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A-Sutil-Arte-de-Ligar-o-Foda-se-Mark-Manson

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E tinha mesmo, de certa forma. Meus pais me prenderam em casa. Eu não

teria amigos no futuro próximo. Fui expulso da escola, e terminaria o ano letivo

estudando em casa. Minha mãe me fez cortar o cabelo e jogar fora todas as

camisetas do Marilyn Manson e do Metallica (o que, para um adolescente em

1998, equivalia a ser condenado à morte por tosquice). Meu pai me arrastava

para o trabalho de manhã e me fazia arquivar documentos por horas a fio.

Depois que a educação domiciliar terminou, fui matriculado numa pequena

escola cristã, onde — o que não deve ser uma surpresa — eu não me encaixava

muito bem.

E, quando enfim tomei jeito, entregando os trabalhos no prazo e consciente

do valor de uma boa responsabilidade clerical, meus pais decidiram se divorciar.

Estou contando tudo isso só para ilustrar como minha adolescência foi uma

bosta. Perdi todos os meus amigos, meu ambiente, direitos legais e família num

intervalo de nove meses. Como diria a psicóloga que me atendia aos vinte e

poucos anos, foram eventos “traumatizantes pra cacete”, e eu passaria uma

década e mais um pouco tentando entendê-los e deixar de ser um bestinha

egoísta e arrogante.

O problema com a minha vida doméstica naquela época não foram todas as

coisas horríveis que foram ditas e feitas, e sim tudo que deveria ter sido dito e

feito, mas não foi. Minha família ignora problemas como Warren Buffett ganha

dinheiro ou Michael Jordan enterra no basquete: somos os melhores nisso. A

casa podia estar pegando fogo e diríamos: “Ah, não, está tudo bem. Só um pouco

quente aqui, talvez, mas sério, tudo bem.”

Quando meus pais se divorciaram, não houve pratos quebrados, portas

batidas nem discussões histéricas sobre quem chifrou quem. Depois que

garantiram para mim e para o meu irmão que não era culpa nossa, eles abriram

para perguntas — sim, você leu direito — sobre a logística da nossa nova vida.

Nem uma única lágrima foi derramada. Nem uma única voz foi erguida. O

máximo que meu irmão e eu chegamos de entrever a vida emocional declinante

dos nossos pais foi o esclarecimento de que “ninguém traiu ninguém”. Ah, que

ótimo. O ar estava meio abafado ali na sala, mas tranquilo, tudo certo.

Meus pais são boas pessoas. Não os culpo por nada disso (pelo menos não

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