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17 dias de quarentena

13 lançamentos musicais da quarentena para ver e ouvir em casa enquanto evita morrer

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17 dias de

40tena

13

ç

Devana babu


Junho de 2020

escrito e diagramado por devana babu

capa: Cadu xukuro (afanado do facebook)

Escrito e diagramado por devana babu

todas as imagens foram devidamente

afanadas dos veículos de divulgação dos

artistas apresentados aqui e não pertecem

ao autor do zine (se bem que tudo

pertença ao povo).

Este material é livre e desempedido.

Espalhe e pirateie a informação à

vontade.Não se incomode em relação à

autoralidade.

Quarentena de 2020, junho, recém

inverno

Powered by #Quarenteners

Apoio:


Para início de conversa

Este fanzine prototípico foi confeccionado entre os dias maio e junho de 2020,

entre suores e terrores noturnos, entre guerras terrenas e espirituais, entre crises

respiratórias e emocionais, entre louças sujas e DRs inúteis, muita gente não sabe

mas também temos um relacionamento conosco mesmos.

Já não me lembro as datas mas eu sei que hoje é 19. Cá estou eu mais uma vez

fazendo um fanzine que é concluído, mas não terminado, em cima da hora de ser

divulgado. Confesso que este não era o meu plano inicial. Este é meu primeiro

fanzine eletrônico, ou seja, o primeiro fanzine feito pensado para a navegação

eletrônica e ao mesmo tempo o primeiro que será divulgado virtualmente. Até

então todos os zines que fiz foram rigorosamente mantidos em suas plataformas

físicas, sem que o espírito se apartasse da carne e ascendesse ao upload.

Mas cá está este zine seguindo a mesma vocação dos seus irmãos mais arcaicos.

Com eles, faço isso porque é o que tem que ser feito: finalizo em cima da hora. É

porque o zine, meus caros, zine é linguagem, zine é vísceras, zine é o calor do

momento, da máquina de xerox, dos dedos recém furibundos atirados ao teclado, e

agora também o calor do sobreaquecimento criativo da máquina que o produz e

que também o lê.

Veja a maneira como ele está diagramado, por exemplo, e as palavras que vão

nele. O zine é uma página em branco que se preenche instintivamente. Ele pulsa

potencialidades e você os preenche, eis o que é o zine. Com este era pra ser

diferente, mas veja que ele se beneficia ainda do calor da hora como todos os

outros. É hoje o dia do lançamento, é hoje que escrevo essa carta. Assim sou eu,

assim é o zine, e assim é que se é.

O modelo básico deste protótipo foi aquele livro 1001 discos para ouvir antes de

morrer, por isto esse título alusivo ridículo na capa do seu exemplar. Eu tenho

adorado esse livro e há um tempo começou a fervilhar na minha cabeça a ideia de

fazer algo do tipo, mas voltado para a produção nacional e independente ou

underground. O edital do Da Silva caiu como uma luva, como o pretexto

necessário e urgente para fazer esse pequeno experimento, e fazer jus também ao

momento – a quarentena.

A distância entre nossas mais loucas ideias e suas práticas são sempre

gigantescas. O que era pra ser um piloto de uma coisa se tornou só o protótipo de

um piloto de talvez um rascunho. Tudo bem, estamos a caminho. A princípio eu

queria escrever não sobre 1001 discos mas apenas sobre 101, espalhados por 80

dias de quarentena. Consegui fazer um levantamento pouco maior ou menor do

que estes números, mas daí a escrever e diagramar, em meio ao novo caos, são

outros 80.

No fim das contas, consegui concretizar este pequeno petisco, que, espero, delicie

seus apreciadores e atice ao paladar para o que está por vir – o zine completo com


os malditos 80 dias. Aguardem, muito mais está por vir de onde veio esta pequena

amostra – esse fanzine demo. Espero que sirva para apresentar ao leitor algo pelo

que ele se apaixone, e para divulgar o trabalhos dos laboriosos artistas.

O fanzine completo será divulgado em breve. Lembre-se:

O PIOR ESTÁ POR VIR!

O importante aqui é o prazer de escrever, ler, ouvir e ver sobre música, sobre arte,

sobre pessoas e suas histórias. Cuidei para escrever sobre estes sons e histórias

com o melhor do rigor jornalístico, e toda a riqueza de emoções, mas também com

um espírito de delícia e diversão sobre o texto. Deve ter erro pra carai mas eu não

me responsabilizo mais por mim. Na boa eu já nem sei mais o que que eu tô

falando, rs. Curte aí, desgraça. Agora eu vou, eu acho, dormir. Me acorde quando a

quarentena acabar.

Seu narcoléptico editor


A“artista multimídia e bixa

travesty” Linn da Quebrada se

une ao produtor uruguaio Lechuga

Zafiro para comemorar os 10 anos do selo

mexicano NAAFI com o lançamento desta

versão da música Oração, de 2019.

Lechuga Zafiro ft. Linn da

Quebrada

Oração (pense y dance)

URU/MEX/BRA | Naafi/Onda

Mundial

Começa em tom recitativo com um jogo de

palavras semelhantes como “entre a

oração e a ereção, ora são, ora não são.

Unção, benção, sem nação, mesmo que

não nasçam mas vivem e vivem e vêm...” –

pausa dramática para acrescentar à letra

original: “...em vão”, quando começa uma

batida eletrônica e o imperativo: “Dance!”,

também inexistente na versão original.

O toque dream pop funk que se segue,

entretanto, aliado ao recital monocórdio

com outras estruturas frasais como as

citadas acima, fazem a música pender

muito mais para o lado do primeiro

imperativo: “pense”.

Produzido, ainda, em parceria com a

plataforma mexicana Onda Mundial, o

single chega junto a um clipe, disponível no

YouTube, dirigido por Alberto

Bustamante, chefe criativo da Naafi, e que

mostra uma sequência de lavas, erupções

vulcânicas e paisagens análogas. Trata-se

de uma metáfora adequada para a temática

da letra – a erupção do desejo feminino

destruindo o amor enquanto instrumento

da dominância masculina nas relações

heteronormativas.

Dá pra sacar a oração ali no Spotify,

Bandcamp, Apple Music, Deezer, e

Napster. O single faz parte de uma série de

coletâneas intitulada Desorden y progreso, que

dão continuidade à celebração dos 20 anos do

selo e conta ainda com artistas como Brisa

Flow, já lançada na parte 3, Teto Preto, que

sairá na quarta e última parte.



OMúsico, compositor e produtor

brasiliense Aloizio Lows só

precisou de um dia para

compor a música e de um final de

semana para gravar todos os

instrumentos, mixar, editar um vídeo

com imagens dele, de Larissa Mesquita

e Thaís Mallon e soltar no YouTube e

no Spotify.

Aloizio Quarentena #1.

DF | Independente

Aloizio já esteve à frente da banda

Lafusa, fundada por ele e três

companheiros em 2005, iniciou

trajetória solo em 2015 e, atualmente, é

vocalista da banda carnavalesca

tropicalista Bloco das Divinas Tetas.

Confinado e longe da agitação musical,

compôs esta música pop com tons de

vaporwave, lo-fi e chill out sob o lema

“Em tempos de quarentena, crie”, que

abre a descrição do single no YouTube.

Além de ecoar o mantra “vai ficar tudo

bem”, quase onipresente nas músicas

nativas da quarentena, a letra adota

uma estratégia semelhante à de muitas

músicas gospel, que se valem de uma

certa ambiguidade para ampliar a

recepção da mensagem.

No caso dos adoradores do deus

cristão, letras com frases como “Eu te

amo, não posso mais viver sem ti”

fazem com que a letra faça sentido para

quem tem um crush assim na terra

como no céu.

No caso da música de Aloizio, frases

como “Vai ficar tudo bem/ Se a gente

conversar/ E entender de onde veio

isso// Toda essa situação/ Onde a gente


foi parar/ Os ventos balançaram o

nosso abrigo// Pode ser da vida parar/

Pode ser do mundo acabar/ A gente

senta e cria outro junto” garantem que

a música dará esperanças para quem,

assim como nós, neste pedaço do

tempo, estão vivenciando este

momento histórico, mas que também

faça sentido para os ouvintes pósapocalípticos.

intérprete de blues, jazz, folk e R&B e que

você vai ouvir no Spotify, Deezer ou Apple

Music, além de, certamente, assistir no

YouTube.

O clipe, gravado na Chapada dos

Veadeiros, evoca um clima rural, com ares

de roadie movie musical e nuances sutis de

steampunk – uma coisa entre natureza,

livros, madeira e sucata, por exemplo no

icônico bar Raizama.

A síntese máxima, musical e plasticamente,

se encontra na na Cigar Box de Thaise – um

instrumento rústico que costumava ser

fabricado nos estados unidos nos anos

1920 quando, devido à crise, os luthiers

fabricavam os instrumentos com caixas de

charutos cubanos.

Mandalla’s Band I arrived.

DF | Independente

U

m dia o Frango Kaos, requisitado

técnico de som do Distrito Federal,

vocalista da banda Galinha Preta e dono

da Nuggetz, contou para a amiga Thaíse

Mandalla, baterista da Nuggetz, que o

músico João Bosco, quando ia tocar blues,

usava uma afinação em sol aberto (open

G). O próprio João Bosco contou isso ao

Frango. Mandalla gostou tanto da técnica

que, numa bela madrugada, brincando

com o slide, duas músicas deslizaram pelos

seus dedos.

Uma delas é I irrived, gravada pelo projeto

Mandalla’s Band, no qual Thaise, dona da

banda, destila sua veia de compositora e



U

m belo dia, ou, para ser mais

especifico, em dois de fevereiro

de 2019, os músicos da banda

Palamar se uniram em uma jam session

audiocênicovisual à trompetista Ayla

Gresta e seu consorte Gustavo Halfeld,

guitarrista, produtor e dono da

Casacajá, estúdio residencial onde tudo

aconteceu com a participação de outros

artistas além dos músicos e foi

devidamente registrado por Aya Saito

Mira e Mikael Kluge.

Cavalo Marinho Ansiedade.

DF | Independente

O resultado está no YouTube:

Ansiedade, um perfeito exemplar de

neopsicodelia brasiliense, neste caso

mais devoto ao Pink Floyd do que a

outras bandas inglesas, com edição de

vídeo lisérgica, uma horda de patinhos

de brinquedo assustadores movidos à

corda e performances repletas de

#Galerinhaperformáticadasartescênica

sdaUnBfeelings.

O EP, que conta ainda com a música

Rajada do trovão solar, foi lançado em 15

de maio no Spotify, Apple Store,

SoundCloud, e Amazon.

Aysla e Halfeld atuaram juntos no filme

Ainda temos a imensidão da noite, no

qual integraram a banda já não mais

fictícia Animal Interior, e, juntos,

formam também o duo YPU, este que

está no título do vídeo como coautor.


Sellva Nascer de novo.

DF | Independente

Sellva é a personificação musical da

atriz brasiliense Mariana Guel,

frequentadora dos palcos desde os 10

anos de idade, e fruto de um processo de

pesquisa e experimentação baseado na

teoria do autor-compositor. Lá por 2014

começou a ser confeccionado esse

“personagem que dialogasse sobre a

existência”, nas palavras da própria

cantatriz. De repente, neste processo de

autoescrita, o teatro já não era o bastante.

Agregaram-se então as poesias e as imagens,

e, coroando este nascimento, a música.

O artista Lucas Santtana foi o responsável

por dar forma aos beats e ambiências

eletrônicas que conduzem os poemas

melódicos da Sellva, registrados no estúdio

12 Dólares, de São Paulo, em agosto de

2019. Nascer de novo foi o primeiro single do

EP Atmosfera, lançado em 1º de junho, tudo

disponível no YouTube, Deezer, Spotify,

Tidal e Apple Music.



Nuno

Nuno Mindelis Angola Blues

RJ | Independente

ÁLBUM

Oguitarrista brasileiro Nuno

Mindelis nasceu em Angola, na

província de Cabinda, filho de

pais portugueses. Viveu parte da

infância e adolescência na capital,

Luanda, até que a guerra civil fez a

família fugir para o Brasil. Nuno passou

um ano no Canadá antes de se unir aos

pais no país tropical abençoado por

deus.

Diferente daqueles outros portugueses,

que, quando vieram fugidos para o

Brasil, trouxeram imensas bibliotecas

dentro dos Navios, Nuno teve que

deixar para trás cerca de dois mil discos

de uma coleção repleta de especiarias,

entre as quais inúmeros discos de blue

e muita música brasileira, como os de

Jorge Ben.

No álbum Angola Blues, primeiro do

músico desde Angels and clowns (2013),

Nuno reverencia não só a sua terra

natal como também aquele moleque

que aprendeu a planger as cordas numa

guitarra improvisada com lata de azeite

e fio de pesca, e ouvia o melhor da

música popular africana nas rádios

locais. Trata-se de um álbum retroativo

de blues, em que o blues se reencontra

com suas origens ao mesmo tempo em

que o blueseiro refaz o caminho do

atlântico de volta para casa.

Monami Zeca, segundo single do disco,

é a isca perfeita para o material

completo lançado em 10 de abril, tudo

no Youtube, Deezer, e Apple Music.

Antes, em 15 de fevereiro, foi lançado o

clipe de Cabinda, e depois, em 13 de abril, o

de Birim birim, todas cantadas no dialeto

Kimbundu, que o guitarrista aprendeu na

infância. A única canção em português do

disco é País tropical, de Jorge Ben. Em

Cabinda, uma das poucas autorais do disco,

Nuno reverencia a província onde nasceu.

Em País tropical, na parte em que Ben

cantaria “Sou flamengo e tenho uma nega

chamada Tereza” (...), Mindelis subverte:

“Sou de cabinda e minha namorada é

linda”.



Piva –, convocou os beatmakers JLZ,

Nansy Silvvz, e DKVPZ, recrutou

Lellezinha, 1LUM3, Aisha, Maya e o

próprio Dactes para fazer participações

especiais e, em três dias, fez o álbum

Não tem bacanal na quarentena. Bom,

ele, o Baco, prefere chamar de EP, mas,

convenhamos, o trabalho contém

exatamente nove músicas, tal e qual

nos outros álbuns.

Baco Exu do Blues não tem

bacanal na quarentena

BA | 999/Altafonte

ÁLBUM

E

ra pra ter rolado o Bacanal,

terceiro e último disco de rap da

trilogia de Baco Exu do Blues

–iniciada em Esú (2018), continuada em

Bluesman, e terminando em Bacanal,

como profetizado pelo nome do rapper

– no primeiro semestre de 2020. Aí veio

a pandemia, e Baco pensou que não

gostaria de “lançar seu álbum do ano”

em meio a um cenário tão sinistro,

sobretudo porque um bacanal iria

contra as recomendações da OMS.

Aí ele estava Preso em casa cheio de

tesão, como qualquer artista prolífico,

chamou o brother Dactes, engenheiro

de som, montou um homestudio na

própria casa, e além do mais, ele

temaquele selo, o 999. Convidou os

caras do selo – Celo Dut, Vírus e Young

As faixas, aliás, são um caldeirão de

referências da hora sampleadas e

mixadas. Tem o som viral de Cardi B

cantando “Coronaváiiiruuus”, na faixa

Amo Cardi B odeio Bolsonaro, e até o

ritmo dos panelaços contra este último,

sem contar com as referências ao ator

Babu Santana, um dos dois únicos

negros confinados na casa do Big

Brother Brasil 20 e que ganhou amplo

apoio do movimento negro, na faixa

Tropa do Babu. Isso foi antes dele ser

eliminado na semifinal do programa,

mas a outra representante da raça,

Thelma Assis, se sagrou campeã.

O álbum foi lançado primeiro no

Youtube, e chegou no dia seguinte a

outros aplicativos como o Spotify,

Deezer e Napster. A capa, assinada por

Guil, parodia a do álbum Ready to die,

de Notorious Big. Aqui, o bebezinho de

black power virou um Ursão marrom

devidamente paramentado com

máscara de proteção e álcool em gel.



Kaê Guajajara e Kandu Puri

Rap indígena trilíngue sobre a

pandemia do Corona Vírus

RJ | Independente.

Nada poderia ser dito neste

texto que superasse a

objetividade autodescritiva do

nome desta música: Rap indígena

trilíngue sobre a pandemia do corona

vírus. Assim está escrito no título do

vídeo e é com essa urgência e seriedade

que esta mensagem chega. A rapper

Kaê Guajajara une-se ao parceiro

Kandu Puri, cujos nomes também

dizem de cara a que povo pertencem,

como é tradição dos povos originários

do Brasil, para confeccionar esse

manifesto macro&tupi em português,

Zeeg'ete (dialeto do povo guajajara do

tronco tupi guarani) e kwaytikindo (do

povo puri do tronco macro jê).

Para que não reste duvidas para

qualquer ouvinte a afirmação de que

“não foi só bala que matou meu povo

não/ Tanta epidemia amontoou mais

de uma nação/ Um rio de sangue na

água cristalina/ Até o contato com suas

roupas me assassina”, o rap que você

verá no YouTube é uma denúncia de

“Indígena[s] gritando na favela/ Vendo

culturas inteiras sumindo /A epidemia

[que] vem matando/ O maior grupo de

risco há mais de 500 anos”. E, como se

não bastasse, mais essa, agora.


A gravidade com que eles encaram a

câmera em um sutil plongée,

devidamente pintados e paramentados

com seus costumes, na sala de um

pequeno apartamento seria capaz de

fazer estremecer o coração do mais

empedernido colonizador de agora ou

de outrora.

A naturalidade potente das melodias

enfáticas de Kaê, no entanto, e a

exortação serena do flow de Kandu, seja

em português ou nos outros dois

idiomas, cantados sobre um beat

ambiente tocado em um aparelho ao

fundo, são tão cativantes quanto

efetivos na mensagem, tão perfeitos

quanto despojados, com uma poesia

tão bela quanto brutal.

“E tu, que nunca foi de banho”, em vez

de “gastar tudo em álcool em gel”, se

puder,” ‘Epita me neràpuz pupe”.

Kaê Guajajara nasceu na aldeia

Mirinzal, terra não demarcada, no

Maranhão, e aos 10 anos de idade teve

que ir morar no Complexo da Maré, no

Rio de Janeiro por conta dos conflitos

com os madeireiros. Foi lá que, em

2016, teve o primeiro contato com o rap

e passou a integrar o grupo Crônicos,

formado por Angolanos, pretos

brasileiros e indígenas. Foi assim que

ela, hesitante por estar acostumada a

tocar com instrumentos de verdade

enquanto seus colegas já cantavam no

beat – tudo muito novo para ela –

descobriu a força da união das minorias

para amplificar suas vozes e “que a

música quebra barreiras, constrói e

instrui a quem precisa.”

indígenas que luta pelo direito à terra

onde iriam construir um estádio para a

Copa do Mundo.

No Spotify, há dois EPs da artista:

Hapohu, de 2019, e Uzaw, de 2020.

Nesse último, entre canções de

protesto e até músicas de amor,

encontra-se a música Mãos vermelhas,

que chamou alguma atenção após uma

performance no Sofar Session e uma

matéria no Uol, e na qual ela diz: “O

agro não é tech, o agro não é pop e

também mata”. Artista, ativista e

escritora, lança em 15 de junho o livro

Descomplicando com Kaê Guajajara:

Tudo que você precisa saber sobre os

povos originários e como ajudar na luta

anti_racista. Na descrição do vídeo ela

conta como “canto é uma das flechas

dos nossos arcos, e a música se tornou

uma das trincheiras de luta que dá

visibilidade, desconstrói em vários

ritmos e melodias, passando

mensagens e informações que a escola

não conseguiu e não quis passar.” E na

página do Facebook ela se descreve de

forma singela: “Kaê Guajajara é

artista, cantora, mãe e guerreira que

faz florescer tudo que toca.”

Pouco antes, em 2014, ela passou

integrar a Aldeia Maracanã, um

agrupamento de diferentes etnias



Muita gente desacreditou que o

rapper Rubens MC, do

Riacho Fundo II, conseguiria

financiar seu primeiro álbum vendendo

jujubas, balinhas, chicletes, pirulitos e

paçocas nas batalhas de rimas, praças e

portas de escola. Foi por isso que ele

lançou o álbum, provando que

conseguiu, e provocativamente, na

simbólica data de 1º de abril – o dia da

mentira.

Rubens MC Gomadi Maskar

DF | Independente

ÁLBUM

Cria do rolê punk e underground,

Rubens levou às últimas consequências

a lei do faça você mesmo – e não

dependa de ninguém. Quando as

divergências criativas o fizeram sair da

banda de rock Quinto ÁZ, banda de

colégio que tinha junto ao primo, ele

decidiu que caminharia melhor sozinho

e trocou as guitarras pelos beats. E

quando percebeu que os donos de

estúdio não eram capazes de pegar a

visão musical dele, impondo rédeas à

imaginação, decidiu vender balinhas

para montar o próprio homestudio e

não depender de nenhum produtor

metido a besta.

Neste estúdio, aos poucos, foi

formulando este primeiro álbum

sempre contando com participações de

um time de colaboradores que ele

chama, justamente, de “time” – oito, ao

todo, com destaque para o feat

transatlântico com o angolano Young

Dennis na faixa Vbem.

Com sua galera, Rubens segue

produzindo ativamente e

compulsivamente em seu estúdio


caseiro, sem que ninguém lhe diga o

que fazer.

Quanto ao álbum, está disponível

apenas no YouTube, pois, na avalição

do rapper, o público a quem sua música

se destina nem tem grana pra pagar

assinatura de outras plataformas.

fim à marcha de letras que formam

praticamente um álbum conceitual

sobre “os vícios humanos,

relacionamentos, idolatrias, pós-vida e

o caminho autodestrutivo da

sociedade”, como sintetizam seus

autores. Postura política intransigente

sem transigir do objetivo principal da

banda: curtir e proporcionar curtição.

Um single com lyric vídeo, da música

Final experiment, foi lançado de surpresa

na terça-feira anterior ao lançamento. O

álbum completo está no Bancamp,

YouTube, Apple Music, Amazon,

Deezer, e Tidal.

Mofo Sick and insane.

DF | Independente

ÁLBUM

Oprimeiro álbum completo da

banda Mofo é direto e preciso

como este texto. Sucedendo o

aclamado EP Empire of self-regard, o

disco é de uma precisão técnica brutal,

desde os acordes até a mixagem e a

masterização. Precisão, compreenda,

quer dizer que nada falta nem sobra,

cada nota está no lugar certo, cada

timbre na medida correta. A música

reúne a rara capacidade de soar

clássica e atual ao mesmo tempo, raiz e

ao mesmo tempo, original. Thrashzão

de primeira com pitadas de death metal

e hardcore, bangueando do começo ao


substituindo a alegria matinal, e então

“o tom do violão caiu do lá maior do

repente pro lá menor do lamento e as

primeiras palavras saíram quase junto

com o dedilhado”, como esclareceu o

autor em um post no Facebook.

Henrique Cartaxo Sete dias.

BA | Independente

Sabe aquela angustiazinha que

bate sempre no final da tarde,

com o sol se pondo, ainda pior

na quarentena? Suponhamos que você

saiba: é essa a sensação expressa no

single Sete dias, do músico baiano

radicado em São Paulo Henrique

Cartaxo. Suponhamos que você não

saiba: é essa a sensação expressa no

single Sete dias, do músico baiano

radicado em São Paulo Henrique

Cartaxo. Fique sabendo e providencie aí

uma degustação deste sentimento na

audição deste single e apreciação deste

clipe, para enriquecer o repertório. O

delivery é pelo YouTube, Deezer,

Spotify e Apple Music.

“Uma semana depois, surge uma

canção produzida em casa, com o

sentimento das noites de quarentena.

Compus, cantei, toquei, gravei,

produzi. Há vozes adicionais, apoio e

parceria de Raquel Valadares. E uma

viola incidental de João Antunes”, que

é este clipe cujo link está aqui na sua

tela, feito por Henrique, que é editor de

cinema, com imagens da “pujança e a

pureza da maçã, do limão, da cebola, do

alho e do mel, que as formigas vêm

secar da colher.”

Em 4 de junho chegou o tal do álbum,

Bai, também com uma versão visual

editada pelo próprio Cartaxo. A

propósito, Bai é o apelido dele nas

rodinhas autorais de São Paulo, forma

reduzida de “Baiano”. Como na canção

espúria com ares de repente, o álbum

evoca a nordestinidade, a baianidade, a

saudade, o desterro, e as vivências de

um baiano em São Paulo.

Prestes a lançar seu primeiro álbum

solo, Bai, Henrique, de São Paulo,

brincava pelo WhatsApp de improvisar

repentes com o pai, lá na Bahia. No fim

da tarde, bateu aquela angústia

vespertina daquele primeiro parágrafo,


Heavy Baile Vai quebrando

(desce que desce).

RJ | Heavy Baile Sounds

A

expressão “street passinho

contemporâneo”, inventada

agora, caberia como uma luva,

ou melhor, como um calçado nos pés

descalços dessa obra audiovisual

cênico-musical. Ao som da batida

repetitiva e da repetição exaustiva do

mantra “Vai quebrando de ladinho

(desce que desce)”, a dançarina e

passista Celly IDD (sigla para

Imperatriz da Dança – nada resta a

dizer) se desloca dançarinamente por

cenários do subúrbio carioca no que

parece uma fusão entre passinho,

dança contemporânea, street dance e

videodança com pitadas de contato e

improvisação – mas é só o passinho

mesmo.

A música, um funk minimalista (em

termos harmônicos, já que em termos

rítmicos esta é uma característica

predominante) com timbres delicados

e passabilidade eletrônica, é capaz de

capturar até os ouvidos mais

resistentes, o que tem tudo a ver com a

proposta do grupo.

Fundado no rio de Janeiro em 2013 pelo

idealizador Leo Justi, o coletivo Heavy

Baile se propõe a dar visibilidade à

cultura da periferia, aproximando-a de

outros universos. O DJ e MC Thai, como

compositor, faz o rascunho da música.

Leo faz a arte final e Tchelinho faz a

coloração. Celly IDD canta e dança. E

Sabrina Ginga, Sheik e Neguibites

completam o corpo de baile pesadão.

Nesta música, eles se unem ainda ao Dj

Seduty.


O clipe abre com um falso cartaz escrito

.DESAPARECIDO:.

Jonathan Neguebites

encimando a foto do tal do Neguebites,

e abaixo dela o número para contato:

0800 666 69

999.

estação e uma longa ponte curva no

caminho de volta – tudo por ali em

Madureira, Zona Norte do Rio.

Trata-se, na verdade, de uma

continuação do clipe Ciranda, de maio

de 2019, onde o tal do Neguebite

trabalha servindo comida num bar,

bota um som na caixa, e desembesta

dançando, servindo as mesas, despe-se

do avental e vai dançando favela

adentro, até desembocar nos trilhos do

trem, pouco antes de ser visto por Celly

IDD no clipe de 2020.

O clipe termina com uma suposta

família do tal do Neguebite segurando

uma foto do desaparecido, o que é meio

sinistro, mas ok.

Clique no link do YouTube para assistir

e nos do Deezer, spotify e Apple Store

para dar o play e sair dançando na rua

até desaparecer do mapa.

Corta para o tal do Neguebites, ao

fundo, a poucos metros do cartaz,

dançando um passinho no meio dos

trilhos do metrô enquanto, em primeiro

plano, Celly IDD, toda trabalhada nas

cores preto e vermelho e com roupas

confortáveis, espera o trem ou algo

assim.

Ela olha para o tal do Neguebites, que

na verdade é seu colega de Heavy Baile,

coloca os fones de ouvido e então

começa o interminável repetição do

mantra “Vai quebrando de ladinho

(desce que desce).” Aí ela desembesta

a dançar passinhamente por todo o

percurso que engloba a estação de

metrô, o interior dos vagões, entre os

passageiros, as lojas da estação onde

ela desembarca, as escadarias e os

comércios ambulantes no exterior da



Hate Aleatório Tudo pelos

pretos.

DF | Independente

ÁLBUM

T

em uma música dos rapperes

Djonga e BK, chamada O mundo

é nosso, que tem os seguintes

versos: “Como se fosse à noite, cê vê

tudo preto/ Como fosse um blackout, cê

vê tudo preto/ São meus manos,

minhas minas/ Meus irmãos, minhas

irmãs/ O mundo é nosso”.

Forjado nas batalhas de rima do

Distrito Federal e “salvo pela arte desde

o começo”, o rapper Hate Aleatório,

oriundo do Recanto das Emas, tinha

estes versos na cabeça quando pensava

em nomear sua primeira mixtape – uma

coletânea construída tijolo a tijolo entre

viagens do Recanto ao Gama, onde

mora o onipresente beatmaker SanTzu.

“Tudo preto” derivou facilmente para

“Tudo pelos pretos”, afinal, o próprio

Hate afirma: “Tudo Pelos Pretos

significa que o sentido da minha vida é

sempre honrar e fazer tudo pela minha

raça, meus ancestrais e minha família

pelo resto da minha vida. Tudo é por

eles sempre. Nós, pretos, merecemos

muito mais do que temos e não

podemos esquecer que tudo isso aí é

nosso, só estamos tomando de volta –

vamos dominar o planeta. E nada

melhor do que expressar e propagar

essas ideais pelo rap, pelo hip hop, que

é algo criado pelos pretos”. Ou, mais

suscintamente, como ele expressou nos

versos da faixa-título: “Minhas rimas

são mais raras que um médico preto/

Tudo que eu faço na vida, tudo é pelos

preto.” Essa é a fita magnética

condutora que justapões as músicas

desta mixtape, disponível no YouTube,

Spotify, Deezer, Tidal e Amazon.

A faixa de abertura, Interlúdio, recitada

por Velho Banjo, é de uma

visceralidade impactante. As

respirações rápidas e fundas entre os

versos dão a impressão de que ele

mergulha na raiva e volta à superfície

para pegar fôlego e mergulhar de novo.

O trampo rendeu dois clipes: Último

engano, com André Aérre e VSE7E, e

Gol quadrado, com RU Problema e

Santzu.




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