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Inteligencia-emocional-Daniel-Goleman

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poucos meses de vida. Ela estava, compreensivelmente,

deprimida — tanto que, sempre que ia ao oncologista,

a certa altura caía em prantos. Reação do médico a

cada consulta: pedir-lhe que deixasse imediatamente o

consultório.

Deixando de lado a lamentável frieza do oncologista, era

importante, do ponto de vista clínico, o fato de ele não querer

lidar com a tristeza da paciente? Quando uma doença se torna

tão virulenta, é improvável que qualquer emoção tenha algum

efeito considerável sobre o seu progresso. Embora a depressão

dessa mulher, com toda a certeza, tenha obscurecido a

qualidade de seus últimos meses de vida, os indícios clínicos de

que a melancolia possa afetar o curso do câncer ainda são

contraditórios.29 Mas, afora o câncer, alguns estudos sugerem

que a depressão exerce influência em muitos outros males

encontrados na clínica médica, sobretudo no agravamento de

uma doença, depois de iniciada. É cada vez maior o número de

indícios que demonstram que, para pacientes com doenças

sérias e deprimidos, seria útil, em termos clínicos, tratar

também da depressão.

O complicador trazido pelo tratamento da depressão na

clínica médica é que os seus sintomas, que incluem a perda de

apetite e a letargia, são facilmente confundíveis com sintomas de

outras doenças, sobretudo por médicos com pouca formação em

diagnose psiquiátrica. Essa incapacidade de diagnosticar a

depressão pode, por si só, agravar o problema, pois significa

que a depressão de um paciente — como a da paciente de

câncer no seio que chorava — passa despercebida e não é

tratada. E a ausência do diagnóstico e do tratamento pode

aumentar o risco de morte em doenças graves.

Por exemplo, de 100 pacientes que receberam transplantes

de medula óssea, 12 dos 13 que estavam deprimidos morreram

no primeiro ano após a cirurgia, enquanto 34 dos 87 restantes

continuavam vivos dois anos depois.30 E em pacientes com

insuficiência renal crônica que faziam hemodiálise, era mais

provável que aqueles com depressão severa diagnosticada

morressem nos dois anos seguintes; a depressão era um fator de

previsão de morte mais forte que qualquer outro sintoma

clínico.31 No caso, a rota que ligava emoção à condição clínica

não era biológica, mas comportamental: os pacientes

deprimidos não obedeciam às prescrições médicas —

trapaceavam nas dietas, por exemplo, o que os punha sob

maior risco.

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