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campos da psicologia e da antropologia, ao mesmo tempo fazendo profundas
afirmações filosóficas que continuam relevantes hoje em dia.
A negação da morte defende dois pontos:
1. Os seres humanos são os únicos animais capazes de formar conceitos e pensar
sobre si mesmos de maneira abstrata. Cachorros não ficam se preocupando
com a carreira. Gatos não pensam em seus erros do passado nem se
perguntam o que teria acontecido se tivessem feito algo diferente. Macacos
não discutem as possibilidades do futuro, assim como peixes não ficam por aí
questionando se os outros peixes gostariam mais deles caso tivessem
barbatanas mais longas.
Nós, humanos, somos abençoados com a capacidade de nos imaginar em
situações hipotéticas, contemplar tanto passado quanto futuro, imaginar
outras realidades ou situações em que as coisas poderiam ser diferentes. E é
por causa dessa habilidade mental única, diz Becker, que todos nós, em algum
momento, tomamos conhecimento da inevitabilidade da própria morte.
Como somos capazes de imaginar versões alternativas da realidade, também
somos a única espécie que consegue imaginar uma realidade da qual não
fazemos parte.
Essa percepção causa o que Becker chama de “pavor da morte”, uma
profunda ansiedade existencial que serve de base para tudo que pensamos e
fazemos.
2. O segundo ponto de Becker começa com a premissa de que temos dois “eus”.
O primeiro é o eu físico — aquele que come, dorme, ronca e faz cocô. O
segundo é o eu conceitual — a nossa identidade, ou a forma como nos vemos.
O argumento de Becker é o seguinte: todos sabemos que o eu físico vai
acabar morrendo e que a morte é inevitável, e essa inevitabilidade — em
algum nível inconsciente — nos mata de medo. Portanto, para compensar o
medo da inevitável perda do eu físico, tentamos construir um eu conceitual,
que viverá para sempre. É por isso que as pessoas se esforçam tanto para
colocar seu nome em prédios, estátuas e lombadas de livros. É por isso que