10.04.2020 Views

Inteligencia-emocional-Daniel-Goleman

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

dinheiro da nossa merenda, tomava nossa bicicleta, preferia

bater a conversar conosco. Era o arruaceiro clássico, partindo

para a briga à menor provocação, ou sem que houvesse

qualquer provocação. Todos tínhamos medo dele — e nos

mantínhamos a distância. Todos o detestavam e temiam;

ninguém queria brincar com ele. Era como se houvesse, por

onde quer que ele andasse no pátio, um invisível guarda-costas

que afastava as crianças da frente dele.

Garotos como Jimmy são visivelmente problemáticos. Mas o

que talvez não seja tão óbvio é que uma agressividade tão

flagrante na infância é sinal de que, no futuro, esses garotos

problemáticos sofrerão perturbações emocionais e de outra

ordem. Jimmy já estava preso por agressão aos 16 anos.

O que a agressividade na infância lega para o resto da vida

de garotos como Jimmy consta de muitos estudos.11 Como

vimos, a vida em família dessas crianças agressivas inclui,

normalmente, pais que alternam abandono com castigos severos

e arbitrários, um comportamento que, talvez

compreensivelmente, torna a criança meio paranóica ou

belicosa.

Nem todas as crianças raivosas são brigonas; algumas são

marginalizados sociais retraídos, que reagem com exagero às

provocações ou ao que consideram ser ofensa ou injustiça. Mas

uma falha de percepção comum a essas crianças agressivas é

que elas vêem pequenas ofensas onde não há intenção,

imaginando que os colegas lhe são mais hostis do que na

verdade são. Isso as leva a interpretar atos insignificantes como

ameaças — um inocente esbarro é visto como uma provocação

— e a contra-atacar. Isso, claro, faz com que as outras crianças

as evitem, tornando-as ainda mais isoladas. Essas crianças

zangadas, isoladas, são muitíssimo sensíveis a injustiças e a

tratamentos que não sejam isentos. Em geral, se sentem como

vítimas e podem citar uma série de circunstâncias em que, por

exemplo, os professores as culparam por terem feito algo que

de fato não fizeram. Outra característica dessas crianças é que,

uma vez no calor da raiva, só pensam num modo de reagir: na

porrada.

Essa percepção distorcida pode ser constatada através de

experimentos laboratoriais, em que os brigões são emparelhados

com crianças mais pacíficas, numa sessão de vídeos. Num dos

vídeos, um garoto deixa cair os livros quando outro esbarra nele,

e as crianças em redor riem; o garoto que deixou cair os livros

se zanga e tenta bater num dos que riram. No comentário sobre

o filme, o brigão acha que o garoto que bateu estava certo. Mais

revelador ainda, quando têm de classificar a agressividade dos

garotos durante a discussão sobre o filme, os brigões consideram

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!