Inteligencia-emocional-Daniel-Goleman

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importante diferença de comportamento entre meninos emeninas quando a brincadeira é interrompida porque alguém semachucou. Se um menino que se machucou fica irritado,espera-se que saia e pare de chorar para que a brincadeirarecomece. Se o mesmo acontece entre as meninas, abrincadeira pára e todas se voltam para ajudar a menina quechora. Essa diversidade de comportamento na brincadeiraresume o que Carol Gilligan, de Harvard, aponta como umadesigualdade importante entre os sexos: os meninos fazemquestão de serem independentes, autônomos e durões. Asmeninas, por outro lado, se consideram como parte de uma teiade ligações. Por isso, os meninos se sentem ameaçados diante dequalquer coisa que ponha em dúvida sua independência,enquanto as meninas se sentem ameaçadas pela possibilidade deuma ruptura em seus relacionamentos. E, como observouDeborah Tannen em seu livro You Just Don’t Understand, essadiferente visão de mundo sinaliza para o que homens emulheres querem e esperam de uma conversa, onde os homensgostam de falar de “coisas” e as mulheres buscam ligaçãoafetiva.Em suma, esses contrastes no aprendizado das emoçõespromovem aptidões bastante diferentes: as meninas tornam-se“capazes de captar sinais emocionais verbais e não-verbais, deexpressar e comunicar seus sentimentos” e os meninos sãohábeis em “minimizar emoções que digam respeito avulnerabilidade, culpa, medo e dor”.7 A comprovação dessadiversidade de comportamento é muito forte na literaturacientífica. Centenas de estudos constataram, por exemplo, que amédia das mulheres é mais empática que os homens, pelomenos no que respeita à capacidade de interpretar ossentimentos não expressos de alguém através da expressãofacial, tom de voz e outros indícios não-verbais. Do mesmomodo, é geralmente mais fácil identificar os sentimentos no rostode uma mulher que no de um homem: embora não hajadiferença na expressividade facial de meninos e meninas muitopequenos, à medida que passam pela escola primária osmeninos se tornam menos expressivos, e as meninas, mais. Issopode em parte refletir outra diferença fundamental: as mulheres,em média, sentem qualquer tipo de emoção com maiorintensidade e são mais voláteis que os homens — neste aspecto,as mulheres são mais “emocionais” que os homens.8Tudo isso quer dizer que, de uma forma geral, a mulherchega ao casamento preparada para exercer o papel deadministradora das emoções, enquanto os homens se casam semesse ferramental que, enfim, será muito importante para que ocasal se mantenha unido. Na verdade, o que as mulheres — e

não os homens — consideram mais importante numrelacionamento, conforme relatado em estudo sobre 264 casais,é a sensação de que o casal tem uma “boa comunicação”.9 TedHuston, psicólogo da Universidade do Texas, após ter realizadouma profunda pesquisa sobre casais, observa:— Para as mulheres, intimidade significa discutir tudo,sobretudo a própria relação. A maioria dos homens não entendeo que as mulheres querem deles. Dizem: “Eu quero fazer coisascom ela, e ela só quer falar.”Huston constatou que, durante o namoro, os homens erammais disponíveis para uma conversa no nível de intimidaderequerido por suas futuras esposas. Mas, depois de casados, como passar do tempo — sobretudo em casais mais tradicionais —,não mais queriam ter esse tipo de conversa com as esposas,achando que a proximidade significava apenas fazer coisasjuntos, a jardinagem por exemplo, e não a discussão deproblemas.O crescente silêncio por parte dos maridos se justifica, emtermos, pelo fato — se é que podemos afirmar alguma coisa —de os homens serem mais “polianescos” em relação ao estadode seu casamento, ao passo que as mulheres ficam mais ligadasem questões problemáticas: num estudo sobre o casamento,verificou-se que os homens têm uma visão mais cor-de-rosa queas mulheres em praticamente tudo o que ocorre norelacionamento do casal — sexo, finanças, ligações comparentes do outro cônjuge, como um escuta o outro, até ondesuas falhas contam.10 As mulheres, em geral, são mais francassobre suas queixas que os maridos, sobretudo em casais infelizes.Basta combinar a visão cor-de-rosa que os homens têm docasamento com sua aversão a confrontos emocionais para queentendamos por que as mulheres tantas vezes se queixam deque os maridos tentam se esquivar da discussão sobre coisasperturbadoras no relacionamento. (Claro que essa diferençaentre sexos é uma generalização e não se aplica a qualquercaso; um amigo psiquiatra reclama de sua mulher porque elareluta em falar sobre emoções, cabendo a ele levantar esse tipode questão.)A dificuldade que os homens têm em falar sobre problemasnum relacionamento é, sem dúvida, agravada por sua relativafalta de competência para interpretar expressões faciais deemoções. As mulheres, por exemplo, são mais sensíveis a umaexpressão triste no rosto de um homem do que vice-versa.11Por isto é que a mulher tem de ficar muito triste para que ohomem possa ao menos notar seus sentimentos, e ainda muitomais triste para que ele indague da razão de sua tristeza.Há implicações nesse abismo que existe entre os homens e

não os homens — consideram mais importante num

relacionamento, conforme relatado em estudo sobre 264 casais,

é a sensação de que o casal tem uma “boa comunicação”.9 Ted

Huston, psicólogo da Universidade do Texas, após ter realizado

uma profunda pesquisa sobre casais, observa:

— Para as mulheres, intimidade significa discutir tudo,

sobretudo a própria relação. A maioria dos homens não entende

o que as mulheres querem deles. Dizem: “Eu quero fazer coisas

com ela, e ela só quer falar.”

Huston constatou que, durante o namoro, os homens eram

mais disponíveis para uma conversa no nível de intimidade

requerido por suas futuras esposas. Mas, depois de casados, com

o passar do tempo — sobretudo em casais mais tradicionais —,

não mais queriam ter esse tipo de conversa com as esposas,

achando que a proximidade significava apenas fazer coisas

juntos, a jardinagem por exemplo, e não a discussão de

problemas.

O crescente silêncio por parte dos maridos se justifica, em

termos, pelo fato — se é que podemos afirmar alguma coisa —

de os homens serem mais “polianescos” em relação ao estado

de seu casamento, ao passo que as mulheres ficam mais ligadas

em questões problemáticas: num estudo sobre o casamento,

verificou-se que os homens têm uma visão mais cor-de-rosa que

as mulheres em praticamente tudo o que ocorre no

relacionamento do casal — sexo, finanças, ligações com

parentes do outro cônjuge, como um escuta o outro, até onde

suas falhas contam.10 As mulheres, em geral, são mais francas

sobre suas queixas que os maridos, sobretudo em casais infelizes.

Basta combinar a visão cor-de-rosa que os homens têm do

casamento com sua aversão a confrontos emocionais para que

entendamos por que as mulheres tantas vezes se queixam de

que os maridos tentam se esquivar da discussão sobre coisas

perturbadoras no relacionamento. (Claro que essa diferença

entre sexos é uma generalização e não se aplica a qualquer

caso; um amigo psiquiatra reclama de sua mulher porque ela

reluta em falar sobre emoções, cabendo a ele levantar esse tipo

de questão.)

A dificuldade que os homens têm em falar sobre problemas

num relacionamento é, sem dúvida, agravada por sua relativa

falta de competência para interpretar expressões faciais de

emoções. As mulheres, por exemplo, são mais sensíveis a uma

expressão triste no rosto de um homem do que vice-versa.11

Por isto é que a mulher tem de ficar muito triste para que o

homem possa ao menos notar seus sentimentos, e ainda muito

mais triste para que ele indague da razão de sua tristeza.

Há implicações nesse abismo que existe entre os homens e

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