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feliz por ter passado pelas tragédias da guerra. Muitos ainda sofriam com as
cicatrizes emocionais. Alguns, no entanto, tinham conseguido canalizá-las para
uma transformação pessoal positiva e poderosa.
E eles não estão sozinhos nessa inversão. Para muitas pessoas, as maiores
realizações decorrem das maiores adversidades. Em geral, nosso sofrimento nos
torna mais fortes, mais resistentes, mais equilibrados. Muitos sobreviventes do
câncer, por exemplo, dizem se sentir mais fortes e gratos depois de vencer a
batalha pela vida. Muitos militares relatam uma resistência mental obtida ao
tolerar o ambiente de uma zona de conflito.
Dabrowski argumenta que nem sempre o medo, a ansiedade e a tristeza são
estados de espírito indesejáveis ou inúteis. Pelo contrário: com frequência
representam a dor necessária ao amadurecimento. Negar essa dor é negar nosso
potencial. Assim como a dor muscular é necessária para fortalecer o corpo, a dor
emocional é imprescindível se quisermos desenvolver resistência emocional, um
senso mais agudo de identidade, mais compaixão e, em última instância, ter uma
vida melhor.
Em perspectiva, as mudanças pessoais mais radicais acontecem depois das
piores experiências. Só em face a uma dor intensa nos dispomos a reavaliar
nossos valores e examinar suas falhas. Precisamos de algum tipo de crise
existencial para analisar de forma objetiva a fonte do significado que damos à
vida, e só depois considerar uma mudança de curso.
Qualquer um pode chamar isso de “fundo do poço” ou “crise existencial”. Eu
prefiro chamar de “tempestade de merda”. Escolha o que achar melhor.
E talvez você esteja diante desse cenário neste exato momento. Talvez esteja
saindo agora mesmo do desafio mais importante da sua vida e se sinta
desnorteado porque tudo que considerava verdadeiro, normal e bom se
transformou no oposto.
Isso é bom — é o ponto de partida. Repetindo: a dor faz parte do processo. É
importante senti-la. Porque se você só corre atrás de euforias o tempo todo para
encobrir a dor, deleita-se em arrogância e em pensamentos positivos delirantes,
continua abusando de substâncias químicas ou exagerando a frequência de
determinadas atividades, nunca terá motivação para mudar.