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encarei meu torturador e, em tom de súplica, louco para me livrar daquele
horror adolescente, respondi:
— Não, eu não tenho nenhuma droga. Não faço a menor ideia do que você
está falando.
— Tudo bem — disse ele, sugerindo rendição. — Pode pegar suas coisas e
voltar para a aula.
Ele deu uma última olhada para a mochila vazia, jogada como uma promessa
quebrada no chão de sua sala. Então, casualmente, pisou de leve na mochila, uma
última tentativa desesperada. Esperei ansiosamente que ele se levantasse e saísse,
e assim eu poderia seguir com a minha vida e esquecer aquele pesadelo. Mas o pé
dele encontrou alguma coisa.
— O que é isso? — perguntou o sr. Price, dando umas pisadinhas.
— Isso o quê?
— Ainda tem alguma coisa aqui.
Ele pegou a mochila e começou a tatear o fundo. A sala ficou embaçada aos
meus olhos; tudo ao redor oscilava.
Eu era inteligente, quando jovem. Era simpático. Mas também era um idiota.
Digo isso no sentido mais amoroso possível. Eu era um idiota rebelde e
mentiroso, irritado e cheio de ressentimento. Aos doze anos, modifiquei o
sistema de segurança da minha casa usando ímãs de geladeira para sair
escondido à noite. Meu amigo e eu colocávamos o carro da mãe dele em ponto
morto e o empurrávamos até a rua para dirigir por aí sem acordá-la. Eu escrevia
redações defendendo o aborto porque sabia que a professora de inglês era uma
fanática religiosa. Outro amigo e eu roubávamos cigarros da mãe dele e os
vendíamos atrás da escola.
Eu abri um compartimento secreto no fundo da minha mochila para esconder
maconha.
Foi esse compartimento que o sr. Price encontrou depois de pisar na minha
droga escondida. Eu tinha mentido. E, como prometeu, o sr. Price não pegou
leve comigo. Algumas horas depois, como todo bom adolescente de treze anos
algemado no banco traseiro de uma viatura policial, eu achava que a minha vida
tinha acabado.