Inteligencia-emocional-Daniel-Goleman

10.04.2020 Views

entendidos.7Quando a Raiva é SuicidaAlgum tempo atrás, diz o homem, uma batida nalateral de seu carro o levou a uma longa e frustrantejornada. Após percorrer a interminável burocracia daempresa de seguro e oficinas que causaram mais danosao carro, ainda teve de arcar com uma despesa de 800dólares. E nem fora culpa dele. Ficou tão chateado quesempre que entrava no carro sentia repugnância.Acabou vendendo-o, frustrado. Anos depois, essaslembranças ainda o deixavam lívido de indignação.Essa amarga lembrança foi evocada propositalmente, comoparte de um estudo sobre a raiva em cardiopatas, na Faculdadede Medicina da Universidade de Stanford. Todos os pacientesobjeto da pesquisa tinham, como aquele homem rancoroso,sofrido um ataque cardíaco, e o que o estudo pretendia eraidentificar se a raiva teria, de alguma forma, causado umimpacto significativo sobre suas funções cardíacas. O resultadofoi impressionante: à medida que essas pessoas iam narrandofatos que os haviam aborrecido, a eficácia do bombeamento docoração caía 5%.8 Alguns dos pacientes tiveram uma queda deeficiência de 7% ou mais — uma faixa que os cardiologistasconsideram como um sinal de isquemia miocárdica, umaperigosa queda no fluxo do sangue para o próprio coração.A queda na eficiência de bombeamento não se verificou emoutros tipos de sentimento desagradáveis, como na ansiedade,nem durante esforços físicos; a raiva parece ser a espécie deemoção que mais mal faz ao coração. Ao evocarem o incidenteperturbador, os pacientes disseram que estavam sentindo menosraiva do que haviam sentido quando a coisa acontecera, o quesugere que seus corações teriam sido ainda mais obstruídos numacontecimento verdadeiramente enfurecedor.Essa constatação é parte de uma rede maior de indícios, quesurgem de dezenas de estudos que demonstram como é nocivo,para o funcionamento do coração, o sentimento da raiva.9 Nãomais vigora a antiga idéia de que uma personalidade Tipo A,afobada e com pressão alta, corre grande risco de doençacardíaca, mas dessa teoria abandonada emergiu uma novaconstatação: o rancor é que é prejudicial à saúde.Grande parte dos dados sobre o rancor veio de uma pesquisafeita pelo Dr. Redford Williams na Universidade Duke.10 Por

exemplo, ele descobriu, a partir de avaliação de rancor emestudantes de medicina, que aqueles com maior índice dehostilidade à época de estudantes tinham sete vezes maiorprobabilidade de morte aos 50 anos quando comparados acolegas com menor índice de hostilidade — essa tendênciaconstituiu-se num previsor de morte ainda jovem, mais forte queoutros fatores de risco como fumar, pressão sanguínea alta ecolesterol alto. E descobertas de um colega, o Dr. John Barefoot,da Universidade da Carolina do Norte, mostram que nospacientes cardíacos submetidos à angiografia, quando um tubo éinserido na artéria coronária para medir lesões, as contagens emtestes de rancor se correlacionam com a extensão e severidadeda doença coronária.Claro, ninguém está dizendo que a raiva, por si só, causadoença na artéria coronária; é apenas um entre vários fatoresinteragentes. Como explica Peter Kaufman, diretor em exercíciodo Setor de Medicina Comportamental do Instituto do Coração,Pulmão e Sangue:— Ainda não podemos saber se a raiva e o rancordesempenham um papel causal no desenvolvimento precoce dedoença na artéria coronária, ou se a intensificam, uma veziniciada a doença cardíaca, ou as duas coisas juntas. Masconsidere um jovem de 20 anos que sempre se aborrece. Cadaepisódio de raiva acrescenta um estresse extra ao coração,aumentando o ritmo cardíaco e a pressão do sangue. Quandoisso se repete continuamente, pode causar dano — sobretudoporque a turbulência do sangue correndo pela artéria coronária,a cada batida, pode causar microlesões no vaso, onde seformam placas. Se seu ritmo cardíaco é mais rápido e apressão do sangue mais alta porque você vive habitualmenteaborrecido, em trinta anos isso pode levar a uma mais rápidaformação de placas e, portanto, a uma doença na artériacoronária.11Assim que surge a doença, os mecanismos disparados pelaraiva afetam a própria eficiência do bombeamento cardíaco,como foi mostrado no estudo de evocação de momentos deraiva em pacientes cardíacos. O resultado é que o sentimento deraiva torna-se particularmente letal nos que são cardiopatas. Umestudo realizado na Faculdade de Medicina de Stanford, com1.012 homens e mulheres que haviam sofrido um primeiroataque cardíaco e que foram observados, durante oito anos,mostrou que entre homens mais agressivos e hostis, no início,houve maior incidência de outro ataque cardíaco.12 Resultadossemelhantes foram obtidos num estudo da Faculdade de Medicinade Yale, com 929 homens que haviam sobrevivido a ataquescardíacos e foram acompanhados durante dez anos.13 Aqueles

entendidos.7

Quando a Raiva é Suicida

Algum tempo atrás, diz o homem, uma batida na

lateral de seu carro o levou a uma longa e frustrante

jornada. Após percorrer a interminável burocracia da

empresa de seguro e oficinas que causaram mais danos

ao carro, ainda teve de arcar com uma despesa de 800

dólares. E nem fora culpa dele. Ficou tão chateado que

sempre que entrava no carro sentia repugnância.

Acabou vendendo-o, frustrado. Anos depois, essas

lembranças ainda o deixavam lívido de indignação.

Essa amarga lembrança foi evocada propositalmente, como

parte de um estudo sobre a raiva em cardiopatas, na Faculdade

de Medicina da Universidade de Stanford. Todos os pacientes

objeto da pesquisa tinham, como aquele homem rancoroso,

sofrido um ataque cardíaco, e o que o estudo pretendia era

identificar se a raiva teria, de alguma forma, causado um

impacto significativo sobre suas funções cardíacas. O resultado

foi impressionante: à medida que essas pessoas iam narrando

fatos que os haviam aborrecido, a eficácia do bombeamento do

coração caía 5%.8 Alguns dos pacientes tiveram uma queda de

eficiência de 7% ou mais — uma faixa que os cardiologistas

consideram como um sinal de isquemia miocárdica, uma

perigosa queda no fluxo do sangue para o próprio coração.

A queda na eficiência de bombeamento não se verificou em

outros tipos de sentimento desagradáveis, como na ansiedade,

nem durante esforços físicos; a raiva parece ser a espécie de

emoção que mais mal faz ao coração. Ao evocarem o incidente

perturbador, os pacientes disseram que estavam sentindo menos

raiva do que haviam sentido quando a coisa acontecera, o que

sugere que seus corações teriam sido ainda mais obstruídos num

acontecimento verdadeiramente enfurecedor.

Essa constatação é parte de uma rede maior de indícios, que

surgem de dezenas de estudos que demonstram como é nocivo,

para o funcionamento do coração, o sentimento da raiva.9 Não

mais vigora a antiga idéia de que uma personalidade Tipo A,

afobada e com pressão alta, corre grande risco de doença

cardíaca, mas dessa teoria abandonada emergiu uma nova

constatação: o rancor é que é prejudicial à saúde.

Grande parte dos dados sobre o rancor veio de uma pesquisa

feita pelo Dr. Redford Williams na Universidade Duke.10 Por

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