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Alguns fazem isso criando esquemas fraudulentos de enriquecimento rápido.
Uns atravessam o mundo para salvar crianças da desnutrição. Há quem se
destaque nos estudos e ganhe mil prêmios acadêmicos. Outros entram na escola
atirando. Alguns tentam fazer sexo com qualquer criatura que se mova.
Isso tem a ver com a crescente cultura da arrogância que já analisei. Muitas
vezes os millennials são responsabilizados por essa mudança cultural, mas,
provavelmente, apenas porque são a geração mais conectada e mais visível. A
tendência à arrogância abrange toda a sociedade, e acredito que seja
consequência da excepcionalidade gerada pelos meios de comunicação de massa.
O problema é que a onipresença da tecnologia e do marketing está dando um
nó nas expectativas de muita gente. A enxurrada do excepcional faz as pessoas se
sentirem menores, as faz sentir que precisam ser mais extremas, mais radicais e
mais autoconfiantes para serem notadas ou terem valor.
Quando eu era jovem, minhas inseguranças com intimidade eram
exacerbadas por todas as narrativas de masculinidade ridículas difundidas pela
cultura pop. Essas mesmas narrativas ainda circulam hoje: para ser popular, o
cara tem que sair e beber como um astro do rock; para ser respeitado, tem que
ser admirado pelas mulheres; sexo é o bem mais valioso que um homem pode
obter, e para consegui-lo vale sacrificar qualquer coisa (inclusive a dignidade).
Esse fluxo incessante de notícias irreais alimenta nossa insegurança ao nos
expor a padrões fantasiosos impossíveis de corresponder. Não só nos sentimos
sujeitos a problemas insolúveis, como nos consideramos fracassados porque uma
simples pesquisa no Google mostra milhares de pessoas livres desses problemas.
A tecnologia resolveu antigos problemas econômicos mas nos trouxe novos
problemas psicológicos. A internet não disponibilizou apenas informação para
todos — ela fez o mesmo com a insegurança, a incerteza e a vergonha.
M-m-mas, se eu não vou ser especial nem extraordinário, qual é a graça?
Nossa cultura absorveu a crença de que todos estamos destinados a fazer algo
extraordinário. Celebridades dizem isso. Magnatas dizem isso. Políticos dizem
isso. Até a Oprah diz isso (então deve ser verdade). Cada um de nós pode ser