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A-Sutil-Arte-de-Ligar-o-Foda-se-Mark-Manson

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Levei doze horas para me permitir chorar. Estava no carro, voltando para casa

em Austin na manhã seguinte. Telefonei para meu pai e disse que ainda estava

perto de Dallas e que ia faltar ao trabalho. (Eu estava trabalhando para ele

naquele verão.)

— Por quê? — perguntou ele. — O que aconteceu? Está tudo bem?

E foi aí que começou: o choro. Urros, gritos e muco escorrendo. Parei o carro

no acostamento, agarrei o celular e chorei como um menininho chora no colo do

pai.

Entrei em depressão profunda naquele verão. Eu achava que já estivera

deprimido antes, mas aquele era um nível completamente novo de falta de

significado — uma tristeza tão profunda que causava dor física. As pessoas

vinham me visitar na esperança de animar a situação, mas eu simplesmente

ficava lá sentado e as ouvia, dizendo e fazendo todas as coisas certas. Agradecia

por tudo, dizendo que tinha sido muito legal da parte delas terem vindo, fingia

um sorriso, mentia e dizia que estava melhorando, mas por dentro não sentia

nada.

Durante alguns meses, eu sonhei com Josh. Nesses sonhos, eu e ele tínhamos

longas conversas sobre a vida e a morte, e também sobre coisas aleatórias inúteis.

Até aquele ponto da minha vida, eu tinha sido um típico garoto maconheiro de

classe média: preguiçoso, irresponsável, socialmente ansioso e profundamente

inseguro. Josh, em vários sentidos, era alguém que eu admirava. Era mais velho,

mais confiante, mais experiente e mais tolerante e aberto para o mundo ao seu

redor. Em um dos meus últimos sonhos com ele, nós estávamos em uma Jacuzzi

(eu sei, estranho), e falei algo do tipo: “Sinto muito por você ter morrido.” Ele riu.

Não me lembro exatamente quais foram as palavras, mas ele falou algo como:

“Por que você se importa por eu ter morrido se ainda tem tanto medo de viver?”

Acordei chorando.

Eu estava sentado no sofá da minha mãe naquele verão, olhando para o nada,

contemplando o interminável e incompreensível vazio onde antes ficava a

amizade com Josh, quando tive a chocante percepção de que, se não havia

motivo para fazer qualquer coisa, também não havia motivo para não fazer.

Percebi que em face da inevitabilidade da morte não existe motivo algum para

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