Inteligencia-emocional-Daniel-Goleman

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A APLICAÇÃO DA INTELIGÊNCIA EMOCIONALNA ASSISTÊNCIA CLÍNICANo dia em que um checkup de rotina detectou sangue emminha urina, meu médico me mandou fazer um exame em queme injetaram uma tintura radiativa. Fiquei deitado numa mesa,enquanto uma máquina de raios X produzia sucessivas imagensdo avanço da tintura pelos meus rins e bexiga. Eu tinhacompanhia no exame: um amigo íntimo, médico, por acasoestava na cidade por alguns dias e ofereceu-se para ir aohospital comigo. Ficou sentado na sala enquanto a máquina deraios X, num trilho automático, rodava em busca de novosângulos de câmera, zumbia e soltava estalidos; zumbia e soltavaestalidos.O exame levou uma hora e meia. No finalzinho, umnefrologista entrou correndo na sala, apresentou-se às pressas esaiu com as chapas. Não voltou para me dizer o que elasmostravam.Quando estávamos saindo da sala de exames, meu amigo eeu passamos pelo nefrologista. Sentindo-me abalado e um poucotonto por causa do exame, não tive a presença de espírito defazer a única pergunta que permanecera em minha cabeçadurante toda a manhã. Mas meu companheiro, o médico, fez:— Doutor — disse —, o pai de meu amigo morreu decâncer na bexiga. Ele está ansioso para saber se o senhor viualgum sinal de câncer nas chapas.— Nada de anormal — foi a sucinta resposta do nefrologista,que corria para seu próximo compromisso.Minha incapacidade de perguntar o que mais me importavaacontece mil vezes por dia em hospitais e clínicas por todaparte. Um estudo de pacientes em salas de espera constatouque cada um tinha uma média de três ou mais perguntas afazer ao médico. Mas quando saíam do consultório, uma médiade apenas uma e meia dessas perguntas fora respondida.47 Essaconstatação revela uma das muitas formas como as necessidadesemocionais dos pacientes ficam sem atendimento pela medicinamoderna. Perguntas não respondidas alimentam incerteza, medo,catastrofização. E levam os pacientes a não seguiremprescrições que não entendem plenamente.Há muitas formas de a medicina expandir sua concepção arespeito do que é saúde, para nela incluir a vivência afetiva dadoença. Por exemplo, os pacientes poderiam receber, de formarotineira, informações essenciais para os cuidados que terãoconsigo mesmos; há hoje programas de computador quepermitem a qualquer pessoa acessar a literatura médica relativaa doenças específicas, o que possibilita que os pacientes fiquem

em igualdade de condições com os seus médicos e que,portanto, tomem decisões com base em informação científica.48Outra abordagem são os programas que, em poucos minutos,ensinam aos pacientes a serem mais eficazes nas perguntas quefarão aos médicos, para que, quando tiverem três perguntas afazer, saiam do consultório com três respostas.49Os momentos em que os pacientes enfrentam uma cirurgiaou exames invasivos e dolorosos são de muita ansiedade — euma oportunidade ideal para lidar com a dimensão emocional.Alguns hospitais têm criado instruções pré-cirurgia que os ajudaa aliviar seus temores e lidar com seus desconfortos — porexemplo, ensinando aos pacientes técnicas de relaxamento,respondendo a suas perguntas muito antes da cirurgia e dizendolhesvários dias antes o que provavelmente sentirão durante arecuperação. Resultado: os pacientes recuperam-se da cirurgianuma média de dois a três dias antes do previsto.50Ser paciente num hospital é uma experiênciatremendamente solitária e de desamparo. Mas alguns hospitais jácomeçaram a projetar quartos onde membros da família podemficar com os pacientes, cozinhando e cuidando deles como ofariam em casa — um passo progressista que, ironicamente, érotina em todo o Terceiro Mundo.51O exercício de relaxamento ajuda os pacientes a lidar comparte da angústia que trazem os sintomas, e também com asemoções que podem estar provocando ou exacerbando essessintomas. Um modelo exemplar é a Clínica de Redução daTensão de Jon Kabat-Zinn, no Centro Médico da Universidade deMassachusetts, que oferece aos pacientes um curso de doismeses e meio de meditação e ioga; a ênfase é na tomada deconsciência dos episódios emocionais à medida que ocorrem, eno cultivo de uma prática diária que proporciona profundorelaxamento. Os hospitais produziram vídeos do curso quepodem ser vistos pelos pacientes — uma dieta emocional muitomelhor para os acamados que a gororoba habitual dastelenovelas.52Relaxamento e ioga também fazem parte do programainovador para o tratamento de doenças cardíacas criado peloDr. Dean Ornish.53 Após um ano desse programa, que incluíauma dieta pobre em gordura, os pacientes com problemacardíaco severo o suficiente para merecer uma ponte de safenana verdade revertiam a acumulação das placas que obstruíamas artérias. Ornish diz que o curso de relaxamento é uma daspartes mais importantes do programa. Como o de Kabat-Zinn,aproveita o que o Dr. Herbert Benson chama de “resposta derelaxamento”, o oposto fisiológico da estimulação da tensão quecontribui para um amplo espectro de problemas clínicos.

em igualdade de condições com os seus médicos e que,

portanto, tomem decisões com base em informação científica.48

Outra abordagem são os programas que, em poucos minutos,

ensinam aos pacientes a serem mais eficazes nas perguntas que

farão aos médicos, para que, quando tiverem três perguntas a

fazer, saiam do consultório com três respostas.49

Os momentos em que os pacientes enfrentam uma cirurgia

ou exames invasivos e dolorosos são de muita ansiedade — e

uma oportunidade ideal para lidar com a dimensão emocional.

Alguns hospitais têm criado instruções pré-cirurgia que os ajuda

a aliviar seus temores e lidar com seus desconfortos — por

exemplo, ensinando aos pacientes técnicas de relaxamento,

respondendo a suas perguntas muito antes da cirurgia e dizendolhes

vários dias antes o que provavelmente sentirão durante a

recuperação. Resultado: os pacientes recuperam-se da cirurgia

numa média de dois a três dias antes do previsto.50

Ser paciente num hospital é uma experiência

tremendamente solitária e de desamparo. Mas alguns hospitais já

começaram a projetar quartos onde membros da família podem

ficar com os pacientes, cozinhando e cuidando deles como o

fariam em casa — um passo progressista que, ironicamente, é

rotina em todo o Terceiro Mundo.51

O exercício de relaxamento ajuda os pacientes a lidar com

parte da angústia que trazem os sintomas, e também com as

emoções que podem estar provocando ou exacerbando esses

sintomas. Um modelo exemplar é a Clínica de Redução da

Tensão de Jon Kabat-Zinn, no Centro Médico da Universidade de

Massachusetts, que oferece aos pacientes um curso de dois

meses e meio de meditação e ioga; a ênfase é na tomada de

consciência dos episódios emocionais à medida que ocorrem, e

no cultivo de uma prática diária que proporciona profundo

relaxamento. Os hospitais produziram vídeos do curso que

podem ser vistos pelos pacientes — uma dieta emocional muito

melhor para os acamados que a gororoba habitual das

telenovelas.52

Relaxamento e ioga também fazem parte do programa

inovador para o tratamento de doenças cardíacas criado pelo

Dr. Dean Ornish.53 Após um ano desse programa, que incluía

uma dieta pobre em gordura, os pacientes com problema

cardíaco severo o suficiente para merecer uma ponte de safena

na verdade revertiam a acumulação das placas que obstruíam

as artérias. Ornish diz que o curso de relaxamento é uma das

partes mais importantes do programa. Como o de Kabat-Zinn,

aproveita o que o Dr. Herbert Benson chama de “resposta de

relaxamento”, o oposto fisiológico da estimulação da tensão que

contribui para um amplo espectro de problemas clínicos.

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