AULA 2
Nesta aula trataremos sobre a Depressão e a Espiritualidade, orgnizando os temas da seguinte forma: A espiritualidade As distinções entre a religiosidade e a espiritualidade A Bíblia e a depressão
Nesta aula trataremos sobre a Depressão e a Espiritualidade, orgnizando os temas da seguinte forma:
A espiritualidade
As distinções entre a religiosidade
e a espiritualidade
A Bíblia e a depressão
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Nelson Gervoni
Aula 2
A DEPRESSÃO E A
ESPIRITUALIDADE
CONTEÚDO DA AULA
• A espiritualidade
• As distinções entre a religiosidade
e a espiritualidade
• A Bíblia e a depressão
CONVERSA INICIAL
Para iniciar conversa é bom dizer que não acreditamos que a depressão seja exclusivamente um
“problema espiritual”, como já ouvimos pessoas afirmarem, muito menos que ela seja
consequência direta de alguma prática pecaminosa. Como vimos na Aula 1, a depressão é uma
soma de fatores genéticos, biológicos, psicológicos e sociais, e, portanto, continuaremos olhando
seus aspectos a partir dessa perspectiva.
Mas então você pode estar se perguntando: por que trataremos da questão da espiritualidade
num curso sobre a depressão, se ela não é um problema espiritual?
Vejamos isso nos tópicos a seguir.
AS DIFERENÇAS ENTRE A ESPIRITUALIDADE E A RELIGIOSIDADE
Primeiramente gostaríamos de dizer que há uma boa diferença entre o que o senso comum
religioso chama de “problemas espirituais” e as verdadeiras questões relativas à espiritualidade.
Há uma corrente religiosa que chama de “problema espiritual” tudo aquilo que considera um mal
e que seja — para esta corrente — originado de forças espirituais malignas ou demoníacas.
Quando vemos a depressão ou qualquer distúrbio mental dessa forma, impomos à pessoa um
rótulo que dificulta sua compreensão, podendo prejudicar a cura.
Outro aspecto é que precisamos compreender a espiritualidade fora do “gancho” da religiosidade.
Uma coisa é ser religioso e outra, que pode ser muito diferente, é ter a espiritualidade
desenvolvida. O que queremos dizer é que é possível desenvolver a espiritualidade sem ser
religioso, ao mesmo tempo em que dá para ser religioso com baixo nível de espiritualidade. Isso
se dá quando a prática religiosa se torna meramente mecânica, habitual, compulsiva, obrigatória
e legalista. Imagine uma pessoa que vai à missa, ao culto ou ao terreiro duas ou mais vezes por
semana, participa intensamente das atividades e até ministra os ofícios à sua comunidade
religiosa, mas está com a alma carregada de rancor por não conseguir perdoar alguém. Lembra
daquela música: “Não adianta ir à igreja rezar e fazer tudo errado”?
É bem verdade que é possível ser assíduo ao templo, ser uma pessoa ativa na religiosidade, e
com um alto nível de espiritualidade, mas uma coisa não garante a outra. Quando nos
aprimoramos nas obrigações religiosas, negligenciando a espiritualidade, nos tornamos
fanáticos.
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“Fanatismo é sempre um sinal de dúvida reprimida, o que pode se verificar na história da Igreja.
Sempre que a Igreja começa a vacilar, o estilo desvia-se para o fanático, ou surgem seitas
extremistas, porque a dúvida secreta tem que ser recalcada” (JUNG, 2015).
A BÍBLIA E A DEPRESSÃO
A Bíblia é um importante texto sobre a espiritualidade e sobre a relação do ser humano com o
Sagrado. Muitos cristãos, em especial os evangélicos, dirão que a Bíblia é muito mais que isso,
por ser a própria palavra de Deus, mas considerando que esse curso alcança pessoas de
diversas religiões, procuraremos tratá-la do ponto de vista geral, mas considerando-a como uma
valiosíssima fonte de ensinamentos espirituais.
A palavra depressão não aparece na Bíblia, entretanto, sua ideia pode ser compreendida em
alguns de seus textos. Por exemplo, nos salmos 43, 69, 88 e 102. Os salmos eram canções
entoadas nas reuniões dos judeus, que estão na Bíblia e são preservados pelos cristãos e lidos
ou cantados nas missas e nos cultos. Não vamos transcrever todos esses textos aqui, mas no
primeiro verso do salmo 69 o salmista diz: Livra-me, ó Deus, pois as águas entraram até à minha
alma. No verso 3 do salmo 68 o autor lamenta: “... a minha alma está cheia de angústia, e a minha
vida se aproxima da sepultura”. Numa das clássicas queixas do rei Davi, autor de vários salmos,
ele conversa com seu self da seguinte forma:
Por que estás abatida, ó minha alma? E por que te perturbas
dentro de mim? Espera em Deus, pois ainda o louvarei, o
qual é a salvação da minha face e Deus meu. (Salmos 43.5)
Em outros pontos da Bíblia parece que Jó, Moisés, Jonas, Pedro e toda a nação de Israel
experimentaram depressão. O profeta Jeremias escreveu um livro inteiro de lamentações.
Elias viu o imenso poder de Deus em operação no Monte Carmelo, mas quando Jezabel
ameaçou matá-lo, ele fugiu para o deserto onde deixou se abater pelo desespero. Ele queria
morrer e poderia ter feito isso, se não fosse o “tratamento” recebido de um anjo enviado por
Deus (COLLINS, 1985).
O próprio Jesus teve momentos depressivos. É dele a frase “Minha alma está profundamente
triste até à morte” (Evangelho de Marcos 14.34), expressada dolorosamente às vésperas de sua
crucificação. Em outras palavras, ele quis dizer assim: Meu estado psicológico é de pavor e
tristeza, a ponto de morrer.
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Mas a notícia muito boa é que todos os personagens da Bíblia que manifestaram seus estados
depressivos, com a franqueza de um espírito aberto, experimentaram depois um estado de
esperança e alívio.
CONCLUSÃO
O bom exercício da espiritualidade tem sido um grande aliado em situações de depressão e
ansiedade. A espiritualidade envolve muitas coisas, que começam com uma ligação profunda —
bem estabelecida — entre o ser humano e algo que está, ao mesmo tempo, nele e acima dele. Na
verdade, esse elo já existe, bastando ser retomado em cada um de nós.
É comum ouvirmos que as nossas relações são interpessoais (quando nos relacionamos uns
com os outros) e intrapessoais (quando nos relacionamos conosco mesmos), mas pouco ou
quase nada se fala sobre a importância da relação transpessoal, que é justamente a ligação com
um ser maior que, repetindo, está ao mesmo tempo em nós e além de nós. Uns chamam esse ser
de Deus, outros de Senhor, Universo, Mente Infinita etc., mas não vamos os deter aqui na
nomenclatura, pois isso não está entre os objetivos do nosso curso.
As formas de se fazer essa ligação são as mais diversas como oração, meditação, relaxamento,
adoração, contemplação, jejum, celebração e uma infinidade de práticas que nutrem a alma
humana. Mas é bom se lembrar que essas são práticas de liberdade, e não de aprisionamento. Ou
seja, devem ser exercidas com o espírito livre, leve e solto; não podem se transformar em
obrigações religiosas ou legalistas, pois é aí que a espiritualidade se torna meramente religião.
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