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limitada de felicidade. Eles podem ser úteis quando buscamos benefícios rápidos
e de curto prazo, mas são uma droga como guias para uma trajetória de vida
num sentido mais amplo.
Picasso foi prolífico por toda a vida. Viveu mais de noventa anos e continuou
a produzir praticamente até morrer. Se seu objetivo fosse “ficar famoso”,
“enriquecer com arte” ou “alcançar a marca de mil quadros”, ele teria estagnado
em algum momento. Teria sido dominado pela ansiedade ou pela insegurança.
Provavelmente não teria se aprimorado e inovado em sua arte, como fez década
após década.
O sucesso de Picasso é explicado pela mesma coisa que explica por que ele, já
velho, gostava de desenhar em guardanapos quando sentado sozinho num café.
Seu valor de vida principal era simples, humilde e interminável: “me expressar de
forma honesta”. Por isso aquele guardanapo era tão valioso.
Dor faz parte do processo
Na década de 1950, um psicólogo polonês chamado Kazimierz Dabrowski
estudou os sobreviventes da Segunda Guerra Mundial e seus diferentes modos de
lidar com as experiências traumáticas que tinham vivido na guerra. O cenário em
questão era a Polônia, então pode imaginar uns eventos bem terríveis. Aquelas
pessoas haviam sofrido ou testemunhado fome, bombardeios que transformaram
cidades em ruínas, o Holocausto, tortura de prisioneiros de guerra, estupro e/ou
assassinato de parentes — se não pelos nazistas, pelos soviéticos, anos depois.
Nesse estudo, Dabrowski notou algo surpreendente. Uma porcentagem
considerável dos sobreviventes acreditava que, apesar de dolorosa e traumática, a
guerra os tinha tornado pessoas melhores, mais responsáveis e, sim, até mais
felizes. Muitos se descreviam no pré-guerra como pessoas diferentes: sem
gratidão pelos entes queridos, preguiçosos, consumidos por problemas
insignificantes, julgando-se mais merecedores de tudo. Após a guerra, sentiam-se
mais confiantes, mais seguros de si, mais agradecidos e não se deixavam abalar
por trivialidades e pequenos aborrecimentos do cotidiano.
Tudo aquilo tinha sido horrível, é lógico, e nenhuma daquelas pessoas estava