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Gestão Hospitalar N.º 19 2020

Outcomes Research Lab: "leveraging evidence for better care" Conselhos de administração das unidades de saúde, a peça que falta na alavancagem da investigação clínica em Portugal? Ensaios clínicos: quão perto estamos da excelência? Inovação no SNS como forma de sustentabilidade Carla Nunes: Promover uma escola atual, inovadora e focada na sua missão "Mais Participação Melhor Saúde": um projeto que se saúda Relação entre os estilos de liderança e o empenho organizacional dos colaboradores Medicina doTrabalho nos estabelecimentos hospitalares do Serviço Nacional de Saúde: letra da Lei ou uma realidade observada? Reformular cuidados centrados na pessoa promovendo parcerias Proteção para o risco de gestão O equipamento médico nos hospitais públicos Estratégia Nacional para a Tele Saúde, apresentação do PENTS: uma festa Que futuro para as técnicas de transferência mitocondrial? 7a edição da Conferência de Valor da APAH Aldeias Humanitar: humanizar e estar no interior de Portugal A Excelência em diferentes manifestações Ouvir e envolver os cidadãos nas decisões de saúde tem retorno para a sociedade Resultados do "Índex Nacional do Acesso ao Medicamento Hospitalar" em debate Prémio distinguiu projetos inovadores em saúde APAH e Ordem dos Médicos apresentam proposta de "Agenda Estratégica para o Futuro da Medicina de Precisão em Portugal"

Outcomes Research Lab: "leveraging evidence for better care"
Conselhos de administração das unidades de saúde, a peça que falta na alavancagem da investigação clínica em Portugal?
Ensaios clínicos: quão perto estamos da excelência? Inovação no SNS como forma de sustentabilidade
Carla Nunes: Promover uma escola atual, inovadora e focada na sua missão
"Mais Participação Melhor Saúde": um projeto que se saúda
Relação entre os estilos de liderança e o empenho organizacional dos colaboradores
Medicina doTrabalho nos estabelecimentos hospitalares do Serviço Nacional de Saúde: letra da Lei ou uma realidade observada?
Reformular cuidados centrados na pessoa promovendo parcerias
Proteção para o risco de gestão
O equipamento médico nos hospitais públicos
Estratégia Nacional para a Tele Saúde, apresentação do PENTS: uma festa
Que futuro para as técnicas de transferência mitocondrial?
7a edição da Conferência de Valor da APAH
Aldeias Humanitar: humanizar e estar no interior de Portugal
A Excelência em diferentes manifestações
Ouvir e envolver os cidadãos nas decisões de saúde tem retorno para a sociedade
Resultados do "Índex Nacional do Acesso ao Medicamento Hospitalar" em debate
Prémio distinguiu projetos inovadores em saúde
APAH e Ordem dos Médicos apresentam proposta de "Agenda Estratégica para o Futuro da Medicina de Precisão em Portugal"

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OUTUBRO NOVEMBRO DEZEMBRO 20<strong>19</strong><br />

Edição Trimestral<br />

N<strong>º</strong> <strong>19</strong><br />

GESTÃO<br />

HOSPITALAR<br />

DISTRIBUIÇÃO GRATUITA aSSOCIAÇÃO PORTUGUESA DE ADMINISTRADORES HOSPITALARES<br />

SOCIEDADE<br />

Mais participação em saúde<br />

COMUNIDADE<br />

Aldeias Humanitar<br />

(Prémio Healthcare<br />

Excellence 20<strong>19</strong>)<br />

ENVELHECIMENTO<br />

Parcerias para<br />

reformular cuidados<br />

SNS<br />

Investigação Clínica<br />

Medicina do Trabalho<br />

Telesaúde<br />

Equipamento médico<br />

GESTÃO<br />

Liderança organizacional<br />

Outcomes Research Lab<br />

ENTREVISTA<br />

carla<br />

nunes<br />

Estamos<br />

todos juntos,<br />

e juntos<br />

venceremos<br />

a Covid-<strong>19</strong><br />

Stop Covid-<strong>19</strong><br />

#fiqueemcasa


GH OPhghgh<br />

GH SUMÁRIO<br />

outubro novembrO dezembrO 20<strong>19</strong><br />

GESTÃO<br />

HOSPITALAR<br />

PROPRIEDADE<br />

APAH − Associação Portuguesa<br />

de Administradores <strong>Hospitalar</strong>es<br />

Parque de Saúde de Lisboa Edíficio, 11 - 1.<strong>º</strong> Andar<br />

Av. do Brasil 53<br />

1749-002 Lisboa<br />

secretariado@apah.pt<br />

www.apah.pt<br />

DIRETOR<br />

Alexandre Lourenço<br />

DIRETORA-ADJUNTA<br />

Bárbara Sofia de Carvalho<br />

COORDENADORES<br />

Catarina Baptista, Miguel Lopes<br />

EDIÇÃO E COMERCIALIZAÇÃO<br />

Bleed - Sociedade Editorial e Organização<br />

de Eventos, Ltda.<br />

Av. das Forças Armadas 4 - 8B<br />

1600 - 082 Lisboa<br />

Tel.: 217 957 045<br />

info@bleed.pt<br />

www.bleed.pt<br />

PROJETO GRÁFICO<br />

Sara Henriques<br />

DISTRIBUIÇÃO<br />

Gratuita<br />

PERIODICIDADE<br />

Trimestral<br />

DEPÓSITO LEGAL N.<strong>º</strong><br />

16288/97<br />

ISSN N.<strong>º</strong><br />

0871–0767<br />

TIRAGEM<br />

2.000 exemplares<br />

IMPRESSÃO<br />

Grafisol, lda<br />

Rua das Maçarocas<br />

Abrunheira Business Center N<strong>º</strong>3<br />

2710-056 Sintra<br />

Esta revista foi escrita segundo as novas regras<br />

do Acordo Ortográfico<br />

Estatuto Editorial disponível em www.apah.pt<br />

4<br />

6<br />

14<br />

18<br />

24<br />

30<br />

34<br />

38<br />

42<br />

46<br />

48<br />

52<br />

56<br />

60<br />

61<br />

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68<br />

72<br />

74<br />

76<br />

78<br />

Editorial<br />

Investimento em saúde é o pilar do desenvolvimento económico e social<br />

Alexandre Lourenço<br />

Value based-healthcare<br />

Outcomes Research Lab: "leveraging evidence for better care"<br />

Rui Henrique, Marta Soares, Emanuel Barros, Marina Borges, Patrícia Redondo,<br />

Pedro Medeiros, João Gomes<br />

Investigação Clínica<br />

Conselhos de administração das unidades de saúde, a peça que falta na alavancagem<br />

da investigação clínica em Portugal?<br />

Emília Monteiro<br />

Investigação Clínica<br />

Ensaios clínicos: quão perto estamos da excelência? Inovação no SNS como forma<br />

de sustentabilidade<br />

Catarina Silva, Gisela Videira<br />

Entrevista<br />

Carla Nunes: Promover uma escola atual, inovadora e focada na sua missão<br />

Participação em Saúde<br />

"Mais Participação Melhor Saúde": um projeto que se saúda<br />

Liderança<br />

Relação entre os estilos de liderança e o empenho organizacional dos colaboradores<br />

João Alexandre Reis<br />

Saúde ocupacional<br />

Medicina do Trabalho nos estabelecimentos hospitalares do Serviço Nacional de Saúde:<br />

letra da Lei ou uma realidade observada?<br />

Paulo Ferreira Gomes<br />

Integração de cuidados<br />

Reformular cuidados centrados na pessoa promovendo parcerias<br />

Carina Dantas<br />

Responsabilidade civil<br />

Proteção para o risco de gestão<br />

Luís Teixeira<br />

Opinião<br />

O equipamento médico nos hospitais públicos<br />

Luís Lopes Pereira<br />

Telesaúde<br />

Estratégia Nacional para a Tele Saúde, apresentação do PENTS: uma festa<br />

Fernando Mota<br />

Direito Biomédico<br />

Que futuro para as técnicas de transferência mitocondrial?<br />

Eduardo António da Silva Figueiredo<br />

Espaço ENSP<br />

7ª edição da Conferência de Valor da APAH<br />

Ana Damas, Luís Vales<br />

Prémio Healthcare Excellence 20<strong>19</strong><br />

Aldeias Humanitar: humanizar e estar no interior de Portugal<br />

Domingos Nascimento, Helena Dorinha, Mário Pinto<br />

Iniciativa APAH<br />

A Excelência em diferentes manifestações<br />

Cristina Fiuza Branco, Luís Pombo<br />

Iniciativa APAH | Conferências de Valor APAH 20<strong>19</strong><br />

Ouvir e envolver os cidadãos nas decisões de saúde tem retorno para a sociedade<br />

Iniciativa APAH | Fórum do Medicamento 20<strong>19</strong><br />

Resultados do "Índex Nacional do Acesso ao Medicamento <strong>Hospitalar</strong>" em debate<br />

Iniciativa APAH | Prémio Healthcare Excellence 20<strong>19</strong><br />

Prémio distinguiu projetos inovadores em saúde<br />

Margarida França<br />

Iniciativa APAH | Medicina de Precisão<br />

APAH e Ordem dos Médicos apresentam proposta de "Agenda Estratégica para o Futuro<br />

da Medicina de Precisão em Portugal"<br />

APAH marca a agenda<br />

3


GH editorial<br />

Alexandre Lourenço<br />

Presidente da APAH<br />

Investimento em saúde é o<br />

pilar do desenvolvimento<br />

económico e social<br />

Este editorial é escrito em circunstâncias<br />

extraordinárias. A pandemia da<br />

Covid-<strong>19</strong> obrigou governos de vários<br />

Países a implementar medidas que<br />

quando iniciámos a elaboração desta<br />

edição da GH seriam apenas imagináveis no cinema.<br />

Esta edição pode parecer um pouco anacrónica face<br />

às circunstâncias atuais. Mesmo sob pressão e com o<br />

foco na atenção à Covid-<strong>19</strong>, os sistemas de saúde devem<br />

simultaneamente assegurar as necessidades da<br />

população. Assim que a tempestade passar - sim, ela<br />

vai passar - novas avenidas se abrirão para a transformação<br />

do sistema de saúde. Importa aprender com<br />

esta pandemia e não esquecer que o investimento<br />

em saúde é pilar do desenvolvimento económico e<br />

social. Todos nós, com sentido de dever e renovada<br />

energia, saberemos ultrapassar as dificuldades e construir<br />

uma sociedade mais justa e próspera.<br />

Um primeiro apontamento para o artigo sobre saúde<br />

ocupacional da autoria de Paulo Ferreira Gomes. Nas<br />

palavras do autor, a Medicina do Trabalho “ainda se<br />

encontra pouco reconhecida em algumas instituições<br />

do SNS”. No momento atual de enorme pressão sobre<br />

os profissionais de saúde, uma das maiores preocupações<br />

deve estar centrada no apoio aos profissionais.<br />

É esta uma oportunidade para a gestão superior<br />

das unidades de saúde dar um sinal claro de desenvolvimento<br />

desta área, incluindo no apoio psicológico<br />

e alívio da sobrecarga ou excesso de trabalho.<br />

Uma segunda nota para a entrevista a Carla Nunes<br />

- nova Diretora da Escola Nacional de Saúde Pública<br />

(ENSP) - a ler com a devida atenção. Se dúvidas existissem,<br />

a formação em saúde pública é essencial para<br />

a gestão de serviços de saúde. Hoje, estamos melhor<br />

preparados para responder a emergências<br />

ou a transformar o sistema de saúde por termos uma<br />

visão integrada gestão/saúde pública.<br />

Um terceiro comentário para a entrevista às coor-<br />

denadoras do "Mais Participação Melhor Saúde”. Falamos<br />

da Lei da Participação Pública em Saúde. Responsabilidade<br />

e Direitos. O sucesso da capacidade de resposta<br />

do sistema de saúde sempre passará pela responsabilidade<br />

dos cidadãos, sendo que esta é garantida<br />

com maior envolvimento destes no processo de decisão.<br />

Nas boas práticas ficam os artigos sobre o "Outcomes<br />

Research Lab" do IPO do Porto, a integração de cuidados<br />

com o setor social, e o Prémio Healthcare Excellence<br />

20<strong>19</strong>.<br />

Para o futuro hoje, falamos da Medicina de Precisão,<br />

um projeto abrangente desenvolvido em parceria com<br />

a Ordem dos Médicos e a EY. À semelhança de outras<br />

iniciativas, também nesta matéria a APAH propõe medidas<br />

concretas para a melhoria da organização e gestão<br />

dos cuidados de saúde em Portugal. Publicamos ainda<br />

os resultados do Index Nacional do Acesso ao Medicamento<br />

<strong>Hospitalar</strong>, apresentado e discutido durante<br />

o Fórum do Medicamento. Desta feita, uma parceria<br />

com a Ordem dos Farmacêuticos e a Faculdade de<br />

Farmácia da Universidade de Lisboa.<br />

Nas sábias palavras dos Xutos & Pontapés:<br />

Ele há coisas a acabar<br />

Mas há tantas a começar<br />

Ficar atento<br />

Saber usar<br />

Saber dar tempo<br />

Tempo que não há p'ra dar<br />

Ter ideias e sentir<br />

Estar atento ao que vai vir<br />

Se não perder a esperança<br />

se souber aguentar<br />

Se não perder<br />

Serei eu capaz de dar<br />

Estamos todos juntos, e juntos venceremos! Ã<br />

4


'<br />

Ç<br />

Ç<br />

GH Value based healthcare<br />

OUTCOMES RESEARCH LAB:<br />

"LEVERAGING EVIDENCE<br />

FOR BETTER CARE"<br />

QualiVida<br />

E-deialab<br />

Ç<br />

RORENO<br />

Ç<br />

Ç<br />

Ç<br />

GDH<br />

IPO<br />

PORTO OASIS<br />

VISION MEDVISION<br />

ATLAS<br />

Ç<br />

Ç<br />

ANAPAT<br />

Rui Henrique<br />

Presidente do Conselho<br />

de Administração, IPO Porto<br />

Marta Soares<br />

Diretora Clínica,<br />

IPO Porto<br />

Emanuel Barros<br />

Vogal Executivo do Conselho<br />

de Administração, IPO Porto<br />

Marina Borges<br />

Diretora do Serviço de Planeamento<br />

e Apoio à <strong>Gestão</strong>, Outcomes<br />

Research Lab, IPO Porto<br />

Figura 1: Sistemas de informação IPO Porto.<br />

ARIA<br />

OUTCOMES<br />

Patrícia Redondo<br />

Técnica Superior, Outcomes<br />

Research Lab, IPO Porto<br />

Pedro Medeiros<br />

Técnico Superior, Serviço de Planeamento e Apoio<br />

à <strong>Gestão</strong>, Outcomes Research Lab, IPO Porto<br />

A<br />

criação do Outcomes Research Lab<br />

(ORLab) em 2016 foi assumida pelos<br />

vários níveis da organização como<br />

um objetivo estratégico, guiado<br />

pela seguinte premissa Leveraging<br />

Evidence for Better Care.<br />

A criação desta unidade foi premente, indo de encontro<br />

aos desafios de qualidade e sustentabilidade que<br />

os sistemas de saúde enfrentam, envolvendo a medição<br />

sistemática dos resultados em saúde e tendo como<br />

missão produzir conhecimento nas seguintes áreas:<br />

custo, segurança e efetividade das tecnologias de saúde,<br />

assim como alavancar a investigação científica sobre<br />

resultados em saúde no Instituto Português de<br />

Oncologia do Porto FG, EPE (IPO Porto).<br />

Em todo este processo não pode ser esquecida toda<br />

uma conjugação de fatores favoráveis internos e externos<br />

ao IPO Porto como o foram, a nível interno, as<br />

várias alterações estruturais implementadas na última<br />

João Oliveira Gomes<br />

Investigador, Outcomes Research<br />

Lab, IPO Porto<br />

década. Desde a alteração da estrutura organizacional,<br />

com a criação de 11 clínicas de patologia, à informatização<br />

da instituição, passando pela prescrição eletrónica<br />

e pela adoção de um processo clínico eletrónico.<br />

No que se refere à conjuntura externa, era cada vez<br />

mais consensual a implementação do paradigma Value<br />

Based Healthcare (VBHC), o que implicava que as organizações<br />

prestadoras de cuidados de saúde deviam<br />

ser geridas e avaliadas pelos resultados em saúde para<br />

os doentes, em conjugação com os custos dos cuidados<br />

de saúde prestados. 1 Deste modo, era premente<br />

dotar o IPO Porto das competências e recursos necessários<br />

para produzir a informação imprescindível<br />

para medir o valor criado.<br />

Mais acresce, que fruto da prática clínica se basear na<br />

evidência existente, gerada a partir dos ensaios clínicos,<br />

era necessário complementar esta informação com evidência<br />

produzida a partir de dados do "mundo real".<br />

Conjugada a necessidade com a exequibilidade, foi assumido<br />

pelos vários níveis da organização que a criação<br />

do ORLab era um objetivo estratégico, o que se mantém<br />

e se pretende potenciar como mais à frente teremos<br />

oportunidade de especificar.<br />

Apresentação do serviço<br />

O ORLab foi criado com o propósito de dotar a gestão<br />

e os profissionais clínicos de informação com base<br />

em dados de vida real, que os auxilie na tomada<br />

de decisão sobre os cuidados prestados aos doentes,<br />

dando resposta à necessidade de produzir informação<br />

e obter conhecimento na área da saúde. A implementação<br />

de uma unidade desta natureza implica<br />

uma abordagem multidisciplinar, tendo na sua orgânica<br />

colaboradores das mais diversas áreas profissionais.<br />

Para além de uma equipa multidisciplinar constituída<br />

por economistas, gestores, engenheiros, entre outros,<br />

as funções inerentes a esta unidade são desenvolvidas<br />

em forte articulação com outros serviços, tais como o<br />

Serviço de Epidemiologia, Unidade de Investigação Clínica,<br />

direções de Serviços Assistenciais, médicos e enfermeiros.<br />

Neste âmbito, com a criação do ORLab,<br />

compete à unidade:<br />

• Gerir o processo de recolha e sistematização de<br />

informação relativa ao custo, segurança e efetividade<br />

das tecnologias da saúde utilizadas no IPO Porto,<br />

com particular ênfase nas inovadoras;<br />

• Fazer o acompanhamento dos "Patient Access<br />

Schemes", definidos aquando ou após autorização<br />

de utilização do medicamento pelo INFARMED, que<br />

incluam resultados;<br />

• Produzir trabalhos científicos no âmbito de: avaliação<br />

das tecnologias da saúde, VBHC e resultados em<br />

saúde provenientes de estudos de Real World Evidence<br />

(RWE);<br />

• Estabelecer parcerias externas para alavancar a<br />

investigação, incluindo a participação em estudos<br />

observacionais de investigação clínica multicêntricos,<br />

nacionais e internacionais;<br />

• Projetar, implementar e acompanhar a execução de<br />

tarefas no âmbito do sistema informático de Business<br />

Intelligence e outros sistemas de bases de dados do<br />

serviço;<br />

• Coordenar e monitorizar o circuito de avaliação<br />

de qualidade de vida relacionada com a saúde implementado<br />

no IPO Porto;<br />

• Implementar e desenvolver Clinical Pathways que<br />

reflitam a evidência científica e a prática instituída e<br />

promovam eficiência no tratamento da doença oncológica;<br />

• Dar apoio técnico, quando solicitado, aos projetos<br />

de investigação dos demais profissionais da Instituição,<br />

desde que integrados no âmbito e missão do Serviço.<br />

Ferramentas informáticas<br />

Neste âmbito, com a implementação do serviço criaram-se<br />

também duas ferramentas informáticas que<br />

permitem realizar análises em tempo real e com base<br />

na evidência clínica que é gerada diariamente na instituição:<br />

o Vision e o MedVision. }<br />

6 7


'<br />

GH Value based healthcare<br />

“<br />

O MEDVISION SURGE COM<br />

A INTENÇÃO DE CRIAR UMA VISÃO<br />

HOLÍSTICA DO TRATAMENTO<br />

PRESCRITO E A PRODUÇÃO<br />

DE OUTCOMES NO ÂMBITO<br />

DA AVALIAÇÃO DE TECNOLOGIAS<br />

DE SAÚDE (SOBREVIVÊNCIA,<br />

SEGURANÇA, QUALIDADE DE VIDA<br />

E CUSTO DO TRATAMENTO).<br />

”<br />

Vision<br />

O Vision é uma ferramenta informática, agregadora de<br />

várias bases de dados da Instituição, que potencia e facilita<br />

a realização de estudos prospetivos e retrospetivos,<br />

numa perspetiva multidimensional de avaliação<br />

de tecnologias de saúde. Uma das suas grandes vantagens<br />

é a recolha de informação dos dados dos doentes<br />

num contexto de real world data (RWD). A qualidade,<br />

quantidade e rapidez na obtenção dos dados é<br />

um dos pontos fortes desta aplicação.<br />

O Vision ao funcionar como um agregador central<br />

da informação, tem como principais benefícios para<br />

a Instituição:<br />

• Simplificação: compilação das várias bases de dados<br />

da Instituição facilitando a sua consulta, análise e,<br />

por conseguinte, o aperfeiçoamento dos protocolos<br />

e práticas instituídas;<br />

• Autonomia: a criação de uma única base de dados<br />

passível de ser controlada pelo próprio hospital e que<br />

não esteja dependente de stakeholders externos;<br />

• Monitorização: acompanhamento em tempo real<br />

das tecnologias de saúde envolvidas em todo o percurso<br />

do doente, permitindo a produção sistemática<br />

de resultados em saúde;<br />

• Eficiência: melhoria e qualidade das dinâmicas e processos<br />

de trabalho no dia-a-dia dos recursos envolvidos.<br />

Esta base de dados está acessível aos colaboradores<br />

do ORLab através da tecnologia MS Power BI que per-<br />

mite a visualização dos dados sob a forma de tabelas,<br />

gráficos ou mesmo dashboards complexos, realizados<br />

internamente, à medida das necessidades, permitindo<br />

assim responder a questões no âmbito da clínica e da<br />

saúde das populações, desenvolver estratégias de RWE<br />

e contribuir para um maior conhecimento e apoio<br />

na tomada de decisão.<br />

MedVision<br />

O MedVision surge com a intenção de criar uma visão<br />

holística do tratamento prescrito e a produção<br />

de outcomes no âmbito da avaliação de tecnologias<br />

de saúde (sobrevivência, segurança, qualidade de vida<br />

e custo do tratamento).<br />

Compreender o ciclo de introdução das novas terapêuticas<br />

no IPO Porto é fundamental para a gestão<br />

da despesa em produtos farmacêuticos. Assim,<br />

esta ferramenta foi uma mais-valia para os estudos<br />

observacionais em curso no ORLab, com os quais se<br />

pretende sistematizar a informação relativa ao custo,<br />

segurança e efetividade das tecnologias da saúde inovadoras<br />

utilizadas no IPO Porto.<br />

O MedVision não é mais que uma base de dados onde<br />

é inserida toda a informação sobre o tratamento com<br />

terapêuticas inovadoras, com toda a informação relevante<br />

desde a baseline de tratamento até a sua conclusão,<br />

com dados relativos a resposta à terapêutica,<br />

motivos que levaram à suspensão ou adiamentos e<br />

eventos adversos.<br />

Do ponto de vista da gestão, ter esta informação sistematizada,<br />

permite dar suporte à negociação dos contratos<br />

de partilha de risco estabelecidos entre o IPO<br />

Porto e a indústria farmacêutica ou outros.<br />

Resultados obtidos<br />

A prossecução dos estudos levados a cabo no ORLab<br />

permite a produção de conhecimento sobre o percurso<br />

do doente na Instituição, nomeadamente os tratamentos<br />

prescritos e os custos despendidos com<br />

determinadas tecnologias de saúde.<br />

Desta forma, estão atualmente a decorrer no ORLab<br />

74 estudos observacionais, respeitantes a 48 substâncias<br />

ativas inovadoras, com 1561 doentes em<br />

estudo, que geraram um gasto aproximado de 52<br />

milhões euros (dados a 30/06/20<strong>19</strong>). Foram apresentados<br />

onze posters/comunicações orais em sete<br />

conferências internacionais (ISPOR Europe, EHMA,<br />

ELCC, ICHOM, WCLC, EAPC, ISPOR) e três nacionais<br />

(APIFARMA, CNES, APAH). Destacam-se ainda<br />

os quatro artigos científicos publicados na revista<br />

científica internacional "ecancermedicalscience". De<br />

referir também a existência de contratos de partilha<br />

de risco estabelecidos entre o IPO Porto e a indústria<br />

farmacêutica, assim como a participação na Eu-<br />

ropean Oncology Evidence Network (E-EON) - Rede<br />

de Dados de Oncologia Europeia, no âmbito da qual<br />

já estão em curso dois estudos científicos utilizando<br />

dados da vida real na área do cancro do pulmão e do<br />

cancro da mama.<br />

Estabeleceram-se alguns protocolos de colaboração<br />

para realização de estudos com entidades externas e<br />

levaram-se a cabo várias candidaturas a apoio financeiro<br />

para projetos de investigação e inovação, bem<br />

como a prémios de reconhecimento de boas práticas<br />

na área da saúde.<br />

De seguida, focam-se três projetos ongoing que melhor<br />

espelham a missão do IPO Porto na criação de<br />

valor em saúde, medindo-se de forma efetiva os resultados<br />

gerados e os custos associados, de modo a se<br />

atingirem os objetivos de melhor atendimento ao doente,<br />

maior experiência em saúde, melhor saúde da<br />

população e cuidados mais acessíveis.<br />

Projeto Farol<br />

O projeto-piloto Farol surgiu da iniciativa 3F-Financiamento,<br />

Fórmula para o Futuro, da APAH 2 , com o<br />

apoio da Roche e desenvolvimento da IQVIA. Surge<br />

com o intuito de obter Resultados em Saúde e na<br />

<strong>Gestão</strong> Integrada da Doença, consistindo no desenvolvimento<br />

de um modelo de financiamento centrado<br />

na medição de resultados com incentivos associados<br />

à qualidade.<br />

Este projeto-piloto está ainda em desenvolvimento<br />

no IPO Porto no âmbito da patologia do cancro do<br />

pulmão e permitirá numa fase posterior medir os resultados<br />

em saúde (clínicos e relativos à experiência<br />

do doente) ao longo de todo o percurso do doente<br />

e determinar o custo real de tratamento. Com este<br />

projeto estão também a ser dados os primeiros pas- }<br />

Figura 2: Dimensões resultantes da discussão de soluções do grupo de trabalho 3F 2 .<br />

8


'<br />

GH Value based healthcare<br />

sos para a implementação de um modelo de Value<br />

Based Healthcare em Portugal. O Farol permitirá determinar<br />

a qualidade assistencial, comparar o custo real<br />

de tratamento do doente com cancro do pulmão com<br />

o preço compreensivo atribuído pela ACSS e testar<br />

diferentes modelos de incentivos que premeiem as instituições<br />

que apresentem melhores resultados.<br />

No desenvolvimento deste projeto-piloto a medição<br />

de resultados em saúde é essencial, bem como a identificação<br />

dos custos associados a esta prestação de<br />

cuidados de qualidade. Para isso, e sendo que o IPO<br />

Porto tinha sido já selecionado para integrar o estudo<br />

internacional Improving Value in Cancer Care, o projetopiloto<br />

focou-se numa única patologia (cancro do pulmão)<br />

e na medição do valor criado para os doentes. }<br />

Standard-set ICHOM Cataratas<br />

A existência de um conjunto de parâmetros de avaliação<br />

de resultados em saúde (standard-sets) que permita<br />

aos profissionais de saúde medir os resultados<br />

e compará-los com os seus pares em todo o mundo<br />

é um imperativo para qualquer Instituição. Este conjunto<br />

de parâmetros de avaliação têm vindo a ser<br />

elaborados pelo Internacional Consortium for Health<br />

Outcomes Measurement (ICHOM) - organização sem<br />

fins lucrativos com um propósito público de promover<br />

a igualdade nos cuidados de saúde globalmente.<br />

O IPO Porto, seguindo o standard-set do ICHOM 3 ,<br />

implementou o projeto para medição de outcomes clínicos<br />

em cirurgia da catarata, que permite caracterizar<br />

diferentes aspetos relacionados com a qualidade de<br />

vida e evolução dos doentes ao longo do tratamento.<br />

Este standard-set inclui a avaliação das variáveis clínicas<br />

e fatores de risco no pré-operatório, das variáveis relacionadas<br />

com o tratamento (cirurgia) e das variáveis<br />

referentes ao pós-operatório que acabam por se traduzir<br />

nos outcomes do projeto. Paralelamente, é medida<br />

a qualidade de vida do doente no pré e pós-<br />

-operatório através do instrumento CATQUEST-9SF.<br />

Adicionalmente, foram também recolhidos os dados<br />

referentes aos custos. O custo médio de um episódio<br />

Tabela 1: Acuidade visual e refração pré-operatória e pós-operatória.<br />

de cirurgia de catarata foi calculado incluindo as consultas<br />

pré-operatórias, a cirurgia (incluindo materiais<br />

de consumo clinico; medicação; recursos humanos)<br />

e as consultas do pós-operatório. Foram excluídos os<br />

custos de complicações e custos indiretos.<br />

Atualmente, o IPO Porto tem este standard-set implementado<br />

na prática clínica do Serviço de Oftalmologia.<br />

O projeto tem uma equipa multidisciplinar<br />

definida, que analisa de forma integrada a informação<br />

clínica e de gestão associada ao estudo.<br />

Entre junho de 2017 e maio 2018, 268 doentes realizaram<br />

cirurgia da catarata e completaram o período<br />

de follow up. A informação destes doentes respeita<br />

a 374 intervenções no globo ocular (235 mulheres,<br />

139 homens) e a mediana da idade foi 73 anos. Foram<br />

reportados ~5% casos com co morbilidades<br />

oculares no olho operado. Cerca de 49% dos doentes<br />

já tinham sido operados previamente a catarata<br />

no outro olho e ~1% efetuado cirurgia refrativa corneana.<br />

Menos de 1% dos casos tiveram complicações<br />

durante a cirurgia. A acuidade visual e a refração atual<br />

melhoram após cirurgia, conforme se verifica na Tabela<br />

1. Aproximadamente 1% dos casos revelaram<br />

complicações pós cirurgia (Tabela 2).<br />

Cerca de 98% dos doentes reportaram melhorias<br />

na sua qualidade de vida (Figura 3). Foi efetuado um<br />

teste estatístico (paired sample t-test) que confirmou<br />

que a cirurgia tem efeito significativo em todas as dimensões<br />

da qualidade de vida avaliadas através do<br />

questionário CATQUES9SF.<br />

Variables<br />

Return to operation theater<br />

within 3 months (yes)<br />

Endophthalmitis (yes) 0,3%<br />

Corneal edema (yes) 0,5%<br />

Other (yes) 1,3%<br />

Tabela 2: Complicações pós cirurgia.<br />

No. of cases<br />

(eyes operated)<br />

0,8%<br />

Visual acuity Pre-Operative (mean) Post-Operative (mean) Paired Differences (mean) Sig.(2-tailed)<br />

Best corrected right 0,4240 0,8868 -0,4627 0,000<br />

Best corrected left 0,4325 0,8682 -0,4357 0,000<br />

Refraction (target/actual) Pre-Operative (mean) Post-Operative (mean) Paired Differences (mean) Sig.(2-tailed)<br />

Spherical right -0,3789 -0,3161 -0,0629 0,293<br />

Spherical left -0,4104 -0,4156 0,0152 0,850<br />

Cylinder right -0,3115 -1,0496 0,7382 0,000<br />

Cylinder left -0,4123 -0,9844 0,5721 0,000<br />

Figura 3: Qualidade de vida reportada pelos doentes antes e após cirurgia.<br />

O custo médio de tratar cataratas (por olho) foi aproximadamente<br />

500€, representando um custo total<br />

para esta amostra de 187.000€.<br />

Com a implementação deste standard-set é possível<br />

fazer uma avaliação holística do valor realizado<br />

no Serviço de Oftalmologia. Uma equipa altamente<br />

motivada, a estreita comunicação entre todos e uma<br />

implementação viável do standard-set na prática real,<br />

de maneira que os procedimentos sejam facilmente<br />

integrados nas rotinas diárias, são essenciais para o<br />

sucesso dum projeto desta natureza. No contexto<br />

de um hospital oncológico, que trata doentes com<br />

comorbilidades específicas, a cirurgia de catarata está<br />

associada à alta satisfação reportada pelo doente,<br />

melhorando significativamente a sua qualidade de vida,<br />

o que é particularmente relevante em doentes<br />

com cancro. A implementação desta metodologia foi<br />

uma boa oportunidade para se ganhar experiência<br />

e aprender como reproduzir esta experiência noutras<br />

patologias, principalmente oncológicas.<br />

Qualidade de vida relacionada com a saúde<br />

Perceber a qualidade de vida dos doentes do IPO<br />

Porto desde a sua admissão na Instituição e durante<br />

todo o seu percurso de tratamento é um imperativo<br />

para a prestação de melhores cuidados de saúde.<br />

No entanto, esta medição é muito subjetiva devido<br />

à dificuldade que o indivíduo tem de relacionar a sua<br />

disfunção com as várias dimensões da sua vida.<br />

A qualidade de vida relacionada à saúde (QVRS) refere-se<br />

à perceção que a pessoa tem sobre a sua condição<br />

de saúde, bem como as consequências e os tratamentos<br />

relativos a ela 4,5 . A medição da qualidade de<br />

vida permite-nos perceber as alterações, em tempo real,<br />

sentidas durante o processo de doença e o tratamento<br />

do doente, permitindo aos profissionais de saúde:<br />

• Alertar para as preocupações sentidas pelo doente;<br />

• Intervir em tempo real;<br />

• Comparar de forma objetiva os resultados da sua<br />

qualidade de vida relativamente a diferentes tipos de<br />

tratamento (cirurgia, quimioterapia, radioterapia);<br />

• Contribuir para a melhoria dos cuidados prestados.<br />

Cada vez mais, a prática clínica exige avaliar a qualidade<br />

de vida do doente durante os ciclos de tratamento,<br />

a fim de associar essa avaliação à medicação e ao<br />

tipo de tratamento e deste modo, tentar entender<br />

se os efeitos são nocivos/benéficos para o doente.<br />

O IPO Porto, possui desde Outubro de 2015, uma<br />

plataforma informática para registo de questionários<br />

de qualidade de vida e um circuito que envolve a avaliação<br />

da qualidade de vida dos doentes em tratamento<br />

com medicamentos inovadores, através dos<br />

questionários da EORTC (C30 + específico da patologia)<br />

6 e do EQ-5D 7 .<br />

A fim de melhorar continuamente este processo e es- }<br />

10 11


'<br />

GH Value based healthcare<br />

“<br />

OS OBJETIVOS DESTA INICIATIVA<br />

NÃO SÃO APENAS OFERECER<br />

O MELHOR TRATAMENTO PARA<br />

CADA DOENTE, ORGANIZANDO<br />

TODA A INSTITUIÇÃO EM TORNO<br />

DOS DOENTES.<br />

”<br />

tender esta medição a todo o universo de doentes da<br />

Instituição, está-se a automatizar ainda mais o processo<br />

implementado, de modo a que os doentes respondam<br />

aos questionários em momentos pré-definidos,<br />

de acordo com o protocolo de tratamento. Encontrase<br />

a ser desenvolvido um módulo relativo ao preenchimento<br />

de questionários da qualidade de vida para integrar<br />

na app Bem-me-Ker, a fim de promover o auto<br />

preenchimento por parte dos próprios doentes, por<br />

exemplo, via smartphone ou através de tablet (colocado<br />

em local apropriado dentro do IPO Porto). Este<br />

sistema destina-se a ser fácil de usar, intuitivo de preencher<br />

e facilmente acessível.<br />

Os objetivos desta iniciativa não são apenas oferecer<br />

o melhor tratamento para cada doente, organizando<br />

toda a Instituição em torno dos doentes e suas necessidades,<br />

mas também levar a experiência do doente<br />

a um novo nível, melhorando o acesso e a qualidade<br />

dos cuidados; medindo sistematicamente o valor<br />

criado (resultados e custos); e aproveitando a evidência<br />

para melhorar o atendimento prestado.<br />

Outcomes Research Lab - Prespetivas de futuro<br />

Os primeiros quatros "anos de vida" do ORLab foram<br />

cruciais para definir o papel desta unidade dentro do<br />

IPO Porto e o seu posicionamento estratégico face às<br />

entidades externas à instituição. A sua implementação<br />

teve como premissa que esta unidade seria uma extensão<br />

natural da atividade assistencial, dada a natureza<br />

multidisciplinar da atividade a desenvolver e que a informação<br />

a produzir deveria efetivamente representar<br />

conhecimentos a aplicar na melhoria dos cuidados de<br />

saúde prestados aos doentes. Deste modo, a unidade<br />

foi dotada dos recursos humanos necessários para<br />

desenvolver as ferramentas imprescindíveis ao seu<br />

funcionamento e com as competências que à data<br />

eram inexistentes ou escassas no IPO Porto. Assim, os<br />

serviços assistenciais e não-assistenciais são envolvidos<br />

mais precocemente nas várias tarefas, permitindo que<br />

a informação produzida vá efetivamente de encontro<br />

às reais necessidades dos decisores.<br />

À data, é premente consolidar o que foi implementado<br />

e os resultados obtidos, alargando a equipa e desenvolvendo<br />

ainda mais as ferramentas informáticas<br />

(Vision e MedVision). Ao nível interno, é nosso objetivo<br />

alargar a avaliação da qualidade de vida a todos dos<br />

doentes da instituição, assim como avaliar os percursos<br />

clínicos por patologia dentro da instituição de modo<br />

sistemático. É também nosso desiderato aumentar<br />

as parcerias com entidades externas.<br />

Assim, criar condições para um registo da qualidade de<br />

vida de todos os doentes da instituição, em períodos<br />

concretos do seu percurso no IPO Porto é um dos projetos<br />

estruturais que se encontra já em curso, de modo<br />

a permitir, numa fase subsequente, a disponibilização<br />

e integração dessa informação na prática clínica.<br />

Em simultâneo estamos focados no desenvolvimento<br />

de Clinical Pathways que reflitam a evidência científica<br />

e a prática instituída, que promovam a eficiência no<br />

tratamento da doença oncológica.<br />

Em jeito de conclusão, resta acrescentar que com base<br />

nos vários projetos e objetivos que temos nesta<br />

área, dos quais elencamos apenas alguns, pretende-<br />

-se, num futuro próximo, que o ORLab seja considerado<br />

um serviço de referência, não só a nível nacional<br />

como também internacional, na área dos resultados<br />

em saúde na patologia oncológica, assente num modelo<br />

de VBHC. Promovendo assim, cada vez mais, a inovação<br />

e contribuindo para o início de uma nova onda<br />

de aprendizagem a partir da medição do valor criado<br />

com a prestação de cuidados de saúde, sob a égide de<br />

um novo paradigma - o da utilização efetiva na prática<br />

clínica diária, ao serviço e em prol do doente. Ã<br />

1. Porter ME, Teisberg EO. Redefining Health Care: Creating Value - Based<br />

Competition on Results. Harvard Business Review Press, 2006: 50-59.<br />

2. APAH: 3F - Financiamento, Fórmula para o Futuro. Outubro 2018. Disponível<br />

em: https://apah.pt/portfolio/3f/.<br />

3. ICHOM: Cataracts Data Collection Reference Guide, 2017. Disponível<br />

em: https://ichom.org/files/medical-conditions/cataracts/cataracts-referenceguide.pdf.<br />

4. Asadi-Lari, M., Tamburini, M. & Gray, D. Patients' needs, satisfaction, and<br />

health related quality of life: Towards a comprehensive model. Health Qual<br />

Life Outcomes 2, 32 (2004) doi:10.1186/1477-7525-2-32.<br />

5. Bredart A, Bouleuc C, Dolbeault S. Doctor-patient communication and<br />

satisfaction with care in oncology. Curr Opin Oncol. 2005;17:351–354. doi:<br />

10.1097/01.cco.0000167734.26454.30.<br />

6. EORTC: Quality of Life. Disponível em: https://qol.eortc.org/questionnaires/.<br />

7. EQ-5D. Disponível em: https://euroqol.org/.<br />

Better Health,<br />

Brighter Future<br />

Podemos sempre fazer mais para melhorar a vida das pessoas.<br />

Impulsionados pela paixão de realizar este objetivo, a Takeda<br />

proporciona medicamentos inovadores à sociedade desde a sua<br />

fundação em 1781.<br />

Hoje combatemos diversos problemas de saúde em todo o Mundo<br />

desde a sua prevenção à cura. Mas a nossa ambição mantém-se:<br />

encontrar novas soluções que façam a diferença e disponibilizar<br />

melhores fármacos que ajudem o maior número de pessoas possível,<br />

o mais rápido que conseguirmos.<br />

Com a ampla experiência, sabedoria e perseverança da nossa equipa,<br />

a Takeda terá sempre o compromisso de melhorar o amanhã.<br />

PT/INI/03<strong>19</strong>/0010d<br />

12<br />

Takeda – Farmacêuticos Portugal, Lda.<br />

Avenida da Torre de Belém, n<strong>º</strong> <strong>19</strong> R/C Esq. 1400-342 Lisboa<br />

Sociedade por quotas. NIF: 502 801 204<br />

Conservatória do Registo Comercial de Cascais n.<strong>º</strong> 502 801 204<br />

Tel: +351 21 120 1457 | Fax: +351 21 120 1456<br />

www.takeda.pt


GH Investigação clínica<br />

CONSELHOS DE ADMINISTRAÇÃO<br />

DAS UNIDADES DE SAÚDE, A PEÇA<br />

QUE FALTA NA ALAVANCAGEM<br />

DA INVESTIGAÇÃO CLÍNICA<br />

EM PORTUGAL?<br />

Emília Monteiro<br />

Faculdade de Ciências Médicas.<br />

Universidade Nova de Lisboa<br />

Na missão das unidades de saúde portuguesas<br />

encontramos invariavelmente<br />

a prestação de cuidados de saúde, segundo<br />

as “melhores práticas”, a “atualização<br />

face aos avanços da ciência”,<br />

“altamente diferenciados em tecnologias e saberes”,<br />

“de elevada qualidade e especialização”, “de excelência”,<br />

“de competência e rigor” e “inovadores”. 1<br />

O que talvez não seja tão evidente é que estes atributos<br />

da prestação de cuidados de saúde só são<br />

possíveis e verdadeiros porque as unidades de saúde<br />

portuguesas vão incorporando na atividade assistencial,<br />

a ritmos variáveis, mas equivalentes aos dos congéneres<br />

do primeiro mundo, os avanços da ciência e<br />

tecnologia. Fazem-no através do empenho dos seus<br />

profissionais, das recomendações das sociedades<br />

científicas e das autoridades (eg. DGS) mas também<br />

através da pressão da sociedade e de quem comercializa<br />

a inovação.<br />

Sob o ponto de vista da maioria dos administradores<br />

e de muitos profissionais de saúde este processo<br />

corresponde ao expectável e poderá apenas ser<br />

aperfeiçoado em termos de rapidez do acesso e da<br />

implementação da inovação, e de uma maior eficiência.<br />

Não é comum que nem a tutela nem a comunidade<br />

exijam mais. Contudo, no contexto do desenvolvimento<br />

e sustentabilidade de um serviço nacional<br />

de saúde há uma questão que raramente emerge:<br />

qual tem sido o contributo dos portugueses a trabalhar<br />

nas unidades de saúde nacionais para o desenvolvimento<br />

das tecnologias de saúde 2 atualmente<br />

disponíveis? A resposta não é fácil, mas há indicadores<br />

indiretos que não seriam difíceis de produzir.<br />

Vejamos por exemplo os estudos clínicos que produzem<br />

evidência de nível mais elevado e mais próximos<br />

da inovação: os ensaios clínicos. Quantas indústrias<br />

farmacêuticas têm portugueses nas equipes<br />

de desenho dos estudos multicêntricos? Quantos<br />

portugueses são coautores das publicações com origem<br />

nos ensaios clínicos em que participaram? Num<br />

estudo efetuado com as unidades de saúde que integravam<br />

o consórcio PtCRIN 3 , das 1540 publicações<br />

com autores portugueses referenciadas na PubMed<br />

entre janeiro de 2014 e 31 de julho de 2015, apenas<br />

2% (n=31) se referiam a ensaios clínicos 4 . Independentemente<br />

das limitações do estudo e considerando<br />

que entre 2009 e 2013 foram submetidos anualmente<br />

em Portugal, uma média de 131 ensaios 5 ,<br />

podemos concluir que a maioria dos médicos que<br />

recruta doentes para os ensaios clínicos em Portugal<br />

não participa da autoria da inovação. Teoricamente<br />

isto acontece porque a maioria dos ensaios são propriedade<br />

da indústria farmacêutica. Nos ensaios de<br />

iniciativa académica esta questão não se coloca e é<br />

expectável que todos os investigadores sejam coautores.<br />

Contudo, os resultados de Portugal quando<br />

nos referimos aos ensaios clínicos de iniciativa académica<br />

também não são muito animadores. Até 31 de<br />

julho de 2015 Portugal tinha registado na EudraCT<br />

85 ensaios de iniciativa académica, enquanto no<br />

mesmo período países de dimensões semelhantes<br />

como a Holanda, Áustria, Bélgica e República Checa,<br />

registaram, 1297, 836, 754 e 147, respetivamente 4 .<br />

Num estudo mais recente, comparativo entre a República<br />

Checa e Portugal, que compilou os ensaios<br />

clínicos de iniciativa académica no total dos quatro<br />

maiores registos mundiais entre 2004 e 2017, confirmou-se<br />

a superioridade da República Checa quer no<br />

número de ensaios (439 vs 328) quer no número de<br />

publicações com fatores de impacto elevado (86% vs<br />

15%) a que estes deram origem 6 .<br />

O problema tem vindo a ser identificado, desde há<br />

muito tempo, por sucessivos governos e instituições 7 :<br />

a inovação em saúde tem subjacente uma investigação<br />

clínica com infraestruturas próprias, oportunidades<br />

de financiamento competitivo e com profissionais<br />

capacitados em investigação clínica, disponíveis,<br />

motivados e a trabalhar em ambiente internacional.<br />

Felizmente iniciativas importantes têm surgido que<br />

acabarão por dar os seus frutos, mas com um atraso<br />

irreparável. Em abril de 2015, uma resolução do<br />

Conselho de Ministros veio enfatizar que a “investigação<br />

médica, particularmente a de índole clínica, é<br />

uma atividade fundamental para o desenvolvimento<br />

do conhecimento e inovação na saúde, contribuindo,<br />

de forma estratégica, para a melhoria da saúde das<br />

populações e do desempenho das unidades de saúde,<br />

no domínio da qualidade dos cuidados de saúde<br />

prestados, no domínio educacional e científico e no<br />

domínio económico” e criou o Programa Integrado<br />

de Promoção da Excelência em Investigação Médica<br />

8 . O sucesso deste programa acabou por estar<br />

praticamente circunscrito ao “Programa Avançado<br />

de Treino em Investigação Clínicaˮ implementado<br />

em colaboração com a Harvard Medical School e<br />

que tem formado desde então e durante dois anos,<br />

entre 30 a 35 internos da especialidade e jovens especialistas,<br />

anualmente, a nível nacional 9 .<br />

Um ano depois uma outra resolução do Conselho de<br />

Ministros 10 reforçava que “para o sucesso de qual- }<br />

14 15


GH Investigação clínica<br />

quer instituição que tenha como objetivo desenvolver<br />

cuidados médicos de elevada qualidade e diferenciação<br />

é hoje indispensável a conjugação da atividade<br />

assistencial, do ensino e da investigaçãoˮ. Através<br />

dessa resolução, procedeu-se à criação de um Conselho<br />

Nacional dos Centros Académicos Clínicos,<br />

“com o objetivo de estimular e apoiar o desenvolvimento<br />

coordenado da atividade dos Centros Académicos<br />

Clínicos” (CACs) que foram surgindo a partir<br />

de 2009. Já em 2018 é publicado o decreto-lei que<br />

estabelece o regime jurídico aplicável aos centros<br />

académicos clínicos, criando condições para o desenvolvimento,<br />

de forma integrada, das atividades assistencial,<br />

de ensino e de investigação clínica e de translação<br />

11 . Contudo, as expectativas sobre o impacto<br />

dos CACs têm sido tantas como as dúvidas sobre<br />

a sua real implementação. Outra iniciativa, seguramente<br />

estruturante embora ainda incipiente, foi a da<br />

criação em 2018, mais uma vez por Resolução do<br />

Conselho de Ministros, da AICIB - Agência de Investigação<br />

Clínica e Inovação Biomédica 12 na sequência<br />

de um grupo de trabalho estabelecido em 2016 por<br />

resolução do Conselho de Ministros 13 . Já em 20<strong>19</strong>,<br />

um despacho do Ministro da Ciência, Tecnologia<br />

e Ensino Superior determina que a atualização do<br />

Roteiro Nacional das Infraestruturas de Investigação<br />

de Interesse Estratégico deve privilegiar as “infraestruturas<br />

de apoio à investigação clínica, em estreita<br />

colaboração com as unidades de cuidados de saúde<br />

e Centros Académicos Clínicos” 14 .<br />

Com tantas iniciativas nos últimos 5 anos poder-seia<br />

admitir que a contribuição portuguesa para a investigação<br />

clínica e inovação estava a mudar substancialmente.<br />

Não há, contudo, dados objetivos de<br />

que assim seja 7 . Estaremos no caminho certo, mas<br />

provavelmente ainda a uma velocidade impercetível.<br />

Nos parágrafos seguintes invocarei razões e principalmente<br />

tentarei justificar porque é que os Administradores<br />

<strong>Hospitalar</strong>es podem ser a peça em falta<br />

para uma alavancagem efetiva da investigação clínica<br />

em Portugal.<br />

Apesar das inúmeras resoluções dos Conselho de<br />

Ministros a perceção e valorização do problema pode<br />

estar ainda muito centrada na tutela da Ciência,<br />

Tecnologia e Ensino Superior com obstáculos que<br />

não pode controlar e com realidades muito específicas<br />

da investigação clínica permanentemente diluída<br />

e afogada na complexidade da organização dos<br />

serviços e dos profissionais de saúde. A investigação<br />

clínica continua a ser o parente remoto e esquecido<br />

da tutela da Saúde. Contudo, não houve em nenhuma<br />

parte do mundo desenvolvimento da investigação<br />

clínica sem a liderança dos interlocutores da<br />

saúde. Verdadeira liderança e não mera colaboração<br />

em projetos comuns. A maioria das instituições de<br />

saúde refere a investigação na sua missão e valores.<br />

Pergunto-me, contudo, quantas são avaliadas e financiadas<br />

tendo em conta os resultados de investigação.<br />

Na maioria dos países desenvolvidos o paradigma<br />

mudou não com políticos, nem com professores<br />

mas sim com médicos-investigadores, ambiciosos,<br />

líderes nas unidades de saúde que encontraram, juntamente<br />

com os centros de investigação biomédica<br />

e as faculdades de medicina, soluções arriscadas<br />

que acabaram por convencer a tutela dos benefícios<br />

financeiros de uma investigação clínica profissional.<br />

Vejamos por exemplo o caso dos CACs. Já em 2011<br />

numa reunião da rede das universidades em capitais<br />

da europa (UNICA) 15 sobre centros académicos,<br />

o professor Frans Jaspers explicava que em Groningen<br />

(Holanda) começaram por implementar o conceito<br />

de CACs na prática, sem legislação da tutela,<br />

partindo da visão dos líderes do hospital, criando um<br />

modelo de organização da investigação baseado na<br />

confiança entre gestores das unidades de saúde, diretores<br />

das faculdades de medicina e diretores dos<br />

centros de investigação, com investimento partilhado<br />

no projeto comum e liderados por alguém que<br />

fez deste o projeto da sua vida. Continuavam a prestar<br />

contas cada um à sua tutela e quando tiveram<br />

resultados mensuráveis conseguiram o enquadramento<br />

legal que lhes permitiu um desenvolvimento<br />

sustentável. O modelo replicou-se nas várias cidades<br />

holandesas e tornou-se imparável. Começaram por<br />

alterar internamente na unidade de saúde as mentalidades<br />

e as infraestruturas.<br />

Em janeiro de 20<strong>19</strong>, no workshop organizado pela<br />

APAH sobre “Estratégia para a profissionalização da<br />

investigação clínica nas unidades de saúde em Portugal”<br />

16 , o professor Antonio Portolés, Diretor do Instituto<br />

de Investigación Sanitaria del Hospital Clínico San<br />

Carlos 17 , na vizinha Madrid explicava como o hospital<br />

público San Carlos, as Universidades Complutense<br />

e Politécnia de Madrid, a Consejería de Sanidad de la<br />

Comunidad de Madrid e a Fundación para la Investigación<br />

Biomédica del Hospital Clínico San Carlos criaram<br />

o instituto com um investimento individual de cerca<br />

de uma dezena de milhar de euros e contribuições in<br />

kind. O Instituto passou a centralizar a gestão de toda<br />

a investigação do hospital (incluindo ensaios clínicos<br />

promovidos pela indústria) e toda a investigação da<br />

faculdade de medicina (incluindo os projetos de biomedicina<br />

com financiamento competitivo) e a reinvestir<br />

as receitas em capacitação e infraestruturas de<br />

investigação. Em 2017 as receitas foram superiores<br />

a 10 milhões de euros. Mais uma vez a liderança partiu<br />

da unidade de saúde e estabeleceu-se na base da<br />

visão e confiança no valor da investigação para a melhoria<br />

da prática clínica.<br />

Conscientes da importância dos administradores hospitalares<br />

na mudança de paradigma que inclui a profissionalização<br />

da investigação nas unidades de saúde,<br />

a APAH tem promovido uma série de iniciativas.<br />

O workshop de janeiro de 20<strong>19</strong>, constituiu a ação<br />

de sensibilização inicial que teve continuidade em<br />

dois cursos pós-graduados sobre a organização, boas<br />

práticas e princípios de gestão dos centros de investigação,<br />

que decorreram em março na Nova Medical<br />

School. Estes foram dedicados a administradores<br />

hospitalares e diretores de centros de investigação,<br />

sem custos para as unidades de saúde. Foram iniciativas<br />

de sucesso que estiveram limitadas a um número<br />

restrito de participantes e se irão expandir em <strong>2020</strong><br />

com o lançamento do PALIS - Programa em Administração<br />

e Liderança da Investigação em Saúde, organizado<br />

em módulos que decorrerão em diferentes<br />

unidades de saúde nacionais.<br />

O dinamismo da APAH é inspirador e augura que<br />

estaremos próximos de ultrapassar um dos últimos<br />

fatores limitantes para o desenvolvimento da investigação<br />

clínica em Portugal: o desconhecimento e consequente<br />

falta da valorização da investigação pelas<br />

unidades de saúde e pela sua tutela.<br />

Acreditamos que este conjunto de oportunidades<br />

permitirá aos administradores consolidar os pilares<br />

da mudança de atitude das unidades de saúde portugueses<br />

relativamente à investigação e à inovação:<br />

• Falar de investigação clínica com conhecimento de<br />

causa;<br />

• Acabar com a oposição entre investigação e trabalho<br />

assistencial: a investigação melhora o trabalho<br />

assistencial;<br />

• Estar disposto a alterar a cultura institucional;<br />

• Assumir que se a investigação é clínica não pode<br />

ser realizada fora das unidades de saúde;<br />

• Assumir uma gestão menos reativa e mais estratégica:<br />

a investigação não resolve problemas imediatos;<br />

• Organizar a gestão da investigação separada da<br />

gestão da atividade assistencial;<br />

• Capacitar profissionais e criar infraestruturas próprias;<br />

• Gerir adequadamente os conflitos de interesse desde<br />

os administradores aos profissionais de saúde, passando<br />

pelos promotores;<br />

• Financiar a investigação com receitas próprias. Reinvestir<br />

os lucros em investigação;<br />

• Gerir a investigação no espaço público com regras<br />

públicas, mas também princípios de gestão privada;<br />

• Assumir que a transparência não é uma opção;<br />

• Utilizar a investigação para motivar os profissionais<br />

desgastados pela rotina ou pela atividade assistencial<br />

indiferenciada.<br />

E principalmente admitir que não há razão nenhuma<br />

para que os profissionais de saúde portugueses não<br />

sejam contribuintes ativos para a inovação em saúde:<br />

se não construirmos o nosso sonho alguém nos recrutará<br />

para construir o deles. Ã<br />

1. http://www.chlc.min-saude.pt/missao-visao-valores-e-objectivos/;<br />

http://www.chlo.min-saude.pt/index.php/centro-hospitalar/missao-visao-e-valores;<br />

http://www.chln.min-saude.pt/index.php/o-chln/missao-e-valores;<br />

https://www.chuc.min-saude.pt/paginas/centro-hospitalar/missao-visao-e-valores.php;<br />

https://www.chporto.pt/https://portal-chsj.min-saude.pt/pages/20;<br />

http://www.josedemellosaude.pt/node/1558; https://www.luzsaude.pt/pt/<br />

luz-saude/sobre/quem-somos-visao-missao-e-valores; https://www.hospitaldebraga.pt/hospital/sobre-nos.<br />

2. A health technology is the application of organized knowledge and skills in<br />

the form of devices, medicines, vaccines, procedures and systems developed to<br />

solve a health problem and improve quality of lives. https://www.who.int/healthtechnology-assessment/about/healthtechnology/en/.<br />

3. www.ptcrin.pt.<br />

4. Madeira et al., (2016). Investigator-initiated clinical trials conducted by the Portuguese<br />

Clinical Research Infrastructure Network (PtCRIN). Contemporary Clinical<br />

Trials Communications 4 (2016) 141e148.<br />

5. https://www.ceic.pt/web/ceic/indicadores-ceic.<br />

6. Madeira et al., Investigator initiated clinical trials (IICTs): a systematic search in<br />

registries comparing two European countries with and without a funding agency<br />

specific for clinical research, submitted.<br />

7. “Ensaios Clínicos em Portugal”, 2013 e 20<strong>19</strong>, APIFARMA e PwC, https://<br />

www.apifarma.pt/publicacoes/siteestudos/Documents/PwC_APIFARMA_Relatorio_Ensaios_Clinicos_Fev20<strong>19</strong>.pdf.<br />

8. Resolução do Conselho de Ministros n<strong>º</strong> 18/2015. Diário da República, 1. a<br />

série - N .o 67 - 7 de abril de 2015.<br />

9. https://postgraduateeducation.hms.harvard.edu/certificate-programs/custom-<br />

-programs/portugal-clinical-scholars-research-training.<br />

10. Resolução do Conselho de Ministros n.o 22/2016 . Diário da República, 1. a<br />

série - n. o 70 -11 de abril de 2016.<br />

11. Decreto-Lei n.<strong>º</strong> 61/2018. Diário da República, 1.ª série - n.<strong>º</strong> 149 - 3 de agosto<br />

de 2018.<br />

12. Resolução do Conselho de Ministros n.<strong>º</strong> 27/2018. Diário da República, 1.ª<br />

série - n.<strong>º</strong> 49 - 9 de março de 2018.<br />

13. Resolução do Conselho de Ministros n<strong>º</strong> 20/2016. Diário da República, 1. a<br />

série - n. o 70 - 11 de abril de 2016.<br />

14. Despacho n. o 4157/20<strong>19</strong>. Diário da República, 2. a série - n. o 75 - 16 de abril<br />

de 20<strong>19</strong>.<br />

15. UNICA Workshop 28-29 November 2011. King’s College London . UNI-<br />

CA Network of Universities from the capitals of Europe http://www.unica-network.eu/.<br />

16. Workshop Estratégia para a Profissionalização da Investigação Clínica nas<br />

Unidades de Saúde em Portugal, 30 de janeiro de 20<strong>19</strong> INFARMED, Edifício<br />

Tomé Pires, Parque da Saúde de Lisboa.<br />

17. http://www.idissc.org/.<br />

16 17


GH Investigação clínica<br />

ENSAIOS CLÍNICOS:<br />

QUÃO PERTO ESTAMOS<br />

DA EXCELÊNCIA?<br />

INOVAÇÃO NO SNS COMO FORMA<br />

DE SUSTENTABILIDADE<br />

Catarina Silva<br />

IQVIA Portugal<br />

Gisela Videira<br />

IQVIA Portugal<br />

Os Ensaios Clínicos têm sido alvo de<br />

discussão ao longo dos anos. Foram<br />

criados grupos de trabalho, plataformas<br />

de suporte, estudos sobre a<br />

realidade em Portugal e publicados<br />

consensos. Mas em que ponto podemos dizer que se<br />

encontra a investigação clínica em Portugal? Quais os<br />

constrangimentos encontrados? E o que tem levado<br />

a uma inércia no desenvolvimento desta área, cuja<br />

relevância é perfeitamente assumida?<br />

As questões são, efetivamente, muitas e com o intuito<br />

de encontrar pontes de comunicação sobre o estado<br />

de arte dos Ensaios Clínicos e o futuro da Investigação<br />

Clínica em Portugal, a IQVIA reuniu numa sessão<br />

de Advisory Board um conjunto de stakeholders com<br />

papel interventivo nesta área, tais como a Indústria<br />

Farmacêutica, Hospitais, Parlamento, Instituições de<br />

Ensino e CRO’s (Contract Research Organizations).<br />

Industrialização da saúde: o doente no epicentro<br />

Nos últimos anos instalou-se a discussão sobre a industrialização<br />

da saúde e os novos desafios que esta<br />

acarreta: overtreatment, aumento constante dos custos,<br />

casos de fraude e, por inerência, a sustentabilidade<br />

do SNS.<br />

Com o doente no centro da retórica, a discussão está<br />

instalada para que o SNS caminhe no sentido da sustentabilidade<br />

pela inovação. Stakeholders, governos,<br />

agências reguladoras, academia e outros players estão<br />

hoje em sintonia: é preciso colocar os ensaios clínicos<br />

como uma prioridade na agenda do SNS. Mas qual o<br />

passo seguinte?<br />

Envolver os decisores<br />

Se a realização de ensaios clínicos assenta no envolvimento<br />

e compromisso da <strong>Gestão</strong> <strong>Hospitalar</strong>, tanto<br />

a Indústria Farmacêutica como as equipas de investigação<br />

encontram logo aqui constrangimentos difíceis<br />

de ultrapassar, questionando qual a melhor forma para<br />

permitir que sejam considerados uma prioridade e<br />

que seja visto neles a mais-valia que efetivamente são.<br />

Surge, então, a necessidade de colocar este tema na<br />

agenda governamental e passar a considerar-se os ensaios<br />

clínicos como um objetivo estratégico para o desenvolvimento<br />

do país.<br />

A definição pela tutela de diretrizes e objetivos para<br />

dinamização e implementação de ensaios clínicos<br />

seria crucial para gerar uma maior responsabilização<br />

da <strong>Gestão</strong> <strong>Hospitalar</strong> em criar condições para a sua<br />

realização e no cumprimento de um plano previamente<br />

estabelecido.<br />

Na base da definição estratégica, estaria a criação de<br />

uma agência interministerial liderada pelo Ministério<br />

da Saúde: o Ministério da Saúde tem de dar o mote<br />

para que outros ministérios possam valorizar esta<br />

temática. Estando a ownership perfeitamente identificada,<br />

seria mais profícuo cumprir um plano comum,<br />

evitando que as administrações hospitalares tenham<br />

de intervir caso a caso.<br />

A tutela deverá dar orientações para a realização dos<br />

ensaios; a concertação permitir-nos-á caminhar no<br />

sentido de aumentar a rentabilidade das instituições e<br />

otimizar os recursos.<br />

Na constituição da agência interministerial estariam<br />

o Ministério da Saúde, Economia, Negócios Estrangeiros,<br />

Educação e Ciência, como forma de envolver<br />

diferentes setores afetos à estratégia de promoção<br />

da investigação clínica e desenvolvimento de inovação.<br />

Sobre esta agência recairia a responsabilidade de<br />

gerar condições favoráveis à realização de ensaios clínicos,<br />

aumentar a rentabilidade das instituições e otimizar<br />

os recursos. De igual forma, pedir-se-ia a sua a-<br />

ção na promoção da visibilidade internacional para demonstrar<br />

a capacidade e excelência do país nesta área. 1<br />

Ensaios Clínicos: quão perto estamos<br />

da excelência?<br />

Portugal está numa competição acérrima com outros<br />

países, mas temos menos meios e menos centros dis-<br />

-poníveis. Segundo um dos convidados, “queríamos estar<br />

nos países prioritários para receber ensaios clínicos<br />

e temos os países da Europa de Leste a ganhar terreno<br />

e a oferecer uma concorrência diferenciada.”<br />

O enrollment de doentes, per si, constitui outro grande<br />

desafio: estima-se que 25-30% dos centros não<br />

são suficientemente ágeis a recrutar doentes, o que<br />

ronda os $50.000 perdidos por centro, segundo fonte<br />

de dados da IQVIA.<br />

Adicionalmente, é fundamental garantir a previsibilidade<br />

de execução, para evitar a derrapagem de prazos<br />

- quer de aprovação, quer de execução - que penalizam<br />

a credibilidade do país e contribuem para o desinvestimento.<br />

Os prazos de aprovação são os que<br />

constam na Lei n.<strong>º</strong> 21/2014 (Aprova a lei da investigação<br />

clínica), sendo que não existem dados públicos<br />

reais sobre os tempos de aprovação que nos permitam<br />

elaborar um plano realista e suportado em dados<br />

públicos. Os tempos de aprovação disponíveis não<br />

contemplam processos de validação e/ou aprovação<br />

de contrato pela CEIC, os quais podem chegar a ser<br />

de 40 a 50 dias até ao momento da aprovação, quando<br />

por Lei deveria ser obtida em 30 dias.<br />

Para esta demora acentuada contribuem diferentes<br />

fatores, tais como: a não existência de uma estrutura<br />

única de centralização da gestão e promoção dos en- }<br />

18 <strong>19</strong>


GH Investigação clínica<br />

“<br />

TEMOS DE ESCOLHER ONDE<br />

QUEREMOS SER COMPETITIVOS<br />

E ESPECIALIZARMO-NOS.<br />

O FUTURO PASSA POR<br />

IDENTIFICAR OS CENTROS<br />

DE EXCELÊNCIA E DESENVOLVÊ-<br />

-LOS. NÃO PODEMOS TER<br />

A AMBIÇÃO DE SER EXCELENTES<br />

EM TODAS AS ÁREAS.<br />

E SE AMBICIONAMOS SER<br />

OS MELHORES, O QUE SE TORNA<br />

PREMENTE FAZER?<br />

”<br />

saios; os tempos de aprovação pelo Infarmed e pela<br />

CEIC; o tempo de decisão dos Conselhos de Administração;<br />

a não uniformização da documentação, como<br />

é o caso dos contratos financeiros; e a demora no<br />

recrutamento dos doentes e dos próprios investigadores.<br />

Em Portugal, somos 21% mais lentos do que<br />

a média europeia no arranque de ensaios clínicos<br />

e 60% mais lentos no recrutamento dos investigadores.<br />

A criação de algo semelhante à “Via Verde” nos<br />

ensaios clínicos, como forma de reconhecimento da<br />

sua importância pelos profissionais, poderia conduzir<br />

a uma aprovação mais célere. Para a Vice-Presidente<br />

da APIFARMA, “têm-se introduzido mudanças importantes<br />

nos acordos da APIFARMA, por exemplo a dedução<br />

do investimento em I&D (Investigação e Desenvolvimento)<br />

no clawback (contribuição extraordinária<br />

da Industria Farmacêutica), como forma de reconhecer<br />

a importância de investir em I&D como pilar da<br />

Inovação e do desenvolvimento do país”.<br />

Se os benefícios da realização dos ensaios clínicos já<br />

estão mais do que identificados e se é de conhecimento<br />

geral que por cada euro investido há um retorno<br />

de 1,98€, porque continuamos a encontrar barreiras<br />

à realização dos mesmos? Porque não conseguimos<br />

captar mais ensaios clínicos e competir com países de<br />

igual dimensão?<br />

O reconhecimento de que ainda há um longo caminho<br />

a percorrer é um passo fundamental para o motor<br />

da transformação.<br />

Melhorar as infraestruturas<br />

e a operacionalização<br />

Também a nível organizacional são encontrados os<br />

mais diversos constrangimentos. É preciso que os centros<br />

funcionem em rede e só depois se poderá pensar<br />

em competição. Em Portugal, não existem redes de<br />

referenciação oficiais. A divulgação de Ensaios Clínicos<br />

quer aos profissionais de saúde, quer aos doentes<br />

poderia passar por ter um registo nacional funcional<br />

(RNEC), com um motor de busca acessível. A divulgação<br />

dos ensaios clínicos no site das Instituições também<br />

seria uma opção. A maioria dos profissionais de<br />

saúde não tem conhecimento dos estudos a decorrer<br />

e, como tal, não referencia doentes.<br />

Só criando infraestruturas e condições favoráveis à<br />

operacionalização de ensaios clínicos poderemos ambicionar<br />

ser bons nos ensaios que já realizamos, precisamos<br />

de ser muito melhores nos ensaios de fase III<br />

antes de pensar nos de fase I e II.<br />

Existe igualmente a necessidade de proporcionar<br />

condições a que se desenvolvam centros de investigação<br />

de excelência, especializados nas áreas terapêuticas<br />

onde possam captar mais estudos e recrutar<br />

mais doentes, sendo o recrutamento suportado por<br />

um processo de referenciação por parte dos cuidados<br />

de saúde primários. Temos de escolher onde<br />

queremos ser competitivos e especializarmo-nos.<br />

O futuro passa por identificar os centros de excelência<br />

e desenvolvê-los. Não podemos ter a ambição de<br />

ser excelentes em todas as áreas.<br />

E se ambicionamos ser os melhores, o que se torna<br />

premente fazer? Tendo processos de decisão e operacionalização<br />

agilizados e infraestruturas criadas, a capacitação<br />

dos profissionais de saúde com valorização<br />

da atividade de investigação e tempo protegido para<br />

a mesma assim como a literacia do doente será mais<br />

um passo a dar.<br />

Identificamos também a necessidade das Instituições<br />

criarem processos mais ágeis na aprovação de<br />

contratos de ensaios clínicos. Deverão ter em conta<br />

que existem organismos nacionais competentes para<br />

a avaliação ética, não havendo necessidade desta avaliação<br />

ser realizada a nível da instituição.<br />

Capacitar os intervenientes<br />

Face à importância dos ensaios clínicos, seria de esperar<br />

que os profissionais de saúde tivessem uma carreira<br />

associada à investigação, através da qual pudessem<br />

progredir. No entanto, tal não ocorre: poucos são<br />

os profissionais que podem dedicar-se a tempo exclusivo<br />

a esta área e os incentivos para premiar a excelência<br />

são diminutos.<br />

Desta forma, os ensaios não são mais do que um adicional<br />

às funções e os profissionais de saúde nem<br />

sempre têm noção exata de qual o retorno do esforço<br />

efetuado em conciliar a rotina diária com a investigação<br />

clínica. Sem que haja incentivos (financeiros ou<br />

outros) diretos à participação dos profissionais, os ensaios<br />

clínicos acabam por não ser considerados uma<br />

prioridade, ficando para segundo plano.<br />

A academia tem também vindo a procurar ganhar relevo<br />

neste campo. Geralmente, os investigadores continuam<br />

a diferenciar os ensaios clínicos promovidos<br />

pela Indústria Farmacêutica daqueles que são promovidos<br />

pela academia, sendo que deveriam estar completamente<br />

associados pois os ensaios clínicos da Indústria<br />

Farmacêutica poderiam financiar os académicos.<br />

Os ensaios clínicos que resultam da iniciativa do<br />

investigador são apenas 10% e desses, nem sempre<br />

é verdadeiramente por iniciativa do investigador.<br />

Atualmente, nenhum centro académico tem uma estrutura<br />

que lhe permita desenvolver ensaios. No limite,<br />

é preciso entender que os requisitos de um ensaio<br />

clínico não são para criar dificuldades aos investigadores<br />

ou aos centros de investigação, mas para proteger<br />

os doentes.<br />

Hoje já temos um conjunto de condições que nos permite<br />

dar o passo seguinte e a transparência dos dados<br />

faz parte dos requisitos para quem vem fazer ensaios<br />

clínicos em Portugal.<br />

Gerar informação<br />

Começámos por falar na industrialização da saúde,<br />

sendo um dos principais fatores de análise desta o valor<br />

da saúde: outcomes vs custos. Sabe-se hoje que os outcomes<br />

são difíceis de medir, sobretudo devido à falta<br />

de informação: faltam dados e robustez aos que já<br />

existem para permitir pagar por resultados.<br />

Na base de qualquer estratégia definida com o intuito }<br />

20


GH Investigação clínica<br />

“<br />

O DOENTE ESTÁ NO CENTRO<br />

DO DESAFIO, MAS É NECESSÁRIO<br />

ALARGAR A DISCUSSÃO<br />

E DEFINIR UMA ESTRATÉGIA<br />

GLOBAL E CONCERTADA<br />

QUE PERMITA REDEFINIR<br />

OS PRESSUPOSTOS DA<br />

INVESTIGAÇÃO CLINÍCA.<br />

”<br />

no centro do desafio, mas é necessário alargar a discussão<br />

e definir uma estratégia global e concertada que<br />

permita redefinir os pressupostos da investigação clínica<br />

em Portugal e que a mesma seja implementada.<br />

O envolvimento dos decisores será determinante para<br />

que o compromisso dos quadros diretivos dos Hospitais<br />

seja efetivo, mas também porque é necessário<br />

um investimento estratégico na modernização das infraestruturas<br />

que servem de base à investigação clínica.<br />

A realidade de vanguarda tecnológica em que vivemos<br />

exige que a operacionalização dos processos seja<br />

mais célere, eficaz e com resultados mais próximos<br />

da excelência.<br />

Não é nova a discussão sobre a necessidade de reforma<br />

do SNS Português, mas urge que a mudança seja<br />

pensada de forma holística e que os Ensaios Clínicos<br />

e a Investigação Clínica em Portugal sejam tidos como<br />

uma prioridade. Mais do que um serviço nacional<br />

de saúde universal e tendencialmente gratuito, os portugueses<br />

precisam que a inovação chegue mais depressa<br />

como forma de sustentabilidade a longo prazo. Ã<br />

de desenvolver a investigação clínica em Portugal, deverá<br />

estar uma robusta e fiável informação em saúde.<br />

A determinação do potencial por área terapêutica é<br />

de extrema relevância uma vez que os critérios de inclusão<br />

e exclusão dos ensaios são cada vez mais exigentes<br />

e a Indústria Farmacêutica tem vindo a focarse<br />

em cohorts de doentes com doenças menos conhecidas<br />

e com características muito específicas. Sem<br />

a capacidade de definir previamente o potencial de<br />

doentes elegíveis, as metas definidas não serão concordantes<br />

com a realidade e continuaremos a ter ensaios<br />

com centros de investigação sem recrutamento.<br />

Para isto, é essencial que o país esteja dotado de sistemas<br />

de informação articulados que permitam a rápida<br />

estruturação dos dados de saúde e a identificação<br />

célere dos doentes elegíveis.<br />

Sem esta base estruturante, que sirva de suporte a decisões<br />

futuras, poderemos continuar a ambicionar ser<br />

melhores, mas não conseguiremos captar mais ensaios<br />

clínicos nem conseguiremos alcançar a tão pretendida<br />

excelência em investigação clínica.<br />

Considerações finais<br />

Como resultado da sessão de trabalho ficou claro que<br />

as dificuldades sentidas e a necessidade de progresso<br />

são transversais a todos os stakeholders. O doente está<br />

Moderador do debate:<br />

Pedro Silva Gomes, former Principal<br />

Consulting, IQVIA<br />

Participantes no Advisory Board:<br />

Ana García Cebrian, former Diretora-Geral, Sanofi<br />

Branca Barata, former Market Access<br />

& External Affairs Director, Roche<br />

Cristina Campos, Diretora-Geral, Novartis<br />

Filipa Mota e Costa, Diretora-Geral, Janssen<br />

Filomena Ribeiro dos Santos, Associate<br />

Director, IQVIA Portugal<br />

Hélder Mota Filipe, Faculdade de Farmácia<br />

da Universidade de Lisboa<br />

João Sayanda, Senior Director R&D, IQVIA<br />

Mário Martins, General Manager, IQVIA Portugal<br />

Óscar Fernandes, former Clinial Trials Unit<br />

Manager, Centro Hospitlar Lisboa Central<br />

Ricardo Baptista Leite, Assembleia<br />

da República<br />

Vítor Papão, Diretor-Geral, Gilead.<br />

1. Em 2018, foi criada a Agência para a Investigação Clínica e Inovação Biomédica<br />

(AICIB) com o intuito de promover e desenvolver a investigação<br />

clínica em Portugal, carecendo esta, no entanto, de uma intervenção mais<br />

efetiva no âmbito para a qual foi criada.<br />

22


GH entrevista<br />

CARLA NUNES<br />

DIRETORA DA ESCOLA NACIONAL DE SAÚDE PÚBLICA (ENSP-NOVA)<br />

PROMOVER UMA ESCOLA<br />

ATUAL, INOVADORA<br />

E FOCADA NA SUA MISSÃO<br />

Professora na ENSP-NOVA desde 2005 e diretora desde agosto de 20<strong>19</strong>, Carla Nunes realça<br />

o inquestionável legado da instituição ao longo dos seus 52 anos de história. No seu mandato,<br />

assegura promover uma Escola atual, inovadora, mais viva e focada na sua missão: contribuir<br />

para promover uma melhor saúde e para responder aos novos desafios da Saúde Pública.<br />

É<br />

diretora da Escola Nacional de Saúde<br />

Pública (ENSP-NOVA) desde agosto<br />

de 20<strong>19</strong> e professora da mesma<br />

casa desde 2005. O que a impeliu a<br />

apresentar a candidatura à Direção da<br />

ENSP? Quais são as marcas que distinguem a atual<br />

Direção da ENSP-NOVA?<br />

O que me motivou a apresentar a minha candidatura<br />

a diretora foi acreditar profundamente na Escola Nacional<br />

de Saúde Pública, principalmente na sua utilidade<br />

pública e, simultaneamente, acreditar que posso contribuir<br />

para o seu desenvolvimento. A Escola tem um legado<br />

inquestionável e de que eu muito me orgulho e<br />

que suporta a sua pertinência passada, atual e futura. A<br />

atual direção, constituída por mim, pelo Professor Alexandre<br />

Abrantes e pelo Professor Rui Santana, acredita<br />

que a Escola pode e deve ter agora uma velocidade e<br />

um movimento diferente, nas suas três áreas de atuação:<br />

ensino, investigação e criação de valor. A pertinência<br />

e utilidade de tudo o que fazemos é central à<br />

nossa forma de estar e sempre que criamos ou repensamos<br />

algo validamos o seu alinhamento com os objetivos<br />

do desenvolvimento sustentável. Claro que o n<strong>º</strong> 3<br />

é a nossa base (Assegurar uma vida saudável e promover<br />

o bem-estar para todos, em todas as idades), mas<br />

existem outros (senão todos) que são incontornáveis<br />

na nossa missão: 1 - Acabar com a pobreza em to-<br />

das as suas formas, em todos os lugares (maior determinante<br />

da saúde), 4 - Educação de qualidade, 10 - Redução<br />

das iniquidades, 13 - Alterações climáticas (que<br />

traz novos desafios à Saúde Pública) e, claro, o 17 - o Estabelecimento<br />

de parcerias para atingir estes objetivos.<br />

Procuramos assim promover uma Escola atual, inovadora,<br />

mais viva e focada na sua missão (contribuir para<br />

promover uma melhor saúde e para melhorar os serviços<br />

da saúde), aberta à sociedade e aos novos desafios<br />

da Saúde Pública, muito presente, por exemplo, na elaboração<br />

da agenda futura da Saúde Pública.<br />

Há 25 anos na Universidade NOVA de Lisboa e com<br />

mais de 50 anos de história, a ENSP-NOVA é uma<br />

instituição dedicada ao ensino pós-graduado, à investigação<br />

e à criação de valor para a sociedade na área<br />

da Saúde Pública. Tendo em consideração este legado<br />

quais são os pilares e prioridades que preconiza para<br />

o futuro da instituição?<br />

Este é realmente um ponto no tempo muito importante<br />

na história da ENSP. Até agora, a nossa missão de Saúde<br />

Pública tem sido cumprida metade no Ministério da<br />

Saúde (entre <strong>19</strong>67-<strong>19</strong>94) e a outra parte na Academia,<br />

especificamente na NOVA, que muito nos orgulhamos.<br />

De entre os nossos pilares e prioridades que<br />

definimos no plano estratégico identifico aqui, apenas<br />

para abrir o apetite, uma ação em cada uma das três }<br />

24 25


GH entrevista<br />

áreas: a) Ensino - criação de uma oferta formativa complementar<br />

à existente, baseada em cursos de pequena<br />

duração, com perfis distintos dos atuais, numa perspetiva<br />

de ensino ao longo da vida, em temas específicos<br />

e na aquisição de novas competências, para executivos<br />

e para um público internacional; b) Investigação - temos<br />

neste momento a nossa investigação baseada em<br />

centros de investigação excelentes, um interno e outro<br />

em parceria e onde coordenamos as áreas de Saúde<br />

Pública (Centro de Investigação em Saúde Pública,<br />

Comprehensive Health Research Centre). Assim temos<br />

agora todas as condições para desenvolver projetos de<br />

maior dimensão, com novas contratações de investigadores<br />

de elevado nível e também robustecendo os gabinetes<br />

de apoio à investigação; c) Criação de valor - estamos<br />

a desenvolver diversas iniciativas direcionadas para<br />

a comunidade, para aumentar a sensibilidade e conhecimento<br />

da população dos grandes problemas de Saúde<br />

Pública e promover o seu envolvimento em iniciativas<br />

específicas. Esta sensibilização tem de começar em idades<br />

jovens e de uma forma atual, com uma comunicação<br />

adequada. A forma como se procura passar a informação<br />

é essencial, tendo agora novos parceiros nessa área.<br />

Como nota final, transversal às três áreas, temos um<br />

grande desafio e prioridade: contratação de recursos<br />

humanos de excelência, nomeadamente jovens talentos<br />

da Saúde Pública, e de outras áreas, claro. São eles<br />

que promoverão um dinamismo diferente e que ajudarão<br />

a criar a agenda futura de Saúde Pública. Também<br />

a criação da associação dos antigos alunos da ENSP,<br />

considerando obviamente todas os cursos ministrados<br />

pela ENSP desde sempre, procura criar uma comunidade<br />

ENSP de grande dimensão com projetos e iniciativas<br />

inovadores e integradores.<br />

A ENSP-NOVA é uma das instituições de referência<br />

nacional na oferta pós-graduada na área da saúde em<br />

Portugal. Contudo num mercado em crescente dinamismo,<br />

onde por um lado a competição e diversidade<br />

de oferta de programas formativos se tem vindo<br />

a acentuar, e por outro as expetativas dos formandos<br />

é cada vez mais elevada, que soluções e alternativas<br />

preconiza ao nível da oferta formativa da ENSP-<br />

-NOVA que permita responder aos desafios dos<br />

anos vindouros?<br />

Desde sempre a nossa formação é reconhecida como<br />

uma oferta exigente, de elevada qualidade e diferenciadora,<br />

sendo líder na oferta formativa que oferece.<br />

Diferenciadora no sentido em que existem conteúdos<br />

que não são lecionados em mais sítio nenhum, principalmente<br />

num contexto de Saúde Pública adequado.<br />

Não procuramos oferecer formações per si, isoladas,<br />

mas sim uma proposta de caminho profissional.<br />

Claro que é necessário ir adaptando, atualizando, inovando<br />

e criando ofertas complementares às nossas ofertas<br />

formativas. Nesse sentido, estamos agora a desenvolver<br />

novos produtos com diferentes formatos, mais curtos<br />

e numa perspetiva de formação ao longo da vida, e<br />

que correspondam às necessidades atuais.<br />

Estas formações, com base em toda a nossa experiência,<br />

são com certeza diferenciadoras de outras ofertas<br />

com o mesmo formato de faculdades que têm com base<br />

e como missão outras áreas. Temos obviamente conhecimento<br />

das novas formações que têm surgido no<br />

mercado, nem sempre alicerçadas na melhor preparação,<br />

no contexto adequado e sem evidência científica.<br />

Há muito ruído nas iniciativas que são oferecidas pelo<br />

mercado, muitas vezes pouco consistentes e não reprodutivas.<br />

Não nasceram na Saúde Pública, e para essas<br />

outras iniciativas, a saúde é apenas uma nova área,<br />

entre tantas outras, onde não têm experiência e conhecimento.<br />

A especialização de um corpo docente e de investigação<br />

robusto que permita um ensino específico<br />

e diferenciado na área demora anos a ser formado. A<br />

abertura de novas formações na ENSP não procura<br />

acompanhar tendências mediáticas ou modas efémeras<br />

que rapidamente se eclipsam, mas sim as reais necessidades,<br />

identificadas junto das populações, dos parceiros,<br />

dos serviços de saúde e da sociedade em geral. Procuramos<br />

ensinar o estado de arte, pelo que a atualidade<br />

dos nossos programas é uma realidade.<br />

O que nos pode dizer sobre a qualidade, diferenciação<br />

e atualidade dos programas lecionados na ENSP-<br />

-NOVA, nomeadamente os de doutoramento, por<br />

forma a responder às necessidades de uma Saúde Pública<br />

globalizada e em constante mudança? Como se<br />

articula a ENSP-NOVA com as restantes entidades da<br />

Universidade NOVA de Lisboa e com a rede nacional<br />

e internacional de entidades académicas e de investigação.<br />

E como é feita a ponte com a sociedade civil?<br />

O que nos distingue é termos nascido na saúde e trazemos<br />

as outras áreas para servir a Saúde Pública. Por e-<br />

xemplo, eu sou de estatística e já fui professora em outras<br />

duas faculdades: é completamente diferente lecionar<br />

aulas de estatística num departamento de Matemática/Estatística,<br />

onde mostramos exemplos de engenharia,<br />

de ambiente, de economia, e, por vezes, de saúde, a<br />

ter o enquadramento da ENSP, onde o centro e o foco<br />

é a Saúde Pública e os seus desafios e onde todas as áreas<br />

contribuem para a Saúde Pública (direito, economia,<br />

ambiente, gestão, sociologia, etc), com a investigação<br />

também alinhada desta forma e em conjunto com professores<br />

convidados que trabalham fora da academia e<br />

que trazem a realidade e os desafios do dia a dia para<br />

o ensino. O ensino de todas as matérias é assim centrado<br />

na Saúde Pública, atual, produtivo e diferenciador.<br />

Em relação especificamente aos doutoramentos, temos<br />

atualmente três cursos de doutoramento; um exclusivo<br />

da ENSP, outro em parceria com quatro faculdades (três<br />

da NOVA) a nível nacional e outro internacional (tendo<br />

a França e a Suécia como parceiros). Os dois últimos são<br />

totalmente comparticipados (pela Fundação para a Ciência<br />

e Tecnologia e pela União Europeia) e apenas aceitam<br />

alunos a tempo integral. O primeiro, com cinco especialidades<br />

distintas (Epidemiologia; Promoção da Saúde;<br />

Política, <strong>Gestão</strong> e Administração da Saúde; Economia<br />

da Saúde; Saúde Ambiental e Ocupacional) integra<br />

maioritariamente estudantes-trabalhadores, muitas vezes<br />

com posições já consolidadas em termos profissionais<br />

e que procuram uma formação diferenciadora.<br />

Assim, temos a este nível um leque variado, com parcerias<br />

nacionais e internacionais, dentro e fora da NOVA.<br />

Na última década doutoramos cerca de 70 alunos na<br />

ENSP, com um padrão crescente notório, demonstrando<br />

que a nossa investigação está cada vez mais robusta<br />

e fortemente alinhada com o ensino. Recentemente tivemos<br />

uma site visit da ASPHER que elogiou o trabalho<br />

da ENSP enquanto Escola multidisciplinar, completa,<br />

atualizada no que respeita à sua oferta formativa e com<br />

um feedback excelente por parte dos seus alunos, dos<br />

antigos alunos e dos parceiros.<br />

Respondendo aos desafios e oportunidades atuais da<br />

Saúde Pública, considera que existem atualmente profissionais<br />

habilitados em número suficiente, sobretudo<br />

no domínio da Saúde Pública, para responder aos<br />

desafios tão exigentes como o que se vive atualmente<br />

com o surto de pneumonia por novo Coronavírus<br />

(20<strong>19</strong>-nCoV), num contexto em que urge atuar à escala<br />

mundial?<br />

A área da Saúde Pública foi durante muito tempo um<br />

pouco marginalizada dentro das áreas de especialidade<br />

da medicina e por vezes com funções pouco desafiadoras<br />

para os profissionais de Saúde Pública e em especial,<br />

atrevo-me a dizer, para os médicos de Saúde Pública.<br />

Parece-me que atualmente temos um panorama e um<br />

reconhecimento muito distinto: A Saúde Pública é notoriamente<br />

algo central para as populações em todo o<br />

mundo, com muitos desafios em comum e outros mais<br />

locais. Poderia identificar muitas áreas importantes, mas<br />

focando-me nas 5 major identificaria, não procurando<br />

ordenar, o envelhecimento das populações (considerando<br />

doenças crónicas, multimorbilidade e integração de<br />

serviços), os cuidados de saúde primários, alterações climáticas<br />

e, claro, as doenças infeciosas. Penso que temos<br />

de investir mais nesta área (Saúde Pública), mas considero<br />

que neste momento já estamos a fazer este caminho.<br />

Temos muito bons profissionais, temos competências e<br />

meios. A vigilância epidemiológica tem de ser reforçada<br />

e tem de se atuar imediatamente, de uma forma articulada<br />

e a nível mundial. Em conclusão, considero que não<br />

temos ainda os meios que deveríamos ter, mas já é reconhecida<br />

como uma prioridade e com um investimento<br />

crescente. A academia deve ter um papel fundamen- }<br />

26 27


GH entrevista<br />

tal, promovendo-se uma investigação robusta, de uma<br />

forma contínua e não apenas em momentos de crise.<br />

A ENSP-NOVA desempenha também um papel fulcral<br />

no âmbito da investigação em Saúde Pública e, em<br />

particular, na gestão em saúde. Que linhas de investigação<br />

são neste momento prioritárias para a ENSP-<br />

-NOVA? Pode partilhar com os leitores da RGH como<br />

se posiciona a ENSP-NOVA a nível europeu e<br />

internacional no que concerne à produção de conhecimento<br />

científico?<br />

No âmbito da ENSP e dos centros de investigação que<br />

já referi produzimos um volume de ciência (artigos, abstracts,<br />

livros, etc) relevante e com um impacto também<br />

bastante positivo e crescente face aos comparadores internacionais.<br />

Temos neste momento quatro grandes á-<br />

reas de investigação: Promoção da saúde, Políticas de saúde,<br />

Serviços e sistemas de saúde, Saúde Ocupacional e<br />

Ambiental e, dentro destas áreas, investigamos variados<br />

temas. Exemplos: administração em saúde, iniquidades,<br />

literacia, determinantes sociais e comportamentais, segurança<br />

do doente, qualidade em saúde, exposição profissional<br />

e ambiental, multimorbilidade, doenças crónicas,<br />

sustentabilidade em diversas áreas, entre tantos outros<br />

temas. Esta organização e temas não é algo fechado<br />

e constante pois, tal como a Saúde Pública, está em constante<br />

mutação e atualização, consoante as necessidades<br />

da sociedade. Somos uma Escola multidisciplinar, obrigatória<br />

numa escola de Saúde Pública, e isso reflete-se<br />

em todas as nossas componentes: recursos humanos,<br />

organização, ensino, investigação e criação de valor.<br />

É também consensual que a ENSP-NOVA tem uma<br />

importância indiscutível na construção do Serviço Nacional<br />

de Saúde (SNS) e da administração hospitalar em<br />

Portugal tendo contribuindo inclusive, ao longo dos<br />

40 anos do SNS, com vários membros de Governo.<br />

Acreditamos que este passado honra a história da<br />

ENSP-NOVA, mas acrescenta ainda mais responsabilidade<br />

para o futuro. Qual é a visão da nova direção para<br />

o Curso de Especialização em Administração <strong>Hospitalar</strong><br />

(CEAH), que este ano assinala 50 edições? Está<br />

prevista alguma revisão do plano curricular do CEAH?<br />

Em que moldes considera deve a mesma ser realizada?<br />

É verdade que o nosso passado representa uma enorme<br />

responsabilidade. A história do CEAH funde-se com<br />

a história da ENSP. O CEAH iniciou-se em <strong>19</strong>70, está<br />

agora na 49ª edição, com cerca de 1.130 alunos admitidos<br />

e mais de 870 alunos diplomados. É um curso importante<br />

para a ENSP e para o Sistema de Saúde Português.<br />

Nos últimos anos temos também assistido a uma<br />

crescente internacionalização das saídas profissionais dos<br />

nossos alunos, com excelente resposta, o que também<br />

demonstra a capacidade que os nossos alunos demonstram<br />

em contextos não só nacionais como internacionais.<br />

Obviamente que para mantermos a exigência e atualidade<br />

que caracteriza a nossa formação, todos os cursos<br />

na ENSP são periodicamente avaliados e revistos, tanto<br />

internamente como externamente.<br />

No caso específico do CEAH está agora a decorrer<br />

uma reflexão interna sobre a necessidade de adequar/<br />

atualizar alguns conteúdos assim como adicionar novas<br />

matérias. Os nossos parceiros nacionais e internacionais,<br />

nos quais neste contexto a APAH tem um papel muito<br />

importante, irão brevemente ser ouvidos sobre esta reflexão.<br />

Sabemos que o mundo está em constante adaptação,<br />

cada vez mais rápido, por exemplo as novas tecnologias<br />

em todas as áreas obrigam a um constante esforço<br />

de atualização. O facto de muitos dos nossos professores<br />

serem profissionais do serviço de saúde, a diversos<br />

níveis, permite-nos ter a consciência imediata da necessidade<br />

de atualização dos nossos planos curriculares. Também<br />

os estágios são um ótimo veículo para garantir a coerência<br />

da nossa formação. Não somos uma Escola fechada<br />

na Academia e a nossa missão e motivação vem<br />

de fora. É isso que nos diferencia.<br />

A Associação Portuguesa de Administradores <strong>Hospitalar</strong>es<br />

(APAH) está a trabalhar com a tutela na<br />

revisão da carreira de Administração <strong>Hospitalar</strong> e<br />

igualmente no Programa e de Desenvolvimento Profissional<br />

suportado na formação contínua e avaliação<br />

e certificação de competências. Qual é a disponibilidade<br />

da ENSP-NOVA, e concretamente da coordenação<br />

do CEAH, para uma colaboração com vista ao<br />

desenvolvimento dum modelo desta natureza?<br />

A ENSP tem total disponibilidade para participar na<br />

avaliação e desenvolvimento desta iniciativa. Aliás, neste<br />

caso concreto, vejo mais como um projeto conjunto e<br />

não uma participação externa. Através da formação que<br />

oferece, a ENSP pretende garantir que tenhamos os me-<br />

lhores administradores hospitalares possíveis, preparando-os<br />

para serem líderes nos novos desafios epidemiológicos,<br />

globais e tecnológicos da Saúde Pública. Portanto,<br />

a Escola está sempre disponível para refletir sobre todas<br />

as iniciativas que possam contribuir para este objetivo.<br />

O caso específico da formação continua é uma realidade<br />

e um desafio para todas as formações. Não existem<br />

formações para a vida, está tudo em constante mudança<br />

e evolução.<br />

A APAH e a ENSP-NOVA mantêm uma parceria e colaboração<br />

profícua que tem sido crescente ao longo<br />

dos últimos anos. Como avalia esta colaboração e de<br />

que forma considera pode a mesma ser estimulada e<br />

incrementada? Em que áreas considera pode a APAH<br />

colaborar de forma mais estreita com a ENSP-NOVA?<br />

Realmente é com grande prazer que verificamos que esta<br />

colaboração tem vindo a aumentar. Nos últimos anos<br />

podemos referir o Prémio Coriolano Ferreira, o Barómetro<br />

da adoção da Telesaúde e Inteligência Artificial,<br />

a participação no European Association of Hospital Managers<br />

(congresso 2018 com a edição especial do Portuguese<br />

Journal of Public Health), o Programa CONTIGOS, a<br />

colaboração na Revista <strong>Gestão</strong> <strong>Hospitalar</strong>, as Bolsas para<br />

alunos do CEAH nos eventos APAH, diversas participações<br />

em painéis de peritos, entre outras.<br />

Para além da continuidade dos exemplos referidos, é<br />

óbvio o interesse de ambas as partes, penso eu, em que<br />

a APAH seja envolvida na reflexão externa sobre o plano<br />

curricular do CEAH, assim como a sua participação<br />

ao nível de estágios e trabalhos de campo. A ligação entre<br />

a APAH e o CEAH é tão forte, que penso que todos<br />

queremos o mesmo, com partilha de deveres e responsabilidades:<br />

contribuir para tornar o produto que diferencia<br />

todos os seus associados, num produto cada vez<br />

mais forte, diferenciador e reconhecido. Interessa identificar<br />

bem o nosso objetivo, focar no nosso público alvo<br />

e diferenciarmo-nos de outras iniciativas confundidoras.<br />

Por parte da ENSP há total abertura para esta parceria,<br />

num contexto de grande proximidade, sinergia e respeito<br />

mútuo.<br />

Que conselho daria a um recém-diplomado em Administração<br />

<strong>Hospitalar</strong> em início de carreira?<br />

O contexto da atual prática da Administração hospitalar<br />

é complexo, no sistema de saúde com muitos desafios,<br />

restrições a diversos níveis e em constante mudança. Os<br />

nossos alunos continuam a ser valorizados no mercado<br />

pela formação que realizam, que promove a sua capacidade<br />

de fazer a diferença e que suporta o seu reconhecido<br />

desempenho. As formações profissionalizantes, como<br />

é o caso do CEAH, procuram ser próximas dos con-<br />

textos reais de atuação. A realização de estágios e de trabalhos<br />

de campo na estrutura do CEAH pretende alcançar<br />

uma proximidade entre o ensino e a prática, pelo<br />

que os alunos encontram-se capacitados para atuarem e<br />

adaptarem-se a diferentes contextos profissionais.<br />

O que proponho aos recém-diplomados em Administração<br />

<strong>Hospitalar</strong> em início de carreira? Três mensagens<br />

chave: 1) Procurem ter diferentes experiências no seu percurso,<br />

ARS, hospitais, ACES, internacional, a visão global<br />

da prática em diferentes organizações do sistema permite<br />

um enriquecimento profissional; 2) Aproveitem a<br />

prática tutelada entre pares, que é uma excelente forma<br />

de aprender; 3) A formação em Administração <strong>Hospitalar</strong><br />

não poderá ser entendida como uma formação para<br />

o resto da vida (como outra qualquer formação atualmente),<br />

é necessária uma postura de formação constante<br />

ao longo da vida. Por isso, voltem à vossa Escola e vejam<br />

o que temos de novo para oferecer. Caso não encontrem<br />

algo que identificaram como necessário, contactem-nos<br />

e desenvolveremos juntos essa formação.<br />

Daqui a uma década, como gostaria que os alunos a<br />

recordassem?<br />

Sou e serei sempre uma professora, que tem um grande<br />

prazer na sua profissão. Gosto mesmo muito de lecionar,<br />

de orientar alunos e de participar em projetos de investigação.<br />

Isto é um bem sem valor, em termos profissionais.<br />

Tenho momentos que não esqueço, uns por serem<br />

muito bons e outros menos bons, claro! Gostaria que me<br />

lembrassem como alguém muito competente, exigente,<br />

dinâmica e, claro, simpática. Em termos de direção,<br />

gostaria de ser lembrada como alguém justo e empenhado,<br />

que imprimiu um cunho e uma velocidade diferente<br />

à ENSP, cunho este suportado por um passado<br />

honroso, um presente muito dinâmico, robusto e estratégico<br />

e que promoveu um futuro ainda mais diferenciador<br />

e inovador. Ã<br />

28 29


GH Participação em Saúde<br />

"MAIS PARTICIPAÇÃO<br />

MELHOR SAÚDE" UMA<br />

INICIATIVA QUE SE SAÚDA<br />

“MAIS PARTICIPAÇÃO melhor saúde” é uma iniciativa colaborativa de investigação/ação<br />

que surgiu, em 2015, com o objetivo de promover a participação e a capacitação<br />

de representantes das pessoas com ou sem doença, no âmbito dos processos de tomada<br />

de decisão em saúde, a nível político e institucional, em Portugal. A Revista <strong>Gestão</strong><br />

<strong>Hospitalar</strong> foi conhecer melhor este interessante projeto pela voz dos seus responsáveis.<br />

Na vossa opinião, como se pode potenciar<br />

a participação mais ativa do<br />

cidadão na definição de políticas de<br />

saúde pública?<br />

Entendemos que as instituições de<br />

saúde também têm de se virar para a comunidade de<br />

forma mais estratégica, nomeadamente olhando para<br />

os atores institucionais que já existem, e que também<br />

têm funções e obrigações de promover esta articulação,<br />

conversa e diálogo entre as várias instituições<br />

locais, nomeadamente, as juntas de freguesia.<br />

Estas são, eventualmente, o caminho relativamente<br />

inovador que as instituições de saúde podem desenvolver<br />

e promover, para que possam servir de via de<br />

comunicação com a comunidade. Lançamos esse desafio<br />

às instituições de saúde para promoverem, desenvolverem<br />

e fortificarem aquilo que já está previsto<br />

na legislação.<br />

Acrescentaria só a questão da diversidade das formas<br />

de participação, já que é muito importante procurar<br />

formas diferentes, seja a nível político ou da<br />

gestão e da organização dos serviços. Não há um<br />

formato único, o formato online é bom, tem vantagens,<br />

é fácil, rápido, mas tem a desvantagem de não<br />

ter o contacto direto. É preciso perceber quais são<br />

as expectativas de quem está do outro lado e como<br />

é que preferem que essa participação seja definida.<br />

Agora que o Conselho Nacional de Saúde já existe,<br />

é uma mudança para quem está de fora e não se<br />

apercebe bem das consequências, dos resultados,<br />

mas quem está dentro do processo entende a diferença<br />

que este Conselho tem causado, por exemplo,<br />

nas relações entre os diversos atores, nomeadamente,<br />

as ordens profissionais, nos representantes dos<br />

prestadores e nas associações.<br />

Também nos documentos que têm sido produzidos,<br />

percebemos claramente a influência que as associações<br />

de utentes têm tido na elaboração do texto final<br />

da Carta para a Participação Pública em Saúde. Outro<br />

exemplo foi a Lei de Bases da Saúde; no debate<br />

realizado no Parlamento, nunca tinham sido chamadas<br />

tantas associações da sociedade civil a um processo<br />

legislativo. A própria Lei da Participação Pública<br />

em Saúde, que acaba por instituir aquela Carta,<br />

é em si mesmo um exemplo do envolvimento das<br />

pessoas na política de saúde.<br />

Nesta sequência, onde anteveem a intervenção do<br />

gestor de serviços de saúde?<br />

Os profissionais e os gestores de saúde têm uma<br />

responsabilidade acrescida de promover estes processos<br />

de envolvimento dos cidadãos. No entanto,<br />

o facto de os próprios cidadãos quererem promover<br />

processos, em que eles próprios estejam envolvidos,<br />

não se torna possível em termos práticos.<br />

Depois de desencadearem um processo de envolvimento<br />

em que haja uma verdadeira partilha de poder,<br />

delegação de tarefas e responsabilidades, no futuro<br />

quem sabe se serão os próprios cidadãos os promotores<br />

de processos participativos. Não é uma utopia,<br />

é uma realidade e existe em vários países e várias áreas.<br />

Neste momento, vemos o gestor de serviços de saúde<br />

como principal promotor destes processos.<br />

Os riscos acrescidos de instrumentalizar os cidadãos<br />

a favor do sistema nos processos de tomada de decisão<br />

são grandes e é preciso atender a esse risco quando<br />

se promovem estes processos. É muito importante<br />

que os seus promotores estejam abertos a serem<br />

mais dinâmicos, ou seja, estarem disponíveis para<br />

mudar, renovar ou inovar o processo, porque as realidades<br />

e as pessoas são diferentes, logo é normal<br />

que as soluções sejam diferentes.<br />

A população portuguesa estará apta a adotar estas<br />

responsabilidades? Pode afirmar-se que o caminho a<br />

seguir será apostar efetivamente na literacia em saúde,<br />

de modo a capacitar os cidadãos para a decisão?<br />

Quem tem o poder de decisão, seja político ou ao<br />

nível da gestão, fala sistematicamente na necessidade<br />

de aprofundar a literacia em saúde, para que as<br />

pessoas participem. Isso vai ao encontro daquilo que<br />

tem a ver com uma retórica mais ou menos subtil<br />

de resistência ao envolvimento dos cidadãos, que<br />

é: quantos obstáculos existem ao envolvimento dos<br />

cidadãos na tomada de decisão? Há, por exemplo,<br />

a literacia em saúde. Não vejo que falta de conhecimento<br />

uma pessoa tem, quando vive sistematicamente<br />

com uma doença que a obriga a frequentar<br />

centros de saúde com muita frequência. Não se pede<br />

aos cidadãos que digam quais os melhores tratamentos<br />

ou qual a melhor estratégia baseada na<br />

teoria A que nos leva à solução B.<br />

Todos temos perícias e conhecimentos diferentes, há<br />

sim que encontrar e criar oportunidades para as poder<br />

integrar. O que não pode continuar a acontecer<br />

é que a política de saúde se faça excluindo um }<br />

30 31


GH Participação em Saúde<br />

“<br />

A LITERACIA EM SAÚDE<br />

TEM A VER COM SABER<br />

ESCOLHER QUEM É O PROVEDOR<br />

DO DOENTE, QUE CONSEGUE<br />

FAZER MELHOR A PONTE<br />

ENTRE AQUILO QUE É O USO<br />

DO CIDADÃO E O QUE<br />

É A ORGANIZAÇÃO DE SAÚDE.<br />

”<br />

segmento fundamental do conhecimento, que são<br />

as pessoas que vivem com doenças. E esse conhecimento<br />

não tem sido integrado na política de saúde.<br />

Por exemplo, quando falamos em literacia em saúde,<br />

foca-se muito na doença, logo a pessoa só é sensível<br />

a receber essa informação e procurar esse conhecimento<br />

quando está doente. Acho que esta discussão está<br />

muito centrada nas escolhas corretas e literacia não é<br />

isso. Deve-se sim dizer às pessoas que podem participar<br />

e, quanto mais elas são envolvidas e chamadas a ter<br />

um papel ativo, mais procuram esse conhecimento.<br />

A literacia em saúde tem a ver com saber escolher<br />

quem é o provedor do doente, que consegue fazer<br />

melhor a ponte entre aquilo que é o uso do cidadão<br />

e o que é a organização de saúde. Passa, fundamentalmente,<br />

por reconhecer a competência da participação<br />

construtiva.<br />

Em que medida consideram que a partilha de responsabilidade<br />

para a tomada de decisão “informada”<br />

e outros mecanismos existentes de participação<br />

pública conduzirão, na prática, a melhores resultados<br />

em saúde?<br />

Há que fazer estudos de avaliação da implementação<br />

deste processo de partilha de poder na tomada de<br />

decisão. No entanto, com base em alguma informação<br />

que temos, há vários resultados positivos que decorrem<br />

do envolvimento dos cidadãos e que estão<br />

reconhecidos pela literatura, existindo uma evidência<br />

científica que os comprovam. Se há melhorias ao<br />

nível da saúde individual? Também não é bem isso<br />

que se procura. Há sim evidência empírica em como<br />

o envolvimento dos cidadãos leva necessariamente<br />

a decisões de melhor qualidade, informação, eficácia<br />

e mais duradouras. Leva também a uma maior adesão<br />

daquele que é o público-alvo das decisões à própria<br />

decisão e isso é fundamental para o sucesso dessas<br />

decisões. Processos que envolvem as pessoas, que<br />

são alvo dessas mesmas decisões, aquando da tomada<br />

de decisão, são necessariamente processos mais eficazes,<br />

melhor sucedidos, mais prolongados no tempo,<br />

mais estáveis, que criam menos entropia e são menos<br />

perturbáveis. Só vejo boas razões para implementar<br />

processos de participação.<br />

Assim sendo, consideram que mais processos participativos<br />

dos cidadãos são sinónimo de uma maior<br />

qualidade da gestão do sistema de saúde, minimizando<br />

os riscos da eventual má utilização dos recursos<br />

públicos? Podem exemplificar?<br />

Primeiro que tudo, antes de evitar a minimização dos<br />

riscos, acho que todos os dias os gestores hospitalares<br />

desperdiçam imensas oportunidades de poupança<br />

por não perguntarem às pessoas que circulam nos<br />

serviços e nas consultas, onde é que elas acham que<br />

estão os desperdícios.<br />

Contrariamente a quem promove os inquéritos de<br />

satisfação, penso que as pessoas não gostam de avaliar,<br />

de classificar os melhores e os piores, até porque<br />

depois não vêm qual o objetivo deles e que a sua<br />

avaliação tem influência no resultado final. Se for uma<br />

coisa mais simples, de conversa ou diálogo, é capaz<br />

de funcionar melhor.<br />

Estes tipos de dinâmicas identificam-se mais facilmente<br />

se perguntarmos às pessoas; contarem, por<br />

exemplo, a sua experiência de internamento, o que<br />

funcionou bem, o que funcionou mal, que perceção<br />

as pessoas têm. É um processo de melhoria contínua,<br />

mas tem de haver oportunidades de integrar esses<br />

contributos, para a melhoria dos próprios serviços<br />

e dos resultados finais, com mais eficiência<br />

e sustentabilidade. Em última análise, mesmo que não<br />

traga mais eficiência, mas desde que deixe as pessoas<br />

mais satisfeitas, isso já vale a pena! Ã<br />

32


GH liderança<br />

RELAÇÃO ENTRE OS ESTILOS<br />

DE LIDERANÇA E O EMPENHO<br />

ORGANIZACIONAL<br />

DOS COLABORADORES<br />

João Alexandre Reis<br />

Enfermeiro Especialista no Centro <strong>Hospitalar</strong> de Vila Nova de Gaia<br />

e Espinho EPE (CHVNG/E EPE), Mestre em Cuidados Paliativos,<br />

Pós-graduado em gestão e administração de serviços de saúde<br />

No seio das organizações, a busca por<br />

maior eficiência e diferenciação dos<br />

bens e serviços assim como o sucesso<br />

organizacional são objetivos e preocupações<br />

que acompanham diariamente<br />

os seus líderes e as direções. Face à competitividade<br />

e à exigência dos mercados atuais, Tripathi<br />

e Agrawal (2014) afirmam que a presença de trabalhadores<br />

competentes é fundamental para a sobrevivência<br />

e sucesso das empresas/ organizações.<br />

Os líderes, de acordo com Wang e Hsieh (2013),<br />

deverão ser capazes de criar relações que motivem<br />

os seus colaboradores para que juntos, maximizarem<br />

as suas capacidades e gerarem valor no seio das organizações.<br />

O envolvimento dos colaboradores é, assim,<br />

um importante fator para uma liderança mais eficaz<br />

que se traduz numa maior satisfação e performance<br />

organizacional. Desta forma, os autores afirmam que<br />

o envolvimento no trabalho é tanto maior quanto<br />

mais os trabalhadores se sentirem apoiados e tratados<br />

com sinceridade. Rocha (2017) é também defensora<br />

desta opinião e acrescenta que as perceções que<br />

os trabalhadores têm sobre como são tratados pelos<br />

líderes influenciam o seu envolvimento e a sua ligação<br />

à organização, podendo ditar a sua permanência ou<br />

não na mesma.<br />

“<br />

SÃO VÁRIAS AS DEFINIÇÕES<br />

DE LIDERANÇA PELO QUE<br />

PARA ESTE TRABALHO<br />

IREMOS ANALISÁ-LAS<br />

ENQUANTO CAPACIDADE<br />

DE GERIR EQUIPAS E GRUPOS<br />

PARA ALCANÇAR SUCESSO<br />

ORGANIZACIONAL.<br />

”<br />

A investigação social defende a influência positiva que<br />

a ética traz para as organizações, ao nível do comprometimento<br />

afetivo, da confiança e, consequentemente,<br />

da liderança: Matela (2016) correlaciona a satisfação<br />

no trabalho com o ambiente ético; por sua<br />

vez; Reed (2014) defende que a liderança ética se<br />

materializa impulsionando a eficácia organizacional;<br />

e, Jorge (2016) define-a como condutora ao sucesso<br />

organizacional. Para estes autores, enquanto responsáveis<br />

pela interação com os operacionais, os líderes<br />

devem desenvolver ações e decisões éticas para<br />

aumentar os níveis de desempenho, disponibilidade<br />

e satisfação no trabalho.<br />

Por sua vez, Ferreira (2011) defende que, por meio<br />

da gestão de competências, os trabalhadores são<br />

vistos pela organização como ativos preciosos geradores<br />

de valor, diferenciando-a e sustentando-a pelo<br />

aumento da produtividade. A gestão de competências<br />

é uma estratégia sustentada pela relação entre<br />

o conhecimento, as qualidades, as tarefas e o trabalho<br />

desenvolvido (Tripathi & Agrawal, 2014). Enquanto<br />

estratégia, Königová, Urbancová e Fejfar (2012) consideram<br />

a gestão de competências uma causa-efeito<br />

pois corresponde, segundo Yongliang e Guanzhong<br />

(2010), aos benefícios que resultam para a empresa<br />

do capital intelectual, reduzindo custos, investimentos<br />

e tempos de trabalho. A satisfação, a qualidade<br />

de vida e o empenho no trabalho dependem, assim,<br />

de vários fatores, intrínsecos mas também extrínsecos,<br />

a ter em conta por parte dos líderes: ambiente<br />

organizacional; bem-estar do indivíduo; e, práticas organizacionais<br />

(Rocha, 2017). Neste sentido, ao longo<br />

deste trabalho será analisado o conceito de liderança,<br />

os tipos de liderança existentes, quais os aspetos<br />

mais e menos bons de cada um deles, bem como<br />

o impacto que a liderança e os diferentes estilos têm<br />

sobre os colaboradores.<br />

A revisão bibliográfica identifica a liderança enquanto<br />

ferramenta para o sucesso organizacional. Assim,<br />

entende-se que esta é a capacidade de habilitação,<br />

influência e motivação sobre os outros, ou seja, “a capacidade<br />

de uma pessoa (o líder) levar outras pessoas<br />

(os liderados) a fazerem algo” (Rocha, 2017).<br />

Contudo, os resultados trazidos para a organização<br />

resultantes da capacidade de liderança não dependem<br />

apenas do líder mas também da aceitação por<br />

parte do liderado em ser influenciado (Rocha, 2017).<br />

Daí que a autora refira que tal só acontece se o líder<br />

for capaz de comunicar, inspirando individualmente<br />

cada trabalhador para a responsabilização das suas<br />

ações e atividades enquanto equipa ou grupo: “um<br />

“bom líder” ou um “líder efetivo” é aquele que inspira,<br />

motiva e orienta as pessoas de modo a fazer<br />

atingir os objetivos de grupo e/ou organizacionais”<br />

(Rocha, 2017).<br />

O líder desempenha, assim, um papel fundamental na<br />

eficácia das equipas de trabalho e das organizações<br />

pelo que a sua ação deverá combinar as necessidades<br />

de trabalho atuais com a complexidade, a diversidade<br />

cultural, a inovação e a mudança (Gil, Alcover,<br />

Rico, & Sánchez-Manzanares, 2011). Diversos autores<br />

consideram que os estilos de liderança deverão<br />

enfatizar emoções, sentimentos e valores ideológicos<br />

e morais. Além disso, Kesting, Ulhøi, Song e Niu<br />

(2015) reforçam a importância que a liderança tem<br />

na inovação pois acreditam que esta tem um papel<br />

decisivo na performance da criatividade organizacional<br />

que permite implementar, impulsionar e lançar<br />

projetos inovadores que permitam fortalecer as empresas<br />

e, consequentemente, superar a resistência.<br />

São várias as definições de liderança pelo que para<br />

este trabalho iremos analisá-las enquanto capacidade<br />

de gerir equipas e grupos para alcançar sucesso<br />

organizacional. Neste sentido, Rodrigues (2016)<br />

afirma que o estilo de liderança é fundamental para<br />

a cultura organizacional e, face à diversidade de definições<br />

de liderança, vários são os estilos de liderança<br />

existentes pelo que Gil et al. (2011) destacam: liderança<br />

autêntica, aplica elementos da psicologia positiva,<br />

como o bem-estar e o otimismo, à organização;<br />

liderança compartilhada, interatividade entre todos<br />

os elementos de uma equipa com o propósito de<br />

alcançar os objetivos; liderança complexa; liderança<br />

de equipa e compartilhada, recorre à formação em<br />

grupo e aposta nas competências dos elementos de<br />

cada equipa para aumentar a sua performance; liderança<br />

remota, aplicável a equipas virtuais; e, liderança<br />

transformacional, relaciona as variáveis individuais de<br />

cada líder, como a ética e a inteligência emocional,<br />

com os resultados organizacionais, como o rendimento<br />

e a satisfação das equipas.<br />

Os comportamentos humanos e as decisões fazem<br />

parte do quotidiano das organizações pelo que, sendo<br />

o líder quem influencia os liderados para o foco<br />

e para a orientação das suas competências na missão<br />

e objetivos da organização, um líder deve: reger-se<br />

pelo bem-estar dos liderados e pelo propósito da<br />

organização; ser humilde; misericordioso; preocupado<br />

com os outros; e, rigoroso (Winston & Patterson,<br />

2006). Daí que Saremi e Nezhad (2014) afirmem<br />

que ações, decisões e responsabilidades no dia-a-dia<br />

dos líderes envolvem aspetos éticos que deverão ser<br />

tidos em consideração.<br />

Entendendo-se a liderança como a capacidade de }<br />

34 35


GH liderança<br />

influência do líder sobre os liderados, Rodrigues<br />

(2016), sublinha que o estilo de liderança corresponde<br />

ao modo como essa influência se traduz na “vida<br />

organizacional” enquanto comportamento do líder<br />

face aos liderados. A par da diversidade de definições<br />

de liderança, vários são os estilos de liderança<br />

encontrados na literatura e cuja ordem cronológica<br />

é apresentada abaixo:<br />

¢ Até final dos anos 40 - Teoria dos traços<br />

• Existem características inatas que conduzem à posição<br />

de liderança e que possibilitam que a mesma<br />

seja feita eficazmente;<br />

• Qualidades intrínsecas da pessoa (físicas, intelectuais,<br />

psicológicas e sociais) são fulcrais para a liderança;<br />

• Líder é criativo, empático, estável, generoso, honesto,<br />

impulsivo, inteligente, resistente ao stress, sensível<br />

e tímido (Graça, 2016).<br />

Estilo de liderança<br />

Liderança autocrática<br />

(Lašáková & Remišová, 2015)<br />

Liderança construtiva<br />

(Burns, 2017)<br />

Liderança ética<br />

(Elçi, Sener, Aksey e Alpkan, 2012)<br />

Liderança liberal<br />

(Lewin, <strong>19</strong>85)<br />

Quadro 1: Impacto dos estilos de liderança.<br />

Impacto<br />

Ansiedade<br />

Baixa vitalidade<br />

dos colaboradores<br />

Insatisfação;<br />

Níveis de stress ocupacional<br />

Perda de confiança<br />

nos líderes<br />

Confiança<br />

Esforço<br />

Honestidade<br />

Realização<br />

Respeito<br />

Bem-estar<br />

Comprometimento<br />

no trabalho<br />

Confiança<br />

Disponibilidade<br />

para o trabalho<br />

Eficácia organizacional<br />

Empenho<br />

Lealdade<br />

Reduzidos níveis de stress<br />

e de abandono da empresa<br />

Satisfação<br />

Autonomia<br />

Confiança<br />

Descentralização<br />

das decisões<br />

Falta de controlo<br />

Individualismo<br />

¢ Abordagem Comportamental<br />

¢ Abordagem Contingencial ou Situacional<br />

¢ A partir dos anos 80 - Liderança Transacional e<br />

Transformacional<br />

• Existem trocas entre líder e liderados por meio de<br />

recompensas à obediência dos seus desejos;<br />

• Líderes e liderados apoiam-se mutuamente para<br />

alcançarem mais moral e motivação;<br />

• “Líderes transformacionais motivam os funcionários<br />

a fazer mais do que o que está implícito no contrato<br />

de trabalho” (Rodrigues, 2016, p. 29).<br />

£<br />

Bastante similar ao estilo de liderança democrático.<br />

• “Líderes transacionais têm a função de informar e<br />

esclarecer aos seus funcionários sobre as tarefas que<br />

devem ser realizadas e quais as suas responsabilidades,<br />

recompensando os empregados que atingirem<br />

os níveis de desempenho especificados e tomam<br />

ações corretivas quando as prestações não estão<br />

a alcançar os níveis de sucesso pretendido” (Rodrigues,<br />

2016, p. 31).<br />

£<br />

Proporciona satisfação em situações de stress pois<br />

oferece uma solução imediata;<br />

£<br />

Reduzida eficácia no curto-prazo.<br />

Destacam-se, ainda, outros estilos de liderança como:<br />

Liderança autocrática/ liderança autoritária<br />

• O líder impõe as suas decisões e ideias ao grupo;<br />

• O líder não ouve a opinião do grupo.<br />

Liderança liberal<br />

• As decisões são delegadas;<br />

• O líder tem uma participação limitada.<br />

Liderança democrática/ liderança participativa<br />

• As decisões são tomadas em conjunto e após serem<br />

debatidas;<br />

• O líder promove a participação do grupo, despertando-lhes<br />

a vontade de fazer.<br />

Empenho organizacional dos colaboradores vs. estilos<br />

de liderança<br />

De acordo com o descrito é possível afirmar, tal como<br />

sugerido por Rodrigues (2016), que o comportamento<br />

dos liderados, o desempenho das organizações<br />

e a performance das equipas é influenciado e afetado<br />

pelo estilo de liderança. Apresentamos no quadro-resumo<br />

ao lado alguns dos conceitos/ estilos de liderança<br />

que se consideram mais atuais e as suas vantagens no<br />

sentido de poderem influenciar positivamente o empenho<br />

dos colaboradores.<br />

Face ao apresentado e na senda do avançado anteriormente,<br />

entende-se que o estilo de liderança a adotar<br />

dependerá dos objetivos organizacionais e poderá<br />

ser flexível em função dos mesmos. No âmbito do<br />

empenho dos colaboradores, os efeitos de cada es-<br />

tilo de liderança são também variáveis e, de acordo<br />

com Rocha (2017), o objetivo será “proporcionar<br />

um ambiente de trabalho que vá ao encontro da satisfação<br />

das necessidades pessoais dos colaboradores”,<br />

ajudando os mesmo a satisfazê-las, a maximizarem<br />

as suas melhores habilidades e a serem melhores<br />

cidadãos e pessoas. Ã<br />

Elçi, M., Sener, I., Aksey, S., & Alpkan, L. (2012). The Impact of Ethical Leadership<br />

and Leadership Effectiveness on Employees' Turnover Intention: The Mediating<br />

Role of Work Related Stress. 8th International Strategic Management Conference<br />

(pp. 289-297). Barcelona: Procedia-Social and Behavioral Sciences.<br />

Gil, F., Alcover, C., Rico, R., & Sánchez-Manzanares, M. (2011). Nuevas formas<br />

de liderazgo en equipos de trabajo. Papeles del Psicólogo, vol. 32, n. 0 1,<br />

pp. 38-47.<br />

Kesting, P., Ulhøi, J., Song, L., & Niu, H. (2015). The impact of leadership styles<br />

on innovation management - a review and a synthesis. Journal of Innovation<br />

Management, pp. 22-41.<br />

Jorge, C. (2016). A importância da liderança ética nas organizações: um<br />

estudo sobre a influência do narcisismo e do “efeito sombra” no comportamento<br />

ético do líder. Dissertação de Mestrado em Psicologia Social e das<br />

Organizações. Lisboa, Portugal: Instituto Universitário de Lisboa.<br />

Kesting, P., Ulhøi, J., Song, L., & Niu, H. (2015). The impact of leadership styles<br />

on innovation management - a review and a synthesis. Journal of Innovation<br />

Management, pp. 22-41.<br />

Königová, M., Urbancová, H., & Fejfar, J. (10 de março de 2012). Identification<br />

of Managerial Competencies in Knowledge-based Organizations. Journal of<br />

Competitiveness, pp. 129-142.<br />

Lašáková, A., & Remišová, A. (2015). Unethical Leadership: Current Theoretical<br />

Trends and Conceptualization. Business Economics and Management 2015<br />

Conference, BEM2015 (pp. 3<strong>19</strong>-328). Turkey: Procedia.<br />

Lewin, K. (<strong>19</strong>51) Field theory in social science; selected theoretical papers. D.<br />

Cartwright (ed.). New York: Harper & Row.<br />

Matela, J. (2016). A influência da ética nas organizações: a mediação do<br />

clima ético nas relações de liderança com os resultados atitudinais dos colaboradores.<br />

Dissertação de Mestrado em <strong>Gestão</strong>. Lisboa, Portugal: Instituto<br />

Universitário de Lisboa.<br />

Reed, G. (2014). Toxic Leadership, Unit Climate, and Organizational Effectiveness.<br />

Air and Space Power Journal, 26(3), 3-10.<br />

Rocha, C. (2017). Liderança Tóxica: Estudo da sua influência no Comprometimento<br />

Organizacional e na Qualidade de Vida no Trabalho. Dissertação<br />

de Mestrado em <strong>Gestão</strong> e Desenvolvimento de Recursos Humanos. Porto,<br />

Portugal: Instituto Superior de Contabilidade e Administração do Porto.<br />

Rodrigues, A. (2016). A influência dos estilos de liderança na satistaçãoprofissional:<br />

o papel do employee engagement. Dissertação de Mestrado em<br />

<strong>Gestão</strong>. Vila Nova de Famalicão, Portugal: Universidade Lusíada do Norte.<br />

Saremi, H., & nezhad, B. m. (2014). Role of ethics in management of organization.<br />

International Journal of Current Life Sciences - Vol. 4, Issue, 11, 9952-9960.<br />

Tripathi, K., & Agrawal, M. (2014). Competency Based Management In Organizational<br />

Context: A Literature Review. Global Journal of Finance and Management,<br />

349-356.<br />

Winston, B., & Patterson, K. (2006). An Integrative Definition of Leadership.<br />

International Journal of Leadership Studies, Vol. 1 Iss. 2, 6-66.<br />

Yongliang, D., & Guanzhong, L. (2010). Study on the Management of Intellectual<br />

Capital. International Journal of Business and Management, 213-126.<br />

36


GH Saúde ocupacional<br />

Medicina do Trabalho<br />

nos estabelecimentos<br />

hospitalares do Serviço<br />

Nacional de Saúde: letra<br />

da Lei ou uma realidade observada?<br />

Paulo Ferreira Gomes<br />

PhD, Inspetor da Inspeção-Geral<br />

das Atividades em Saúde<br />

A<br />

preocupação do legislador em<br />

assegurar a assistência na saúde<br />

e bem-estar dos trabalhadores não<br />

é algo recente. Já nos primórdios da<br />

República, em <strong>19</strong>13, se previa a assistência<br />

clínica, medicamentos e indemnizações no<br />

âmbito de acidentes de trabalho, por virtude do serviço<br />

prestado e apenas durante o período em que<br />

o prestavam 1 .<br />

O assinalável crescimento das infraestruturas no país,<br />

da atividade industrial e agrícola, a introdução de nova<br />

maquinaria, por vezes, pesada e mais complexa, associada<br />

a trabalhadores pouco preparados e pouco<br />

experientes, ou pouco conscientes dos perigos decorrentes<br />

do seu manuseamento, e fortemente dependentes<br />

do trabalho, como sustento da família,<br />

bem como de um patronato indiferente a direitos<br />

dos trabalhadores e marcado pelo foco no lucro fácil,<br />

de caráter de exploratório, estiveram certamente na<br />

origem da necessidade do legislador regular a matéria<br />

referente aos acidentes de trabalho crescentes<br />

e de maior gravidade. Na altura, a matéria ainda era<br />

tratada exclusivamente no âmbito da relação privada<br />

de trabalho, não fazendo o legislador a referência ao<br />

Estado como patrão ou empregador.<br />

Tratava-se de uma legislação virada para o resultado<br />

e não para a causa, ou seja, previam-se os direitos<br />

do trabalhador, vítima de acidente de trabalho, e os<br />

correspondentes deveres do patrão ou empregador,<br />

portanto numa perspetiva de reparação de danos.<br />

Nos finais dos anos 30 são criados os Hospitais do<br />

Trabalho com uma finalidade complexa, em que as<br />

necessidades do indivíduo ainda se sobrepunham às<br />

da Nação 2 . Eram como que hospitais de guerra em<br />

que cada vítima de um acidente de trabalho, cada<br />

portador de moléstia profissional era um soldado<br />

que abandonou o seu posto e que tinha que voltar<br />

a ele rapidamente e em ótimas condições. Cada dia<br />

de afastamento do seu lugar tinha um valor objetivo,<br />

imediato e futuro. Não havia espaço para perdas,<br />

desperdício ou desvalorização do trabalhador.<br />

Em <strong>19</strong>38, a criação, dentro dum hospital geral, dum<br />

serviço de assistência a sinistrados, não resolveria a<br />

questão da necessidade, conveniência ou indispensabilidade<br />

de criar modalidades hospitalares diferentes<br />

das que já havia por Lei. A capacidade dos hospitais<br />

era inferior às necessidades do meio, e a assistência<br />

ao trabalhador não era compatível com a palavra<br />

“logo” ou “amanhã”. No entanto, protelar os outros<br />

doentes em benefício dos trabalhadores, porque a<br />

sua admissão era monetariamente remunerada, seria<br />

negar os fundamentos do exercício da profissão<br />

médica, para a qual os que sofrem devem ser atendidos,<br />

e a quem compete cuidar do doente. Durante<br />

anos, a existência de hospitais especiais de assistência<br />

aos sinistrados do Trabalho, permitiram o conforto<br />

moral prestado a todos os que a eles recorriam e<br />

constituía um importante fator económico na vida<br />

social do País 2 .<br />

Os primeiros Serviços de Saúde Ocupacional, com<br />

objetivos aproximados aos que conhecemos hoje,<br />

fundamentalmente "serviços de saúde preventiva", em<br />

Portugal, começam a surgir com a criação dos serviços<br />

médicos da empresa para a prevenção da silicose,<br />

em <strong>19</strong>62, e dos serviços de medicina do trabalho, em<br />

<strong>19</strong>67, acompanhados pela instituição do ensino regular<br />

da medicina do trabalho a partir de <strong>19</strong>63.<br />

A partir de <strong>19</strong>90, as alterações legislativas, e sobretudo<br />

as grandes mudanças que se estão a operar não<br />

só a nível da União Europeia e de cada um dos seus<br />

Estados membros, mas a nível global, obrigam os serviços<br />

de saúde ocupacional a seguir uma orientação<br />

mais compreensiva da saúde dos trabalhadores, centrada<br />

na promoção da saúde e na manutenção da capacidade<br />

de trabalho. Em Portugal, esta fase é, definitivamente,<br />

marcada pelo histórico acordo entre o<br />

Governo e os parceiros sociais no domínio específico<br />

da Saúde Higiene e Segurança no Trabalho, assinado<br />

em <strong>19</strong>91. Essa missão inicialmente estava consubstanciada<br />

em dois diplomas fundamentais, um de<br />

<strong>19</strong>91 e outro de <strong>19</strong>94 3,4 , os quais atribuíam aos serviços<br />

de Segurança, Higiene e Saúde no Trabalho<br />

(SHST) a dupla missão de: (i) prevenção dos riscos<br />

profissionais; e (ii) promoção e vigilância da saúde<br />

dos trabalhadores.<br />

Com a entrada em vigor da Lei n.<strong>º</strong> 102/2009, de 10 de<br />

setembro, os anteriores diplomas foram revogados<br />

passando esta a regulamentar o regime jurídico da<br />

promoção e prevenção da segurança e da saúde no<br />

trabalho, de acordo com o previsto no artigo 284.<strong>º</strong> do<br />

Código do Trabalho, no que respeita à prevenção 5 .<br />

A saúde ocupacional é um conceito atual, prioritá- }<br />

38 39


GH Saúde ocupacional<br />

“<br />

O MÉDICO DO TRABALHO<br />

ASSUME UM PAPEL PREPONDERANTE<br />

NA ORGANIZAÇÃO DO SERVIÇO,<br />

NA FIXAÇÃO DE OBJETIVOS<br />

A ATINGIR, SEM DESCURAR<br />

A PRINCIPAL FUNÇÃO<br />

DE PROMOVER E PROTEGER<br />

A SAÚDE DOS TRABALHADORES.<br />

”<br />

rio e transversal que tem por finalidade promover<br />

e proteger a saúde dos trabalhadores nos locais de<br />

trabalho, contribuindo para a qualidade de vida<br />

e bem-estar físico, mental e social dos mesmos, favorecendo<br />

a produtividade e o desenvolvimento económico<br />

sustentado 6.<br />

O Serviço de Saúde Ocupacional (SSO) de cada<br />

empresa deve assim possuir uma equipa de profissionais<br />

que assegure as atividades do Serviço e a sua<br />

gestão, designadamente estar dotado de um médico<br />

do trabalho e de um enfermeiro do trabalho.<br />

O Médico do Trabalho desenvolve as suas atividades<br />

durante o número de horas necessário à realização<br />

dos atos médicos, de rotina ou de emergência<br />

e outros trabalhos que coordene, incluindo os de conhecimento<br />

das componentes materiais do trabalho<br />

para os quais deve reservar pelo menos ¼ do tempo<br />

atribuído. Este profissional não poderá assegurar<br />

a vigilância da saúde dos trabalhadores a que corresponda<br />

mais de 150 horas de atividade por mês 5 .<br />

O número de horas prestado pelo médico do trabalho<br />

na vigilância dos trabalhadores não deve ser<br />

inferior aos valores estabelecidos legalmente.<br />

Por sua vez, o Enfermeiro do Trabalho deverá integrar<br />

a Equipa de profissionais do SSO das empresas<br />

que possuam mais de 250 trabalhadores e, obrigatoriamente,<br />

das empresas prestadoras de Serviços Externos<br />

de Saúde do Trabalho. O Enfermeiro deverá<br />

prestar a atividade profissional durante o número de<br />

horas necessárias ao trabalho de enfermagem de rotina<br />

e de emergência, por um tempo não inferior ao<br />

número de horas de trabalho do médico do trabalho.<br />

O facto de os trabalhadores serem o principal elemento<br />

da estrutura produtiva faz com que a saúde<br />

ocupacional, reconhecida pela generalidade da comunidade<br />

científica e por organismos internacionais<br />

como a Organização Mundial de Saúde (OMS) e a<br />

Organização Internacional do Trabalho (OIT), represente<br />

um conjunto de ferramentas fundamental<br />

para garantir as adequadas condições de segurança<br />

e saúde nos locais de trabalho. Como consequência,<br />

a legislação de diversos Estados vem afirmando uma<br />

cultura de responsabilização do empregador pela<br />

promoção e manutenção da segurança e da saúde<br />

no local de trabalho através da implementação de<br />

boas práticas laborais, assim como pelo tratamento,<br />

reabilitação e compensação dos trabalhadores vítimas<br />

de acidentes e doenças profissionais. Por outro<br />

lado, cabe também ao trabalhador zelar pela sua segurança<br />

e saúde, cumprindo as prescrições de segurança<br />

e de saúde no trabalho.<br />

Ora, é precisamente nesta matéria que o Médico do<br />

Trabalho assume um papel preponderante na organização<br />

do Serviço, na fixação de objetivos a atingir,<br />

sem descurar a principal função de promover e proteger<br />

a saúde dos trabalhadores. Contudo, se é verdade<br />

que o total empenho do Médico do Trabalho<br />

é essencial para atingir tais metas, não é menos verdade<br />

que a missão que lhe é cometida não poderá<br />

ser levada a cabo, de forma eficaz e eficiente, se não<br />

houver na base uma cultura de corresponsabilização<br />

e de sensibilização.<br />

A existência, por si só, de um serviço de saúde ocupacional<br />

não garante que os fins, a que o Serviço se<br />

propôs, sejam atingidos, pois exige um envolvimento<br />

de toda a cadeia hierárquica e dos seus pares.<br />

Centremo-nos no caso dos estabelecimentos hospitalares.<br />

Não raras vezes, aqueles não atribuem à Saúde<br />

Ocupacional idêntico valor ao dos restantes serviços<br />

clínicos da instituição. As hierarquias, e até mesmo<br />

os próprios pares, de alguma forma, atribuemlhe<br />

menor relevância, porque não o associam à produção<br />

hospitalar contratualizada, chegando a ser, as<br />

mais das vezes, um Serviço desconhecido por alguns<br />

trabalhadores da instituição. É consabido que na grande<br />

maioria dos estabelecimentos hospitalares, os objetivos<br />

fixados e o trabalho desenvolvido pelo Médico<br />

do Trabalho são executados à custa de um grande<br />

empenho para, desde logo, tentar dar a conhecer<br />

a importância que o Serviço tem na missão cometida<br />

ao estabelecimento, visto como um todo.<br />

O sucesso do Serviço de Saúde Ocupacional (SSO)<br />

não se compadece com a falta de comunicação e<br />

articulação com os restantes serviços, que aparentemente<br />

continuam a ver a sua existência apenas como<br />

serviços que têm de prestar e garantir cuidados<br />

de saúde à população.<br />

Na verdade, de nada serve criar um regime jurídico<br />

da promoção e prevenção da segurança e da saúde<br />

no trabalho, se isso não passar de letra morta da Lei.<br />

O Médico do Trabalho, muitas das vezes, enfrenta<br />

um trabalho árduo de ter de chamar a si a colaboração<br />

de todos os que tomam decisões de fundo.<br />

Os dirigentes máximos, os dirigentes intermédios e,<br />

naturalmente, os próprios trabalhadores, precisam<br />

de estar e ser sensibilizados para a importância do<br />

SSO, para o papel e importância que o Médico do<br />

Trabalho assume para a instituição, porque, em última<br />

instância, também eles são seus trabalhadores, e,<br />

nesse aspeto, beneficiários do referido Serviço.<br />

Contudo, o Médico do Trabalho, embora responda<br />

clinicamente perante o Diretor Clínico, está na<br />

dependência direta do Conselho de Administração<br />

(CA), pelo que aquele órgão deve diligenciar no sentido<br />

de assegurar os recursos humanos necessários e<br />

condições físicas (instalações) condignas com a atividade<br />

desenvolvida. Tratando-se de um Serviço que<br />

deve assentar numa estrutura e organização bem<br />

definida, em que cada um conhece o seu papel na<br />

estrutura, exige uma articulação estreita com o vogal<br />

do Conselho de Administração, responsável pelos<br />

recursos humanos, com vista à sensibilização junto<br />

dos mesmos, e, assim, à realização dos fins para que<br />

o Serviço foi criado, ou seja, a prevenção e promoção<br />

do bem-estar dos trabalhadores.<br />

Ao CA, como um bom líder, compete dar o exemplo,<br />

também como trabalhadores da organização,<br />

promover o envolvimento dos restantes serviços<br />

e dos seus Diretores, e, por inerência, de todos os<br />

trabalhadores. Esta promoção poderá passar pela<br />

fomentação da criação de grupos de trabalho, designadamente<br />

com outros serviços clínicos, ou elaboração<br />

de Protocolos com as outras especialidades,<br />

assegurando que, por indicação do Médico do<br />

Trabalho, o trabalhador seja observado num curto<br />

espaço de tempo pela especialidade em causa, através<br />

da criação de códigos de identificação, com vista<br />

à salvaguarda do sigilo profissional. Ora, o sucesso da<br />

atividade do médico do Trabalho implica a adoção<br />

de uma cultura de saúde e de uma política de corresponsabilização<br />

vertical e horizontal.<br />

O envolvimento dos diferentes dirigentes e dos pares,<br />

bem como a existência de uma colaboração estreita<br />

e responsável pode contribuir de forma decisiva<br />

para a promoção da saúde, bem-estar dos trabalhadores<br />

e um ambiente saudável no trabalho. Assim,<br />

a implementação de uma cultura de sensibilização da<br />

importância da atividade desenvolvida pelo SSO poderá<br />

contribuir para a baixar o número de ausências<br />

ao trabalho, podendo mesmo o Médico do Trabalho<br />

chamar a si algumas das competências do Médico<br />

de Família, evitando o recurso imediato aos cuidados<br />

de saúde primários, sem que antes recorram ao<br />

SSO, potenciando uma relação de confiança entre<br />

trabalhadores e Médico do Trabalho. A diminuição<br />

de ausências ao trabalho poderá, assim, ser um fator<br />

decisivo para o aumento da produtividade dos trabalhadores,<br />

para a garantia da sua saúde e do seu valor<br />

como membros ativos da organização.<br />

Em conclusão, sublinha-se que a atividade do Médico<br />

do Trabalho ainda se encontra pouco reconhecida<br />

em algumas instituições do Serviço Nacional de Saúde<br />

(SNS), eventualmente, pela necessidade de maior<br />

envolvimento dos dirigentes máximos e intermédios,<br />

bem como dos restantes médicos, das diversas especialidades,<br />

que terão que encarar a Medicina do Trabalho<br />

como mais uma especialidade, que contribui para a<br />

produção contratualizada pela instituição.<br />

Assim, impõe-se uma maior aposta numa cultura de<br />

sensibilização, articulação e envolvimento de todos<br />

que contribua para a prevenção e promoção da saúde<br />

dos trabalhadores e, consequentemente, para o seu<br />

bem-estar, bem como para a diminuição das ausências<br />

ao trabalho e aumento da produtividade dos efetivos.<br />

Se é certo que existe legislação, não podemos, ainda,<br />

afirmar que o SSO, nos estabelecimentos hospitalares,<br />

desenvolve a sua atividade com a dimensão e abrangência<br />

que uma instituição prestadora de cuidados de saúde<br />

diferenciados assim o exige. O caminho a percorrer<br />

ainda é longo, e os entraves são uma realidade incontornável,<br />

mas, certamente, não inultrapassável. Ã<br />

1. Lei n. o 83. Diário da República, n. o 171, 24 de julho; <strong>19</strong>13, p. 2754-5.<br />

2. Primeiro Congresso Médico Nacional dos Desastres do Trabalho. In: Congresso<br />

Médico Nacional dos Desastres do Trabalho. Lisboa: Imprensa Médica; <strong>19</strong>38.<br />

3. Decreto-Lei n. o 441/91, de 14 de novembro. Diário da República, I Série-A;<br />

<strong>19</strong>91, p. 5826-33.<br />

4. Decreto-Lei n. o 26/94, de 1 de fevereiro. Diário da República, I Série-A, n. o<br />

26; <strong>19</strong>94, p. 480-6.<br />

5. Lei n. o 102/2009. Diário da República, 1. a Série, n. o 176, de 10 de setembro;<br />

2009, p. 6167-92.<br />

6. Lesage M. Definition of Work-Related Diseases and Occupational Diseases.<br />

In: Encyclopedia of Occupational Health and Safety. 4 th . ILO, Geneva; <strong>19</strong>98.<br />

40 41


GH Integração de cuidados<br />

REFORMULAR CUIDADOS<br />

CENTRADOS NA PESSOA<br />

PROMOVENDO PARCERIAS<br />

Carina Dantas<br />

Diretora do Departamento de Inovação<br />

da Cáritas Diocesana de Coimbra<br />

Nos últimos 20 anos, o envelhecimento<br />

da população levou a um aumento de<br />

doenças crónicas, condições de multimorbilidade<br />

e dependência; essa mudança<br />

foi acompanhada pelo contínuo<br />

progresso no campo tecnológico e terapêutico, pelas<br />

mudanças sociais e pela crescente absorção de recursos<br />

no setor da saúde. Todos esses fenómenos, por um<br />

lado, resultaram num crescimento incontrolável dos<br />

gastos em saúde, sem um aumento correspondente no<br />

nível de saúde da população e, por outro, na necessidade<br />

cada vez mais imperativa de garantir a adequação,<br />

os cuidados e os cenários de assistência adequados,<br />

visando a melhoria da qualidade do atendimento.<br />

O envelhecimento exige a mudança do tratamento<br />

agudo para o tratamento de múltiplas doenças crónicas,<br />

muitas vezes coexistentes, orientado para uma abordagem<br />

pró-ativa e multidisciplinar que supera as fronteiras<br />

do sistema de saúde. Essas opções levam tempo e<br />

esforços aos níveis organizacional, funcional, profissional<br />

e de prestação de serviços para alcançar uma transformação<br />

estrutural. Abordagens isoladas comprometem<br />

a evolução em direção a um sistema de saúde<br />

integrado e de alta qualidade, que também seja sustentável,<br />

eficiente e justo.<br />

Essas dificuldades são maiores no apoio à população<br />

idosa, que tem várias necessidades de saúde e acesso<br />

menor a serviços, por razões muitas vezes não relacionadas<br />

com as doenças (por exemplo, iliteracia digi-<br />

tal ou falta de acesso às tecnologias, problemas de mobilidade,<br />

residência em áreas rurais ou com baixa cobertura<br />

de serviços, etc.).<br />

Os sistemas de cuidados integrados têm sido propostos<br />

como o modelo futuro para o sistema de saúde e<br />

apoio social na Europa, representando uma mudança<br />

fundamental e de longo alcance na forma como a Saúde<br />

é abordada enquanto conceito, na sua organização<br />

estrutural, política e de financiamento, e também na sua<br />

relação com os parceiros externos.<br />

No entanto, o percurso tem sido longo e Portugal está<br />

ainda longe deste modelo.<br />

A primeira questão que se coloca - o conceito de Saúde<br />

para as estruturas do SNS - pode ajudar a perceber<br />

os seus problemas na implementação.<br />

Se lhe perguntassem, enquanto dirigente ou profissional<br />

de saúde: “Onde começa o seu trabalho?<br />

• Dentro do hospital;<br />

• À porta do hospital;<br />

• Junto de cada pessoa doente, onde quer que esteja;<br />

• Junto de cada pessoa, como quer que esteja.”<br />

O que responderia?<br />

De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS)<br />

“saúde é um estado de completo bem-estar físico, mental<br />

e social, e não apenas a ausência de doenças.”<br />

Porém, o que constatamos em Portugal é que os curtos<br />

ciclos de decisão, as contenções orçamentais e as alterações<br />

organizacionais têm sido razões (desculpas?)<br />

para uma prestação de cuidados centrada no tratamento<br />

ao invés da prevenção.<br />

Mesmo que considerasse que deveria responder à questão<br />

acima com a última opção, será que na verdade o seu<br />

trabalho no terreno está a ir além da primeira opção?<br />

Como alterar isto?<br />

Em boa verdade, as alterações demográficas e a pressão<br />

financeira sobre o sistema de saúde têm estimulado<br />

as administrações hospitalares a procurar soluções<br />

sistémicas mais sustentáveis, progredindo no desenvolvimento<br />

de métodos de trabalho mais colaborativos<br />

com as redes locais, provocando mudanças nos serviços,<br />

particularmente fortalecendo a articulação com os<br />

cuidados de saúde primários, iniciando equipas de<br />

apoio integrado ou projetos-piloto de raiz comunitária.<br />

Mas este processo tem envolvido os beneficiários<br />

e outros atores de forma global?<br />

A perceção que se pode obter de pacientes, familiares<br />

ou organizações locais deve ser central para a administração<br />

do sistema de saúde, já que pode:<br />

• Apontar as prioridades para melhorar a qualidade<br />

dos serviços, projetando caminhos com base nas experiências<br />

e conhecimentos dos utilizadores.<br />

• Planear serviços em torno da população e das necessidades<br />

de cuidados e saúde de cada comunidade.<br />

• Compreender o mapa de organizações de cada zona<br />

geográfica e o percurso de cuidados, definindo o lugar<br />

que a saúde desempenha no quotidiano de cada pessoa.<br />

A mudança em direção à integração de cuidados leva<br />

as organizações a trabalhar para além das suas fronteiras<br />

internas, entendendo o que acontece aos pacientes<br />

fora das interações individuais com os serviços. Tal<br />

poderá ajudar a entender fatores críticos como altas<br />

taxas de readmissão ou falhas na adesão à terapêutica 1 .<br />

Com níveis crescentes de multimorbilidade, um indivíduo<br />

pode ter mais do que meia dúzia de consultas<br />

ou visitas de diferentes profissionais por semana. Isso<br />

pode afetar a sua capacidade de sair de casa, de ver<br />

amigos e familiares, ou de realizar outras tarefas, com<br />

possível reflexo na sua saúde mental. As experiências<br />

dos pacientes em cada serviço individual podem ser<br />

positivas e medidas como tal pela organização individual.<br />

No entanto, não há oportunidade de medir<br />

como o paciente se sente em relação a seus cuidados<br />

em geral. Somente entendendo toda a história se<br />

podem redesenhar os serviços, para que sejam mais<br />

eficientes e melhorem a vida dos pacientes.<br />

O atendimento integrado é fundamentalmente sobre<br />

o relacionamento que as organizações locais têm com<br />

a sua população. Ter essa conversa em conjunto com<br />

parceiros, pacientes e o público é a única forma de ser<br />

bem-sucedido. Porém, a ambição de prestar mais cuidados<br />

ao domicílio ou em serviços de base comunitária<br />

não tem tido em consideração uma necessidade<br />

fundamental: de diminuir o gap entre os níveis de financiamento<br />

da Saúde e do Social.<br />

Em dois ângulos, particularmente: a) os custos-dia estimados<br />

entre estruturas hospitalares ou outras estruturas<br />

de saúde e aqueles que são calculados quando<br />

estes serviços são subcontratados, p. ex. a IPSSs, são<br />

abruptamente díspares, apesar de ambos terem exigências<br />

idênticas; b) as tabelas remuneratórias dos profissionais<br />

que prestam serviços em organizações da<br />

comunidade são severamente desfasadas das existentes<br />

para a Função Pública, o que pode originar uma<br />

“<br />

HÁ UMA CRESCENTE<br />

DESCONEXÃO ENTRE<br />

A RETÓRICA DOS “CUIDADOS<br />

MAIS PRÓXIMOS DE CASAˮ<br />

E AS PRESSÕES QUE OS SERVIÇOS<br />

DA COMUNIDADE ENFRENTAM,<br />

NOMEADAMENTE AO NÍVEL<br />

DO FINANCIAMENTO.<br />

”<br />

grave escassez de mão-de-obra. Apesar do papel vital<br />

que estas organizações desempenham para ajudar as<br />

pessoas a manter a sua independência, gerindo condições<br />

de longo prazo, a ambição de fortalecer os serviços<br />

comunitários e transferir os cuidados dos hospitais<br />

para esses ambientes comunitários não se irá concretizar<br />

se elas não receberam a prioridade, o financiamento<br />

ou o apoio de que precisam e permanecerem<br />

clivadas das restantes estruturas de saúde.<br />

Há uma crescente desconexão entre a retórica dos<br />

“cuidados mais próximos de casaˮ e as pressões que<br />

os serviços da comunidade enfrentam, nomeadamente<br />

ao nível do financiamento.<br />

Embora seja difícil quantificar com precisão os gastos<br />

com serviços de saúde da comunidade devido a lacunas<br />

e inconsistências nos dados, os sinais apontam<br />

para orçamentos em redução nos últimos anos. Em<br />

simultâneo, todos sabemos que os pedidos têm aumentado<br />

como consequência do crescimento e do<br />

envelhecimento da população, dos níveis crescentes<br />

de multimorbilidades e dos esforços para oferecer<br />

mais cuidados perto de casa.<br />

Num país com a tipologia de governança e organização<br />

estrutural de Portugal, só um novo programa nacional<br />

de serviços comunitários de saúde, numa reformulação<br />

ambiciosa das tipologias atuais e do trabalho<br />

em silos, poderá implementar as soluções necessárias.<br />

No entanto, até lá, são as próprias estruturas e profissionais<br />

que pressionam a mudança e forçam a altera- }<br />

42 43


GH Integração de cuidados<br />

ção de paradigmas. Com a convicção de que a execução<br />

de projetos piloto bem-sucedidos poderá trazer<br />

argumentos para a alteração de estruturas, assim os<br />

profissionais e as administrações locais se substituem<br />

ao papel do Estado na reescrita de políticas, por via<br />

empírica e pontual.<br />

Felizmente, cada vez mais cidades e regiões trabalham<br />

em articulação num regime de hélice quádrupla, juntando<br />

academia, indústria, instituições públicas e sociedade<br />

civil na prossecução de objetivos comuns 2<br />

- veja-se o caso do Ageing@Coimbra 3 , um sítio de<br />

referência para o envelhecimento ativo e saudável reconhecido<br />

com 4 estrelas pelo EIP-AHA.<br />

Neste contexto, faz sentido apresentar o exemplo da<br />

Unidade Integrada para o Envelhecimento Saudável e Ativo<br />

(UnIESA), promovida pelo Centro <strong>Hospitalar</strong> e Universitário<br />

de Coimbra, E.P.E., em parceria com o ACES<br />

Baixo Mondego, ACES Pinhal Interior Norte e no qual<br />

a Cáritas Diocesana de Coimbra também irá colaborar.<br />

Percebendo que o modelo atual de atendimento não<br />

era adequado ao envelhecimento populacional e partindo<br />

das sinergias do consórcio Ageing@Coimbra, os<br />

parceiros desta região tem-se dedicado a estudar formas<br />

de melhorar a qualidade do atendimento à cres-<br />

cente população idosa. Nesse sentido, foi desenvolvido<br />

um caminho integrado para o paciente, projetado<br />

explicitamente para pacientes acima de 65 anos<br />

com multimorbilidade, identificada por qualquer profissional.<br />

Este caminho integra grupos de centros de<br />

saúde, uma unidade especializada para envelhecimento<br />

ativo no Centro <strong>Hospitalar</strong> Universitário de Coimbra<br />

(que inclui uma consulta de avaliação geriátrica,<br />

uma unidade de tratamento agudo, um hospital-dia e<br />

consultas ou unidades de internamento em subespecialidades<br />

específicas), a rede de longo prazo e as instituições<br />

de apoio social.<br />

Tem como objetivo reduzir a carga de atendimento<br />

(polimedicação e múltiplos contactos com o sistema<br />

de saúde) e atendimento de emergência/agudo, através<br />

da melhoria da qualidade de vida do paciente,<br />

partilhando decisões em termos de tratamentos, prioridades<br />

de saúde, estilo de vida e objetivos. Embora<br />

o percurso clínico se inicie numa situação de deterioração<br />

orgânica, as sinergias e os recursos criados<br />

pelo caminho permitem o desenvolvimento de uma<br />

resposta a montante, através da integração do atendimento<br />

entre os prestadores.<br />

Quando as necessidades do paciente levam à hospitalização,<br />

um plano de assistência previamente projetado<br />

é implementado por uma equipa especializada,<br />

com um tempo médio de permanência de menos de<br />

seis dias, evitando a perda de autonomia e reduzindo<br />

as estadias prolongadas e as readmissões não planeadas.<br />

Desde o primeiro dia, a alta é planeada em coordenação<br />

com a família e os cuidadores informais, cuidados<br />

de saúde primários e organizações de apoio social,<br />

incluindo visitas domiciliárias anteriores para avaliar<br />

as condições domésticas. É possível usar ferramentas<br />

de monitorização remota, serviços de fisioterapia à<br />

distância, serviços de saúde e apoio social em casa, ou<br />

acompanhar o paciente no hospital e em ambulatório.<br />

Além disso, a unidade especializada em envelhecimento<br />

hospitalar é usada como referência para a formação<br />

pré e pós-graduada em envelhecimento e estas<br />

abordagens inovadoras criam um verdadeiro laboratório<br />

vivo com os parceiros do Ageing@Coimbra.<br />

Em <strong>2020</strong>, a Cáritas Coimbra vai iniciar a sua colaboração<br />

na implementação do percurso da UnIESA, colaborando<br />

com:<br />

• Diagnóstico social e encaminhamento: visita inicial<br />

por Técnico de Serviço Social para avaliar necessidades<br />

específicas decorrentes do internamento hospitalar.<br />

• Linha de apoio por videochamada em caso de necessidade,<br />

com contacto direto a um cuidador que articula<br />

depois com os serviços de saúde se necessário.<br />

• Estimulação cognitiva: treino inicial, adaptação e<br />

possibilidade de videochamada com o cuidador para<br />

apoio sempre que necessário.<br />

• Reabilitação funcional: programa de treino funcional/<br />

reabilitação básico através da criação de um pacote de<br />

vídeos de treino funcional, adaptados a diferentes perfis<br />

de idoso, que possam depois ser trabalhados remotamente<br />

com o paciente para estimular a sua recuperação.<br />

Para este efeito, a Cáritas Diocesana de Coimbra vai<br />

partir dos resultados e experiência adquirida no âmbito<br />

do seu projeto ReHab, cofinanciado no âmbito do<br />

Programa BPI Seniores 2018.<br />

Durante 20<strong>19</strong>, a Cáritas Coimbra promoveu a estimulação<br />

cognitiva e a reabilitação funcional de pessoas<br />

mais velhas, de forma individual e em grupo, em ambiente<br />

assistido e ao domicílio, através de uma mala<br />

com um kit multidimensional de tecnologias inovadoras<br />

e materiais tradicionais.<br />

Esta mala pode circular através das equipas de Serviço<br />

de Apoio Domiciliário (SAD) com instrumentos que<br />

vão desde jogos geriátricos a jogos de treino cognitivos<br />

disponíveis num tablet, passando pela interação<br />

com um avatar.<br />

Os cuidadores da Cáritas prestam apoio remoto no<br />

início de cada sessão através de ligação Skype e desenvolvem<br />

também sessões de literacia digital para os<br />

beneficiários do projeto.<br />

Estes são exemplos de iniciativas para pessoas com<br />

necessidades complexas, onde se estabeleceu um plano<br />

de apoio acordado, um responsável pela coordenação<br />

de cuidados e acesso a serviços de apoio remoto,<br />

numa mudança implementada de forma progressiva<br />

e com interações significativas e flexibilidade entre<br />

todos os parceiros.<br />

Porque não trabalhamos assim sempre?<br />

Dá muito mais trabalho!<br />

• Só traz ganhos a médio/longo prazo (ciclos políticos<br />

curtos/nomeações);<br />

• Não pode ser feito à secretária;<br />

• Implica redes, parcerias, múltiplos atores, sair da zona<br />

de conforto;<br />

• Implica falar com as pessoas, recolher opiniões, fazer<br />

estudos, articular;<br />

• Por vezes destrói o ego do profissional;<br />

• Implica conhecer políticas diversas, serviços, metodologias<br />

e financiamento;<br />

• Necessita de conhecimento multidisciplinar.<br />

Mas os resultados valem a pena!<br />

Em suma, é essencial:<br />

• Rentabilizar recursos, ligando cuidados primários,<br />

serviços de apoio social e centros hospitalares;<br />

• Criar serviços integrados de partilha de informação<br />

(EHR) atualizados em tempo real;<br />

• Cruzar informação de vários cuidadores, profissionais<br />

e ter o quadro clínico e social acessível para apoio<br />

à tomada de decisão;<br />

• Utilizar serviços de proximidade já existentes para<br />

vigilância;<br />

• Investir mais na prevenção, na literacia de saúde e literacia<br />

digital;<br />

• Criar modelos de governança baseados no cidadão<br />

e nas suas necessidades;<br />

• Investir seriamente e com equidade em modelos sustentáveis,<br />

justos e de qualidade para todos os envolvidos.<br />

É suficiente sermos Cidadãos para percebermos o<br />

que as pessoas precisam. Ã<br />

1. https://www.kingsfund.org.uk/<br />

2. http://periodicos.pucminas.br/index.php/economiaegestao/article/view/<br />

17645<br />

3. https://ageingcoimbra.pt/<br />

44 45


GH Responsabilidade civil<br />

PROTEÇÃO PARA O RISCO<br />

DE GESTÃO<br />

Luís Teixeira<br />

Aon Deputy Corporate Director<br />

Em Portugal, e em todo o mundo, há<br />

cada vez mais consciência por parte<br />

dos gestores relativamente à complexidade<br />

dos riscos que enfrentam no<br />

desempenho das suas funções. Nas<br />

empresas, o elevado escrutínio a que as equipas de<br />

gestão se encontram sujeitas e a cultura de litigância<br />

cada vez mais apurada reflete-se diretamente através<br />

do aumento do número de reclamações de terceiros<br />

lesados. Os administradores e gestores hospitalares não<br />

são exceção e estão, mais do que nunca, sensibilizados<br />

para as responsabilidades que enfrentam no decurso<br />

do exercício das suas funções, muito por via da complexidade<br />

e possíveis impactos das suas decisões, principalmente<br />

à luz das exigentes pressões e constrangimentos<br />

orçamentais que têm vindo a nortear a gestão das unidades<br />

de prestação de cuidados de saúde e ao elevado<br />

grau de escrutínio que terceiros - principalmente entidades<br />

reguladoras - promovem junto do setor.<br />

São vários os riscos a que estão expostas as organizações<br />

na área da saúde. Em 20<strong>19</strong>, a Aon lançou a sétima<br />

edição do seu Global Risk Management Survey -<br />

estudo que foi projetado para fornecer às empresas<br />

e organizações informações relevantes que possibilitem<br />

a melhor gestão da volatilidade associada ao risco - que<br />

identifica os seguintes fatores como os mais relevantes<br />

na indústria da saúde em todo o mundo.<br />

Os riscos mais relevantes na indústria da saúde certamente<br />

que variam nas várias zonas geográficas do<br />

mundo e serão, certamente, diferentes para os gestores<br />

hospitalares em Portugal, no entanto torna bastante<br />

clara a complexidade e diversidade de temas que um<br />

gestor hospitalar tem de levar em consideração no seu<br />

dia-a-dia. Neste contexto, em que os riscos são cada<br />

vez mais e mais complexos, a escassez de recursos<br />

que tem sido publicamente noticiada em Portugal para<br />

a gestão hospitalar pública, evidenciará certamente a necessidade<br />

de tranquilizar os gestores e administradores<br />

hospitalares no processo de tomada de decisão em<br />

atos de gestão.<br />

No mundo empresarial, as reclamações ao abrigo de seguros<br />

Directors & Officers são cada vez mais frequentes,<br />

mais caras e mais complexas. Neste contexto, o seguro<br />

de Directors & Officers é considerado como uma boa<br />

prática de governance das empresas portuguesas, uma<br />

vez que permite proteger o património pessoal dos<br />

Administradores e Diretores, sendo uma ferramenta<br />

imprescindível para estes exercerem funções com este<br />

nível de responsabilidade e exposição a este risco.<br />

Na gestão hospitalar, um dos maiores riscos a que as e-<br />

quipas de gestão estão sujeitas incide na possibilidade do<br />

seu património pessoal ser afetado por via dos pagamentos<br />

de indemnizações a terceiros e do pagamento<br />

de honorários a advogados que possam promover<br />

uma defesa sólida no âmbito dos processos judiciais ou<br />

administrativos em que se vejam envolvidos.<br />

São vários os exemplos em que um apoio jurídico sólido<br />

na contestação de multas, por exemplo, possibilitam<br />

a reversão das mesmas em tribunal. O apoio de uma<br />

equipa de advogados que dedique o seu tempo e conhecimento<br />

na defesa de um processo de reclamação<br />

de terceiros contra um administrador ou gestor pode<br />

fazer a diferença entre a sua ilibação ou a necessidade<br />

de indemnizar os reclamantes.<br />

Nos casos em que os administradores ou gestores<br />

hospitalares enfrentem uma ação cível é o seu património<br />

pessoal que está em risco para suportar os<br />

custos de defesa e eventuais indemnizações em caso<br />

de condenação.<br />

Noutra realidade, nas sociedades comerciais, os membros<br />

dos órgãos sociais de todas as sociedades emitentes<br />

de valores mobiliários já são obrigados por lei<br />

a transferirem este risco para um contrato de seguro.<br />

Nas restantes empresas, nas de maior dimensão, também<br />

existe esta obrigatoriedade e nas restantes só pode<br />

ser dispensada mediante decisão dos acionistas em<br />

assembleia geral ou pelo conselho geral de supervisão.<br />

Na gestão hospitalar pública, não estando definida por<br />

lei esta obrigatoriedade, e face aos riscos cada vez mais<br />

relevantes dos gestores e administradores hospitalares,<br />

esta é cada vez mais uma boa prática de gestão de risco<br />

e de salvaguarda do seu património pessoal.<br />

Foi neste contexto que a Aon estabeleceu uma parceria<br />

com a APAH para desenvolver uma solução especificamente<br />

dedicada à proteção do património pessoal<br />

dos membros das equipas de gestão das unidades de<br />

prestação de cuidados de saúde, possibilitando o acesso<br />

a seguros desenhados para esta realidade específica.<br />

Conhecendo as limitações do mercado segurador em<br />

aportar soluções de transferência de risco ajustadas à realidade<br />

da indústria hospitalar em Portugal e o interesse<br />

da APAH em encontrar uma solução para os gestores<br />

hospitalares, a Aon desenhou uma solução de seguro<br />

que dá resposta a esta crescente procura de uma proteção<br />

para o risco de gestão.<br />

A Aon é uma das maiores corretoras do mundo, apresentando<br />

soluções para risco, reforma e saúde em 120<br />

países através de 50 mil colaboradores. A AIG, seguradora<br />

selecionada pela Aon, é uma organização mundial<br />

líder em seguros e, principalmente, líder no segmento<br />

da responsabilidade de administradores e diretores.<br />

A APAH, a Aon e a AIG formaram assim uma parceria<br />

que junta empresas líderes nas suas respetivas áreas trazendo<br />

toda a sua capacidade e conhecimento para este<br />

risco emergente. A solução de seguro que resulta desta<br />

parceira visa garantir cobertura para a responsabilidade<br />

civil decorrente de atos de gestão. É, assim, diferente<br />

e complementar à responsabilidade civil profissional<br />

inerente à prática de atos médicos, pelo que não se<br />

trata de uma duplicação de cobertura para o seguro de<br />

responsabilidade civil profissional.<br />

Ao abrigo deste protocolo, existem vários níveis de<br />

proteção que vão dos 50.000€ aos 250.000€ em caso<br />

de indemnizações a terceiros e os 25.000€ e 75.000€<br />

para os custos com honorários de advogados para<br />

apoio jurídico. Mesmo considerando que, por imperativo<br />

associado à Lei portuguesa, nenhum contrato de<br />

seguro poderá ser utilizado para suportar os montantes<br />

associados com coimas ou multas, os gastos de defesa<br />

incorridos no decurso de um processo administrativo<br />

poderão ser transferidos para a apólice, podendo ser<br />

decisivos na qualidade da defesa e, consequentemente,<br />

no desfecho do processo. Este seguro de responsabilidade<br />

civil não evitará que os gestores e administradores<br />

hospitalares sejam processados ou multados no entanto,<br />

caso suceda, será uma ajuda imprescindível na gestão<br />

dos mesmos, aproximando a gestão do risco por atos<br />

de gestão, à realidade dos gestores de empresas comerciais.<br />

Ações como as que temos assistido, continuarão a existir<br />

e cada vez com mais frequência dado o aumento da<br />

litigância por parte dos utentes, e monitorização dos reguladores<br />

e tribunais. Os exemplos são bastante dispares,<br />

desde os casos em que gestores enfrentam processos<br />

administrativos por alegado uso indevido ou incorreto<br />

de ativos, às reclamações laborais que resultam do<br />

uso criativo dos escassos recursos disponíveis ou mesmo<br />

multas impostas pelo tribunal de contas. A existência de<br />

um seguro que permita utilizar recursos financeiros das<br />

seguradoras para financiar honorários de advogados<br />

dará aos gestores hospitalares a possibilidade de não<br />

aceitarem ser responsabilizados por recearem os custos<br />

e complexidade de iniciar uma defesa em que acreditam<br />

e, sobretudo, terem a possibilidade de defender<br />

a sua reputação. Também, ter uma garantia de indemnização<br />

a terceiros por atos de gestão assegurará uma<br />

maior tranquilidade na tomada de decisões, muitas vezes<br />

em contexto complexo.<br />

Estando estruturada a solução desenhada pela Aon e a<br />

APAH, e atentando aos valores competitivos praticados,<br />

certamente o investimento financeiro na contratação<br />

destes seguros não será entrave para garantir uma proteção<br />

jurídica mais robusta e tranquilizar os gestores hospitalares<br />

no decorrer do exercício das suas funções. Ã<br />

46 47


GH opinião<br />

a tecnologia médica<br />

nos hospitais públicos<br />

Luís Lopes Pereira<br />

Diretor Geral da Medtronic<br />

Depois da profunda crise financeira<br />

que avassalou o nosso País, parece<br />

ser consensual que o setor mais<br />

afetado terá sido o setor da saúde.<br />

As análises políticas, técnicas e emocionais<br />

levaram a considerar os Recursos Humanos<br />

como a dimensão que mais requeria o esforço da afetação<br />

de recursos. Mas se juntarmos os meios para que<br />

esses Recursos Humanos possam trabalhar e continuar<br />

a prestar os cuidados de saúde que os Portugueses<br />

precisam, falamos em dimensões estratosféricas para<br />

recuperar tudo o que se perdeu.<br />

O facto é que se torna hercúleo recuperar dez anos<br />

sem investimento num setor público que, entretanto,<br />

abriu o flanco para o setor privado investir exatamente<br />

onde ele não investiu durante esse tempo: edificações,<br />

tecnologia e Recursos Humanos. Mas um setor<br />

não substituiu o outro. Ou seja, o investimento privado<br />

pretendeu aproveitar o que o investimento público<br />

não cobriu em áreas terapêuticas que têm retorno<br />

económico, como é natural na perspetiva do mercado<br />

privado onde os pagadores são companhias de seguro<br />

e subsistemas de saúde como a ADSE. Condições de<br />

saúde crónicas cujo o investimento não é possível de<br />

um ponto de vista privado só o Estado poderá cobrir<br />

através da cobertura do SNS com receitas fiscais. E porque<br />

a escala é necessária para manter hospitais abertos,<br />

alguns acordos como o SIGIC, acordos de elaboração<br />

de diagnósticos e outros vão sendo feitos e dando alguma<br />

força ao Sistema de Saúde Português.<br />

Sobrevoando a prestação de saúde em Portugal, poder-se-ia<br />

dizer que entre privados e públicos poderíamos<br />

ter meios para fazer face às necessidades de saúde<br />

geral, bastando uma política integracionista de preços<br />

que compensasse ambos os setores de uma forma<br />

justa que visasse o equilíbrio de mercado. Mas creio<br />

que este terreno ainda tem fronteiras ideológicas, embora,<br />

na minha singela opinião, só consigamos financiar<br />

a saúde em Portugal com um sistema misto em que as<br />

empresas seriam chamadas a intervir, como muitas já<br />

fazem, oferecendo a hipótese dos seus trabalhadores<br />

terem seguros de saúde privados. Para que tal fosse<br />

crescente e mais adotado o Estado deveria introduzir as<br />

devidas compensações fiscais. Toda a prestação pública<br />

poderia assim focar-se na excelência da ciência médica,<br />

dedicando-se, numa perspetiva de salvamento, ao que<br />

o setor privado não consegue dar resposta ou, numa<br />

estratégia geográfica, competindo com o mesmo ou<br />

ainda oferecendo serviços onde a escala não justifica<br />

o investimento. O que acontece neste momento é que<br />

a gestão hospitalar pública se vê obrigada a fazer omeletes<br />

sem ovos e a sua qualidade não se pode analisar<br />

apenas pelos resultados, nem é comparável a outros<br />

setores, mesmo com os que também estão dedicados<br />

à área da saúde. São realidades distintas que deveriam<br />

ser mais próximas e comparáveis.<br />

Falando em números possíveis, o Governo adianta que<br />

já repôs mil e quatrocentos milhões do que foi retirado<br />

ao SNS durante o período de intervenção do FMI. Naturalmente<br />

neste campo apenas se pode operar ainda<br />

como tapa buracos, correndo o risco de operar pouco<br />

estrategicamente no que respeita a investimento, mesmo<br />

que se tenha sentido estratégico na afetação de<br />

recursos que são parcos, ou não fosse a economia chamada<br />

à saúde. Estando ainda muita poeira a pousar, vão<br />

sendo lançados alguns números que os cidadãos vão<br />

tendo conhecimento e, com boa fé, vão acreditando<br />

que são números fiáveis e calculados por quem sabe<br />

da matéria. Há cerca de um ano, o Ministério da Saúde<br />

anunciava que seriam necessários cerca de mil milhões<br />

de investimento em equipamentos hospitalares dos<br />

quais, resultante de uma análise profunda desse levantamento,<br />

as prioridades cifravam-se nos quinhentos milhões<br />

de euros a serem investidos em três anos, ou seja<br />

20<strong>19</strong>, <strong>2020</strong> e 2021. Não encontrei a distribuição dessa<br />

verba por cada área, mas creio que o valor incluía<br />

equipamentos tecnológicos e também a parte da construção.<br />

A lista de investimentos em equipamento hospitalar<br />

que incluía alguma construção durante 20<strong>19</strong>, publicada<br />

pelo gabinete do Ministério da Saúde, perfazia<br />

cerca de noventa e um milhões de euros dos quais quase<br />

um quarto eram financiados por fundos europeus e<br />

só o restante estava incluído no Orçamento de Estado.<br />

Mesmo considerando que os prioritários quinhentos milhões<br />

não seriam completamente financiados pelo Estado,<br />

teremos que encontrar em <strong>2020</strong> e em 2021 cerca de<br />

duzentos milhões de euros anuais para cobrir as prioridades,<br />

que são metade das necessidades anunciadas.<br />

Entretanto, os fornecedores de tecnologia médica, de<br />

todo o material clínico, têm inerente aos seus dispositivos<br />

a necessidade de colocar equipamento de forma<br />

a manter a atividade comercial que têm com os hospitais<br />

públicos, além do apoio técnico sem o qual os<br />

dispositivos não são utilizados nos diversos tratamentos<br />

e procedimentos feitos diariamente nos nossos hospitais.<br />

Não por culpa das administrações públicas, mas<br />

porque a necessidade assim o determinou no tempo,<br />

muitas empresas disponibilizam produtos em consignação<br />

que só muito tempo depois de utilizados são encomendados<br />

aos próprios, em procedimentos longos e<br />

penosos para todos, agravados ainda mais pela incapacidade<br />

financeira de pagar em tempo devido por parte<br />

do Estado. Nos últimos anos, estas empresas têm feito<br />

um serviço público fundamental de sustentabilidade do<br />

SNS. Sem o reconhecer, cego na procura de financiamento,<br />

o Estado pretende agora que elas contribuam<br />

extraordinariamente para a sustentabilidade do SNS<br />

para o qual as empresas já tanto contribuem. A taxa<br />

incluída no orçamento de Estado sobre a faturação dessas<br />

empresas vai ser insustentável para todos: as empresas<br />

despedirão parte de quem dá suporte técnico,<br />

baixando a qualidade do serviço prestado pelos hospitais<br />

e tenderão em favorecer os privados na introdução<br />

da inovação, ficando os cidadãos em geral privados no<br />

seu acesso à melhor tecnologia no SNS. Esta medida vai<br />

desequilibrar ainda mais a oferta dos hospitais públicos<br />

e dos hospitais privados, o que é manifestamente contrário<br />

à estratégia deste e de qualquer Governo.<br />

Num momento em que se fala de investimento público<br />

nos hospitais, falta saber que necessidades especificas<br />

“<br />

NO QUE TOCA AO INVESTIMENTO<br />

NECESSÁRIO PARA REEQUIPAR<br />

OS HOSPITAIS PÚBLICOS, ENTRE<br />

O DEVE E O HAVER, ENQUANTO<br />

A ÁGUA VAI E VEM, AS ADMINISTRAÇÕES<br />

DOS HOSPITAIS PÚBLICOS<br />

MERECEM UM GRANDE ELOGIO.<br />

”<br />

temos em termos de equipamento propriamente dito,<br />

ou seja, ventiladores, aparelhos de imagiologia, monitores,<br />

equipamento especifico de bloco operatório, de<br />

Unidades de Cuidados Intensivos, equipamento de intensificação<br />

de imagem, bombas infusoras, camas, navegadores<br />

e muitos outros que, todos sabemos, ou pelo<br />

menos desconfiamos, uma percentagem importante se<br />

encontra em situação de falência técnica. As melhorias<br />

deveriam trazer ganhos em qualidade e em custos para<br />

o hospital. Por outro lado, seria importante saber que<br />

tecnologias já não entram em Portugal por causa das<br />

condições de mercado, da escolha demasiado baseada<br />

no preço e das limitações orçamentais do país. Neste<br />

capítulo ainda temos um longo período a percorrer.<br />

No que toca ao investimento necessário para reequipar<br />

os hospitais públicos, entre o deve e o haver, enquanto<br />

a água vai e vem, as administrações dos hospitais públicos<br />

merecem um grande elogio. Com as mãos atadas<br />

com várias cordas, desde o centralismo da decisão à elevada<br />

dependência que a saúde sofre do Ministério das Finanças,<br />

os administradores hospitalares conseguem contorcer-se<br />

em criatividade e levar alguma água ao seu moinho,<br />

mantendo os hospitais a funcionar, com a parceria<br />

dos fornecedores e com pessoal descontente que, mesmo<br />

assim, vai dando o melhor que tem. No fundo, o mérito<br />

chama-se boa vontade. A boa vontade dos administradores<br />

e dos profissionais de saúde, a boa vontade<br />

dos mecenas, a boa vontade dos parceiros fornecedores<br />

que ajudam a manter os hospitais abertos e a boa<br />

vontade dos doentes que se vão ajustando às listas de<br />

espera, às falhas do equipamento e à falta de acesso.<br />

No que toca à tecnologia médica, o reequipamento }<br />

48 49


GH opinião<br />

hospitalar e a atualização da inovação tecnológica poderá<br />

ser mais prioritário do que podemos ser levados<br />

a pensar. Atualmente a atividade médica depende em<br />

muito desse equipamento, especialmente no meio hospitalar.<br />

A existência de equipamento tecnológico atualizado<br />

é fulcral para que os resultados da atividade hospitalar<br />

ganhem eficácia e eficiência. Tratar um doente<br />

com uma nova tecnologia ou através de um procedimento<br />

novo que não sejam acompanhados e suportados<br />

por um equipamento condizente pode pôr em<br />

risco o investimento nessa tecnologia e o resultado clínico<br />

do doente.<br />

É muito importante que se criem condições para a introdução<br />

de novos modelos de negócio que permitam<br />

aos hospitais optar por modelos de negócio inovadores<br />

em que a partilha de risco com fornecedores e a<br />

transparência sejam denominadores comuns. Também<br />

será necessário aumentar, conforme já foi prometido<br />

em parte pelo Governo, a autonomia da administração<br />

dos hospitais públicos para tornar a gestão mais célere<br />

e executada em tempo devido, correspondendo às<br />

necessidades dos hospitais com sentido mais estratégico<br />

e tático.<br />

Termino voltando ao tema da boa vontade. Todos nós,<br />

enquanto cidadãos, queremos um SNS forte, o que<br />

obriga a mantermos a sustentabilidade dos hospitais<br />

públicos. Mas é muito importante acabarmos com o<br />

mal crónico do desenrascanço que tem muito de boa<br />

vontade. A autonomia financeira dos hospitais deve ser<br />

reposta até porque são eles que têm perante a lei os<br />

prazos dilatados de pagamento que são empurrados<br />

por prazos de recebimento que muitas vezes têm origem<br />

em orçamentos suplementares feitos pelo seu financiador,<br />

o Estado, nós todos. Essa situação condena<br />

em boa parte a capacidade de investimento dos hospitais<br />

e a carência dos equipamentos médicos, vitais para<br />

a sua atividade diária. Para melhorar essa situação, um<br />

setor como os fornecedores de tecnologia médica que<br />

é tão importante para a sustentabilidade do SNS, não<br />

pode ser alvo de taxas que põem em causa a credibilidade<br />

de Portugal perante os fornecedores internacionais<br />

que deixarão de se esforçar tanto por incluir este<br />

país no mapa do mundo desenvolvido relativamente à<br />

inovação tecnológica na saúde. E que em vez de sustentar<br />

o SNS, esses fornecedores serão empurrados para<br />

se afastar do País, iberizando ainda mais as empresas e<br />

afastando profissionais e parcerias tão essenciais à qualidade<br />

da saúde dos Portugueses. Ã<br />

50


GH Telesaúde<br />

Estratégia Nacional<br />

para a Tele Saúde<br />

apresentação do PENTS:<br />

uma festa<br />

Fernando Mota<br />

Vice-Presidente da Associação<br />

Portuguesa de Telemedicina<br />

No final do último ano, mais precisamente<br />

no passado dia 12 de Novem- Potenciar ganhos em saúde e em eficiência, e incre-<br />

-se a estrutura do documento, por onde o PENTS<br />

rar a interoperabilidade e a segurança da informação.<br />

inglês, para merchandising internacional.... Percebeu-<br />

“<br />

bro, a Empresa Pública do Estado - mentar a acessibilidade (e equidade) são temas recorrentes<br />

da intervenção política na gestão da saúde.<br />

a metodologia, a contextualização. Identifica ainda<br />

pretende nortear-se: o alinhamento com o ENESIS 1 ,<br />

vulgo, EPE, dos Serviços Partilhados<br />

PERCEBEU-SE A ESTRUTURA<br />

do Ministério da Saúde, ou mais comumente<br />

dita, a SPMS, efectuou a apresentação do da informação são temas que correspondem a an-<br />

internacionais e a inovação e define linhas estraté-<br />

DO DOCUMENTO, POR ONDE<br />

Já as questões da interoperabilidade e da segurança<br />

os principais desafios e oportunidades, as tendências<br />

PENTS - Plano Estratégico Nacional para a Telessaúde<br />

para o período de 20<strong>19</strong>-2022.<br />

damente na persistente insistência em garantir a de-<br />

reflexão e análise mais prolongada e aprofundada, a seios expressos por profissionais e cidadãos, nomeagicas<br />

e medidas. Matéria extensa que merece uma<br />

O PENTS PRETENDE NORTEAR-SE:<br />

A sala - um auditório da SPMS, com capacidade para<br />

cerca de cinco dezenas de pessoas, estava cheia. os actos da prestação de cuidados de saúde - sobre-<br />

Mas o anúncio maior foi, sem dúvida, a apresentação<br />

vida atenção a - e interacção com, o utente durante<br />

expor em próximo artigo.<br />

O ALINHAMENTO COM O ENESIS,<br />

Justificava-se: era grande a expectativa criada desde tudo nos cuidados primários, um dos indicadores de<br />

da nova ferramenta de suporte e apoio à prática da<br />

o anúncio da sua elaboração em meados do ano qualidade do SNS! Os segundos, na expectativa da<br />

Telemedicina. Com efeito, o RSE live (continua o mer-<br />

A METODOLOGIA,<br />

transacto, expectativa essa também interna à instituição,<br />

conservação e aprofundamento da relação de proxi-<br />

chandising para inglês ler) foi apresentado como a A CONTEXTUALIZAÇÃO.<br />

patente nas inúmeras presenças da casa!<br />

midade com a saúde, por intermédio do profissional<br />

solução tecnológica inovadora que, segundo a SPMS,<br />

A sessão teve como protagonistas principais o Presidente<br />

que lhe presta os cuidados, e da preservação da con-<br />

ultrapassa (e substitui?) a PDS live! Apesar da escassez IDENTIFICA AINDA OS PRINCIPAIS<br />

da SPMS, Henrique Martins e a Directora do fidencialidade que garanta o sigilo da informação de<br />

(ausência) dos detalhes técnicos fornecidos, imagina-<br />

Centro Nacional de Telessaúde (CNTS), Micaela saúde do cidadão - para além de tudo, uma prática<br />

mos a alegria que vai por esse País fora, dos PIT’s e DESAFIOS E OPORTUNIDADES,<br />

Monteiro. Também a Secretária de Estado da Saúde, saudável do exercício da cidadania! Afinal, assegurar<br />

dos CRT’s - dos Promotores Internos e dos Coordenadores<br />

Regionais de Telesaúde! Ao fim de dez anos<br />

Jamila Madeira, quis marcar presença, assinalando na duas aspirações da vocação da prestação de cuidados<br />

AS TENDÊNCIAS INTERNACIONAIS<br />

de saúde: garantir o sigilo dos dados e cuidar da<br />

de PDS Live chega agora a chave de todas as maleitas<br />

sua intervenção, que “a telessaúde e a telemedicina<br />

são peças estruturantes daquilo que acreditamos ser dimensão humana na prestação desses cuidados.<br />

(a telesaúde é assim: um autêntico meio de diagnóstico!).<br />

E A INOVAÇÃO E DEFINE<br />

uma visão para a saúde do futuroˮ, salientando a sua Foi então o momento da Directora do CNTS, Micaela<br />

Vamos lá ó PIT’s e CRT’s, arregaçar as mangas LINHAS ESTRATÉGICAS.<br />

Monteiro, fazer a apresentação do tão espera-<br />

e toca a voltar a convencer os incrédulos das ARS, das<br />

“importância nas dinâmicas de construir soluções,<br />

”<br />

potenciar ganhos, proporcionar acessibilidade e proximidadeˮ.<br />

Destacou ainda a necessidade de asseguzação<br />

do documento no sítio da SPMS, também em<br />

res, das ULS’s 3 , das virtualidades dos novos recursos: }<br />

do PENTS 20<strong>19</strong>-2022. Foi (boa) notícia a disponibili-<br />

USF, dos ACeS 2 , dos Hospitais e Centros Hospitala-<br />

52 53


GH Telesaúde<br />

“<br />

FALTA AGORA O TRABALHO<br />

PRINCIPAL: ANALISAR O PENTS<br />

E AVALIAR OS RESULTADOS<br />

CONSEGUIDOS! QUE SÃO<br />

AS TAREFAS QUE SE AVIZINHAM<br />

ÀS QUAIS A ASSOCIAÇÃO<br />

PORTUGUESA DE TELEMEDICINA<br />

(APT) IRÁ DAR A MAIS<br />

CUIDADA ATENÇÃO.<br />

”<br />

é que é desta! É agora! Há dez anos atrás andávamos<br />

todos às apalpadelas. Agora não: agora é que é!<br />

Isto mesmo expressou o PIT que interveio logo a seguir<br />

(Carlos Ribeiro, da ARS do Norte). E da sua intervenção<br />

reteve-se: “Estou com muita esperança que<br />

a nova ferramenta tecnológica ultrapasse as deficiências<br />

da PDS live, (...) que os dados sejam integrados<br />

nos PCE 4 dos doentes (...) que o trabalho seja<br />

em rede e não isolado (...)” 5 . Surpresa! Parece, afinal,<br />

que a APT não anda a pregar no deserto, desde há<br />

13 anos a esta parte!<br />

Foi, contudo - e muito bem, destacada a importância<br />

dos promotores e dos planos locais de implementação:<br />

são pontas de lança imprescindíveis à adopção das<br />

técnicas e práticas da telemedicina. Mas, repetindo o<br />

que o PIT do Norte afirmou, trata-se de um processo<br />

em rede; agir isoladamente é sinónimo de insucesso!<br />

A sessão estava a chegar ao fim, contudo fomos<br />

ainda contemplados com uma teleconsulta ao vivo:<br />

a demonstração que a nova plataforma estava operacional.<br />

A consulta foi sui generis! Se não vejamos:<br />

Patrícia Rodrigues foi a paciente que apareceu no<br />

écran e que a Dr.ª Micaela Monteiro consultou.<br />

Queixou-se que urinava muitas vezes, em pequenas<br />

quantidades, e com sensação de ardência. Logo a<br />

médica consultou o relatório analítico laboratorial e<br />

diagnosticou uma infecção urinária pelo que logo lhe<br />

receitou um antibiótico cuja receita imediatamente<br />

integrou o PCE da Patrícia, bem como o respectivo<br />

resumo clínico que a profissional de saúde imediatamente<br />

inscreveu! 6<br />

O RSE live, portou-se bem: comunicação sem interrupções,<br />

dados de prescrição e de resumo clínico da<br />

consulta a circular e a integrar o PCE do paciente.<br />

Teria sido interessante ver outras tele-funções: tele-<br />

-ecografia, -auscultação, -TA, por exemplo.... Ficamos<br />

sem saber se já estão disponíveis e se se podem usar.<br />

O novo RSE live apresentado foi, pois, uma elementar<br />

teleconferência com interacção com a prescrição<br />

electrónica... soube a pouco, a bastante pouco - uma<br />

simples chamada telefónica teria produzido o mesmo<br />

resultado!<br />

Trata-se de programas informáticos elaborados pela<br />

SPMS na continuidade da linha de actuação que tem<br />

vindo a ser seguida, desde há quase dez anos a esta<br />

parte: não importa o tempo de preparação e elaboração<br />

dos programas, importa sim que não se vá ao<br />

mercado “gastar” dinheiro! Aparentemente a SPMS<br />

está a poupar muito dinheiro!<br />

Porém, a necessária contabilização do tempo despendido<br />

pelos diversos actores envolvidos - profissionais<br />

de saúde (médicos, enfermeiros, assistentes...),<br />

gestores e técnicos de informática, pacientes e utentes,<br />

bem como a avaliação das frustrações devidas à<br />

deficiente qualidade dos programas informáticos ou<br />

dificuldades da rede ou dos computadores locais,<br />

porventura evidenciará uma realidade bem diferente.<br />

Importante seria prover acesso público a esta contabilização<br />

de fonte segura e independente! Seria também<br />

o momento de avaliar a promoção da inovação<br />

(e concorrência?) nos sistemas de informação da saúde,<br />

designadamente, no presente contexto, nos que<br />

viabilizam a prática da telemedicina.<br />

E a agravar esta realidade, importará ainda, avaliar o<br />

impacto do fracasso funcional da PDS Live enquanto<br />

inibidor da adopção das soluções de telemedicina.<br />

No limite, em que situações o acesso a cuidados de<br />

saúde, através da telemedicina, não foi sequer equacionado<br />

por força das disfuncionalidades das plataformas<br />

tecnológicas da SPMS?<br />

Finalmente, encerrou-se a sessão com duas intervenções:<br />

a do convidado, especialista em telemedicina,<br />

oriundo da República Federativa do Brasil, que muito<br />

apreciou o esforço português no desenvolvimento<br />

da telesaúde e a elaboração do Plano Estratégico ora<br />

apresentado, e a do Presidente da SPMS que destacou<br />

as dificuldades de integração perante os legacy<br />

systems 7 , a questão da cibersegurança, o problema<br />

dos computadores nos locais de trabalho, a necessidade<br />

de insistir na abertura de tickets 8 sem desistências<br />

(e os tempos de resposta?), o workpackage<br />

9 que Portugal vai liderar, através da SPMS, em novo<br />

consórcio europeu da UE, na área de patient empowerment<br />

10 , o empenho na transformação digital na<br />

saúde, e finalmente o anúncio que o concurso para a<br />

nova RIS (Rede Informática da Saúde) está prestes<br />

a ver a luz do dia. Portanto, só boas notícias! Sobre<br />

o peso dos sistemas no trabalho dos profissionais, é<br />

que nada foi dito!<br />

A festa chegou ao rubro: o PENTS a ver a luz do dia<br />

e a provocar os elogios dos estados membros Europeus,<br />

pois, segundo a SPMS, nenhum outro país possui<br />

tal instrumento, o RSE Live, a nova RIS que se aproxima,<br />

a celebração do aniversário do CNTS: houve<br />

bolo e cantaram-se os parabéns. Assim se cumpriu<br />

mais uma jornada da SPMS!<br />

Falta agora o trabalho principal: analisar o PENTS e<br />

avaliar os resultados conseguidos! Que são as tarefas<br />

que se avizinham às quais a Associação Portuguesa de<br />

Telemedicina (APT) irá dar a mais cuidada atenção. Ã<br />

1. Estratégia Nacional para o Eco-Sistema de Informação da Saúde.<br />

2. Administrações Regionais de Saúde, Unidades de Saúde Familiar, Agrupamentos<br />

de Centros de Saúde.<br />

3. Unidade Local de Saúde.<br />

4. Processo Clínico Electrónico.<br />

5. Citação de memória, poderá não ser literal.<br />

6. Quaisquer considerações de ordem ética ou procedimentais não serão para<br />

aqui chamadas...<br />

7. Sistemas legados em tradução literal, isto é, o conjunto de aplicações informáticas<br />

herdadas do passado.<br />

8. Designação dada ao registo dos pedidos de suporte no Call Centre (Centro<br />

de Contacto, Centro de Atendimento).<br />

9. Conjunto de tarefas que constituem uma actividade elementar: literalmente,<br />

“Pacote de trabalho”.<br />

10. Empoderamento do paciente: tendência actual para dotar o paciente com<br />

os meios necessários para aumentar a(s) sua(s) autonomia(s), capacidade(s) e<br />

competência(s).<br />

Nota: o autor escreve consciente e intencionalmente em conformidade<br />

com as regras ortográficas da Língua Portuguesa anteriores<br />

ao Novo Acordo Ortográfico.<br />

54 55


GH direito biomédico<br />

QUE FUTURO PARA AS<br />

TÉCNICAS DE TRANSFERÊNCIA<br />

MITOCONDRIAL?<br />

Eduardo António da Silva Figueiredo<br />

Investigador do Centro de Direito Biomédico<br />

Faculdade de Direito-Universidade de Coimbra<br />

O<br />

genoma constitui a “totalidade do<br />

complemento genético de um organismo”<br />

1 . No que respeita ao genoma<br />

humano, este é constituído por<br />

uma componente nuclear - que se<br />

encontra albergada no núcleo da célula - e por uma<br />

componente mitocondrial - na grande maioria dos casos,<br />

de origem exclusivamente materna 2 e localizada<br />

na mitocôndria, que funciona como uma espécie de<br />

“fornalha oxidativa onde a célula queima combustível<br />

para obter energia” crucial ao funcionamento dos vários<br />

órgãos e tecidos 3 .<br />

A importância do ADN mitocondrial tem sido, por vezes,<br />

verdadeiramente subestimada. Não obstante, sabe-se<br />

que a sua transmissão e replicação são “estritamente<br />

reguladas desde estádios prematuros do desenvolvimento<br />

de um ser”, afigurando-se fundamentais<br />

para a viabilidade e boa saúde da descendência 4 .<br />

A existência de “defeitos” no ADN mitocondrial é responsável<br />

pelo desenvolvimento de um conjunto de<br />

doenças graves, das quais podemos destacar a atrofia<br />

ótica de Leber ou a síndrome de Leigh 5 . Estes podem<br />

ser transmitidos hereditariamente ou despoletados<br />

por um conjunto de fatores intrínsecos ou extrínsecos<br />

causadores de deleções ou mutações pontuais 1 .<br />

Assim, o estudo do ADN mitocondrial é fundamental<br />

para a identificação das mutações associadas a este<br />

tipo de doenças e subsequente desenvolvimento de<br />

meios técnicos para a sua prevenção e tratamento,<br />

mas também no âmbito médico-legal, para o esclarecimento<br />

de dúvidas de natureza histórico-genealógica<br />

ou para a caraterização da evolução humana (v.g. no<br />

que tange às diversas variações regionais ou à determinação<br />

das nossas origens ancestrais) 1,4 .<br />

Até há pouco tempo atrás, procurava-se a prevenção<br />

e tratamento das doenças mitocondriais (ou, pelo menos,<br />

a amenização dos seus efeitos) através da prescrição<br />

de suplementos vitamínicos ou de medicamentos,<br />

a maioria deles, administrados no decurso de ensaios<br />

clínicos 6 . Mais recentemente, e graças aos inúmeros<br />

progressos no quadro da genética, têm sido desenvolvidos<br />

um conjunto de mecanismos de predição<br />

e diagnóstico deste tipo de doenças 7 , bem como inúmeras<br />

técnicas de transferência mitocondrial em seres<br />

humanos destinadas à sua prevenção, permitindo<br />

que mulheres afetadas por este tipo de enfermidades<br />

(ou mesmo aquelas que sejam qualificadas como<br />

portadoras assintomáticas) possam ter uma descendência<br />

saudável e com a qual partilham um vínculo<br />

genético 6 . Das várias técnicas disponíveis 7 , destacamos<br />

as seguintes:<br />

• A Maternal Spindle Transfer traduz-se na extração<br />

do núcleo saudável de um óvulo com uma mitocôndria<br />

defeituosa, transferindo-o para outro óvulo, previamente<br />

enucleado e proveniente de uma dadora, o<br />

qual apresenta uma mitocôndria saudável. Após a fertilização<br />

in vitro deste “óvulo híbrido”, o mesmo é<br />

transferido para o útero materno 8 .<br />

• Por outro lado, a Pronuclear Transfer pressupõe a fertilização<br />

de dois ovócitos (um pertencente à futura<br />

mãe, a qual possui um ADN mitocondrial defeituoso,<br />

e outro de uma dadora saudável) com o esperma<br />

do progenitor masculino (ou de um dador). Em seguida,<br />

procede-se à transferência dos pronúcleos do<br />

embrião que contenha a mitocôndria materna para<br />

um embrião previamente enucleado e dotado de<br />

uma mitocôndria saudável 8 .<br />

• Por fim, a Nuclear Transfer parte da extração do núcleo<br />

de um embrião portador de um qualquer defeito<br />

no seu ADN mitocondrial para, posteriormente,<br />

o transferir para um outro embrião previamente enucleado<br />

9 . Esta última técnica ainda não é utilizada em<br />

contexto de experimentação científica ou prática clínica.<br />

Além de todas as técnicas supramencionadas, note-se<br />

que também é possível proceder à correção de defeitos<br />

no ADN mitocondrial através da utilização de<br />

algumas técnicas de edição do genoma humano: é o<br />

caso das chamadas TALENs ou da CRISPR/Cas 6 . Apesar<br />

de estas não terem sido originariamente desenvolvidas<br />

para atuar no quadro do ADN mitocondrial,<br />

a verdade é que as mesmas também podem oferecer<br />

inúmeras potencialidades na correção dos seus<br />

defeitos ou malformações.<br />

Ora, o debate em torno da admissibilidade ético-jurídica<br />

da utilização deste tipo de técnicas não é, de modo<br />

algum, novo 5 . Apesar disso, na arena europeia (e mesmo<br />

mundial), este subiu de tom quando, a 29 de outubro<br />

de 2015, se aprovou uma alteração ao Human<br />

Fertilization and Embryology Act (HFEA) britânico, admitindo-se<br />

a utilização de técnicas de transferência<br />

mitocondrial como parte integrante do procedimento<br />

de fertilização in vitro, quando destinada à prevenção<br />

de um conjunto variado de doenças mitocondriais<br />

graves e causadoras de morte precoce 8 .<br />

Se, por um lado, houve quem tenha aplaudido tal solução<br />

político-legislativa, por tornar possível a um vasto<br />

conjunto de mulheres ter uma descendência saudável,<br />

por outro lado, houve quem questionasse a sua<br />

admissibilidade ético-jurídica com recurso a variadíssimos<br />

argumentos. Vejamos alguns deles:<br />

Dignidade e identidade (genética) do ser humano<br />

Alguns autores consideram que as recentes práticas biotecnológicas,<br />

atuando no quadro da programação interna<br />

do ser, põem em causa a dignidade da pessoa humana<br />

e ousam redefinir a essência da própria humanidade.<br />

Cada vez mais, o ser humano deixa de se vislumbrar como<br />

ser-em-si-mesmo, passando a encarar-se e a ser encarado<br />

como mera criação, fruto de uma espécie de ímpeto<br />

volitivo pessoal heterónimo 10 . Esta crítica - que, de<br />

resto, não é nova - apresenta inúmeras deficiências, principalmente<br />

por a dignidade humana se apresentar como<br />

uma categoria axiológica, ética e jurídica profundamente<br />

complexa e mutável, o que justifica que a mesma<br />

não se possa afirmar como “argumento apto para<br />

produzir um consenso não existente” 11 . Tende-se,<br />

igualmente, a asseverar que a transferência mitocondrial<br />

apresenta um profundo impacto na alteração<br />

da identidade do ser humano, especialmente no que<br />

respeita à sua identidade genética.<br />

Alguns autores rejeitam tais considerações, por entenderem<br />

que a transferêcia mitocondrial é feita numa fa-<br />

“<br />

ALGUNS AUTORES CONSIDERAM<br />

QUE AS RECENTES PRÁTICAS<br />

BIOTECNOLÓGICAS, ATUANDO<br />

NO QUADRO DA PROGRAMAÇÃO<br />

INTERNA DO SER, PÕEM<br />

EM CAUSA A DIGNIDADE<br />

DA PESSOA HUMANA.<br />

”<br />

se tão inicial do processo reprodutivo (antes da fecundação<br />

ou logo após a mesma) que ainda não é possível<br />

falar-se da existência de uma qualquer identidade (mormente<br />

genética) concreta que se possa modificar 9 .<br />

À parte disso, cabe-nos referir que, não obstante a falta<br />

de consenso doutrinal na matéria, tendemos a considerar<br />

que esta prática deve ser qualificada como<br />

um meio de alteração da linha celular germinativa 5 , já<br />

que tem por objeto um conjunto de células germinais<br />

12 e o ADN mitocondrial saudável introduzido<br />

por via da mesma passará a fazer parte do genoma<br />

do novo ser (e será transmitido à geração seguinte,<br />

caso este seja do sexo feminino). Assim sendo,<br />

parece-nos que, à luz do nosso ordenamento jurídico,<br />

a utilização desta prática seria inadmissível, por<br />

constituir uma violação do disposto no art. 13.<strong>º</strong> da<br />

Convenção sobre os Direitos Humanos e a Biomedicina<br />

13 e de outras disposições de direito interno<br />

que apontam no mesmo sentido 14 .<br />

Crescentes são, porém, as vozes que reclamam um<br />

distinto enquadramento ético-jurídico desta prática<br />

em contraposição, por exemplo, com algumas técnicas<br />

de edição genética. Neste contexto, tende a destacar-se<br />

o facto de o ADN mitocondrial corresponder<br />

apenas a uma ínfima parte do ADN presente numa<br />

célula (aproximadamente 0,1%).<br />

Além disso, costuma também pontuar-se que a sua<br />

principal função é a produção de energia 15 , sendo no<br />

ADN nuclear (o qual não é, por esta via, afetado) }<br />

56 57


GH direito biomédico<br />

“<br />

UMA DAS VARIÁVEIS A CONSIDERAR<br />

SERÁ SEMPRE A DOS “NOVOS RISCOS”<br />

ASSOCIADOS À UTILIZAÇÃO<br />

DAS TÉCNICAS BIOTECNOLÓGICAS,<br />

OS QUAIS TÊM SIDO QUALIFICADOS<br />

DE INCONTROLÁVEIS (...)<br />

”<br />

que se encontram a maioria dos traços genéticos<br />

que influenciam, em diálogo com incontáveis fatores<br />

ambientais, o desenvolvimento de caraterísticas fundamentais<br />

do ser humano 6 .<br />

Por outro lado, há quem alerte para o facto de existir<br />

uma clara diferença entre a edição de específicos<br />

segmentos genéticos (p.e. por via da CRISPR/Cas) e<br />

a transferência mitocondrial, a qual consiste numa<br />

mera substituição do ADN mitocondrial defeituoso<br />

por um outro saudável, sem qualquer intervenção<br />

técnica que, de algum modo, o artificialize 13 . Procurase,<br />

desta forma, afastar a ideia de que a utilização de<br />

tais técnicas poderá abrir a porta à seleção de traços<br />

genéticos, transformando-se numa rampa resvaladiça<br />

que nos faça descambar na prossecução de inaceitáveis<br />

práticas de melhoramento genético humano.<br />

Por fim, tem-se chamado a atenção para o facto de<br />

este procedimento dar origem a um ser humano que<br />

congregará material genético de três pessoas distintas:<br />

do pai, da mãe e da mulher dadora do óvulo portador<br />

de ADN mitocondrial saudável. Neste contexto,<br />

a doutrina tem discutido profundamente a questão<br />

da confidencialidade e do anonimato das dadoras de<br />

gâmetas 6 , a qual, entre nós, assumiu novos contornos<br />

desde março de 2018, quando o Tribunal Constitucional<br />

português, graças à crescente densificação do<br />

direito ao conhecimento das origens genéticas, decidiu<br />

condenar o antigo regime-regra do anonimato.<br />

O(s) risco(s) e as alternativas<br />

No quadro da atual “sociedade mundial do risco”<br />

(U. Beck), uma das variáveis a considerar será sempre<br />

a dos “novos riscos” associados à utilização das<br />

técnicas biotecnológicas, os quais têm sido qualificados<br />

de incontroláveis, inquantificáveis, indetermináveis<br />

e não atribuíveis 16 .<br />

Quanto a esta prática em concreto, várias entidades<br />

(como o Nuffield Council on Bioethics) têm-se pronunciado<br />

no sentido de não existirem evidências científicas<br />

que, de forma sólida, apontem para a falta de segurança<br />

associada à sua utilização em contexto de<br />

experimentação científica ou de prática clínica 5 .<br />

Convém relembrar, porém, que a ausência de certezas<br />

quanto à falta de segurança das técnicas de transferência<br />

mitocondrial não significa, no entanto, a ausência<br />

absoluta de riscos. Situamo-nos no tão propalado domínio<br />

dos “riscos incertos”, os quais poderão manifestar-se<br />

de forma absolutamente gravosa e imprevisível.<br />

Neste contexto, há já algum tempo que nos manifestamos<br />

no sentido de considerarmos que uma resposta<br />

precaucional adequada não exigirá necessariamente<br />

a proibição absoluta do recurso a estas práticas.<br />

Antes, ela pressuporá, por ora, a sua limitação àqueles<br />

casos em que exista um elevado risco de transmissão<br />

de doença mitocondrial grave à descendência,<br />

sempre que não exista alternativa científica, social<br />

ou eticamente mais desejável (como, por exemplo,<br />

o recurso a óvulos doados, ao diagnóstico pré-natal,<br />

ao diagnóstico genético pré-implantação 8 ) e apenas<br />

na medida em que não sejam identificáveis registos<br />

de consequências negativas graves a curto, médio ou<br />

longo prazo decorrentes da utilização das mesmas.<br />

A diligência devida exige, ainda, que esta prática venha<br />

a ser introduzida de forma paulatina, fazendo-se<br />

acompanhar da observância estrita de protocolos<br />

científicos rigorosos e sob a supervisão e controlo<br />

de autoridades oficiais competentes que assegurem,<br />

nomeadamente, a preparação das equipas intervenientes<br />

e o seguimento detalhado dos procedimentos<br />

7 . Por outro lado, garantir que os indivíduos<br />

tenham acesso a informação atualizada e fidedigna<br />

é um requisito absolutamente fundamental, pois só<br />

assim eles poderão tomar a sua decisão de recorrer<br />

(ou não) a este tipo de procedimentos de forma verdadeiramente<br />

esclarecida. No fundo, apelamos ao<br />

respeito e cumprimento pela “diligência devida”,<br />

quer no plano material, quer procedimental 17 .<br />

Clonagem?<br />

Existe quem considere que a transferência mitocondrial,<br />

especialmente quando levada a cabo por via da<br />

chamada Nuclear Transfer, constitui uma forma de<br />

clonagem reprodutiva de seres humanos 9 - prática<br />

que, como bem sabemos, se encontra proibida (e é<br />

criminalmente punível) na grande maioria dos ordenamentos<br />

jurídicos a nível mundial 18 .<br />

Não obstante, segundo alguns autores, tal argumento<br />

não procede, simultaneamente por razões de cariz<br />

prático e de cariz conceitual. Desde logo, refere-se<br />

que a técnica da transferência nuclear ainda não é, na<br />

prática, empregue para a prossecução da transferência<br />

mitocondrial 9 . E mesmo que assim fosse, não é<br />

desejável que se confunda esta técnica com as possíveis<br />

finalidades da mesma. Assim, por exemplo, a utilização<br />

da Nuclear Transfer para a obtenção de linhas<br />

celulares suscetíveis de uso terapêutico não pode ser<br />

equiparada à clonagem 9 , prática que se destina a criar<br />

um “ser humano geneticamente idêntico a outro (...),<br />

vivo ou morto”, o que pressupõe que ambos tenham<br />

em comum o mesmo conjunto de genes nucleares.<br />

Além disso, ao contrário do que ocorre no caso da<br />

Somatic Cell Nuclear Transfer (técnica de clonagem que<br />

deu origem à mítica ovelha Dolly), aqui não se emprega,<br />

em momento algum, qualquer célula somática 9 .<br />

Instrumentalização de gâmetas e embriões humanos?<br />

Outra das linhas de crítica à prática da transferência<br />

mitocondrial prende-se com o facto de haver quem<br />

considere que a aplicação clínica das mesmas exigirá<br />

um elevado número de doações de gâmetas femininos.<br />

É necessário, pois, que exista regulamentação clara<br />

e que assegure pari passu a autonomia e o bem-estar<br />

das dadoras, mormente valorizando o seu devido<br />

esclarecimento e limitando o número de doações que<br />

cada uma poderá levar a cabo, protegendo-as contra<br />

os efeitos negativos associados ao processo de estimulação<br />

ovárica 6 . Só o combate a qualquer tipo de<br />

pressão ou coerção psicológica, social ou económica<br />

poderá evitar, inter alia, a exploração e instrumentalização<br />

de mulheres que se encontrem em situações<br />

de maior vulnerabilidade 15 .<br />

Por outro lado, há quem critique o facto de esta prática,<br />

quando levada a cabo por via da Pronuclear Transfer,<br />

conduzir necessariamente à destruição de óvulos humanos<br />

fecundados que se encontram nas primeiras<br />

fases de desenvolvimento (zigotos), os quais são considerados<br />

‘embriões humanos’ por aqueles que entendem<br />

que a vida humana tem o seu início no momento da fecundação.<br />

A prossecução desta prática implicaria, pois,<br />

a morte deliberada de um ser humano, o que é bastante<br />

problemático do ponto de vista ético 9 .<br />

Por razões sistemáticas, não iremos adentrar nos vários<br />

problemas associados ao estatuto filosófico, ético<br />

e jurídico do embrião humano 12 , deixando apenas<br />

a nota de que será sempre preferível o recurso à Maternal<br />

Spindle Transfer, já que, neste caso, se recorre<br />

a óvulos não fecundados.<br />

Terminamos afirmando que a utilização futura das<br />

técnicas de transferência mitocondrial para prevenir<br />

a transmissão hereditária de um conjunto de doenças<br />

nefastas e para a satisfação dos desejos (senão mesmo,<br />

direitos) procriativos de tantos casais dependerá<br />

do aprofundamento da discussão - hoje claramente<br />

insuficiente - dos desafios éticos e jurídicos que as<br />

mesmas colocam.<br />

As soluções a alcançar terão de ser, invariavelmente,<br />

soluções de compromisso, afastadas de qualquer tipo<br />

de falácias naturalistas ou de preconceitos que tolhem<br />

injustificadamente o progresso da humanidade,<br />

sem que se deixe, porém, de considerar e harmonizar<br />

a pluralidade de direitos e interesses que se entrecruzam<br />

nestes domínios. Só assim se logrará o progresso<br />

humanitário por via de uma ciência cada vez<br />

mais human(izad)a. Ã<br />

1. Regateiro, Fernando J., Manual de genética médica, 2.ª Ed., Coimbra: IUC,<br />

2007.<br />

2. Mcwilliams, Thomas/SUOMALAINEN, Anu, “Mitochondrial DNA can be<br />

inherited from fathers, not just mothers”, in Nature, n.<strong>º</strong> 565, 20<strong>19</strong>.<br />

3. Almeida, Luís B., A educação dos genes, 4.ª Ed., Lisboa: Climepsi Editores,<br />

2018.<br />

4. John, Justin C. St., “Mitochondrial DNA: Its transmission from gametes and<br />

embryos”, in Principles of Cloning (ed. por José Cibelli et al.), 2.ª Ed., USA:<br />

Academic Press, 2014.<br />

5. Nuffield Council on Bioethics, Novel techniques for the prevention of mitochondrial<br />

DNA disorders: an ethical review, junho de 2012, disponível em:<br />

http://nuffieldbioethics.org/project/mitochondrial-dna-disorders.<br />

6. Gómez-Tatay, Lucía/Hernández-Andreu, José/Aznar, Justo, “Mitochondrial<br />

modification techniques and ethical issues”, in Journal of Clinical Medicine, n.<strong>º</strong>6,<br />

vol. 3, 2017.<br />

7. Craven, Lyndsey et al., “Scientific and ethical issues in mitochondrial donation”,<br />

in The New Bioethics, vol. 24, n.<strong>º</strong>1, 2018.<br />

8. Castro, Rosa J., “Mitochondrial replacement therapy: the UK and US regulatory<br />

landscapes”, in Journal of Law and the Biosciences, vol. 3, n.<strong>º</strong>3, 2016.<br />

9. De Miguel Beriain, Iñigo/Atienza Macías, Elena/Armaza Armaza, Emilio, “Algunas<br />

consideraciones sobre la transferencia mitocondrial: ¿un nuevo problema<br />

para la bioética?”, in Acta Bioethica, n.<strong>º</strong>22, vol. 2, 2016.<br />

10. Andorno, Roberto, “What is the role of ‘human nature’ and ‘human dignity’<br />

in our biotechnological age?”, in Amsterdam Law Forum, vol. 3, n.<strong>º</strong>1, 2011.<br />

11. Kaufmann, Arthur, Filosofia do Direito (trad. por António Ulisses Cortês),<br />

5.ª Ed., Lisboa: FCG, 2014.<br />

12. Raposo, Vera Lúcia, O direito à imortalidade: o exercício de direitos reprodutivos<br />

mediante técnicas de reprodução assistida e o estatuto jurídico do<br />

embrião in vitro, Coimbra: Almedina, 2014.<br />

13. Scott, Rosamund / Wilkinson, Stephen, “Germline genetic modification<br />

and identity: the mitochondrial and nuclear genomes”, in Oxford Journal of<br />

Legal Studies, vol. 37, n.<strong>º</strong> 4, 2017.<br />

14. Santos, Heloísa G./Pereira, André Dias, Genética para todos: a prática, a<br />

ética, as leis e a sociedade, Lisboa: Gradiva, 20<strong>19</strong>.<br />

15. Cussins, Jessica/Lowthorp, Leah, “Germline modification and policymaking:<br />

the relationship between mitochondrial replacement and gene editing”, in The<br />

New Bioethics, vol. 24, n.<strong>º</strong> 1, 2018.<br />

16. Sousa, Susana Aires de, “Saúde pública, direito penal e os ‘novos riscos’: um<br />

triângulo com lados desiguais”, in Direito(s) dos riscos tecnológicos (coord. por<br />

Carla Amado Gomes), Lisboa: AAFDL Editora, 2014.<br />

17. Figueiredo, Eduardo, Desagrilhoar Prometeu? Direito(s), genes e doença(s):<br />

Desafios constitucionais na era da engenharia genética, Coimbra: FDUC, 20<strong>19</strong>.<br />

18. Melo, Helena Pereira de, A clonagem humana reprodutiva no direito internacional<br />

dos direitos humanos, Coimbra: Almedina, 20<strong>19</strong>.<br />

58 59


GH espaço ensp<br />

7 A EDIÇÃO DA CONFERÊNCIA<br />

DE VALOR DA APAH<br />

GH Prémio Healthcare excellence 20<strong>19</strong><br />

ALDEIAS HUMANITAR:<br />

HUMANIZAR E ESTAR<br />

NO INTERIOR DE PORTUGAL<br />

Ana Damas<br />

Aluna 48<strong>º</strong> CEAH-ENSP<br />

Luís Vales<br />

Aluno 48<strong>º</strong> CEAH-ENSP<br />

No passado mês de outubro, nos dias<br />

18 e <strong>19</strong>, realizou-se mais uma conferência<br />

de valor APAH - a 7ª edição -<br />

na cidade de Braga, com o tema “Modelos<br />

de gestão centrados no cidadão<br />

e na comunidade”. Fruto da parceria entre a Associação<br />

Portuguesa de Administradores <strong>Hospitalar</strong>es<br />

(APAH) e a Escola Nacional de Saúde Pública<br />

(ENSP-NOVA), foram atribuídas inscrições para participação<br />

na conferência a dois alunos do XLVIII Curso<br />

de Especialização em Administração <strong>Hospitalar</strong>.<br />

Tendo sido os alunos contemplados, sentimo-nos<br />

naturalmente honrados pela distinção e pela possibilidade<br />

de assistir a uma conferência com um painel<br />

de oradores com vasta experiência na gestão de serviços<br />

de saúde.<br />

Os modelos de gestão centrados no cidadão e na<br />

comunidade estão na ordem do dia, e mais uma vez<br />

a APAH responde com grande atualidade a esta<br />

questão, proporcionando uma partilha de conhecimento<br />

e experiências de valor. A participação nesta<br />

conferência de várias associações de doentes trouxe<br />

um significativo input aos temas abordados, levandonos<br />

a pensar efetivamente na perspetiva dos doentes.<br />

De facto, a promoção da participação e a capacitação<br />

das pessoas com ou sem doença, no âmbito dos<br />

processos de tomada de decisão em saúde, a nível<br />

político e institucional, é de vital importância e deve<br />

ser vista como um objetivo primordial para a melhoria<br />

contínua da prestação de cuidados.<br />

Com a intervenção inicial de Usman Khan, diretor<br />

executivo do European Patient Forum, discutiram-se<br />

formas de incorporar as expetativas e a experiência<br />

das pessoas nos serviços de saúde. Várias foram as soluções<br />

apontadas para melhorar a qualidade da prestação<br />

de cuidados aos cidadãos.<br />

A partilha de experiências e de soluções adotadas por<br />

diferentes stakeholders do Sistema de Saúde é, como<br />

se disse inicialmente, uma das grandes vantagens<br />

destas conferências, onde de forma explícita se consegue<br />

perceber que para o mesmo problema haverá<br />

várias soluções, com perspetivas diferentes, mas cada<br />

uma delas com um valor associado. Assim, foram<br />

também importantes os workshops alusivos à partilha<br />

de soluções para aumentar a eficiência centrada nas<br />

pessoas, no âmbito da inteligência de dados.<br />

Mas se existem soluções e novos modelos de gestão<br />

centrados nas pessoas, temos também de pensar em<br />

qual o retorno desse investimento para a sociedade.<br />

Por isso mesmo, foram apresentados os resultados de<br />

um estudo realizado nesse âmbito, seguido de uma<br />

interessante discussão do mesmo por parte de representantes<br />

da administração pública, do sector social<br />

e farmacêutico.<br />

Foi para nós uma honra estar presente na conferência<br />

e poder participar na discussão de tão importante temática.<br />

Saímos mais ricos em termos de conhecimento,<br />

de experiência e mais motivados do que nunca<br />

para dar o nosso contributo e marcar a diferença.<br />

Enquanto alunos do Curso de Especialização em Administração<br />

<strong>Hospitalar</strong>, foi também importante interagir<br />

com os gestores de saúde que diariamente enfrentam<br />

os desafios presentes e futuros nas organizações<br />

de saúde, permitindo perceber na prática como se<br />

colocam questões abordadas no âmbito académico.<br />

Tendo em conta os desafios permanentes que se colocam<br />

no setor da saúde, foi com grande motivação e<br />

expectativa que participamos nesta conferência.<br />

Um agradecimento à APAH e à sua direção quer pela<br />

qualidade deste evento, que a nosso ver ombreia<br />

ao nível de outros eventos internacionais, quer pela<br />

oportunidade que nos deu de participar no evento. Ã<br />

Domingos Nascimento<br />

Gestor da Saúde e do Social<br />

Helena Norinha<br />

Enfermeira e Gestora<br />

O<br />

Projeto nasce no Douro Sul e teve<br />

a sua ação piloto nos concelhos de<br />

Sernancelhe e Penedono, no distrito<br />

de Viseu.<br />

O Aldeias Humanitar tem uma visão<br />

geográfica mais larga, a correspondente à CIM<br />

Douro, Comunidade Intermunicipal do Douro com<br />

cerca de 200.000 habitantes. Mas, acredita-se ser um<br />

modelo para todo o interior de Portugal.<br />

O Projeto valoriza todo o trabalho já realizado nas<br />

comunidades por todas as instituições, municípios e<br />

juntas de freguesia, mas aborda o problema de forma<br />

diferente e cria um modelo facilmente replicável.<br />

É de Intervenção Humanitária de Saúde e Amparo<br />

Social que falamos quando nos referimos ao Aldeias<br />

Humanitar. Um projeto que pretende contribuir para<br />

a humanização do interior de Portugal.<br />

A nova realidade demográfica fez novo o contexto<br />

da vida em parte significativa do território de Portugal.<br />

Desde as crianças, as poucas, passando pelos<br />

adultos mais jovens, os poucos, até aos mais idosos,<br />

os também já não muitos, todos estão a aprender<br />

novamente a viver em comunidade. É isto, voltar a<br />

aprender a viver.<br />

A estrutura de serviços mais ou menos formais que<br />

sempre deu vida e proteção às pessoas, desestruturou-se<br />

irremediavelmente.<br />

Resta silêncio, paisagens lindíssimas, infraestruturas<br />

Mário Pinto<br />

Médico e Investigador do CINTESIS<br />

de luxo, mas instalou-se um desequilíbrio no ecossistema<br />

que fará perigar a subsistência destes habitats<br />

comunitários. Há uma espécie fundamental nestes<br />

ecossistemas em vias de extinção, os seres humanos.<br />

E, sem eles, tudo será diferente, tudo já é diferente.<br />

O modelo<br />

É nesta realidade que nasce um modelo que procura<br />

contribuir para a preservação da vida Humana no interior.<br />

Com duas componentes: a da intervenção e a<br />

da certificação. O modelo assenta em três pilares, o<br />

da proximidade, o da integração e o da humanização.<br />

A intervenção Humanitar:<br />

A intervenção é feita com equipas Humanitar de cuidados<br />

em casa das pessoas. Equipas multidisciplinares<br />

que avaliam, estabelecem um plano de amparo individual<br />

ou familiar e procuram respostas na família e na<br />

comunidade e, depois de verificada a não existência de<br />

respostas, a equipa Humanitar inicia a sua intervenção.<br />

Ou, em situações urgentes, intervém de imediato.<br />

Essa intervenção é completamente gratuita para os<br />

utentes e durará o tempo necessário, nunca se abandonando<br />

ninguém.<br />

O projeto tem um grande objetivo: deixar de existir.<br />

Significaria que as famílias e a comunidade tinham<br />

respostas pessoalizadas para fazerem face às necessidades<br />

concretas de cada pessoa concreta.<br />

De acordo com o relatório da OCDE “State of }<br />

60 61


GH Prémio Healthcare excellence 20<strong>19</strong><br />

“ “<br />

O NÚCLEO DE ESTUDOS<br />

DE GERIATRIA DA SOCIEDADE<br />

DE MEDICINA INTERNA DEFENDE<br />

UMA AVALIAÇÃO GERIÁTRICA<br />

GLOBAL, FÍSICA, MENTAL,<br />

FUNCIONAL E SOCIAL COM<br />

O OBJETIVO DE ESTABELECER<br />

PLANOS DE CUIDADOS,<br />

SERVIÇOS E INTERVENÇÕES.<br />

Health in the EU. Portugal. Perfil de Saúde do País<br />

20<strong>19</strong>”, as pessoas vivem mais tempo, com a esperança<br />

de vida a chegar aos 81,6 anos (ligeiramente acima<br />

da média europeia que é de 80,9 anos), mas, frequentemente<br />

com doenças crónicas e incapacidades.<br />

Verifica-se um aumento da mortalidade por doença<br />

de Alzheimer, mantendo-se os AVCs e a doença cardíaca<br />

isquémica como as principais causas de morte.<br />

Este documento refere ainda disparidades na esperança<br />

de vida não só entre homens e mulheres, mas<br />

também em função do estatuto socioeconómico:<br />

cerca de 61% dos portugueses no quintil de rendimentos<br />

mais alto consideram estar de boa saúde,<br />

comparativamente a cerca de apenas 39% no quintil<br />

de rendimentos mais baixo, bastante abaixo das<br />

médias da UE (80,4% e 61,2% respetivamente), referindo<br />

algumas barreiras no acesso por parte de<br />

determinados grupos da população, sobretudo nas<br />

áreas rurais.<br />

O Núcleo de Estudos de Geriatria da Sociedade de<br />

Medicina Interna defende uma avaliação geriátrica<br />

global, física, mental, funcional e social com o objetivo<br />

de estabelecer planos de cuidados, serviços e<br />

intervenções, que respondam efetivamente às necessidades<br />

individuais de cada idoso/família.<br />

Esta avaliação deve ser realizada a todos os idosos<br />

com mais de 75 anos, em situações de pluripatologia e<br />

polifarmácia, doenças crónicas, diminuição funcional e<br />

falta de apoio social, por uma equipa multiprofissional.<br />

Recomenda ainda que esta avaliação seja feita com<br />

recurso a instrumentos cientificamente validados, de<br />

utilização universal, permitindo comparar resultados<br />

com outros estudos bem como extrapolar possíveis<br />

ganhos em saúde e orientar a intervenção.<br />

Pinto, M. J. & Coutinho S. N. (2014) referem que a<br />

investigação clínica tem vindo a interessar-se cada vez<br />

mais pela síndrome de fragilidade do idoso, caraterizado<br />

pelo declínio relacionado com a idade, com o aumento<br />

do risco de outcomes adversos, nomeadamente<br />

aumento de dependência, imobilidade, quedas, fraturas,<br />

(…), levando frequentemente à institucionalização.<br />

Estes autores defendem a importância da identificação<br />

precoce da síndrome da fragilidade em idosos, e também<br />

estabelecer os fatores associados, diagnosticar,<br />

prevenir e adequar intervenções individualizadas.<br />

Na literatura científica podemos encontrar diferentes<br />

instrumentos para avaliação deste fenómeno,<br />

que se podem dividir em duas abordagens distintas.<br />

Uma que pressupõe a mensuração da fragilidade<br />

com recurso a variáveis relativas à condição física. A<br />

segunda, cada vez mais reconhecida, abrange o domínio<br />

psicológico e social (Santiago, L. et al, 2012).<br />

Estes autores realizaram uma revisão sistemática da<br />

literatura nas bases de dados MEDLINE, LILACS e<br />

SciELO e concluíram que o instrumento mais adequado<br />

ao construto atual da fragilidade é o Tilburg<br />

Frailty Indicator (TFI).<br />

Mourão, L. (2008) refere um documento editado<br />

pela Generalitat Valenciana - Conselleria de Sanitat<br />

sobre instrumentos de avaliação domiciliária com o<br />

objetivo de identificar as necessidades de saúde e<br />

sociais da população idosa, possibilitando uma intervenção<br />

mais efetiva. Esta autora desenvolveu um<br />

estudo com o objetivo de validar a escala de Gijón<br />

como instrumento que medisse a função social do<br />

idoso de forma constante e válida.<br />

Procurando desenvolver a sua intervenção de forma<br />

científica e tecnicamente fundamentada, o projeto<br />

Aldeias Humanitar integrou no seu modelo de intervenção<br />

uma avaliação multidisciplinar com base nos<br />

instrumentos seguintes:<br />

• Escala de Glasgow<br />

• Escala de Barthel<br />

• Escala de Lowton & Brody<br />

• Avaliação do Estado Mental (MMSE)<br />

• Escala de Avaliação da Situação Sócio-Familiar de Gijón<br />

• Tilburg Frailty Indicator (TFI)<br />

• Escala de Morse<br />

• Escala de Braden<br />

• Escala de Zarit (quando aplicável)<br />

• Escala de Sintomas de Edmonton (quando aplicável)<br />

Em função desta avaliação é elaborado um plano de<br />

amparo e intervenção individual, que engloba intervenções<br />

tão diversas como apoio na gestão do regime<br />

terapêutico, articulação com serviços de saúde<br />

e apoios sociais, disponibilização de equipamentos<br />

de prevenção de úlceras por pressão, estratégias de<br />

prevenção de quedas, promoção de descanso ao<br />

cuidador, capacitação do cuidador, dinâmicas psicomotoras<br />

e cognitivas, entre outras.<br />

Para além desta intervenção do foro individual/familiar<br />

é feita também uma avaliação da adequação e segurança<br />

do habitat familiar e comunitário envolvente.<br />

Desta avaliação emergem necessidades que, em articulação<br />

com os parceiros da comunidade, sobretudo<br />

Municípios e Juntas de Freguesia, o Projeto deligencia<br />

para a sua satisfação.<br />

De facto, a comunidade já tem muitos meios nas<br />

instituições, nos municípios, nas freguesias, sendo<br />

relevante o trabalho que todos desenvolvem pelas<br />

pessoas. O Aldeias Humanitar quer, em primeiro lugar<br />

humanizar, contribuindo para a articulação e integração<br />

das respostas, para que estas sejam mesmo<br />

colocadas à disposição daquela pessoa concreta para<br />

uma necessidade concreta. E, quando necessário, ser<br />

complementar. Uma verdadeira rede integrada de<br />

saúde e amparo social.<br />

Neste contexto, os atuais modelos de apoio às pessoas<br />

não são suficientes. As instituições estão condicionadas<br />

a respostas pré-concebidas que não têm<br />

em conta as especificidades do território e daquela<br />

pessoa ou família em particular.<br />

Por isso, o Aldeias Humanitar também defende a<br />

necessidade urgente da criação da figura do Cuidador<br />

Comunitário. O Cuidador Comunitário está<br />

presente na aldeia, apoia nas atividades da vida diária,<br />

vigia as tomas da medicação, articula com outras<br />

respostas, procura socorro em situações de emergência,<br />

substitui o cuidador informal para este poder<br />

descansar e responder às suas próprias necessidades.<br />

Uma função profissional, com formação adequada,<br />

que além de ser uma nova solução para as pessoas,<br />

seja também uma oportunidade de emprego, permitindo<br />

continuar na aldeia, amparando os mais velhos,<br />

fixando os mais jovens.<br />

A Certificação Humanitar de territórios:<br />

Caminharemos, numa segunda fase, também para a<br />

certificação de comunidades, que é a materialização<br />

de um modelo de avaliação diagnóstica do índice Humanitar<br />

que nos dá uma noção do potencial de satisfação<br />

das necessidades humanas para, mantendo a qualidade<br />

de vida, ser promotora de felicidade humana.<br />

O ALDEIAS HUMANITAR<br />

TAMBÉM DEFENDE<br />

A NECESSIDADE URGENTE<br />

DA CRIAÇÃO DA FIGURA<br />

DO CUIDADOR COMUNITÁRIO,<br />

QUE ESTÁ PRESENTE NA ALDEIA,<br />

APOIA NAS ATIVIDADES<br />

DA VIDA DIÁRIA, VIGIA<br />

AS TOMAS DA MEDICAÇÃO...<br />

” ”<br />

O Aldeias Humanitar, pretende ser a bandeira branca<br />

da humanização do interior de Portugal. Com esta<br />

bandeira estaremos a dar indicações das ações ou estruturas<br />

de respostas de saúde e amparo social e de<br />

habitabilidade familiar e comunitária, positivas. Numa<br />

fase inicial a análise diagnóstica será a pedido das entidades<br />

locais. Numa segunda etapa, será por iniciativa<br />

do projeto. Pretende-se valorizar e depois motivar<br />

para novos comportamentos individuais e coletivos. Ã<br />

Duque, A. et al (s/ data). Avaliação Geriátrica. Núcleo de Estudos de Geriatria<br />

da Sociedade de Medicina Interna. https://www.spmi.pt/wp-content/uploads/<br />

GERMI_36.pdf. Consultado em 29/11/20<strong>19</strong>.<br />

Mourão, Lúcia (2008) “Aplicação da Escala de Gijón em Rastreio de Risco Soci-al”.<br />

Universidade de Aveiro. https://ria.ua.pt/bitstream/10773/3280/1/20090<br />

00424.pdf. Consultado em 28/11/20<strong>19</strong>.<br />

OCDE/Observatório Europeu dos Sistemas e Políticas de Saúde (20<strong>19</strong>), Portugal:<br />

Perfil de Saúde do País 20<strong>19</strong>, Estado da Saúde na UE, OCDE, Paris/<br />

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Pinto, M & Coutinho, S. (2014). Síndrome de Fragilidade. Revista de Psicologia,<br />

n.<strong>º</strong> 2, Vol. 1, p. 171-176.<br />

Santiago, L. et al (2012). Adaptação transcultural do instrumento Tilburg Frailty<br />

Indicator (TFI) para a população brasileira. Cad. Saúde Pública, Rio de Janeiro<br />

28(9), p. 1795-1801.<br />

62 63


GH Iniciativa APAH<br />

A Excelência em<br />

diferentes manifestações<br />

Cristina Fiuza Branco<br />

Administradora <strong>Hospitalar</strong><br />

Centro <strong>Hospitalar</strong><br />

Universitário do Porto, E.P.E.<br />

Luís Pombo<br />

Administrador <strong>Hospitalar</strong><br />

Hospital Garcia de Orta, E.P.E.<br />

A<br />

APAH, no âmbito da parceria que<br />

vem desenvolvendo com a AESE<br />

Business School e a AMGEN, proporcionou<br />

a dois dos seus associados,<br />

com quotas em dia e bom<br />

tempo de resposta ao concurso, a oportunidade de<br />

uma visita à nova sede da Clínica da Universidade<br />

de Navarra (CUN) em Madrid, a qual foi alcançada<br />

pelos autores deste artigo, ficando estabelecida como<br />

contrapartida a partilha da experiência com os<br />

demais sócios, mediante publicação de um artigo na<br />

revista mensal.<br />

A iniciativa decorreu no dia 3 de Outubro e o Grupo<br />

de 18 visitantes era representativo do país, já que<br />

reunia participantes do Minho ao Algarve.<br />

Rumámos a Madrid a 2 de Outubro, uns a partir do<br />

Porto, outros com origem em Lisboa, preparados para<br />

uma jornada estimulante e exigente. O dia da visita<br />

rompeu com sol e iniciou-se com uma pequena caminhada<br />

matinal entre o hotel e a CUN. Aí chegados,<br />

fomos recebidos no auditório institucional pela Diretora<br />

Geral da CUN Madrid, Dra. Esperanza Lozano<br />

Guerra, que apresentou a identidade CUN e expôs<br />

ao grupo o seu modelo de organização e prestação de<br />

cuidados. Outras sessões foram conduzidas em sala,<br />

com momentos de apresentação da realidade e projetos<br />

da CUN, alternados com visitas a instalações<br />

dedicadas à atividade clínica e a serviços chave, onde<br />

foi possível um contacto mais direto com a tecnologia,<br />

arquitetura e modelo de gestão de operações.<br />

O que encontrámos na CUN? Um arquétipo de ex-<br />

celência na organização e prestação de cuidados, conforme<br />

vem sendo desenvolvido na CUN Navarra há<br />

52 anos, aproveitando essa experiência vivenciada,<br />

desde o momento da conceção, projeto e construção<br />

da instalação de Madrid, passando pela organização<br />

dos espaços, definição de circuitos, e introdução<br />

de melhorias por força do conhecimento previamente<br />

acumulado em Pamplona.<br />

A CUN Madrid foi estrutural e integralmente pensada<br />

para o doente, com espaços muito amplos, bem<br />

iluminados, para que o doente se sinta confortável, e<br />

os circuitos foram desenhados de forma a minimizar<br />

as suas deslocações durante os processos de prestação<br />

de cuidados.<br />

O ADN da CUN assenta em 5 pilares fundamentais:<br />

(i) trata-se de um Hospital universitário, integrado na<br />

Universidade de Navarra; (ii) sem fins lucrativos; (iii)<br />

onde se ensina e investiga para curar; (iv) com profissionais<br />

em dedicação exclusiva, a trabalhar em equipa<br />

e (v) forte investimento na inovação científica e tecnológica,<br />

num contexto de instalações de excelência<br />

e equipamentos de vanguarda, que garantem a concretização<br />

do propósito de proporcionar precisão no<br />

diagnóstico e efetividade no tratamento.<br />

A CUN está inserida no Campus da Universidade de<br />

Navarra em Madrid - dedicado exclusivamente à formação<br />

pós graduada - e estende-se por 4 edifícios, ligados<br />

por eixos de circulação horizontal, os quais podem<br />

ser fechados, garantindo o isolamento de edifícios<br />

e áreas reservadas durante a noite ou horas de<br />

encerramento dos serviços.<br />

A Clínica encontra-se organizada em seis Departamentos,<br />

altamente especializados nas patologias mais<br />

frequentes e com natureza multidisciplinar:<br />

• O centro oncológico, organizado em áreas por tipologia<br />

de tumor, oferece diagnóstico de precisão<br />

em 48 horas e tratamento integrado aos respetivos<br />

doentes. Dispõe das mais avançadas e modernas tecnologias<br />

no diagnóstico e tratamento da doença oncológica,<br />

baseando a sua atuação na medicina personalizada<br />

e atribuindo grande relevo à imunoterapia.<br />

• O departamento de check-ups e medicina preventiva<br />

dedica-se à organização e realização de estudos<br />

detalhados de avaliação e diagnóstico em 24 horas.<br />

• O departamento da mulher e pediatria presta serviços<br />

de acompanhamento à saúde da mulher ao longo<br />

do seu ciclo de vida, incluindo a medicina reprodutiva<br />

e a vigilância da gravidez, assim como o acompanhamento<br />

e gestão da saúde da criança na sua transição<br />

para a adolescência e idade adulta.<br />

• O departamento de cirurgia avançada disponibiliza<br />

técnicas cirúrgicas minimamente invasivas, sendo de<br />

destacar a cirurgia robótica, que oferece vantagens na<br />

precisão cirúrgica e no tempo de recuperação.<br />

• No departamento cardiovascular destaca-se a realização<br />

de procedimentos minimamente invasivos no<br />

tratamento da doença coronária.<br />

• Por fim, o departamento de traumatologia e medicina<br />

desportiva, para além da medicina curativa, está<br />

vocacionado para a avaliação e acompanhamento de<br />

atletas, amadores e profissionais, tendo por cliente, por<br />

exemplo, a equipa de futebol do Atlético de Madrid.<br />

A Clínica dispõe de 58 quartos individuais de internamento<br />

- 8 dos quais em suite - com possibilidade de<br />

permanência de acompanhante. Na medicina intensiva<br />

tem lotação de 7 postos destinados a adultos e outros<br />

7 na unidade de cuidados intensivos neonatais,<br />

todos em unidades individuais.<br />

O Bloco Operatório é composto por 6 salas de operações<br />

multidisciplinares, uma sala operatória híbrida,<br />

uma área de procedimentos diagnósticos e terapêuticos<br />

dotada de 4 salas de cirurgia de ambulatório e 10<br />

postos individualizados de recobro, e uma unidade de<br />

cuidados pós anestésicos.<br />

O ambulatório oferece consultas em 46 especialidades,<br />

médicas e cirúrgicas, 14 salas de diagnóstico por<br />

imagem, hospital de dia oncológico com 10 postos de<br />

tratamento individualizados, laboratórios de análises<br />

clínicas e de anatomia patológica.<br />

A CUN afirma-se como um Hospital de alta resolução<br />

onde, por força da inovação clínica, concentração<br />

tecnológica e de especialistas altamente diferenciados<br />

e dedicados, é possível encurtar o período atribuído<br />

ao diagnóstico e prosseguir rapidamente para a fase<br />

de tratamento. Mas o investimento em tecnologia<br />

não se circunscreve aos meios de diagnóstico: veja-se<br />

o caso do robot cirúrgico Da Vinci, da sala cirúrgica híbrida,<br />

com radioterapia intraoperatória, e do equipamento<br />

de protonterapia, em fase de calibração e testes,<br />

que será pioneiro 1 em Espanha e fará parte do<br />

Centro Oncológico Integral da CUN. Esta terapia<br />

proporciona máxima precisão, com a mínima agressão,<br />

no menor tempo. Para o lançamento deste tratamento<br />

inovador em <strong>2020</strong> a CUN assegurou já a formação<br />

dos seus profissionais em Rochester.<br />

Qual o fator crítico de sucesso da CUN, que inaugurou<br />

a sua atividade em Janeiro de 2018 e se implantou<br />

em Madrid, num mercado maduro, em concorrência<br />

com 37 Hospitais públicos e 50 Hospitais privados,<br />

que oferecem respetivamente 13.650 e 6.800<br />

camas hospitalares, e onde se encontram 6 dos 10<br />

melhores hospitais de Espanha? Como conquistar<br />

quota de mercado num contexto em que 80% dos<br />

doentes com seguro recorre a hospitais privados já<br />

com grande implantação? Como assegurar um nível<br />

rentável de atividade quando 10 companhias de seguros<br />

garantem 96% dos segurados, dispondo algumas<br />

de Hospitais próprios?<br />

Impunha-se à CUN romper o panorama de estabilidade<br />

e ganhar o seu espaço, criando um novo paradigma.<br />

Como fazê-lo? Oferecendo localização - Madrid<br />

garante uma boa acessibilidade a partir de Espa- }<br />

64 65


GH Iniciativa APAH<br />

nha, Europa, continente Africano e outras áreas do<br />

globo, potenciando o turismo de saúde internacional;<br />

tecnologia de ponta para medicina materno-fetal,<br />

check-ups e medicina preventiva, traumatologia e<br />

medicina desportiva, cirurgia avançada, centro oncológico<br />

integrado…; instalações pensadas para os doentes,<br />

confortáveis, bem equipadas, com espaços amplos,<br />

cheios de luz, circulações inteligentes.<br />

Todos estes aspetos são replicáveis, conquanto se<br />

faça os respetivos investimentos, pelo que se conclui<br />

que a verdadeira nota distintiva está no talento e na<br />

cultura da organização - esses mais difíceis de reproduzir<br />

- que resultam da dedicação exclusiva dos seus<br />

profissionais, do trabalho multidisciplinar, dos processos<br />

integrados, sem subcontratações a terceiros, da<br />

dedicação às pessoas.<br />

Com estes ingredientes é possível atrair novos doentes,<br />

tanto na medicina preventiva como na curativa,<br />

potenciando as especialidades disponíveis e proporcionando<br />

serviços integrados. Ao melhorar a experiência<br />

dos doentes é possível não só fidelizá-los e retê-los,<br />

como fazer deles instrumentos de promoção e<br />

divulgação da reputação da CUN, o que traduz geração<br />

de valor - retorno - para a instituição.<br />

Não houve oportunidade de contactos com doentes,<br />

mas estamos certos da sua satisfação com o modelo<br />

de funcionamento e atendimento da CUN.<br />

Em síntese, preservando o ADN CUN, mantendo a<br />

sua essência e sendo sustentável, assumindo “somos<br />

diferentes” a CUN Madrid escreverá, certamente,<br />

uma história de muito sucesso.<br />

E assim regressámos a casa, encantados com o “novo<br />

mundo”, para nos reencontrarmos com o nosso<br />

já velhinho SNS, cheio de dificuldades e restrições,<br />

de instalações antigas, adaptadas, subdimensionadas,<br />

superpovoadas, tantas vezes maltratadas, onde encontramos<br />

muitos dos profissionais “de fugida”, correndo<br />

para o seu consultório ou o Hospital privado<br />

do outro lado da cidade onde vão completar o seu<br />

rendimento mensal…<br />

Mas por cá também se escrevem casos de sucesso e<br />

a excelência é reconhecida.<br />

Uns dias depois da vista à CUN ouvia à porta do<br />

gabinete pessoas falando inglês. Era certamente uma<br />

visita institucional, pensei. Não era, tratava-se de uma<br />

cidadã americana que, em férias por terras lusas, se<br />

sentiu mal. Tendo um filho médico nos Estados Unidos<br />

pediu-lhe orientação e, depois de uma rápida<br />

pesquisa na internet, o filho indicou-lhe que se dirigisse<br />

a um determinado Hospital privado.<br />

Perante a relutância em ir de ambulância decidiu chamar<br />

um Uber, a cujo motorista pediu que a deixasse no<br />

hospital recomendado. No decurso da viagem o motorista<br />

foi questionando sinais e sintomas e acabou<br />

por decidir: perante o que me diz não vai para onde<br />

pediu - vou levá-la ao melhor Hospital da cidade.<br />

E aqui chegou, com um abdómen agudo - perfuração<br />

do estômago. Foi observada, medicada, intervencionada,<br />

passou por cuidados intensivos, cuidados intermédios,<br />

internamento de cirurgia. Estava agora de<br />

saída, na companhia do filho que entretanto viajou<br />

para Portugal. Estava feliz, estava encantada! Incrédula,<br />

por ter sido tratada sem que lhe tivesse sido exigido<br />

qualquer pagamento, garantia ou caução. Espantada,<br />

porque imaginava uma conta de centenas de milhar<br />

de dólares e ficara a saber que assim não seria. Surpreendida,<br />

porque no país onde vive paga uma mensalidade<br />

de 800 dólares pelo seguro do casal e não<br />

seria tratada assim.<br />

Estava realmente encantada! Tanto que, com jeito de<br />

menina, ganhou coragem para perguntar: “Eu tenho<br />

um problema aqui no joelho, e preciso de fazer uma<br />

prótese, embora o seguro não a aprove por eu ser<br />

ainda muito nova. Poderei vir fazê-la cá?”<br />

Senti orgulho: no SNS, no meu Hospital, nestes profissionais<br />

que tratam os doentes fazendo-os sentir<br />

pessoas, deixando neles não só uma grata recordação,<br />

como a vontade de um dia voltar.<br />

A excelência tem, de facto, várias formas! Ã<br />

1. O equipamento adquirido pela Clínica incorpora como acelerador de partículas<br />

um sincrotrão, o mais moderno disponível atualmente e muito mais<br />

eficiente energeticamente do que o ciclotrão, uma vez que produz muito<br />

menos radiação indesejada.<br />

Considera-se, assim, um acelerador “limpo”, que permite acelerar o feixe de<br />

protões na medida exata da energia requerida para o tumor de cada paciente,<br />

de forma individualizada (…).<br />

(…) Acresce que inclui um sistema que permite o tratamento com protões<br />

dos tumores sujeitos a movimento respiratório, uma solução totalmente integrada<br />

no equipamento. A monitorização em tempo real permite localizar e<br />

quantificar o movimento do tumor, e orientar o instante da irradiação obtendo<br />

um impacto mínimo no tecido são. In www.cun.es, tradução livre.<br />

66


GH Iniciativa APAH | CONFERÊNCIAS de VALOR APAH 20<strong>19</strong><br />

Ouvir e envolver<br />

os cidadãos<br />

nas decisões de saúde<br />

tem retorno<br />

para a sociedade<br />

A<br />

participação e a centralidade dos cidadãos<br />

no âmbito do sistema de<br />

saúde estiveram em discussão na 7ª<br />

Conferência de Valor APAH.<br />

A iniciativa que foi presidida por Lino<br />

Mesquita Machado, Administrador <strong>Hospitalar</strong> e sócio<br />

n.<strong>º</strong> 104 da APAH, reuniu a 18 a <strong>19</strong> de outubro de<br />

20<strong>19</strong> em Braga, mais de 200 gestores e profissionais de<br />

saúde, para analisar e discutir os desafios e as oportunidades<br />

que se colocam atualmente à implementação<br />

de “Modelos de gestão centrados no cidadão e na comunidade“<br />

no Sistema Nacional de Saúde.<br />

Na apresentação das conclusões Lino Mesquita Machado<br />

destacou a importância do envolvimento do cidadão<br />

e a necessidade de repensar a forma como prestamos<br />

cuidados e de como estes devem ser cada vez<br />

mais personalizados, mais integrados e sustentáveis.<br />

Como principais conclusões da iniciativa destacam-se:<br />

1. Importa ouvir os cidadãos<br />

Margarida Santos e Sofia Crisóstomo, em representação<br />

da plataforma Mais Participação, Melhor Saúde, falaram-nos<br />

da necessidade de termos um maior compromisso<br />

com a “Participação pública em saúde”. Falaram-nos<br />

de formas práticas e exequíveis de promover<br />

a participação e de como dentro do enquadramento<br />

legal atual, há margem para melhorar, nomeadamente<br />

com a publicação recente da “Carta para a participação<br />

publica em saúde“. Com as ferramentas que<br />

temos ao nosso dispor (conselhos consultivos ou outros),<br />

temos espaço para envolver mais os doentes.<br />

Foi realçada a importância de valorizar o saber e a experiência<br />

das pessoas com doença, no sentido em que<br />

melhora a qualidade de decisão. Conforme nos disseram:<br />

Mais participação, mais saúde.<br />

Usman Khan, Director executivo do European Patient<br />

Fórum, falou-nos também de como podemos “Incorporar<br />

as expectativas e a experiência das pessoas nos<br />

serviços de saúde” e sobre dar voz ao doentes e a importância<br />

de integrar a visão funcional do doente, de<br />

uma forma compreensiva e sistemática. Para isso temos<br />

de investir em informação, em literacia, sendo<br />

ainda fundamental passar de uma visão paternalista<br />

para uma visão de parceria.<br />

2. Depois de ouvir os cidadãos, é importante alinhar<br />

a organização e os processos de cuidados<br />

Foi disso que nos falou Jordi Varela na sua palestra<br />

“<strong>Gestão</strong> clínica moderna baseada nas pessoas” i.e. a<br />

importância do valor em saúde, envolvendo os doentes<br />

nos processos. Falou-nos também da importância<br />

de fazer uma avaliação integral do doente (saber como<br />

vive, qual é a situação social, entre outros determinantes)<br />

e de promover as decisões clínicas partilhadas.<br />

Alertou-nos ainda para a importância de medir os<br />

objetivos que realmente importam para os doentes e<br />

de rejeitar as práticas clínicas inadequadas e sem evidência.<br />

Ainda sobre a organização da oferta de cuidados<br />

Carina Dantas, Diretora de inovação da Caritas Diocesana<br />

de Coimbra, reforçou a importância das parcerias<br />

para a reformulação de “Cuidados centrados nas<br />

necessidades das pessoas”. Realçou a importância de<br />

criar pontes entre os diferentes atores no terreno, a<br />

relevância que o terceiro sector pode ter neste âmbito<br />

e a capacidade têm de inovar no apoio aos doentes.<br />

3. A tecnologia pode ter um papel importante para<br />

permitir centrar os cuidados nos cidadãos<br />

Foi nesse sentido que Josep Monterde, Presidente da<br />

Fundação Asserta, falou sobre como pode um sistema<br />

de análise do consumo de medicamentos, que integre<br />

toda a informação do doente, produzir recomendações<br />

de ações de forma fiável e atempada e identifi- }<br />

“<br />

Esta mudança não é possível sem envolver os doentes.<br />

E quando falamos de envolvimento dos doentes,<br />

não podemos apenas continuar a abordar esta questão<br />

ao nível dos inquéritos de satisfação ou das caixas de<br />

sugestões. Os cidadãos, doentes ou não doentes, têm<br />

que participar nas decisões. Em todos os níveis do sistema<br />

de saúde. Ao nível da gestão e do financiamento,<br />

porque são eles que o sustentam com o seu trabalho e<br />

com os seus impostos. Também ao nível da estratégia<br />

de desenvolvimento porque são eles os principais interessados<br />

no seu desenvolvimento e sustentabilidade.<br />

Mas acima de tudo, porque o sistema pode ganhar muito<br />

com essa participação. Um sistema mais participado,<br />

mais inclusivo, mais alinhado com as necessidades das<br />

pessoas, mais preocupado com o seu bem-estar, será<br />

sempre um sistema sustentável, designadamente porque<br />

as pessoas estarão mais dispostas a pagar por ele.<br />

As organizações de saúde, têm que deixar de trabalhar<br />

apenas para dentro, para os seus próprios objetivos ou<br />

para os objetivos dos seus profissionais. Têm que trabalhar<br />

cada vez mais com um objetivo último: o de ir ao encontro<br />

das necessidades dos seus cidadãos. Não podem<br />

existir dúvidas: a organização, o financiamento, os incentivos,<br />

têm que ser alinhados neste sentido. É um avanço<br />

que urge concretizar nos sistemas de saúde, particularmente<br />

no Português.<br />

”<br />

68 69


car o uso inadequado de medicamentos. Ainda no<br />

domínio da tecnologia José Pedro Almeida, do Grupo<br />

Unilabs, contou-nos como é que na sua organização<br />

es-tão a usar a Inteligência de Dados para melhorar a<br />

experiência do doente, prestando um serviço mais rápido,<br />

mais próximo e mais personalizado e deixou como<br />

exemplo o estudo da resistência aos antibióticos<br />

e a forma como essa informação poderia ser disponibilizada<br />

aos Centros de Saúde.<br />

4. Investimento em saúde tem retorno para sociedade<br />

e deve ser uma prioridade<br />

Luís Baltazar da Universidade Nova de Lisboa evidenciou<br />

que o investimento em saúde, não é apenas um<br />

custo e que tem um retorno muito relevante para a<br />

sociedade portuguesa. O estudo da Nova IMS revela<br />

ainda que a qualidade, quer a qualidade técnica, quer<br />

a qualidade percepcionada pelos doentes, é elevada<br />

mas existem áreas onde podemos melhorar, nomeadamente<br />

nos tempos de espera.<br />

A APAH agradece a todos os seus associados e aos<br />

seguintes parceiros e patrocinadores o apoio à organização<br />

do ciclo de Conferência de Valor APAH<br />

20<strong>19</strong>: Sociedade Portuguesa de Medicina Interna<br />

(SPMI), Associação Portuguesa de Medicina Geral e<br />

Familiar (APMGF), Mais Participação Melhor Saúde,<br />

Grupo Unilabs, Abbvie, Roche, Bayer, Gilead Sciences,<br />

Novartis, Vifor Pharma, Sanofi, Grifols, Medtronic,<br />

Janssen e IQVIA.<br />

À semelhança das edições passadas, fruto das conclusões<br />

destas conferências, a APAH tem vindo a apresentar<br />

diagnósticos de situação e medidas concretas<br />

para a melhoria da organização e gestão dos cuidados<br />

de saúde em Portugal e que integram a agenda do Ministério<br />

da Saúde e de outros parceiros do sistema.<br />

Este é o motivo pelo qual a APAH mantém a aposta<br />

nas Conferências de Valor, na certeza de que são um<br />

valioso contributo para ajudar a que a mudança possa<br />

avançar, e definir os seus moldes. Ã<br />

As Conferências de Valor APAH<br />

regressam em <strong>2020</strong> dando continuidade<br />

ao círculo virtuoso de partilha do conhecimento<br />

e boas práticas, sendo composto por duas<br />

conferências:<br />

• Hospital Verde | Modelos de gestão para<br />

a sustentabilidade<br />

Data a anunciar brevemente<br />

• Os profissionais | Potenciar pessoas<br />

Costa da Caparica, 16 e 17 de outubro de <strong>2020</strong><br />

Pode ver a reportagem fotográfica da Conferência em:<br />

https://justnews.pt/galeria/album/7a-conferencia-de-valor-da-<br />

-apah-braga<br />

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GH Iniciativa APAH | fórum do medicamento 20<strong>19</strong><br />

Resultados do "Índex<br />

Nacional do Acesso<br />

ao Medicamento<br />

<strong>Hospitalar</strong>" em debate<br />

A<br />

11ª edição do Fórum do Medicamento,<br />

uma iniciativa da Associação<br />

Portuguesa de Administradores<br />

<strong>Hospitalar</strong>es (APAH) com o apoio<br />

da AstraZeneca, teve lugar a 15 de<br />

novembro de 20<strong>19</strong> subordinada ao tema “Equidade,<br />

Efetividade e Sustentabilidade no acesso à inovação”<br />

voltando a ser presidida por Francisco Ramos, Administrador<br />

<strong>Hospitalar</strong> e sócio n.<strong>º</strong> 32 da APAH.<br />

Mais uma vez a iniciativa trouxe até nós o estado<br />

da arte nacional e na Europa apresentando por um<br />

lado os “Contributos para a construção de uma Via<br />

Verde do Pulmão” a cargo de António Araújo, Presidente<br />

do Conselho Regional do Norte da Ordem<br />

dos Médicos, e por outro o exemplo holandês para<br />

“A estandardização, benchmarking e trabalho colaborativo<br />

como promotores da melhoria contínua” por<br />

Wouter van Leeuwen, Partner e Diretor da Boston<br />

Consulting Group.<br />

Na edição deste ano do Fórum do Medicamento<br />

houve igualmente espaço para avaliação da equidade<br />

e efetividade no acesso aos medicamentos inovadores<br />

nos hospitais do Serviço Nacional de Saúde<br />

(SNS), contando para essa análise com a apresentação<br />

pública dos resultados do estudo “Índex nacional<br />

do acesso ao medicamento hospitalar”. Este<br />

estudo, uma iniciativa da APAH e da Ordem dos<br />

Farmacêuticos com o apoio científico da Faculdade<br />

de Farmácia da Universidade de Lisboa, foi realizado<br />

sob coordenação dos Professores Rogério Gaspar e<br />

Sofia Oliveira Martins e teve como objetivos:<br />

• Analisar o nível de acesso ao medicamento hospitalar<br />

e os correspondentes modelos de gestão, mecanismos<br />

de criação de evidência e sistemas de informação<br />

que lhe estão associados;<br />

• Identificar as barreiras e problemas existentes associados<br />

à gestão do medicamento nas unidades hospitalares<br />

do SNS.<br />

Com uma taxa de resposta de 47%, os resultados<br />

referentes ao ano 2018 revelam que o acesso aos<br />

novos medicamentos nos hospitais do SNS está a<br />

ocorrer em todas as fases de aprovação (pré AIM,<br />

AIM sem financiamento e pós financiamento). A esmagadora<br />

maioria dos hospitais (96%) utiliza procedimentos<br />

prévios à introdução de um novo medicamento,<br />

após a decisão de financiamento pelo INFAR-<br />

MED, e para 83% das instituições a inclusão no Formulário<br />

Nacional do Medicamento é condição fundamental<br />

para o desencadear do processo. O impacto<br />

terapêutico e financeiro de um novo medicamento<br />

é avaliado em 83% e 87% das instituições, respetivamente,<br />

e envolve em média 5 orgãos internos no<br />

processo de decisão.<br />

No que concerne aos mecanismos de monitorização<br />

e criação de evidência, 70% das instituições não monitoriza<br />

os resultados das novas terapêuticas, e os resultados<br />

de efetividade e de segurança são avaliados<br />

em apenas 22% e 26% das instituições, respetivamente.<br />

Ao invés, as monitorizações incidem nos dados relacionados<br />

com o consumo e com o número de doentes<br />

tratados.<br />

Relativamente às barreiras ao acesso a “carga administrativa”<br />

é indicada como principal barreira no processo<br />

de aquisição destes fármacos, mas 61% das<br />

instituições aponta também falta de recursos humanos<br />

nos Serviços Farmacêuticos, em particular de farmacêuticos,<br />

e 52% a falta de recursos humanos nos<br />

Serviços de Aprovisionamento.<br />

Os resultados mostram também que 39,1% dos hospitais<br />

têm roturas no fornecimento de medicamentos<br />

todos os dias; 30,4% das unidades dizem que estas roturas<br />

ocorrem semanalmente; e 30% refere que as<br />

roturas ocorrem todos os meses. O problema é considerado<br />

“grave” pela totalidade dos hospitais, e para<br />

26% das instituições, afeta todos os medicamentos.<br />

No entanto, para 30% das unidades este fenómeno<br />

atinge essencialmente os medicamentos que têm genéricos,<br />

e para 44% o problema está restrito apenas<br />

a alguns medicamentos.<br />

O “Índex Global de Acesso à Inovaçãoˮ, que mediu a<br />

percepção dos inquiridos, foi classificado por 65% das<br />

instituições com um valor de 80 a 100%, numa média<br />

de 77%.<br />

Face aos resultados obtidos no “Índex nacional do<br />

acesso ao medicamento hospitalar” a APAH, em sinergia<br />

e consenso com os restantes stakeholders, recomenda<br />

à tutela as seguintes medidas tendentes a mitigar<br />

as iniquidades identificadas:<br />

• Criação e desenvolvimento de mecanismos de avaliação<br />

dos resultados de efetividade e segurança da utilização<br />

dos medicamentos em meio hospitalar;<br />

• Definição de tempos mínimos de acesso a terapêu-<br />

ticas inovadoras à semelhança dos restantes serviços<br />

de saúde (consultas, cirurgias, MCDTs);<br />

• Necessidade de uniformização/convergência dos<br />

procedimentos internos nos hospitais por forma a reduzir<br />

tempos de acesso e carga burocrática;<br />

• Fortalecimento dos recursos humanos nos Serviços<br />

Farmacêuticos e dos Serviços de Aprovisionamento dos<br />

hospitais e investimento na formação e conhecimento<br />

destes profissionais na medição de resultados. Ã<br />

Pode ver a reportagem fotográfica do Fórum em:<br />

https://justnews.pt/galeria/album/forum-do-medicamento-20<strong>19</strong><br />

72 73


GH Iniciativa APAH | Prémio Healthcare Excellence 20<strong>19</strong><br />

prémio distinguiu<br />

projetos inovadores<br />

em saúde<br />

Margarida França<br />

Presidente do Júri Prémio Healthcare Excellence<br />

O<br />

Prémio Healthcare Excellence é<br />

uma iniciativa da Associação Portuguesa<br />

de Administradores <strong>Hospitalar</strong>es<br />

(APAH), em parceria com<br />

a biofarmacêutica AbbVie, que visa<br />

distinguir projetos de melhoria da qualidade dos<br />

serviços que tenham produzido uma melhoria do<br />

acesso, da eficiência, da segurança, ou dos resultados<br />

obtidos na prestação de cuidados de saúde. Projetos<br />

que procuram superar limites, que revelam ser verdadeiros<br />

casos de sucesso com ganhos relevantes para<br />

os doentes. São, muitas vezes, ideias aparentemente<br />

simples, fáceis de adaptar, que exigem pouco ou<br />

nenhum investimento financeiro, mas que geram um<br />

elevado retorno quer para a sustentabilidade do Serviço<br />

Nacional de Saúde (SNS), quer para o bem-estar<br />

dos doentes e das suas famílias.<br />

A edição 20<strong>19</strong> do Prémio Healthcare Excellence recebeu<br />

um total de 12 candidaturas, provenientes de<br />

norte a sul do país, de entre as quais foram selecionadas<br />

pelo Júri 6 candidaturas para apresentação pública<br />

na Reunião Final do Prémio, que decorreu no<br />

passado dia 18 de outubro de 20<strong>19</strong> em Braga. Entre<br />

os finalistas estiveram projetos do Centro <strong>Hospitalar</strong><br />

Universitário de Lisboa Central, Centro <strong>Hospitalar</strong><br />

Universitário de Lisboa Norte, Centro <strong>Hospitalar</strong><br />

Universitário de Coimbra, Hospital de Vila Franca de<br />

Xira e da associação “Aldeias Humanitar”.<br />

A avaliação dos projetos teve como critérios a inovação<br />

e a replicabilidade, e esteve a cargo do Júri presidido<br />

por mim e constituído por Maria José Costeira<br />

(médica neonatologista do Hospital Senhora da Oliveira<br />

Guimarães), Dulce Salzedas (jornalista da SIC) e<br />

Ricardo Mestre (vogal do Conselho Diretivo da Administração<br />

Central do Sistema de Saúde).<br />

O Prémio Healthcare Excellence 20<strong>19</strong> foi atribuído<br />

à associação de solidariedade social “Aldeias Humanitar”.<br />

Criada em 2017, a associação “Aldeias Humanitar”<br />

pretende combater o isolamento e abandono<br />

provocado pela desertificação demográfica nas regiões<br />

do interior através da integração de cuidados<br />

de saúde e da prestação de apoio social. Implementado<br />

em Sernancelhe e Penedono, distrito de Viseu,<br />

o projeto tem a ambição de crescer para outras<br />

regiões do interior do país. A atuação das “Aldeias<br />

Humanitar” começa com a identificação das necessidades<br />

das pessoas em situação de carência e com<br />

uma avaliação do seu grau de dependência e do seu<br />

estado de solidão. Numa segunda fase, a organização<br />

desenvolve um plano de intervenção individual<br />

e mobiliza as respostas já existentes na comunidade,<br />

nomeadamente as instituições, o município e o<br />

próprio SNS. Nos casos necessários, são prestados<br />

cuidados ao domicílio, que envolvem, por exemplo,<br />

a gestão do regime terapêutica e da doença crónica,<br />

formação sobre alimentação adequada e estratégias<br />

de prevenção de quedas. O projeto, que pretende<br />

envolver profissionais de saúde e comunidade, sugere<br />

ainda a criação da figura de auxiliar comunitário, que<br />

teria como função apoiar as pessoas sozinhas, mas<br />

também cuidadores.<br />

Devido à elevada qualidade dos trabalhos finalistas da<br />

6.ª edição do Prémio Healthcare Excellence, o Júri decidiu<br />

ainda atribuir duas menções honrosas. A primeira<br />

menção honrosa foi atribuída ao projeto “C-Free<br />

Team na Microeliminação da Hepatite C” do Centro<br />

<strong>Hospitalar</strong> Universitário de Lisboa Norte. O projeto<br />

desenvolvido por uma equipa multidisciplinar tem<br />

levado o hospital para a comunidade, com o objetivo<br />

de contribuir para a eliminação da hepatite C até<br />

2030, meta da Organização Mundial de Saúde. Além<br />

do trabalho feito com várias organizações de base<br />

comunitária, a “C-Free Team” desenvolveu também<br />

uma parceria com o Estabelecimento Prisional de Lisboa.<br />

Ao levar os cuidados de saúde para a prisão,<br />

o projeto tem permitido poupar nas deslocações ao<br />

hospital, limitar a exposição dos reclusos, combater<br />

o estigma e aumentar a adesão ao tratamento numa<br />

população onde a incidência da hepatite C continua<br />

a ser elevada.<br />

A segunda menção honrosa foi atribuída ao Centro<br />

<strong>Hospitalar</strong> Universitário de Lisboa Central (Hospital<br />

Dona Estefânia) com o projeto “Huddle Meeting”<br />

implementado no bloco operatório. A ideia é aparentemente<br />

simples: ao longo da semana os profissionais<br />

de saúde registam num quadro os problemas que<br />

afetam o fluxo de trabalho. Numa reunião semanal<br />

são posteriormente selecionados os três problemas<br />

cuja melhoria acarretará maior beneficio e menor dificuldade<br />

de resolução, sendo definidas as ações de<br />

melhoria. Este processo já permitiu melhorar diversos<br />

processos, como a prescrição da anestesia antes da<br />

cirurgia, a limpeza das salas operatórias e o transporte<br />

dos doentes para o bloco operatório.<br />

Por último, cumpre-me realçar a elevada adesão à<br />

iniciativa Healthcare Excellence e a qualidade dos<br />

projetos apresentados, demonstrativos da dinâmica e<br />

da enorme capacidade das instituições de se reinventarem,<br />

procurando soluções alternativas de organização<br />

do trabalho e respostas inovadoras para melhoria<br />

da qualidade dos serviços prestados. Esperamos<br />

que as iniciativas apresentadas sirvam de inspiração e<br />

que motivem outras instituições de saúde a replicar<br />

os projetos premiados. A excelência, a qualidade e a<br />

inovação na gestão da saúde em Portugal existem e<br />

o Prémio Healthcare Excellence tem constituído um<br />

excelente meio de as evidenciar e divulgar. Ã<br />

Pode ver a reportagem fotográfica da Conferência em:<br />

https://justnews.pt/galeria/album/7a-conferencia-de-valor-da-<br />

-apah-braga/18-de-outubro-495/2<br />

Vencedor Prémio<br />

Healthcare Excellence 20<strong>19</strong><br />

“Intervenção Humanitária de Saúde<br />

e Amparo Social”<br />

Aldeias Humanitar - Associação de Solidariedade<br />

Social<br />

1.ª Menção Honrosa<br />

“C-Free Team na Microeliminação<br />

da Hepatite C”<br />

Centro <strong>Hospitalar</strong> Universitário de Lisboa Norte<br />

2.ª Menção Honrosa<br />

“Huddle Meeting - A sustentabilidade<br />

da melhoria contínua Hospital<br />

Dona Estefânia”<br />

Centro <strong>Hospitalar</strong> e Universitário de Lisboa<br />

Central (Hospital Dona Estefânia)<br />

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GH Iniciativa APAH | MEDICINA DE PRECISÃO<br />

APAH e Ordem dos Médicos<br />

apresentam proposta<br />

de "Agenda Estratégica<br />

para o Futuro da Medicina<br />

de Precisão em Portugal"<br />

A<br />

medicina de precisão é um conceito<br />

cada vez mais na ordem do dia,<br />

até porque nunca como agora foi<br />

tão claro que o estado de saúde de<br />

cada individuo depende de várias<br />

variáveis, incluindo fatores genéticos, comportamentais<br />

e ambientais, que tornam a sua doença e prognóstico<br />

diferente e única. Basta para isso olhar para<br />

os resultados de alguns dos atuais tratamentos: mesmo<br />

doenças como a diabetes, amplamente estudadas,<br />

apresentam taxas de ineficiência de tratamento superiores<br />

a 40%, com perdas de qualidade de vida do<br />

doente e aumento dos custos de tratamento daí inerentes.<br />

Outras, como a artrite, revelam uma ineficácia<br />

na ordem dos 50%, percentagem que sobe no caso<br />

dos tratamentos para a oncologia (75%) 1 .<br />

Porque o mesmo tratamento não serve para todos, a<br />

medicina de precisão consiste numa abordagem para<br />

tratamento e prevenção da doença que abrange desde<br />

a saúde pública aos tratamentos mais sofisticados,<br />

que tem sido apontada inexoravelmente como uma<br />

das estratégias a seguir para a evolução do sistema<br />

de saúde. O discurso comum fala da necessidade em<br />

transformar o paradigma de “tratamento da doençaˮ<br />

para uma visão de "prevenção e promoção da saúde”.<br />

Qualquer profissional da área da saúde concorda que<br />

o caminho passa por melhorar os ganhos em saúde e<br />

reduzir o desperdício, seja em custos administrativos,<br />

em diagnósticos inadequados, na sobre-prestação de<br />

cuidados ou na adopção de tratamentos sub-ótimos.<br />

A nível económico, isso significa uma utilização racional<br />

e eficiente dos recursos disponíveis, diminuindo o<br />

desperdício e custos associados a tratamentos ineficazes<br />

e respetivos efeitos secundários. Sendo simples<br />

proclamar vontades, mais difíceis são as suas concretizações.<br />

Para um sistema de saúde centrado nas necessidades<br />

de cada cidadão mas igualmente sustentável,<br />

é necessário um compromisso e investimento<br />

que promova o progresso nesta área da medicina.<br />

Cientes dos desafios a Associação Portuguesa de Administradores<br />

<strong>Hospitalar</strong>es (APAH) e a Ordem dos<br />

Médicos (OM) com o apoio técnico da EY, apresentaram<br />

a 11 de dezembro de 20<strong>19</strong>, uma proposta de<br />

“Agenda Estratégica para o Futuro da Medicina de Precisão<br />

em Portugalˮ, resultado de um trabalho conjunto<br />

que envolveu mais de 50 personalidades nacionais com<br />

conhecimento relevante na temática e representativas<br />

das entidades reguladoras e financiadores, prestadores<br />

de cuidados de saúde, ordens profissionais e sociedades<br />

científicas, associações de doentes, academia e I&D e indústria<br />

farmacêutica e de dispositivos médicos.<br />

A Agenda Estratégica apresentada propõe 5 objetivos<br />

estratégicos e orientações para a implementação de um<br />

Plano de iniciativas entre <strong>2020</strong> e 2023, prazo no qual se<br />

inclui a realização de dois projetos-piloto, em instituições<br />

hospitalares do SNS: um deles terá como foco a integração<br />

dos dados de saúde (clínicos e genómicos) e<br />

o desenvolvimento de algoritmos de suporte à decisão<br />

clínica; o segundo projeto-piloto terá como objetivo<br />

principal assegurar o acesso dos cidadãos a tratamentos<br />

personalizados e o desenvolvimento de um modelo<br />

de financiamento sustentável.<br />

Nesta agenda são apresentados 5 objetivos e várias<br />

orientações estratégicas:<br />

• Melhorar os resultados clínicos através do acesso<br />

equitativo a cuidados de saúde personalizados, através<br />

da promoção do acesso a diagnósticos e tratamentos<br />

inovadores e capacitar centros para darem resposta<br />

a tratamentos inovadores;<br />

• Guiar a prática clínica através de Real-World Data,<br />

através do estabelecimento de uma política nacional de<br />

dados em saúde, investimento numa plataforma integradora<br />

de dados e ferramentas de apoio à decisão clínica,<br />

e caracterização molecular focada em subgrupos<br />

da população;<br />

• Garantir a sustentabilidade financeira na implementação<br />

de medicina de precisão, através da criação de<br />

uma estratégia de atração de investimento em infra-<br />

-estruturas, e alargamento do pagamento de cuidados<br />

de saúde com base em resultados;<br />

• Aumentar a capacidade de Portugal para desenvolver<br />

inovação na área de medicina de precisão, através<br />

da promoção da inovação e fomento da colaboração<br />

nacional e internacional nesta área;<br />

• Reforçar a participação do cidadão na sua saúde, através<br />

da promoção da literacia em saúde e medicina de<br />

precisão, e desenvolvimento de estratégias para o empoderamento<br />

dos cidadãos como agentes da sua saúde.<br />

À semelhança de outras iniciativas, também nesta matéria<br />

a APAH propõe medidas concretas para a melhoria<br />

da organização e gestão dos cuidados de saúde<br />

em Portugal, tendo como expectativa que o desenvolvimento<br />

da medicina de precisão passe a integrar<br />

a agenda do Ministério da Saúde. Ã<br />

1. Personalized Medicine Coalition, “The Personalized Medicine Report” (2017).<br />

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MARCA A AGENDA<br />

A Associação Portuguesa de Administradores <strong>Hospitalar</strong>es (APAH) promoveu e apoiou as seguintes iniciativas (outubro - dezembro 20<strong>19</strong>):<br />

Conferência “Investir em saúde - Financiar anos de vida”<br />

| 4.ª Edição<br />

2 de outubro de 20<strong>19</strong>, Pavilhão do Conhecimento - Lisboa<br />

A APAH deu o seu apoio institucional à 4.ª edição desta Conferência<br />

uma iniciativa da Janssen e Jornal de Negócios.<br />

Jornadas de Medicina Interna da ULSAM | 3.ª Edição<br />

11 e 12 de outubro, Viana do Castelo<br />

A APAH foi representada na ocasião pelo seu Vice-Presidente,<br />

Del-fim Rodrigues, que participou na Mesa Redonda dedicada à<br />

sustentabilidade do SNS.<br />

Congresso Nacional de Urgência | (Re)Pensar a Urgência<br />

nos 40 anos do Sistema Nacional de Saúde<br />

11 a 13 de Outubro, Teatro Municipal de Portimão - Portimão<br />

A APAH, através do seu vogal da Direção Xavier Barreto, participou<br />

na 5ª edição do Congresso Nacional de Urgência, uma iniciativa<br />

do Núcleo de Estudos de Urgência e do Doente Agudo da Sociedade<br />

Portuguesa de Medicina Interna (SPMI).<br />

Congresso Nacional de Executivos da Saúde | CBEXs<br />

15 de outubro, São Paulo - Brasil<br />

Presidente da APAH, Alexandre Lourenço, participou como orador<br />

convidado no Congresso Nacional de Executivos da Saúde, uma<br />

iniciativa do Colégio Brasileiro de Executivos de Saúde (CBEXs).<br />

Prémio Healthcare Excellence | Reunião Final de eleição<br />

do Vencedor 20<strong>19</strong><br />

18 de outubro de 20<strong>19</strong>, Hotel Vila Galé Collection - Braga<br />

A APAH e a AbbVie promoveram a 6.a edição do Prémio Healthcare<br />

Excellence com o objetivo de distinguir a excelência na gestão<br />

de unidades de saúde, reconhecendo as boas práticas no domínio<br />

da melhoria do serviço aos utentes, promovendo a sua partilha e<br />

incentivando a sua consolidação.<br />

7.ª Conferência de VALOR APAH | Modelos de gestão<br />

centrados no cidadão e na comunidade<br />

18 e <strong>19</strong> de outubro de 20<strong>19</strong>, Hotel Vila Galé Collection - Braga<br />

Inserido no Ciclo de Conferências de Valor APAH 20<strong>19</strong> esta foi a 2.ª<br />

de duas conferências que decorrem em 20<strong>19</strong>.<br />

C-Health Congress 20<strong>19</strong> | Singularidade na Saúde<br />

22 de outubro de 20<strong>19</strong>, Centro Cultural de Belém - Lisboa<br />

A APAH participou no C-Health Congress 20<strong>19</strong>, uma iniciativa da<br />

IFE by Abilways dedicado à temática Saúde “Singularidade na Saúde”,<br />

tendo sido representada por Teresa Magalhães, Coordenadora<br />

do Grupo de Trabalho para a <strong>Gestão</strong> da Informação.<br />

Think Tank “O Despertar de um sonho” | “A tecnologia<br />

e a sustentabilidade em Saúde: Transformar a relação<br />

com o cidadão”<br />

29 de outubro de 20<strong>19</strong>, Microsoft - Parque das Nações, Lisboa<br />

A APAH participou na iniciativa, inserida nos 40 anos do SNS, através<br />

do seu Grupo de Trabalho para a <strong>Gestão</strong> da Informação em Saúde.<br />

Novos Modelos de Contratação Pública | Que Futuro<br />

para a <strong>Gestão</strong> <strong>Hospitalar</strong>?<br />

5 de novembro de 20<strong>19</strong>, AESE Business School, Lisboa<br />

Este seminário teve o apoio institucional dos SPMS e a parceria da Siemens<br />

Healthineers e deu especial destaque à análise das questões<br />

mais relevantes associadas com a contratação plurianual na saúde<br />

promovendo a discussão e partilha de experiências.<br />

Medicina e Administração de Serviços de Saúde | Conferência<br />

“Informática no hospital”<br />

7 de novembro de 20<strong>19</strong>, SRNOM - Porto<br />

As Conferências “Medicina e Administração de Serviços de Saúde”<br />

são uma parceria entre a APAH e a Sessão Regional Norte da Ordem<br />

dos Médicos (SRNOM). Nesta edição esteve em discussão a<br />

“Informática no Hospital”. A APAH foi representada por Rita Veloso<br />

do Grupo de Trabalho para a <strong>Gestão</strong> da Informação em Saúde.<br />

43.<strong>º</strong> World Hospital Congress | “People at the heart<br />

of health services in peace and crisis”<br />

7 a 9 de novembro de 20<strong>19</strong>, Muscat - Oman<br />

O 43.<strong>º</strong> World Hospital Congress, é uma organização da International<br />

Hospital Federation (IHF), que contou com o apoio da APAH e<br />

a participação do seu Presidente, Alexandre Lourenço, em diversas<br />

mesas redondas no decurso do programa.<br />

Convenção Nacional da Saúde I “Saúde: a prioridade<br />

da Legislatura”<br />

12 de novembro de 20<strong>19</strong>, Reitoria da Universidade NOVA de<br />

Lisboa - Lisboa<br />

APAH participou na Convenção Nacional da Saúde, sendo representada<br />

pelo Presidente da Direção Alexandre Lourenço. Nesta edição<br />

estiveram em debate propostas que permitam reforçar o investimento<br />

público na Saúde. Mais informações em: https://cnsaude.pt<br />

INOFARMA: digital + healthcare | Conferência<br />

14 de novembro de 20<strong>19</strong>, NOVA SBE - Carcavelos<br />

A APAH participou na 1.ª edição da Conferência INOFARMA tendo<br />

sido representada por Teresa Magalhães, Coordenadora do Grupo<br />

de Trabalho para a <strong>Gestão</strong> da Informação. Mais informações em:<br />

https://www.inofarma.org/<br />

Fórum Diplomacia da Saúde<br />

14 de novembro, Instituto de Defesa Nacional - Lisboa<br />

A APAH apoiou a 2.ª edição do Fórum Diplomacia da Saúde. Nesta<br />

edição estiveram em análise a saúde como direito, respeito por sensibilidades<br />

culturais e as ameaças à escala internacional.<br />

XI Fórum do Medicamento | Equidade, Efetividade e<br />

Sustentabilidade no Acesso à Inovação<br />

15 de novembro de 20<strong>19</strong>, Centro Cultural de Belém - Lisboa<br />

O Fórum do Medicamento é uma iniciativa anual da APAH com o<br />

apoio da AstraZeneca que visa contribuir para o conhecimento e partilha<br />

de boas práticas na área da gestão da tecnologia medicamento.<br />

A 11.ª edição o Fórum do Medicamento incluiu a apresentação pública<br />

dos resultados do “Índex Nacional do Acesso ao Medicamento<br />

<strong>Hospitalar</strong>”. Ver reportagem na presente edição.<br />

IV Jornadas de Saúde de Trás-os-Montes e Alto Douro<br />

21 e 22 de novembro de 20<strong>19</strong>, Chaves<br />

APAH foi representada pelo seu Vice-Presidente, Dr. Delfim Rodrigues,<br />

que na ocasião reforçou a importância da inovação para o reforço da sustentabilidade<br />

e combate ao isolamento e à interioridade no SNS.<br />

Webinars “Transformação Digital na Saúde” | Liderança<br />

digital ENESIS 20-22<br />

10 de dezembro de 20<strong>19</strong><br />

A SPMS e a APAH promovem o Ciclo de Webinars “Transformação<br />

Digital na Saúde“ com o objetivo de promover e disseminar o conhecimento,<br />

destacando as oportunidades decorrentes da transformação<br />

digital na saúde. O webinar inaugural deste ciclo foi dedicado à<br />

“Liderança digital” e teve como orador Henrique Martins, Presidente<br />

da SPMS.<br />

Agenda Estratégica para o Futuro da Medicina de Precisão<br />

em Portugal | Apresentação Pública<br />

11 de dezembro de 20<strong>19</strong>, Ordem dos Médicos - Lisboa<br />

Iniciativa APAH com o apoio institucional da Ordem dos Médicos<br />

e apoio técnico da EY resultado de um trabalho conjunto que envolveu<br />

mais de 50 personalidades nacionais com conhecimento rele-<br />

vante na temática e representativas das entidades reguladoras e financiadores<br />

(incluindo seguradoras), prestadores de cuidados de saúde<br />

(públicas e privadas), ordens profissionais e sociedades científicas, associações<br />

de doentes, academia e I&D e industria farmacêutica e de<br />

dispositivos médicos. Todos os conteúdos apresentados no âmbito<br />

deste seminário estão disponíveis no “Canal APAH - <strong>Gestão</strong> em<br />

Saúde” no Youtube.<br />

ACADEMIA<br />

EVENTOS +<br />

Deixamos aqui algumas sugestões de eventos futuros em <strong>2020</strong>:<br />

EHMA Executive Workshop | “Reconfiguring and leading<br />

the value-based hospital”<br />

11-12 de dezembro de 20<strong>19</strong> - Bruxelas, Bélgica<br />

Uma organização da European Health Management Association<br />

(EHMA) que contou com a participou de uma delegação portuguesa,<br />

composta por 10 gestores em saúde. Mais informações em:<br />

https://ehma.org/executive-workshop/<br />

A Associação Portuguesa de Administradores <strong>Hospitalar</strong>es (APAH) promoveu no âmbito da Academia APAH as seguintes iniciativas formativas (outubro - dezembro 20<strong>19</strong>):<br />

Pathways | Workshop by EIT - Health<br />

Data: 29 de outubro de 20<strong>19</strong><br />

Local: Centro <strong>Hospitalar</strong> Psiquiátrico de Lisboa, Lisboa<br />

Mais informações em: https://apah.pt/noticia/academia-apah-traz-a-portugal-workshop-pathways-by-eit-health/<br />

Como transformar uma trajetória clínica numa cadeia<br />

de valor - O caso da Insuficiência Cardíaca<br />

Seminário APAH + Sociedade Portuguesa de Medicina Interna<br />

(SPMI) + Associação Portuguesa de Medicina Geral e Familiar<br />

(APMGF)<br />

ORGANIZAÇÃO APAH<br />

Barómetro dos Internamentos Sociais | 4.ª edição<br />

Iniciativa anual da APAH com o apoio institucional da Sociedade<br />

Portuguesa de Medicina Interna (SPMI) e o suporte técnico<br />

da EY, tem como objetivo monitorizar de forma regular a problemática<br />

dos internamentos inapropriados fomentando ações<br />

conjuntas que minimizem este impacto.<br />

8.ª Conferência de VALOR APAH | Hospital Verde<br />

- Modelos de gestão para a sustentabilidade<br />

Data a anunciar brevemente<br />

Local: Grande Hotel de Luso, Luso<br />

Mais informações em: https://apah.pt/portfolio/conferenciasde-valor-apah/<br />

Prémio Healthcare Excellence | 7.ª Edição | Abertura<br />

das Candidaturas <strong>2020</strong><br />

Data: 01 de maio a 30 de junho de <strong>2020</strong><br />

Mais informações: ver artigo nesta edição e em https://apah.pt/<br />

portfolio/premio-healthcare-excellence/<br />

9.ª Conferência de VALOR APAH | Os Profissionais<br />

- Potenciar Pessoas<br />

Data: 16 e 17 de outubro de <strong>2020</strong><br />

Local: Hotel Tryp Lisboa Caparica Mar, Costa da Caparica<br />

Mais informações em: https://apah.pt/portfolio/conferenciasde-valor-apah/<br />

XII Fórum do Medicamento<br />

Data: 13 de novembro de <strong>2020</strong><br />

Local: Academia das Ciências, Lisboa<br />

Iniciativa anual da APAH com o apoio da Astra Zeneca que visa<br />

contribuir para o conhecimento e partilha de boas práticas na<br />

área da gestão da tecnologia medicamento. Mais informações<br />

Data: 18 de outubro de 20<strong>19</strong><br />

Local: Hotel Vila Galé Collection, Braga<br />

Mais informações em: https://apah.pt/noticia/apah-promove-seminario-criar-valor-na-insuficiencia-cardiaca/<br />

Novos Modelos de Contratação Pública | Workshop prático<br />

com Vera Eiró (Nova Direito)<br />

Data: 5 de novembro de 20<strong>19</strong><br />

Local: AESE Business School, Lisboa<br />

Mais informações em: https://apah.pt/pec-events/novos-modelos-decontratacao-publica-que-futuro-para-a-gestao-hospitalar/<br />

em: https://apah.pt/iniciativas-projetos/forum-do- medicamento/<br />

CO-ORGANIZAÇÃO APAH<br />

I Conferência de Integração de Cuidados de Saúde<br />

Organização: NOVAsaúde, APAH e PAfIC<br />

Data a anunciar brevemente<br />

Mais informações em: www.apah.pt<br />

Caminho dos Hospitais | Conferência/debate<br />

Organização: APAH em parceria com Hospitais do<br />

SNS e Serviços Regionais de Saúde<br />

Data: Periodicidade Trimestral<br />

Mais informações em: https://apah.pt/iniciativas-projetos/caminho-dos-hospitais/<br />

Webinars “Transformção Digital na Saúde”<br />

Organização: Parceria APAH + SPMS<br />

Data: Periodicidade mensal<br />

Local: Webconferência<br />

Mais informações em: www.apah.pt<br />

Webinars Luso-Brasileiro “<strong>Gestão</strong> em Saúde <strong>2020</strong>”<br />

Organização: Parceria APAH + CBEXs<br />

Data: Periodicidade Trimestral<br />

Local: Webconferência<br />

Mais informações em: www.apah.pt<br />

Medicina e Administração de Sistemas de Saúde<br />

Ciclo Conferências <strong>2020</strong><br />

Organização: Parceria APAH e Secção Regional Norte da Ordem<br />

dos Médicos (SRNOM)<br />

Mais informações em: https://apah.pt/iniciativas-projetos/medicina-e-<br />

administracao-de-servicos-de-saude/<br />

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