Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
— Isso é o que vamos ver — disse ele.
Então ele voltou a atenção para minha mochila, que aparentemente tinha cem
bolsos, cada qual com os objetos adolescentes mais bobos: canetas coloridas,
bilhetinhos passados durante a aula, CDs do começo dos anos 1990 com a
caixinha rachada, marcadores secos, um velho bloco de desenho sem metade das
páginas, inutilidades, poeira e fiapos acumulados durante toda uma existência
enlouquecedoramente monótona no ensino fundamental.
Meu suor devia estar jorrando à velocidade da luz, e o tempo se prolongava e
se dilatava de tal forma que os poucos segundos naquele relógio da aula de
biologia tinham se transformado em éons. Cada minuto suficiente para crescer,
envelhecer e morrer. Somente eu, o sr. Price e minha mochila sem fundo.
Em algum momento da era Mesolítica, o sr. Price terminou de revistar a
mochila. Sem ter encontrado nada, parecia nervoso. Virou a mochila de cabeça
para baixo, deixando cair tudo no chão, e começou a suar tanto quanto eu, só
que, se no meu caso era pavor, o que ele sentia era raiva.
— Nada de drogas hoje, hein? — Ele tentou parecer casual.
— Não. — Eu tentei também.
Ele espalhou minhas coisas, separando cada item e os reunindo em pequenas
pilhas ao lado do meu uniforme de educação física. Meu casaco e minha mochila
estavam agora esvaziados e murchos em seu colo. Ele suspirou e olhou para a
parede. Como todo bom adolescente de treze anos trancado numa sala com um
homem que acabou de jogar suas coisas no chão furiosamente, eu queria chorar.
O sr. Price analisou os itens espalhados. Nada ilícito ou ilegal, nenhum
narcótico, nem mesmo algo que infringisse as regras da escola. Ele suspirou e,
depois, jogou no chão também o casaco e a mochila. Então se inclinou e apoiou
os cotovelos nos joelhos, o rosto na altura do meu.
— Mark, vou lhe dar uma última chance de ser sincero comigo. Se você for
sincero, vai ser muito melhor para você. Se estiver mentindo, vai ser muito pior.
Como se ouvisse a minha deixa, engoli em seco.
— Agora, diga a verdade — exigiu o sr. Price. — Você trouxe drogas para a
escola hoje?
Tentando conter as lágrimas, os gritos querendo escapar pela garganta,