Inteligencia-emocional-Daniel-Goleman

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padrão de desligamento da maioria das perturbaçõesemocionais.19 Embora, a princípio, os pesquisadores vissem osrepressores como um exemplo primordial de incapacidade desentir emoção — primos dos alexitímicos, talvez —, opensamento atual é que esse tipo de pessoa é bastantecompetente na regulação da emoção. Tornaram-se tão capazesde proteger-se contra sentimentos negativos, parece, que nemmesmo consciência têm da negatividade. Em vez de chamá-losde repressores, como ocorre entre os pesquisadores, o termomais adequado seria imperturbáveis.Grande parte dessa pesquisa, feita principalmente por DanielWeinberger, psicólogo que atualmente trabalha na Case WesternUniversity, mostra que embora essas pessoas pareçam calmas eimperturbáveis, às vezes fervilham de perturbações fisiológicasque ignoram. No teste de complementação de frases, o nível deestimulação fisiológica desses voluntários também estava sendomonitorado. O verniz de calma que os revestia era negado pelaagitação de seus corpos: quando, diante da frase sobre ocompanheiro de quarto violento e outras idênticas, emitiam todosos sinais de ansiedade, como taquicardia, sudorese e elevação dapressão sanguínea. Contudo, quando questionados, declararam-seperfeitamente calmos.O contínuo desligar-se de emoções como ira ou ansiedadenão é incomum: cerca de uma pessoa em seis apresenta essetipo de comportamento, segundo Weinberger. Teoricamente, ascrianças aprendem a ser imperturbáveis de várias maneiras.Uma delas é uma estratégia para sobreviver a uma situaçãoincômoda, como ter um dos pais alcoólatra numa família ondese nega o problema. Outra é ter um pai ou mãe que são elesmesmos repressores e que, por isto, passam um modelo deperene animação ou resolução diante de sentimentos aflitivos.Ou a característica pode ser simplesmente um temperamentoherdado. Embora não se possa dizer ainda como esse padrãocomeça na vida, quando os repressores atingem a idade adultasão calmos e firmes sob pressão.Permanece a questão, claro, de saber até onde eles são defato calmos e controlados. Podem realmente não ter consciênciados sinais físicos de emoções aflitivas, ou simplesmente fingemcalma? A resposta a isso veio de uma inteligente pesquisa deRichard Davidson, psicólogo da Universidade de Winsconsin ecolaborador inicial de Weinberger. Ele pediu que pessoas decomportamento imperturbável fizessem uma livre associação dedeterminadas palavras, a maioria das quais era neutra e váriascontinham significados hostis ou sexuais que normalmentecausam ansiedade nas pessoas. E, como revelaram as reaçõesfísicas dos voluntários, todos tiveram reações de ansiedade às

palavras pesadas, embora as palavras que os voluntáriosassociavam às pesadas quase sempre indicassem uma tentativade equilíbrio. Se a primeira palavra era “ódio”, a associaçãoseria “amor”.O estudo de Davidson valeu-se do fato de que — em pessoasdestras — um dos principais centros para processar a emoçãonegativa é a metade direita do cérebro, enquanto o centro dafala fica na esquerda. Assim que o hemisfério direito reconheceque uma palavra é perturbadora, transmite essa informaçãopelo corpus callosum, a grande divisão entre as metades docérebro, para o centro da fala, e a palavra é dita em resposta.Usando um complexo dispositivo de lentes, Davidson pôdeexibir uma palavra de modo que fosse vista apenas na metadedo campo visual. Devido à fiação neural do sistema visual, se aexibição da palavra era para a metade esquerda do campovisual, era reconhecida primeiro pela metade direita do cérebro,que é sensível à perturbação. Se era para a metade direita, osinal ia para o lado esquerdo do cérebro sem ser avaliadaquanto à sua perturbação.Quando as palavras eram apresentadas ao hemisfério direito,os imperturbáveis demoravam a dar uma resposta — masapenas se a palavra a que reagiam era uma das perturbadoras.Não havia atraso na velocidade com que associavam palavrasneutras. O atraso ocorria apenas quando as palavras eramapresentadas ao hemisfério direito, não ao esquerdo. Em suma, aimperturbabilidade deles parece dever-se a um mecanismoneural que torna mais lenta ou interfere na transferência dainformação perturbadora. O fato é que eles não estão fingindoque não têm consciência de que estão se sentindo perturbados: océrebro nega-lhes essa informação. Mais precisamente, a suavecamada de sentimento que recobre essas percepçõesperturbadoras talvez possa ser atribuída à atuação do lobo préfrontal.Para sua surpresa, quando Davidson mediu os níveis deatividade em seus lobos pré-frontais, eles tinham uma decididapredominância de atividade no esquerdo — centro do bem-estar— e menos no direito, centro de negatividade.Essas pessoas “apresentam-se numa luz positiva, comotimismo”, disse-me Davidson.— Negam que a tensão as esteja perturbando, e, quandoestão em repouso, apresentam um padrão de ativação frontalesquerda, associada com sentimentos positivos. Essa atividade docérebro pode ser a chave de suas afirmações positivas, apesarda subjacente estimulação fisiológica que parece perturbação.A teoria de Davidson é que, em termos de atividade docérebro, experimentar realidades angustiantes mantendo o bomhumor é uma tarefa que exige energia. A maior estimulação

palavras pesadas, embora as palavras que os voluntários

associavam às pesadas quase sempre indicassem uma tentativa

de equilíbrio. Se a primeira palavra era “ódio”, a associação

seria “amor”.

O estudo de Davidson valeu-se do fato de que — em pessoas

destras — um dos principais centros para processar a emoção

negativa é a metade direita do cérebro, enquanto o centro da

fala fica na esquerda. Assim que o hemisfério direito reconhece

que uma palavra é perturbadora, transmite essa informação

pelo corpus callosum, a grande divisão entre as metades do

cérebro, para o centro da fala, e a palavra é dita em resposta.

Usando um complexo dispositivo de lentes, Davidson pôde

exibir uma palavra de modo que fosse vista apenas na metade

do campo visual. Devido à fiação neural do sistema visual, se a

exibição da palavra era para a metade esquerda do campo

visual, era reconhecida primeiro pela metade direita do cérebro,

que é sensível à perturbação. Se era para a metade direita, o

sinal ia para o lado esquerdo do cérebro sem ser avaliada

quanto à sua perturbação.

Quando as palavras eram apresentadas ao hemisfério direito,

os imperturbáveis demoravam a dar uma resposta — mas

apenas se a palavra a que reagiam era uma das perturbadoras.

Não havia atraso na velocidade com que associavam palavras

neutras. O atraso ocorria apenas quando as palavras eram

apresentadas ao hemisfério direito, não ao esquerdo. Em suma, a

imperturbabilidade deles parece dever-se a um mecanismo

neural que torna mais lenta ou interfere na transferência da

informação perturbadora. O fato é que eles não estão fingindo

que não têm consciência de que estão se sentindo perturbados: o

cérebro nega-lhes essa informação. Mais precisamente, a suave

camada de sentimento que recobre essas percepções

perturbadoras talvez possa ser atribuída à atuação do lobo préfrontal.

Para sua surpresa, quando Davidson mediu os níveis de

atividade em seus lobos pré-frontais, eles tinham uma decidida

predominância de atividade no esquerdo — centro do bem-estar

— e menos no direito, centro de negatividade.

Essas pessoas “apresentam-se numa luz positiva, com

otimismo”, disse-me Davidson.

— Negam que a tensão as esteja perturbando, e, quando

estão em repouso, apresentam um padrão de ativação frontal

esquerda, associada com sentimentos positivos. Essa atividade do

cérebro pode ser a chave de suas afirmações positivas, apesar

da subjacente estimulação fisiológica que parece perturbação.

A teoria de Davidson é que, em termos de atividade do

cérebro, experimentar realidades angustiantes mantendo o bom

humor é uma tarefa que exige energia. A maior estimulação

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