Inteligencia-emocional-Daniel-Goleman
moral é quando um circunstante é levado a intervir em favor deuma vítima; a pesquisa mostra que, quanto mais empatia elesentir pela vítima, maior a probabilidade de vir a intervir. Háalgum indício de que o nível de empatia que as pessoas sentemtambém afeta seus julgamentos morais. Por exemplo, estudos naAlemanha e nos Estados Unidos constataram que, quanto maisempáticas as pessoas, mais fica fortalecido, para elas, oprincípio moral segundo o qual a riqueza deva ser distribuídaconforme a necessidade de cada um.16A VIDA SEM EMPATIA: A MENTE DO MOLESTADOR, A MORAL DOSOCIOPATAEric Eckardt envolveu-se num crime infame: guarda-costas dapatinadora Tonya Harding, mandou vagabundos agrediremNancy Kerrigan, arqui-rival de Tonya pela medalha de ouro depatinação feminina nas Olimpíadas de 1994. No ataque, o joelhode Tonya foi machucado, deixando-a de fora da competiçãodurante meses de cruciais exercícios. Mas, quando Eckardt a viuchorando na televisão, teve uma súbita onda de remorso eprocurou um amigo para revelar seu segredo, iniciando aseqüência que levou à prisão dos atacantes. Tal é o poder daempatia.Mas ela está em geral, e tragicamente, ausente naqueles quecometem os crimes mais hediondos. Uma falha psicológica écomum em estupradores, molestadores de crianças e muitosperpetradores de violência familiar: são incapazes de empatia.Essa incapacidade de sentir a dor das vítimas lhes permite dizera si mesmos mentiras que justificam o seu crime. Para osestupradores, a mentira inclui “As mulheres querem mais é serestupradas” ou “Se ela resiste, é só pra bancar a difícil”; para osmolestadores: “Não estou machucando a criança, sódemonstrando amor” ou “Esta é apenas mais uma forma deafeto”; para os pais violentos: “Isso é pra aprender.” Todas essasautojustificações foram coletadas a partir do que pessoas emtratamento relatam terem dito a si mesmas quando brutalizavamsuas vítimas, ou quando estavam em vias de fazê-lo.A ausência da empatia no momento em que essas pessoasinfligem dano às vítimas é quase sempre parte de um cicloemocional que precipita seus atos cruéis. É só ver a seqüênciaemocional que, normalmente, leva a um crime sexual como,por exemplo, molestar crianças.17 O ciclo começa com omolestador sentindo-se perturbado: irado, deprimido, solitário.Esses sentimentos podem ser provocados, digamos, vendo casaisfelizes na TV, e depois sentindo-se deprimido por estar só. Omolestador, então, busca consolo numa fantasia de sua
preferência, em geral sobre uma cálida amizade com umacriança; a fantasia torna-se sexual e acaba em masturbação.Depois, o molestador sente um alívio temporário da tristeza,mas esse alívio tem vida breve; a depressão e a solidãoretornam com mais intensidade. O molestador começa a pensarem transformar a fantasia em realidade, dando a si mesmojustificativas do tipo “Não estou fazendo nenhum mal de fato sea criança não for psicologicamente atingida” e “Se uma criançanão quisesse mesmo fazer sexo comigo, ela pararia”.Nessa altura, o molestador está vendo a criança pela lente dafantasia pervertida, sem empatia pelo que uma criança de fatosentiria na situação. Esse desligamento emocional caracterizatudo que vem a seguir, desde o resultante plano de pegar acriança sozinha até o cuidadoso ensaio do que vai acontecer e aexecução do plano. Tudo se segue como se a criança envolvidanão tivesse sentimentos próprios; ao contrário, o molestadorprojeta nela a atitude cooperativa da criança de sua fantasia. Ossentimentos dela — repulsa, medo, nojo — não são registrados.Se fossem, “estragariam” tudo para o molestador.Essa absoluta falta de empatia pelas vítimas é um dosprincipais focos de novos tratamentos, em vias de elaboração,para molestadores de crianças e outros criminosos do gênero.Num dos mais promissores programas de tratamento, oscriminosos lêem dilacerantes histórias de crimes semelhantes aosque praticaram, contadas da perspectiva da vítima. Tambémvêem videoteipes de vítimas contando, em lágrimas, o que é sermolestado. Os criminosos então escrevem sobre seu própriocrime do ponto de vista da vítima, imaginando o que ela sentiu.Lêem essa história para um grupo de terapia e tentamresponder às perguntas sobre o ataque do ponto de vista davítima. Finalmente, o criminoso passa por uma reencenaçãosimulada do crime, desta vez fazendo o papel da vítima.William Pithers, psicólogo da prisão de Vermont quedesenvolveu essa terapia de adoção da perspectiva da vítima,me disse:— A empatia com a vítima muda a percepção de tal modoque é difícil a negação da dor, mesmo em nossas fantasias.Isso reforça a motivação dos homens que desejam controlarseus impulsos sexuais perversos. Os criminosos sexuais quepassaram pelo programa na prisão tiveram apenas metade dataxa de crimes posteriores após a libertação, comparados comos que não foram submetidos a esse tratamento. Sem essamotivação inicial inspirada pela empatia, nada do resto dotratamento dará certo.Embora possa haver uma leve esperança de se instilar umsentimento de empatia em criminosos como os molestadores de
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uma vítima; a pesquisa mostra que, quanto mais empatia ele
sentir pela vítima, maior a probabilidade de vir a intervir. Há
algum indício de que o nível de empatia que as pessoas sentem
também afeta seus julgamentos morais. Por exemplo, estudos na
Alemanha e nos Estados Unidos constataram que, quanto mais
empáticas as pessoas, mais fica fortalecido, para elas, o
princípio moral segundo o qual a riqueza deva ser distribuída
conforme a necessidade de cada um.16
A VIDA SEM EMPATIA: A MENTE DO MOLESTADOR, A MORAL DO
SOCIOPATA
Eric Eckardt envolveu-se num crime infame: guarda-costas da
patinadora Tonya Harding, mandou vagabundos agredirem
Nancy Kerrigan, arqui-rival de Tonya pela medalha de ouro de
patinação feminina nas Olimpíadas de 1994. No ataque, o joelho
de Tonya foi machucado, deixando-a de fora da competição
durante meses de cruciais exercícios. Mas, quando Eckardt a viu
chorando na televisão, teve uma súbita onda de remorso e
procurou um amigo para revelar seu segredo, iniciando a
seqüência que levou à prisão dos atacantes. Tal é o poder da
empatia.
Mas ela está em geral, e tragicamente, ausente naqueles que
cometem os crimes mais hediondos. Uma falha psicológica é
comum em estupradores, molestadores de crianças e muitos
perpetradores de violência familiar: são incapazes de empatia.
Essa incapacidade de sentir a dor das vítimas lhes permite dizer
a si mesmos mentiras que justificam o seu crime. Para os
estupradores, a mentira inclui “As mulheres querem mais é ser
estupradas” ou “Se ela resiste, é só pra bancar a difícil”; para os
molestadores: “Não estou machucando a criança, só
demonstrando amor” ou “Esta é apenas mais uma forma de
afeto”; para os pais violentos: “Isso é pra aprender.” Todas essas
autojustificações foram coletadas a partir do que pessoas em
tratamento relatam terem dito a si mesmas quando brutalizavam
suas vítimas, ou quando estavam em vias de fazê-lo.
A ausência da empatia no momento em que essas pessoas
infligem dano às vítimas é quase sempre parte de um ciclo
emocional que precipita seus atos cruéis. É só ver a seqüência
emocional que, normalmente, leva a um crime sexual como,
por exemplo, molestar crianças.17 O ciclo começa com o
molestador sentindo-se perturbado: irado, deprimido, solitário.
Esses sentimentos podem ser provocados, digamos, vendo casais
felizes na TV, e depois sentindo-se deprimido por estar só. O
molestador, então, busca consolo numa fantasia de sua