepáticos poder-se-ão traduzir apenas na<br />
perda de rendimento desportivo. Sobretudo<br />
no contexto de competição em que os<br />
cavalos têm que dar o máximo, podem<br />
surgir manifestações inespecíficas como,<br />
por exemplo, má recuperação cardíaca,<br />
anorexia e membranas mucosas congestionadas<br />
(tóxicas), com tempo de replecção<br />
capilar aumentado.<br />
Diagnóstico<br />
O diagnóstico ante-mortem faz-se pela<br />
monitorização das enzimas hepáticas no<br />
sangue (GGT, AST, FA e SDH) e níveis de<br />
bilirrubina. A confirmação faz-se por biópsia<br />
ecoguiada do fígado e histopatologia.<br />
Os cavalos<br />
conseguem mesmo<br />
triar as plantas<br />
tóxicas?<br />
Nem todos. Deve-se partir do pressuposto<br />
que em circunstâncias particulares, tais<br />
como mudanças de ambiente, pastagens<br />
sobre-pastoreadas, pisoteadas ou muito<br />
contaminadas, qualquer cavalo pode ingerir<br />
plantas tóxicas, seja por tédio ou por<br />
falta de alternativa. Mesmo em paddocks<br />
sem pastagem, há relatos de cavalos que<br />
ingeriram plantas tóxicas nas orlas e por<br />
debaixo do cercado.<br />
Heliotropium<br />
Senecio<br />
Vulgaris<br />
Senecio<br />
jacobea<br />
A problemática<br />
dos fenos<br />
O mais perigoso são os fenos oriundos de pastagens contaminadas<br />
e/ou espontâneas. Isto porque, nesta situação, os<br />
cavalos acabam por perder completamente a capacidade de<br />
distinguir as plantas tóxicas. É, por isso, imperativo que, nos<br />
cavalos de competição, a origem do feno seja conhecida ou<br />
certificada. Em último recurso, pode-se recorrer à identificação<br />
das plantas no feno, um processo moroso, normalmente<br />
realizado por conhecedores de botânica e que necessitam da<br />
presença de folha, já que só os caules não permitem a distinção<br />
das plantas.<br />
Gestão das pastagens<br />
Mais do que eliminar as plantas das pastagens,<br />
a não ser que estejamos a falar de pequenos<br />
paddocks em que é exequível a<br />
monda, é mais sustentável delinear estratégias<br />
que, antecipadamente, evitem o seu desenvolvimento.<br />
Essas estratégias passam por cultivar gramíneas<br />
que compitam com as plantas infestantes<br />
e, por isso, impeçam o seu desenvolvimento.<br />
Um aspecto curioso é a recomendação<br />
de não manipular plantas tóxicas à frente dos<br />
cavalos, uma vez que quando manipuladas<br />
pelo Homem, os cavalos identificam-nas<br />
como benignas. Portanto, a monda deve ser<br />
feita longe da vista dos cavalos. Finalmente,<br />
em pastagens contaminadas, o fornecimento<br />
de bom feno em quantidade suficiente pode<br />
ser um elemento dissuasor para a ingestão<br />
destas plantas.<br />
Há tratamento para<br />
os cavalos afectados?<br />
Se os insultos forem pequenos não há tratamento<br />
específico. Deve-se apenas proceder a<br />
uma alimentação com menos proteína, para<br />
não sobrecarregar o fígado e para que haja<br />
menor produção de amónia, esperando assim<br />
que o fígado recupere, já que é o órgão<br />
com maior capacidade de regeneração do organismo.<br />
Animais com sintomatologia explícita<br />
de doença hepática têm mau prognóstico.<br />
Resumindo...<br />
Em suma, é fundamental assumir que os cavalos<br />
podem ingerir as plantas tóxicas de<br />
uma pastagem e que isso pode ter consequências<br />
no seu rendimento desportivo. É<br />
também crucial certificar-se da origem do feno e que estes não<br />
se encontrem contaminados, sob pena de os seus cavalos não<br />
atingirem os resultados esperados. m<br />
Bibliografia: F.Clamote, P.V.Araújo, J.D.Almeida, D.T.Holyoak, M.Porto, J.Lourenço,<br />
A.Carapeto, A.J.Pereira, et al. (2020). Senecio vulgaris L. - mapa de distribuição.<br />
Flora-On: Flora de Portugal Interactiva, Sociedade Portuguesa de Botânica.<br />
http://www.flora-on.pt/#wSenecio+vulgaris.<br />
https://equipedia.ifce.fr/elevage-et-entretien/alimentation/intoxicationalimentaire/intoxications-vegetales-equides.html<br />
https://jb.utad.pt/flora<br />
Vídeos: Primenko, Nathalie. Les intoxications à l’herbage<br />
https://www.youtube.com/watch?v=HxDGOb-j6BA. IFCE<br />
Cault, Gilbert. Intoxications vegetales du printemps chez les equides<br />
https://www.youtube.com/watch?v=tDbpr_zRMQI<br />
Cault, Gilbert Intoxications végétales d’automne chez les équidés<br />
https://www.youtube.com/watch?v=nLVZtN5zmbw<br />
<strong>EQUITAÇÃO</strong> 68 MAGAZINE
COUDELARIA<br />
MONTE DO CASÃO<br />
HERDADE DAS BOIÇAS<br />
Na Coudelaria Monte do Casão predominam as cores Lazão e Palomino<br />
firmando a forte influência dos Garanhões selecionados:<br />
D. Juan do Cabeção e Imperador do Cabeção<br />
Localização: Monte do Casão | Herdade das Boiças Barro Branco | Borba Estrada da Nora<br />
Tlm: 917 618 866 | Email: mcasao@sapo.pt | www.facebook.com/MonteDoCasao/
histórias<br />
Bafejado<br />
um cavalo com uma ferida na quartela<br />
Atarefada, corria de um lado para o outro para acabar as malas! Mesmo escrevendo<br />
um papel com todas as coisas que quero levar, com bastantes dias de antecedência,<br />
acabo sempre por me lembrar de levar outras coisas, também elas necessárias, o que<br />
implica que, para fechar as malas, seja sempre uma correria!<br />
ACarminho já voltou ao CAR, pois já<br />
está a ter aulas presenciais. Eu e o<br />
Francisco resolvemos ir ter com ela a<br />
Lisboa durante três dias para eles poderem<br />
ir às consultas que tinham sido adiadas<br />
durante o estado de emergência. Como estava<br />
em teletrabalho, tive de levar o computador e a<br />
última corrida foi porque me tinha esquecido<br />
dele…<br />
Quando o estava a colocar na mochila o meu telefone<br />
começou a tocar, mas eu já estava tão atrasada<br />
que resolvi não atender, pensei para mim mesma que devolveria<br />
a chamada assim que entrasse no carro e me pusesse<br />
a caminho de Lisboa.<br />
Finalmente com a bagageira cheia para três dias (eu sei,<br />
são só duas noites, mas nós nunca sabemos que temperatura<br />
vai estar, o que vamos fazer, enfim, nunca sabemos<br />
o que levar! Pelo menos eu gosto de viajar bem prevenida)<br />
lá nos pusemos os dois a caminho. Tinha pensado telefonar<br />
e assim como pensei,<br />
TEXTO<br />
rita gorjão clara<br />
médica veterinária<br />
fiz!<br />
Do outro lado do Bluetooth<br />
ouviu-se a voz de<br />
uma amiga minha. A sua<br />
voz agradável, mas com<br />
timbres de ansiedade,<br />
não se demorou muito na<br />
introdução da conversa e<br />
passou imediatamente aos “finalmentes”. O seu cavalo<br />
tinha uma pequena ferida na quartela, dever-se-ia ter aleijado<br />
nalgum sítio, disse ela, mas o que a preocupa mais<br />
era o facto de o cavalo estar cheio de “remelas” amarelas.<br />
Disse-lhe que infelizmente não o poderia ir ver pois ia a<br />
caminho de Lisboa, mas que se ela quisesse poderíamos<br />
fazer uma “teleconsulta”, ela enviava-me as fotografias e<br />
eu logo decidiria se poderia ser medicado por mim à distância,<br />
se poderia esperar por sábado para o ver, ou se teríamos<br />
de chamar outro colega para o puder acudir de<br />
imediato.<br />
Desliguei descansada, que as fotografias chegariam dentro<br />
de pouco tempo, assim que ele voltasse a ter “remelas”<br />
pois estas tinham habilmente desaparecido com a limpeza<br />
exímia realizada pela dona.<br />
As horas foram-se passando e a verdade é que nunca<br />
mais me lembrei do cavalo. No meu subconsciente ela tinha<br />
ficado de enviar as fotografias, por isso, o<br />
meu consciente ficou em stand by à espera das<br />
mesmas, para poder voltar ao assunto.<br />
No sábado, por volta das 16h, o telefone voltou<br />
a tocar! Era ela outra vez. Nunca mais me tinha<br />
lembrado do cavalo!<br />
Com a voz extremamente ansiosa, explicou-me<br />
que os olhos não voltaram a ter remelas, mas<br />
que a ferida pequenina da mão, tinha ficado negra,<br />
grande, e a mão já estava inchada até ao<br />
joelho. Pedi-lhe que me enviasse uma foto por WhatsApp<br />
“ASAP”.<br />
Quando recebi a foto achei a ferida muito feia. Parecia ter<br />
no centro um fundo de necrose bem negra e à volta reacção<br />
inflamatória grave, com sinais de infecção e edema<br />
até ao joelho. Pelo que via, e pelas dores que ele demonstrava<br />
ter, segundo o que a minha amiga dizia, calculei que<br />
tivesse sido uma picada de algum bicho venenoso.<br />
Claro que poderia ser uma “ferida de Verão” ou inclusivamente<br />
arestins, mas para<br />
“...i n c l i n e i-m e l o g o<br />
p a r a u m a p i c a d a d e a l g u m b i c h o<br />
«p e ç o n h e n t o». Se m h e s i t a r,<br />
r e s o l v i m e t e r-m e n o c a r r o e ir<br />
f a z e r-l h e u m a visita.”<br />
ter uma evolução tão rápida<br />
e com um foco de<br />
necrose tão exuberante,<br />
inclinei-me logo para<br />
uma picada de algum bicho<br />
“peçonhento”. Sem<br />
hesitar, resolvi meter-me<br />
no carro e ir fazer-lhe uma<br />
visita. Durante o percurso, observava alegremente o horizonte,<br />
de janela aberta, pois o carro com que tenho substituído<br />
o meu acidentado, não tem ar condicionado. Sentia<br />
a brisa escaldante do meio da tarde, brisa essa que<br />
fazia ondular as searas, ainda numa mistura de tons, que<br />
não tinham ainda atingido o seu tom dourado quando dizem<br />
que estão prontas para a ceifa. No meio delas, e em<br />
grandes quantidades, papoilas vermelhas, lindas, davam<br />
um toque idílico à imagem, mas, de repente, comecei a<br />
sentir o carro a fugir para a direita, tinha um furo!<br />
Chateada, antes de tentar resolver o problema, telefonei<br />
de imediato à minha amiga e disse-lhe que deveria chamar<br />
outro colega, pois não sabia quando estaria despachada<br />
e o caso já tinha quatro dias…<br />
Chateada também ela, e bastante contrariada, lá chamou<br />
um colega meu! Ficou combinado que me telefonaria<br />
para irmos falando, mas, mais uma vez, o tempo foi pas-<br />
<strong>EQUITAÇÃO</strong> 70 MAGAZINE
Na q u a r t a-f e i r a s e g u i n t e<br />
e n v i a r a m-m e n o v a f o t o<br />
d o resultado d e q u a t r o d i a s<br />
d e tratame nto, u h m, voltei<br />
a t o r c e r o n a r i z…<br />
sando e nada de telefonema. Finalmente, e depois de muitas<br />
peripécias, já era noite cerrada quando cheguei a casa.<br />
Liguei-lhe para saber como estava o «Bafejado», e disseme<br />
que o meu colega o tinha medicado como se fossem<br />
arestins… Torci um bocadinho o nariz, mas como o meu colega<br />
o deixou medicado com medicamentos que também<br />
dariam para combater o efeito da picada de um bicho venenoso,<br />
disse-lhe que aguardaríamos para ver! Tinha era que<br />
me ir dando notícias! Na verdade só não me meti a caminho,<br />
porque eles moram a quilómetros de minha casa!<br />
Na quarta-feira seguinte enviaram-me nova foto do resultado<br />
de quatro dias de tratamento, uhm, voltei a torcer o nariz…<br />
Quase de certeza que não eram, só, arestins, se é que<br />
tinham sido arestins alguma vez!!!! Mas como não vi presencialmente,<br />
não queria colocar o meu colega em cheque!<br />
Enfim, agora enquanto vos escrevo, aguardo uma chamada<br />
para o ir ver!<br />
Não sei como vai acabar a história. Mas prometo acabá-la<br />
no próximo artigo!!! m<br />
PUB<br />
<strong>EQUITAÇÃO</strong> 71 MAGAZINE
POLO DE MANGA<br />
CURTA DE CRIANÇA<br />
500 MESH<br />
O polo de Equitação<br />
500 Malha de rede e é<br />
composto por um tecido<br />
muito leve que permite a<br />
eliminação rápida da<br />
transpiração.<br />
Tamanhos: 6 a 14 anos<br />
Preço: 13€<br />
CALÇAS DE CRIANÇA<br />
500 MESH<br />
Ideais para tempo quente,<br />
as calças de Equitação<br />
500 MESH eliminam<br />
facilmente a transpiração<br />
graças ao seu material<br />
e às zonas de ventilação.<br />
Bolso para telemóvel<br />
na coxa!<br />
Tamanhos: 6 a14ano<br />
anos<br />
Preço: 25€<br />
CAMISOLA<br />
DE ALÇAS<br />
DE <strong>EQUITAÇÃO</strong><br />
MULHER 500 MESH<br />
Finalmente uma camisola<br />
de alças para montar a cavalo!<br />
Leve e arejada, esta camisola<br />
tem um corte ajustado, mas<br />
não demasiado justo, para<br />
permitir a circulação do ar.<br />
Tamanhos: 36 ao 46<br />
Preço: 15€<br />
CALÇAS AS<br />
DE <strong>EQUITAÇÃO</strong><br />
580 LIGHT FULLGRIP<br />
MULHER<br />
Depois de as experimentar, já<br />
não conseguirá passar sem as<br />
calças 580 FULLGRIP: leves,<br />
técnicas e aderentes graças<br />
ao silicone. Corte elegante e<br />
com máximo conforto.<br />
Tamanhos: 2XS ao 2XL<br />
Preço: 60€<br />
POLO DE MANGA<br />
CURTA DE<br />
<strong>EQUITAÇÃO</strong><br />
500 HOMEM<br />
O polo de Equitação 500<br />
MESH é composto por um<br />
tecido muito leve que permite<br />
a eliminação rápida da<br />
transpiração. Experimentá-lo<br />
é adotá-lo!<br />
Tamanhos: S<br />
ao 3XL<br />
Preço: 20€<br />
CALÇAS <strong>EQUITAÇÃO</strong><br />
HOMEM REFORÇOS<br />
AUTOADERENTES 140<br />
As calças de Equitação 140<br />
têm um corte moderno e ajustado,<br />
a sua matéria natural torna-as<br />
muito confortáveis.<br />
A parte inferior em licra<br />
proporciona maior conforto<br />
nas botas ou polainas.<br />
Tamanhos:<br />
XS ao 2XL<br />
Preço: 30€<br />
MÁSCARA<br />
ANTIMOSCAS<br />
<strong>EQUITAÇÃO</strong> 500<br />
CAVALO CINZENTO<br />
FOUGANZA<br />
A máscara antimoscas 500<br />
é composta por uma grelha<br />
semirrígida que evita o<br />
contacto com os olhos<br />
e proporciona ao cavalo<br />
um amplo campo de visão.<br />
Tamanhos: CS e FS<br />
Preço: 19€<br />
<strong>EQUITAÇÃO</strong> 72 MAGAZINE