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CADERNOS DE PESQUISA 2020

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Sumário

A cidade em exposição: temporalidades, produção de conhecimento e o digital. ............. 9

A teia da vida urbana: a mobilidade urbana e o desenvolvimento ecossistêmico ............ 13

Memórias das casas de Zélia Maia Nobre: novos hábitos de morar em Maceió dos anos

1950 .................................................................................................................................. 17

Resistências poéticas na cultura afro-periférica em Maceió: por uma “quilombagem”

estético-afetiva .................................................................................................................. 21

Método simplificado para avaliação da ventilação natural em edifícios multi-familiares . 25

Níveis de desempenho acústico para escolas de ensino fundamental: metodologia e

aplicação............................................................................................................................ 31

Parâmetros de iluminação para área de preparação de medicamentos em hospitais na

cidade de Maceió .............................................................................................................. 39

Parâmetros técnicos normativos brasileiros destinados à acessibilidade de pessoas com

deficiência visual: uma abordagem acerca da detecção da sinalização tátil de piso por meio

da bengala longa ............................................................................................................... 45

A cidade oculta dentro de si: A complexa existência do urbano Maceió. ......................... 53

Arquitetura moderna em Maceió: registros da memória ................................................. 57

Memórias de praças do bairro da Ponta Grossa – Maceió/AL a partir de percepções e

representações da “Cidade Sorriso” idealizada na gestão do prefeito Sandoval Caju (1961-

1964) ................................................................................................................................. 61

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O percurso das áreas livres de uso público: ideias, projetos e intervenções no bairro Centro,

Maceió-AL .......................................................................................................................... 65

Avaliação Pós-Ocupação em Habitação de Interesse Social: estudo de Caso com ênfase no

idoso na cidade de Maceió-AL. .......................................................................................... 69

Luz Natural e Habitação de Interesse Social: Impacto de Reformas Autogeridas no

Desempenho Luminoso de Unidades Habitacionais do Conjunto Jardim Royal em Maceió-

AL ....................................................................................................................................... 75

Caminhar como mobilidade urbana: Maceió e outros casos ............................................. 79

Impactos socioambientais advindos da gestão dos resíduos sólidos no entorno da APA do

Catolé- Fernão Velho: aplicação das políticas públicas ...................................................... 83

Metodologias de Planejamento Participativo: o caso da Charrete em Cruz das Almas. .... 87

Os imóveis públicos da União e a viabilidade de sua destinação para prover habitação de

interesse social. ................................................................................................................. 90


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A cidade em exposição: temporalidades, produção

de conhecimento e o digital.

DOUTORADO | Linha 1 | Temporalidades e Representações

Fábio Henrique Sales Nogueira

fabiohenriqui@gmail.com

Orientadora: Profa. Dra. Mária Angélica da Silva

Palavras-chave: Museus da cidade; digital; conhecimento; história urbana

Muitas foram os desejos e as necessidades que a contemporaneidade revelou para a

sociedade. Dentre eles, podemos exemplificar a aceleração do consumo, a potencialização

da comunicação e da troca de bens e serviços, a circulação, o movimento, etc. As mudanças

no modo de ser e agir que se anunciaram no contexto das décadas finais do século XX,

fenômeno que pôde ser compreendido como globalização, possibilitaram não só a visão

de um mundo complexo, como também o de concretamente fazê-lo pelas inúmeras redes

que foram se tecendo, pelas diversas vias de comunicação. Vencendo escalas, encurtando

distâncias, potencializando as conquistas e favorecendo o movimento. O ímpeto, ou a

necessidade, de conhecer as coisas e frequentar os lugares, presencialmente ou pelas

tramas imateriais como o telefone, o telégrafo e posteriormente a internet, mesmo sendo

uma característica latente do ser humano, assume um lugar de destaque.

Além das relações usuais que construímos com a cidade, a arquitetura, a paisagem e a

história, o consumo e acúmulo de insumos culturais são incentivados e se alinham às

diversas estratégias de marketing. A estes se somam o acesso facilitado ao transportes e

ao incremento das viagens e do turismo. Nesse contexto, destaca-se o papel que o museu

enquanto instituição desempenha. Dos lugares de arquivo e acervo, aos circuitos e

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peregrinações para contemplação de artefatos, a ideia de museu sempre sugeriu um

entendimento do que é história e memória. Com o passar do tempo, esta noção vai aos

poucos se desfazendo e a figura do museu vai sempre se afinando com as demandas sócioculturais

do seu tempo. Assim, os espaços museológicos de hoje, além da função de

guardar, apreciar ou conhecer o passado, buscam acenar para o futuro e para as

possibilidades de interface com o mundo que nos rodeia, tendo o usuário uma posição

ativa na construção do conhecimento (RICCA 2019). A ideia apresentada por Letícia

Genesini (2014) dos museus como narrativa e dos museus como experiência. Nesse

processo, as tecnologias digitais foram fundamentais nessa “atualização”, também

servindo como destaque e elo conector entre usuário, espaços a informação.

Cruzando as temporalidades, as tecnologias, o conhecimento acumulado e a história

urbana, observa-se o surgimento e a consolidação dos museus de cidades. Espaços onde,

como premissa inicial, as informações acerca da história e memória citadina são o ponto

de interesse, ou seja, pensados para informar e construir a história da cidade em conjunto

com os visitantes.

Diante deste panorama, a tese lança como objetivo geral compreender como os temas da

história urbana e da memória podem ser potencializados pelas mídias digitais na produção

e socialização do conhecimento de modo articulado aos espaços dos museus. A pesquisa

compreende as referidas tecnologias como elemento determinante não apenas como

ressignificador dos espaços museológicos, mas também do próprio edifício arquitetônico

e das cidades que os abrigam.

A metodologia empregada já vem se valendo de experiências concretas frente ao

Laboratório de Criação Taba-êtê/ Grupo de Pesquisa Estudos da Paisagem, com vista à

socialização do conhecimento sobre a história citadina com a produção de experimentos

diversos tais como a concepção e montagem de exposições e trabalhos com o design

gráfico e imagens. Sobre a revisão de literatura, esta tem priorizado temas ligados à

museologia, museografia e expografia, os tempos históricos e a memória, além de

proceder com a seleção de museus de cidade para visitas in loco. Esta etapa, ainda


executada no âmbito das redes, se pretende concretizar através de viagens e do concurso

a uma bolsa sanduíche no exterior.

Ainda enquanto etapa metodológica, e entendendo a investigação científica como

catalisadora das experiências práticas, a pesquisa buscará desenvolver uma experiência

espacial concreta que vise problematizar acerca do conhecimento e a história da

arquitetura e da cidade em Maceió.

A reflexão sobre o cruzamento do digital com as temporalidades superpostas no tecido

urbano e a produção e socialização do saber que ganham concretude nos museus da

cidade, conhece experiências mundiais mas poucas ou nenhuma no contexto brasileiro e

incitam diversas perguntas. De que maneira as mídias digitais potencializam as ações

ligadas aos embates entre os tempos? Como a socialização do conhecimento sobre estes

temas podem ser trabalhados de maneira conjunta com as suas particularidades espaciais

concretas? Até que ponto as questões ligadas às distintas materialidades, corporais,

espaciais, virtuais, podem ser estimuladas por essas mídias? E como a pesquisa pode se

alimentar destas mesmas mídias, para além da busca de fontes e socialização dos

resultados, mas também para refletir sobre a própria produção do conhecimento?

Diante de tais indagações podemos sintetizar a vontade de mensurar o potencial do digital

associado aos estudos sobre espaços e tempos, sobre cenografia e arquitetura, sobre

ficção e memória.

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Referências Bibliográficas

GENESINI, LETÍCIA. Espaços interativos: o design de experiência em marcas e concept stores. São

Paulo: nversos, 2014.

RICCA, D. E. P.; MAZZILLI, C. T. S. Difusão da informação em museus: tecnologia digital, interação e

diálogo. V!RUS, São Carlos, n. 19, 2019. [online] Disponível em:

<http://www.nomads.usp.br/virus/virus19/?sec=4&item=12&lang=pt>. Acesso em: 14 Dez. 2019.


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A teia da vida urbana: a mobilidade urbana e o

desenvolvimento ecossistêmico

DOUTORADO | Linha 1 | Temporalidades e Representações

Renan Durval Aparecido da Silva

rnsilva@gmail.com

Orientador: Prof. Dr. Lindemberg Medeiros de Araújo

Palavras-chave: desenvolvimento urbano, mobilidade, pensamento complexo, teorias

ecossistêmicas,

O desenvolvimento urbano tem reproduzido e potencializado a desigualdade no acesso

aos recursos que as cidades podem e devem oferecer às pessoas, sendo a elas negados o

direito à cidade. Tal direito está ligado à possibilidade que os diversos grupos sociais têm

de se deslocarem pelo espaço urbano para exercerem suas atividades sociais. Afinal, só é

possível o usufruto dos direitos à saúde, educação, lazer e emprego quando o

deslocamento pela cidade é viável. Não existe cidade sem movimento.

Durante muito tempo o universo da mobilidade ficou restrito aos conceitos de trânsito e

de transportes, que o integram, mas são muito limitados para englobar todos os elementos

inerentes à sua complexa dinâmica. Terán (2014, p. 22), argumenta que “os problemas de

trânsito eram problemas técnicos, e, para alguns setores, um caso policial, de disciplina, de

ordem”. Não há como compreender a mobilidade fora do contexto cultural, social,

econômico e de produção espacial, dentre outros fatores. Ademais, trânsito, transportes

e uso do solo estão intrinsecamente conectados, sendo o último a base. A mobilidade deve

ser analisada num enfoque multidimensional.

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Tal fragmentação nos estudos da mobilidade está estruturada no fato de que por séculos

o paradigma científico foi baseado no modelo cartesiano de interpretação da natureza.

Porém, no início do século XX, os físicos que se dedicaram a explorar a estrutura dos

átomos e a natureza dos fenômenos subatômicos se depararam com um cenário em que

o modo tradicional de pensar e de se expressarem eram inadequados para descrevê-los.

As descobertas sobre como a natureza opera em seus métodos de criar, destruir e

reconstruir, ligados essencialmente a conexões, interdependência e codesenvolvimento,

levaram a mudanças importantes em diversas áreas do conhecimento, inclusive nos

estudos urbanos, apesar de ainda muito incipiente. Há uma necessidade premente de se

avançar nesse sentido e ampliar a ideia de um planejamento ecossistêmico para além do

universo da sustentabilidade.

O principal objeto de valor desta investigação é mergulhar nestas temáticas para

apresentar, com base no conhecimento científico acumulado, formas possíveis de se traçar

caminhos concretos na direção de cidades mais vivas e dinâmicas. Muitos dos princípios

que norteiam a perspectiva de cidades mais humanas já estão consolidados. Grandes

nomes dos estudos urbanos já lançaram suas ideias para balizar o desenvolvimento de

cidades para pessoas, porém ainda há três desafios a serem enfrentados no sentido de

estas ideias ganharem os espaços de forma disseminada, sobretudo nos países em

desenvolvimento: 1) a ampliação do contato com essas temáticas, o que está conectado

com o que a urbanista Ermínia Maricato chama de “analfabetismo urbanístico”; 2) a

compreensão de que elas são ancoradas nos mais íntimos princípios da vida e,

consequentemente, deveriam estar integradas onde a vida contemporânea se desenvolve;

3) a necessidade de mudanças na percepção.

A tese tem caminhado no sentido de desenvolver a compreensão acerca de como o

planejamento e a produção espacial dialogam com os novos paradigmas científicos, bem

como contribuir para o desenvolvimento de uma teoria ecossistêmica das cidades e de

uma mudança de percepção. Busca-se alcançar os seguintes objetivos: (1) desenhar um

panorama dos paradigmas de desenvolvimento urbano e mobilidade no contexto local,


através de investigações com especialistas, técnicos, cidadãos comuns, políticos e

representantes do mercado imobiliário e setor produtivo, bem como publicações nas

mídias impressas e digitais, utilizando as metodologias da Análise de conteúdo de Bardin

(2011) e Discurso do sujeito coletivo de Lefevre (2014) para, a partir daí, (2) definir

estratégias de aplicação do pensamento complexo no desenvolvimento urbano local e, por

fim, (3) definir um modelo de plano de mobilidade para cidades de pequeno porte, com

base em estudos de caso em dois municípios do estado de Alagoas.

Os planos de mobilidade urbana, instituídos pela Lei 12.587/12 e obrigatórios para todos

os municípios com mais de 20 mil habitantes, são uma importante ferramenta no sentido

de transformar a realidade das cidades brasileiras. Ocorre, entretanto, que embora tal

marco legal seja do ano de 2012, em 2020 menos de 10% dos municípios elaboraram seus

planos. Muitos não cumpriram a obrigatoriedade por dificuldades técnicas, logísticas e

econômicas, considerando que cerca de 75% dos municípios brasileiros são de pequeno

porte.

A construção de um modelo básico, que proponha uma abordagem multidimensional, com

integração entre uso do solo, trânsito e transportes e estruturação em parâmetros

objetivos de concretização dos princípios de desenvolvimento, em seu sentido mais amplo,

pode contribuir para que os municípios consigam atender à obrigatoriedade de elaborarem

seus planos e que estes sejam aplicáveis e não apenas um documento para cumprir uma

exigência legal.

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Referências Bibliográficas

Lefevre F, Lefevre AMC. DISCURSO DO SUJEITO COLETIVO: REPRESENTAÇÕES SOCIAIS E

INTERVENÇÕES COMUNICATIVAS. Florianópolis, 2014 Abr-Jun; 23(2): 502-7;

Bardin, L.(2011). Análise de conteúdo. São Paulo: Edições 70.

Capra, Fritjof. A teia da vida urbana. Editora Cultrix, São Paulo, 1985


Terán, J. Mobilidade urbana sustentável. Scortecci Editora. 2013

Jacobs, Jane. Morte e vida das grandes cidades. São Paulo. 2014.

MORIN, E. Introdução ao pensamento complexo. 3. ed. Porto Alegre: Sulina, 2007.

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Memórias das casas de Zélia Maia Nobre: novos

hábitos de morar em Maceió dos anos 1950

DOUTORADO | Linha 1 | Temporalidades e Representações

Letícia Brayner Ramalho

letbrayner@hotmail.com

Orientadora: Profa. Dra. Josemary Omena Passos Ferrare

Palavras-chave: Memória; Arquitetura moderna; Projetos residenciais; Maceió.

Zélia Maia Nobre é uma pernambucana, formada na escola de Recife num período de

expansão da arquitetura moderna na região. Chegou em Maceió em 1956 decidida a atuar

profissionalmente. Suas experiências quando trabalhou no Recife, e sua vasta rede de

contatos, a permitiram ocupar cargos importantes no campo da construção civil. Mas,

segundo Silva (1991) foi a inserção da arquiteta junto às classes mais influentes na

sociedade maceioense que facilitou sua efetiva atuação e a disseminação de sua

arquitetura, especialmente no projeto de residências. A autora afirma que a disseminação

da arquitetura modernista de Zélia em meio à elite modifica os conservadores hábitos de

moradia local. É esta afirmação que motiva a pesquisa aqui apresentada: teria a obra de

Zélia Maia Nobre realmente transformado os hábitos de morar da população maceioense?

Apesar do ímpeto de mudar a paisagem maceioense, de “trazer o novo”, expressão

afirmada pela arquiteta em entrevistas e conversas, é sabido que a arquitetura da capital

alagoana já se encontrava em transformação. Outros arquitetos, engenheiros e

desenhistas já produziam uma arquitetura que indicava uma “atitude modernista

alagoana”, utilizando as palavras de Silva (1991). Além disso, dois outros aspectos motivam

esta pesquisa: o primeiro é o fato de existir pouca bibliografia publicada sobre a arquiteta,

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restrita ao livro da professora Maria Angélica da Silva (1991), e poucas dissertações e

artigos onde a arquiteta aparece de maneira coadjuvante. O segundo é que, apesar destas

publicações, Zélia Maia Nobre continua a ser tratada e lembrada como figura pioneira

entre as pessoas que conviveram com ela e nos campos onde atuou, embora sua

arquitetura venha se perdendo na paisagem de Maceió. Por um lado se tem a certeza de

que a arquitetura de Zélia trazia um diferente arranjo espacial, que reproduzia símbolos de

modernidade; mas como estes arranjos de fato interferiam na experiência dos moradores

e usuários das casas – e se interferiam? Quais eram os novos hábitos de morar criados a

partir daqueles espaços? Enquanto mulher ela conseguiu aplicar algo de genuíno nos

projetos de suas casas, diferente da arquitetura moderna já praticada em Maceió e

também em Recife? A preocupação com a preservação dos exemplares de arquitetura

modernista é pauta que vem sendo amplamente discutida, a exemplo do grupo

DOCOMOMO; apesar disso, a preservação física das obras de Zélia Maia Nobre não é

intenção desta pesquisa. Decidiu-se usar a memória como elemento vetor de análise

central o que de certo modo, redundará em uma espécie de preservação de exemplos de

sua arquitetura residencial. A decisão partiu da constatação da impossibilidade de

conhecer as casas, pois maior parte delas foi demolida ou está alterada. Entendendo que

a memória enquanto lugar das lembranças não é um produto qualquer resultante apenas

de vivências, mas um processo de reconstrução da experiência passada na perspectiva do

presente, e que investigar os hábitos de morar do passado é investigar a própria cidade,

acredita-se que as memórias das casas projetadas por Zélia deverão se amparar nas

experiências do presente, na ausência dessas casas. Essas transformações devem interferir

nas narrativas dos que experienciaram as casas. O atual objetivo desta pesquisa é avaliar a

interferência da arquitetura de Zélia Maia Nobre no hábito de morar da população

maceioense - ou parte dela - nas décadas de 1950 e 60. A história oral será utilizada como

um dos recursos metodologia de investigação, visto que se recorrerá a memória de pessoas

que vivenciaram as casas da arquiteta. Será necessário conhecer o cenário maceioense da

época, como a sociedade recebeu a modernização no seu cotidiano e também a obra de

Zélia Maia Nobre; portanto, esta tese se ampara também em investigação em arquivos de


instituições de acervo projetual de arquitetura e pesquisa bibliográfica. Os levantamentos

documentais no arquivo de projetos da Prefeitura de Maceió iniciaram e apontaram para

um universo extenso e desconhecido de projetos de Zélia. As informações sobre os

registros dos projetos estão sendo organizadas, junto com as fotografias dos projetos;

contudo, ainda não se iniciou a análise dos projetos de maneira sistematizada. Além dos

levantamento, foi realizada a pesquisa sobre a memória de uma das casas da arquiteta,

hoje em ruínas, algo que rendeu a publicação de artigo no 6º Seminário Ibero-Americano

Arquitetura e Documentação, e na revista Brazilian Journal of Development. Foram

investigadas práticas projetuais e vivências que marcaram a memória daqueles que

tiveram relações cotidianas com a casa estudada. A história oral foi usada como

metodologia e as narrativas geraram desenhos produzidos à mão que procuraram retratar

as cenas relembradas, os quais permitiram conhecer alguns hábitos praticados naquela

casa. Tal momento da pesquisa serviu de piloto para testar parte da metodologia a ser

utilizada na produção dessa tese.

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Referências Bibliográficas

BOSI, Ecléa. Memória e sociedade: Lembrança de velhos. 14. Ed. São Paulo: Companhia das Letras,

1994

CALVINO, Ítalo. As cidades invisíveis. 2. Ed. São Paulo: Companhia das Letras, 1994.

REZENDE, Antônio. Cidade e Modernidade: Registros históricos do amor e da solidão no Recife dos

anos 1930. In: ; GUILLEN, I. (Org.) ; MONTENEGRO, A. T. (Org.) ; TEIXEIRA, F. W. (Org.) ; GUIMARAES,

R. B. (Org.); ANZAI, LENY (Org.) . História: cultura e sentimento – outras histórias do Brasil. 1. ed.

Recife/Cuiabá: UNIVERSITÁRIA UFPE/UNIVERSITÁRIA UFMT, 2008. v. 1. 510p .

SILVA, Maria Angélica. Arquitetura Moderna: A Atitude Alagoana. Maceió: SERGASA, 1991.


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Resistências poéticas na cultura afro-periférica em

Maceió: por uma “quilombagem” estético-afetiva

DOUTORADO | Linha 1 | Temporalidades e Representações

Thalita Carla de Lima Melo

thalitalima@gmail.com

Orientadora: Profa. Dra. Maria Angélica SIlva

Palavras-chave: cultura afro-periférica; resistências poéticas; montagem urbana

As possibilidades do estudo da cultura como forma de resistência/enfrentamento às

adversidades da vida na periferia se tornou um tema de interesse a partir do trabalho

conjunto, no Grupo de Pesquisa Estudos da Paisagem, para construção do artigo “Entre o

mar e o rio: entranhas urbanas e resistências poéticas no Vale do Reginaldo” . Elaborado a

partir da imersão na Grota do Reginaldo e do contato com artistas reginaldenses entre o

segundo semestre de 2018 e o primeiro de 2019, um desses artistas foi o rapper negro

Alex, líder do Neurônios Sub-Consciente( NSC), principal grupo de rap de Alagoas com

projeção nacional relevante, cuja poética se voltava para o enaltecimento da grota e

denúncia do descaso. Essa visão da arte/cultura como modo de resistência na periferia de

Maceió também é defendida pelo antropólogo alagoano Edson Bezerra (TENÓRIO;

CAMPOS, 2014) quando afirma que a disseminação das manifestações culturais (arcaicas:

religiosidade, folguedos e capoeira; e emergentes: hip-hop, grupos percussivos, grupos de

dança afro, e bandas de reggae) dos bairros periféricos nos últimos anos vêm

desenvolvendo uma linhagem de memória que vem sendo construída se remetendo ao

universo dos negros palmarinos, e sendo frequentemente chamadas de quilombos

urbanos. Apesar de ‘quilombo’ ser um conceito que a História exigiria mais cuidado no

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trato, enquanto metáfora simbólica (de luta), estética e afetiva pode ser um potente

mediador para compreensão poética das manifestações culturais afro-periféricas. Segundo

Lima (2014) a ampliação da visibilidade das culturas afro-brasileiras e seu acesso a politicas

públicas, tanto promove a inserção de novos atores e de demandas por reconhecimento

no campo do patrimônio cultural, quanto, auxilia na compreensão identitária dos afrobrasileiros

e estimula estratégias de enfrentamento às dinâmicas racistas de desigualdade

social.

Nesse contexto, esta pesquisa visa produzir gestos e poéticas de quilombagem a partir do

cruzamento de criações artísticas da pesquisadora e dos sujeitos/grupos de cultura afroperiférica

de Maceió, capazes de criar ruídos, fissuras, linhas de fuga, rupturas e

desestabilização do establishment brasileiro que atualiza a violência estrutural contra

negros periféricos. Almeja assim contar novas histórias e possibilitar ações futuras, que

subsidiem não só ações e programas governamentais, mas também intracomunitárias,

com a potência de garantir o direito da população afro-periférica, que ocupa “as margens”

de Maceió, de existir e preservar sua existência.

Para os afro-brasileiros, se manifestar cultural e artisticamente é sua principal arma de

enfrentamento. Mas, atualmente, em tempos globalização, espetacularização e

mercantilização da vida como as manifestações da cultura/arte popular e periférica

configurariam o lugar de quilombagem/resistência? Ainda sem respostas, mas com

algumas advertências apontadas por Stuart Hall (2013): não existe uma “cultura popular”

íntegra, autêntica e autônoma, situada fora do campo de força das relações de poder e de

dominação culturais; as tradições não possuem uma posição fixa, podem ser reorganizadas

e adquirir novos significados; e a luta cultural se apresenta em formatos diversos, tais

como: incorporação, distorção, resistência, negociação e recuperação.

Para enfrentar tal terreno minado, esta pesquisa parte da ‘prática experimental da

montagem urbana’, que intenta produzir variações narrativas e estéticas sobre o objeto de

estudo a partir de experimentações poéticas e imagéticas construídas no campo social.

Proposta metodológica esta, desenvolvida por Paola Jacques (2015) a partir dos seus


estudos sobre a montagem em autores como Walter Benjamin, Georges Bataille, Aby

Warburg e Didi-Huberman e da produção de narrativas (textual, fotográfica, audiovisual e

cartográfica) das errâncias pelos espaços urbanos e virtuais da cultura afro-periférica em

Maceió, sendo acompanhado nesse momento: os grupos e artistas - Alex do NSC, Casa de

Yemanja, União Espírita Santa Bárbara, Coco de roda da Mãe Miriam, Mãe Vera, Quintal

Cultural, Zé do Boi, Alagoas Cultural, Maracatu Baque Alagoano e Coletivo Afrocaeté; e os

eventos - Natal de Folguedos, Festa das Águas e Ato do Quebra de Xangô.

Ainda longe de resultados, mas nas percepções iniciais sobre a configuração das

manifestações culturais afro-periféricas em Maceió, foi possível identificar os alertas de

Stuart Hall sobre os jogos de poder, de mercado e de interesses que atravessam as

manifestações da cultura em Alagoas, o que, de certo modo, favorece a ideia de mobilizar

uma estética da quilombagem (ou resistências poéticas) como possibilidade produzir

conexões afetivas entre diversas expressões culturais afro-periféricas de Maceió.

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Referências Bibliográficas

JACQUES, P. B (org.). Experiências metodólogicas para compreensão da complexidade da cidade

contemporânea. 4v. (Coleção PRONEM). Salvador: EDUFBA, 2015.

HALL, Stuart. Da Diáspora: identidades e mediações culturais. Belo Horizonte: UFMG, 2018.

CAMPOS, J.J. & TENÓRIO, D. A.(orgs) A presença negra em Alagoas. Maceió: Viva Editora, 2014

SANTOS, A. Tradições populares e resistências culturais: políticas públicas em perspectiva

comparada. Salvador: EDUFBA, 2011.

LIMA, A. R. Reconhecimento do Patrimônio Cultural Afro-Brasileiro. In: Revista Palmares: Cultura

Afro-Brasileira. Ano X, ed. 8, novembro de 2014.

CABRAL, A. A arma da teoria. Rio de Janeiro: CODECRI, 1980.


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Método simplificado para avaliação da ventilação

natural em edifícios multi-familiares

DOUTORADO | Linha 2 | Tecnologias

Keke Rosberg Guimaraes Silva

rosberg41@gmail.com

Orientador: Prof. Dr. Alexandre Márcio Toledo

Palavras-chave: Ventilação natural. Desempenho térmico. Estratégia bioclimática. NBR 15575.

1 INTRODUÇÃO

As grandes variações de temperatura que veem ocorrendo em várias regiões do planeta

nos últimos anos, causadas possivelmente pela emissão de gases de efeito estufa, trazem

para o mercado da construção civil o desafio de construir edificações de alto desempenho

termo-energético.

Nesse horizonte, diversas normas e regulamentos têm auxiliado os projetistas na

concepção de projetos de edificações que atendam a requisitos mínimos de desempenho

e conforto térmico do usuário. No Brasil, os principais regulamentos são a NBR 15220

(2005), que traz o zoneamento bioclimático brasileiro e diretrizes construtivas para

construção de habitações unifamiliares de interesse social e a NBR 15575 (2013), que

dispõe sobre os requisitos mínimos de desempenho das edificações e dedica um tópico

específico para o desempenho térmico, além dessas normas há ainda o Regulamento

Técnico da Qualidade para o Nível de Eficiência Energética de Edificações Residenciais, o

RTQ-R que apresenta requisitos para a classificação da eficiência energética de unidades

habitacionais brasileiras em geral (BRASIL, 2012).

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A NBR 15575 (ABNT, 2013) considera duas alternativas para a obtenção do nível de

desempenho: o procedimento simplificado e a simulação computacional, utilizada quando

o desempenho mínimo não é obtido por procedimento simplificado. Nesse caso, cada

ambiente deve ser considerado como uma zona térmica, e analisados os desempenhos dos

ambientes de maior permanência. A modelagem não considera ganhos internos, e a taxa

de ventilação deve ser constante e igual a 1 renovação de ar por hora. A simulação é feita

para dias típicos de verão e de inverno (CHVATAL, 2014).

Desde sua primeira versão em 2008 a NBR 15575 vem recebendo contribuição de diversas

pesquisas (LOURA et al., 2011; SORGATO et. al., 2012; SORGATO et al., 2014; DE BRITO et

al., 2017; PASSOS, 2017; DE BRITO et al., 2018) que buscam o aprimoramento dos critérios

de desempenho, entretanto é importante destacar que sua última revisão ocorreu em

2013.

Diversas pesquisas têm apontado contradições e pontos obscuros nestas normas

relacionados, sobretudo, a ventilação natural. PASSOS (2017), aponta divergências entre

as NBR 15220 (2005) e NBR 15575 (2013) relacionadas à área das aberturas, o autor

comenta ainda que há uma generalização das estratégias para cidades com necessidades

diferentes, principalmente na Zona Bioclimática 8, a mais extensa. Para Sorgato et al.

(2013) a taxa de renovação do ar estabelecida no método da simulação pela NBR 15575

(ABNT, 2013), avalia as edificações fora da realidade de uso, sobretudo para o dia típico de

verão em que a condição de 1 (uma) renovação de ar está subestimando a ventilação

natural.

De modo geral, essas normas não dão um tratamento adequado a ventilação natural, haja

vista que não são considerados variáveis importantes, como velocidade, distribuição e

coeficiente de pressão dos ventos dentro do ambiente. Sendo assim, essa pesquisa de

doutorado se propõe a desenvolver um método simplificado para avaliação da ventilação

natural em edifícios multi-familiares.

2 METODOLOGIA


Inicialmente está sendo realizada uma ampla revisão da literatura, que incluem consultas

em livros, manuais e normas, artigos de periódicos e anais de eventos, dissertações e teses,

a fim de se buscar outras pesquisas que abordem o tema.

A pesquisa se desenvolve com os dados climáticos da cidade de Maceió - AL, que está

localizado na região nordeste do Brasil e faz parte da zona bioclimática 8. O clima da

localidade é quente e úmido, e a estratégia bioclimática recomendada para região, de

acordo com a NBR 15575 (ABNT, 2013) é a ventilação natural.

Para objeto de estudo está sendo selecionado uma edificação multi-familiar com forma,

geometria e tipologia que sejam representativas das edificações construídas na região. A

princípio pretende-se estudar edifícios verticais de até três andares em formato “H”.

Outras variáveis ainda referentes a definição do objeto ainda estão em análise.

Os principais procedimentos que serão adotados durante a pesquisa incluem a

simplificação de equações da dinâmica dos fluídos e a simulação computacional em

ambiente CFD. A dinâmica dos fluidos computacional (CFD) será empregada para

determinar os coeficientes críticos de ventilação em função das informações do vento e do

edifício. Além de uma análise quantitativa também será possível obter uma análise

qualitativa de como ocorre a distribuição da ventilação natural nos ambientes. As

ferramentas CFDs que estão sendo cogitadas para utilização nesta etapa da pesquisa são

os Softwares Ansys CFX 18.1 e PHOENICS VR 3.6.1.

3 RESULTADS ESPERADOS

Como resultado dessa pesquisa espera-se obter parâmetros mínimos de projeto que

garantam níveis de ventilação natural capazes de satisfazer as necessidades de conforto

do usuário. Cabe destacar que outro resultado importante a ser obtido é um método que

permita a avaliação de maneira simplificada da ventilação natural nesse tipo de edificação.

27


28

Referências Bibliográficas

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2014.

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30


Níveis de desempenho acústico para escolas de

ensino fundamental: metodologia e aplicação

DOUTORADO | Linha 2 | Tecnologias

Selma Patrícia Bandeira Mendes Costa

sel_bandeira@hotmail.com

Orientadora: Profa. Dra. Maria Lúcia Gondim da Rosa Oiticica.

Palavras-chave: Classificação acústica para escolas; Conforto acústico em escolas; Desempenho

acústico em escolas; Níveis de conforto acústico para escolas.

A poluição sonora tem uma motivação relevante sobre a capacidade de concentração,

influenciando, consequentemente, a produtividade das pessoas. O conforto acústico

perpassa por esferas diferentes envolvendo: a escala urbana, a escala do edifício, a escala

do ambiente, e a escala do usuário, que estão intimamente relacionadas entre si. Sob essa

ótica o desempenho acústico das edificações deverá propiciar a minimização das condições

desfavoráveis visando reduzir os ruídos que podem comprometer a audição e provocar

desconforto, através de um isolamento acústico eficiente. Bem como, proporcionar a

equalização do tempo de reverberação e a inteligibilidade da palavra em ambientes

internos, por meio de um condicionamento sonoro adequado. A relação entre isolamento

e condicionamento sonoros se torna mais estreita em ambientes nos quais a fala

representa o principal meio de comunicação, como nas escolas. Por intermédio do discurso

falado entre o aluno e o professor ocorre a transmissão do conhecimento, viabilizando o

processo de aprendizagem. Em espaços escolares ineficientes do ponto de vista acústico,

há uma tendência para o comprometimento da comunicação entre as pessoas, das

interações sociais, e dos processos cognitivos. O ruído configura-se como obstáculo à

aprendizagem, influenciando na qualidade da educação e afetando de forma expressiva o

31


32

desempenho das atividades, a concentração e a inteligibilidade da fala. As normas técnicas

de referência e a legislação são instrumentos fundamentais para assegurar os índices

salubres de exposição ao ruído, e os critérios mínimos de conforto acústico nas edificações.

Contudo no Brasil, não são intrínsecas no que tange a edificações escolares. Apesar do

avanço nas pesquisas dos aspectos físicos e espaciais em ambientes escolares, não existe

na atualidade metodologia específica para avaliação da qualidade acústica em salas de aula

e sua relação com o processo pedagógico, que envolva todas as escalas relacionadas ao

conforto acústico. Dessa forma, o presente trabalho tem como objetivo geral propor uma

metodologia de avalição do desempenho acústico sob a ótica do processo de ensinoaprendizagem

para escolas de ensino fundamental, apresentando um parâmetro para

níveis de classificação de conforto acústico, com o propósito de aplicar essa metodologia

em escolas públicas na cidade de Maceió/AL. A investigação será estruturada a partir de

quatro eixos: Eixo 1- Teoria: Construção das bases teóricas e operacionais a se refere o

estudo em questão e especificação das suas dimensões, com a finalidade de definir as

variáveis, que são os pré-requisitos gerais e específicos, classificando-as em grupos ou

sistemas; Eixo 2 – Desenvolvimento: Confecção de um modelo hierárquico (matriz) dos

pré-requisitos gerais e específicos e suas relações; Modelagem e simulação

computacionais em cenários hipotéticos, realizadas nas quatro escalas inerentes ao

conforto acústico, por meio de softwares específicos para cada escala; Estruturação de um

questionário de pesquisa a ser aplicado via método Delphi; Eixo 3-Proposta: Utilização do

método Dephi e análise das respostas dos especialistas, e das estimativas do desempenho

acústico dos cenários hipotéticos, vislumbrando ponderar o peso das variáveis;

Apresentação da metodologia de avaliação de desempenho acústico em escolas de ensino

fundamental, através de uma equação geral do nível de eficiência acústica da edificação,

segundo conceitos de probabilidade e estatística; Exibição de um parâmetro para níveis de

classificação de conforto acústico (etiquetagem); Eixo 4 – Validação: Aplicação da

metodologia proposta em escolas públicas de ensino fundamental na cidade de Maceió/AL,

com a intenção de validar a metodologia traçada, a fim de determinar as classes de

desempenho acústico, confrontando os resultados com técnicas de APO, possibilitando


verificar relação entre o conforto obtido, e o conforto desejado pelos usuários. Os

resultados esperados com a investigação pretendem produzir evidências para a

conscientização da necessidade da elaboração de normas acústicas especificas para

edificações escolares no Brasil, a partir da apresentação de níveis de desempenho, que

podem fundamentar essas futuras normativas. Espera-se que a pesquisa contribua com

instrumentos para a produção, gestão e avaliação da arquitetura voltada para edificações

escolares, sob a ótica da influência do ruído no processo de ensino-aprendizagem,

incentivando a aplicação desses conhecimentos, em novos projetos, adequações,

ampliações e reformas, fomentando a reflexão acerca da prioridade do tratamento

acústico para essa tipologia. Os impactos econômicos e sociais estão vinculados a um maior

desempenho dos alunos e consequentemente o aperfeiçoamento do conhecimento e

redução dos índices de reprovação. Tal conduta de projeto arquitetônico motivaria as

gestões municipais, estaduais e privadas a implantarem a classificação acústica, mediante

as informações disponíveis nessa pesquisa.

33

Referências Bibliográficas

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Parâmetros de iluminação para área de preparação

de medicamentos em hospitais na cidade de Maceió

DOUTORADO | Linha 2 | Tecnologias

Sofia Campos Christopoulos

sofia_camposs@hotmail.com

Orientador: Prof. Dr. Ricardo Carvalho Cabús

Palavras-chave: iluminação natural; hospitais; farmácia

INTRODUÇÃO

Um estudo sobre iluminação em hospitais requer a compreensão de sua conformação e

das relações existentes nos projetos dos edifícios de saúde. Os hospitais contemporâneos

são o resultado de uma longa evolução histórica, onde a iluminação ficou por muito tempo

subordinada à arquitetura sacra, sofrendo as limitações estruturais e tecnológicas

impostas por seus modelos (PECCIN, 2002).

A luz do dia pode substituir a iluminação artificial e economizar eletricidade, mas pode ser

igualmente importante nos aspectos como a natureza mutável da luz, a composição

espectral e a comunicação visual associada às janelas, fatores importantes quando se trata

de ambientes hospitalares (BAKER e STEEMERS, 2002). Concomitantemente, é preciso

estar atento, pois níveis muito altos de radiação trazem consigo uma carga térmica

elevada, desconforto visual e até problemas de saúde.

É esse cuidado que deve ser pensado no âmbito da farmacologia, onde a literatura indica

que se a fonte de iluminação for natural, é necessário evitar a incidência direta dos raios

solares, evitando assim que os medicamentos se deteriorem (BRASIL, 2003).

39


40

PROBLEMÁTICA

No Brasil, não há normas nem parâmetros que tratem de iluminação hospitalar. No

contexto mundial, há recomendações específicas para iluminação hospitalar, como o The

Lighting Handbook (IESNA, 2011) e o Lighting Guide (CIBSE, 2008), mas esses parâmetros

foram criados para países com climas e realidades diferentes.

Em conversa com pessoas da área médica, entendeu-se que esse é um problema real de

ambientes hospitalares e que está conectado com erros na manipulação de

medicamentos.

Não há dados que relacionem diretamente esses erros com a iluminação, porque é muito

difícil identificar um fator isolado que seja o único responsável pelo erro, mas os artigos

colocam a falta de iluminação como um dos elementos que levam a identificar um grande

número de erros médicos em hospitais.

No The Lighting Handbook (IESNA, 2011), diz que onde quer que os medicamentos sejam

armazenados, processados e distribuídos, a iluminação deve abordar as tarefas de leitura,

codificação e dosagem.

Entendendo a existência desses problemas, esse trabalho busca estabelecer parâmetros

de iluminação para áreas de preparação de medicamentos hospitalares que sirvam para

realidade de Maceió.

METODOLOGIA

Os procedimentos metodológicos adotados serão descritos abaixo.

Revisão de Literatura

Está direcionada à construção das bases teóricas que subsidiam o desenvolvimento da

pesquisa.

Escolha dos objetos de estudo


A The Lighting Handbook (IESNA, 2011) divide o setor de medicamentos em quatro

ambientes. O presente estudo é sobre a área de preparação de medicamentos e como

objeto de estudo foram escolhidos cinco edifícios hospitalares públicos situados na cidade

de Maceió.

Coleta de dados

No levantamento de informações acerca dos estudos de caso serão analisados as relações

de disponibilidade de iluminação natural dentro dos ambientes, o comportamento da

iluminação artificial no interior desses ambientes e medições no local.

O diagrama morfológico será elaborado para a caracterização dos edifícios e espaços

estudados (AMORIM, 2007). Os dados também serão coletados a partir de observações

diretas: abordagem cognitiva-comportamental. Considera-se aqui a postura de observação

participante com registro fotográfico, anotações e elaboração de mapa comportamental

(MATURANA, 2001).

Por fim, serão realizadas entrevistas estruturadas e aplicação de questionários com equipe

da farmácia.

Modelagem computacional

Será utilizado o programa computacional Troplux para a simulação e modelação, para

caracterizar e aferir os níveis de iluminação do ambiente.

Desenvolvimento de metodologias

Os indicadores que servirão como base para o estudo são: Iluminância média anual,

Uniformidade média anual, Autonomia de luz natural especial e Exposição solar anual. O

período de estudo para aplicação do método recomendado pela IESNA (2012) é de 10

horas diárias, durante todo o ano, das 8h às 18h.

RESULTADOS ESPERADOS

41


42

A partir da análise dos resultados se buscará a avaliação conjunta desses conhecimentos

adquiridos, e o seu rebatimento em um desenvolvimento de parâmetros de iluminação

para áreas de preparação de medicamentos em hospitais, a fim de obter informações

sobre quais as melhores condições de iluminação para áreas de preparação de

medicamentos em hospitais na cidade de Maceió.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A pesquisa demonstra que ainda não há parâmetros de iluminação para área de

preparação de medicamentos em hospitais no Brasil. Este trabalho pretende avançar ao

preencher essa lacuna existente no que diz respeito a iluminação em ambientes

hospitalares, contribuindo para uma melhor qualidade do espaço construído. Espera-se

que a pesquisa possa contribuir também com instrumentos para a produção, gestão e

avaliação da arquitetura voltada para saúde sob a ênfase da condição de iluminação.

Referências Bibliográficas

AMORIM, Cláudia Naves David. Diagrama morfológico Parte I: instrumento de análise e projeto

ambiental com uso de luz natural. Paranoá: cadernos de arquitetura e urbanismo, Brasília, n. 3,

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43


44


Parâmetros técnicos normativos brasileiros

destinados à acessibilidade de pessoas com

deficiência visual: uma abordagem acerca da

detecção da sinalização tátil de piso por meio da

bengala longa

DOUTORADO | Linha 2 | Tecnologias

Diva Carolina A.de Assis

divacarolina.arq@gmail.com

Orientadora: Profa. Dra. Suzann Flávia Cordeiro de Lima

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Palavras-chave: acessibilidade; orientação e mobilidade; pisos táteis; normas técnicas de

acessibilidade; deficiência visual

Vivemos em uma sociedade essencialmente visual na qual a visão é considerada o mais

importante dos cinco sentidos, sendo ela primordial à mobilidade daqueles que enxergam.

Pessoas com deficiência visual pertencem a um grupo que necessita de ajustes muito

singulares para o seu movimento, já que eles utilizam seus sentidos remanescentes,

através da sinestesia, para capturar informações do ambiente e assim poder se deslocar.

Desta forma, o espaço construído deve ter as especificidades projetuais necessárias, com

elementos arquitetônicos dispostos de forma criteriosa, para que atendam

satisfatoriamente ao público em questão, fornecendo orientabilidade e segurança durante

a realização autônoma do trajeto. No Brasil, as normas técnicas brasileiras de

acessibilidade foram sendo aprimorada ao longo de 30 anos, sempre objetivando


46

direcionar melhorias e adequações projetuais de modo que todas as pessoas,

independentemente da situação física ou sensorial, possam se relacionar com o ambiente

construído de forma autônoma e confortável. As normativas técnicas buscam abranger

situações específicas de diversas deficiências ou limitações corpóreas. No que tange a

deficiência visual, os aspectos normativos são singulares. Em 1965 foi criado no Japão

indicadores de superfície de caminhada tátil que hoje são amplamente utilizados em

diversos países do mundo. No Brasil, essa sinalização é normalizada pela Associação

Brasileira de Normas Técnicas – ABNT e é considerada como a mais eficaz forma de

comunicar o percurso às pessoas com deficiência visual usuárias de bengala longa. No

entanto, em pesquisa de mestrado realizada por essa discente, foi verificado que essa não

está sendo a principal forma de comunicação do percurso para esses usuários. (ASSIS,

2018) Através desse estudo pode-se observar que muitas vezes a pavimentação tátil

parece ser instalada em situações nas quais a colocação de um design mais ponderado,

com elementos de guiamento e de orientação naturais do espaço urbano, como muros e

guias de balizamento, poderia ter melhor usabilidade e promover mais acessibilidade e

segurança aos usuários de bengala longa. É preciso avaliar quando há de fato necessidade

dessas aplicações da sinalização tátil direcional no piso ou quando os elementos do

ambiente podem suprir o referencial orientativo às pessoas com deficiência visual. Essa

avaliação deve ocorrer com a investigação direta do comportamento do sujeito no

ambiente construído para que posteriormente as informações sejam sistematizadas nas

normas técnicas. A validação de forma científica de parâmetros técnicos normativos

referentes à acessibilidade de pessoas com deficiência visual no Brasil faz-se necessária,

visto que os equipamentos e treinos de mobilidade podem ser diferente entre os países,

resultando em diferentes técnicas de locomoção e rastreamento do espaço. Necessário

que haja congruência entre a forma de reconhecimento espacial do usuário de bengala

longa e as pistas táteis que serão por ele utilizadas para reconhecimento do percurso,

sendo que estas devem estar dispostas de forma criteriosa e intencional pelo projetista.

Diante do cenário apresentado surgem as perguntas da pesquisa: a sinalização tátil de piso,

nos parâmetros dispostos em normas técnicas brasileiras atende, em termos de


usabilidade, conforto e acessibilidade, às pessoas com deficiência visual usuárias de

bengala longa? Essas diretrizes, quando aplicadas na cidade, são suficientemente

detectáveis pelo usuário de forma que se tornem seu elemento orientativo principal

durante sua jornada? O objetivo geral da pesquisa é avaliar parâmetros normativos de

sinalização tátil de piso existentes no Brasil, em termos de usabilidade e eficiência, sob uma

abordagem ergonômica em função do uso da bengala longa e do tipo de ponteira adotada,

para sugestão de promoção de acréscimos ou decréscimos de itens técnicos normativos

adotados na legislação brasileira. Trata-se de uma pesquisa tipo explicativa, com uma

abordagem quantitativa. Procura-se obter dados estatísticos entendendo-os como

necessários para compreensão da problemática, sob os aspectos de abrangência e

frequência com que ocorrem os fenômenos. O sujeito da pesquisa é a pessoa que se

enquadre nos critérios legais brasileiros de deficiência visual, que seja usuária de bengala

longa, maior de idade, que tenha feito reabilitação em orientação e mobilidade e que se

desloque com autonomia e independência pela cidade sem acompanhamento constante

de guia vidente. Excluem-se da pesquisa os menores de 18 anos, pessoas idosas acima de

70 anos e pessoas que tenham múltiplas deficiências, sejam físicas, sensoriais ou

cognitivas, como a pessoa surdocega. A amostragem será do tipo não-probabilística

intencional, onde o pesquisador usa seu julgamento para selecionar membros da

população que possam fornecer informações relevantes. A pesquisa terá caráter aplicado

pois seus resultados poderão ser aplicados ou utilizados diretamente para revisões

normativas futuras.

47

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BRASIL. Lei no 13.146 de 6 de julho de 2015. Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil, Poder

Executivo, Brasília, DF, 07. jul 2015.Seção 1, p. 2. Disponível em: <

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49


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52


A cidade oculta dentro de si: A complexa existência

do urbano Maceió.

MESTRADO | Linha 1 | Conceituação, percepção e representação do espaço

habitado

Ana Karolina Barbosa Corado Carneiro

karolcorado@gmail.com

Orientadora: Profa. Dra. Maria Angélica da Silva

Palavras-chave: Cidades; Urbanidades sonoras; Grotas; Periferia urbana.

Esta dissertação busca colaborar com a construção de um método alternativo de estudar

as cidades, ao extrapolar os sentidos que definem a urbanização, e observar urbanidades

evocadas através dos sons em Maceió (AL). A cidade, tem seu solo escavado por capilares

de inúmeras lagoas e rios, provocando a formação de grotas, vales profundos que

penetram as partes altas do planalto. Ecoa desta morfologia espaços subterrâneos,

abafados e por vezes imaginários, que indicam também o lugar de grande parte da pobreza

da capital alagoana, marcada por uma apropriação histórica e progressiva.

Segundo dados da ONU Habitat (2019), Alagoas é o estado do Brasil com o menor Índice

de Desenvolvimento Humano Municipal (0,631), e apresenta, em termos percentuais,

cerca de 60% da população vulnerável à pobreza e 16,6% na extrema pobreza. A capital do

estado alagoano contém 12% da sua população residente em assentamentos precários,

destes, há um total de 100 assentamentos localizados em grotas. Apesar da importância

destes dados para quantificar proporções da miséria em nossa cidade, a construção do

estudo da pobreza urbana da maneira como é geralmente feita, dentro de uma lógica

movida pelo capital, enrijece uma conduta demarcada e dicotômica de suas propriedades,

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54

o que auxilia no silenciamento e na perpetuação dos processos de atuação e percepção da

mesma.

O Vale do Reginaldo funciona neste trabalho como uma referência desses borrões ocultos

que estruturam e se espalham na cidade, friccionando sua conduta conforme se aprofunda

o observar das experiências, saberes e características de sua população. Portanto, o que

se deduz é que a grota não terminar nela. A grota é a cidade. A busca por permear e

compreender um pouco mais sobre as estratégias de sobrevivência nesta periferia

“central”, que se encontra escavada no coração da cidade, e assim acessar cavidades deste

bloco até então homogeneizado, desencadeou no rastreamento das práticas, caminhos,

mediações e ligações que esbarram no cotidiano dos pobres urbanos para além dos limites

geográficos das grotas. Apesar de postos como simbologias praticamente inertes, estas

pessoas não apenas atravessam os territórios negados a elas, como criam redes e

perturbam as paisagens. Ebulições que explodem o significado de interno.

Atentar ao modo como as periferias se expandem pela cidade através do som e o que este

denuncia, desdobrando os territórios pela própria percepção, em um método

fenomenológico, permite compreender seus modos de acesso em espaços não de exceção

mas de intercessão urbana. A abordagem qualitativa e de forte conteúdo etnográfico, teve

como principais ferramentas visitas de campo, diálogos, desenhos, fotografias, mas

principalmente a escuta. Esta se revelou uma ferramenta bastante operativa e

transformou o som na ferramenta prioritária desta dissertação.

Sob este prima. O capítulo um, “Vales ressoantes e abertos”, desdobrará as definições e

sentidos atribuídos as pessoas e paisagens que vivem no Vale do Reginaldo. Os algoritmos

referentes ao lugar compõem um sistema estéreo, um emaranhado de ruídos que

coexistem e se reconfiguram. As percepções são inflamadas nestes espaços, e ao perseguilas

entre a malha urbana, nota-se como vida e trabalho se cruzam numa relação uníssona,

camuflando-se como um suporte à própria sobrevivência. Esta é a questão tratada no

capítulo dois, que leva o título “Camuflagens e perturbações”. O capítulo três, “Gritos em

ranhuras”, aprofunda-se nas cavidades das grotas, e na condição insalubre a que os corpos


são forçados a se colocarem, gerando um ciclo da miséria. O consumo de animais criados

em meio as marcas nos solos (tripas, merdas, lixo) e no ar (fedor inflamado pelo clima

quente), facilmente se prolonga aos corpos e adquire um simbolismo da auto aniquilação.

Sua própria estratégia de sobrevivência definha a vida, ao absorverem o que é descartado,

espelham a decomposição em sua própria carne.

Por fim, o capítulo quatro “Ecos por Maceió”, apresenta um balanço do trabalho, que

reflete sobre essas complexidades formadas por grotas que camuflam a pobreza nos

territórios e paisagens da cidade. As reações a esses abafamentos não deixam de

reverberar de forma sutil mas potente no meio urbano e permeiam não só o imaginário

mas atuam ativamente na construção de Maceió. Muito além de reduto da violência, o

Vale constrói e ativa a cidade, inclusive economicamente. Ao perseguir seus ruídos,

escutando-os, é possível gerar novas reflexões para os meus pares, e assim desconstruir e

reconstruir os métodos de atuação do arquiteto e urbanista na cidade, potencializando

ações mais abertas e includentes.

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Referências Bibliográficas

AGIER, M. Encontros Etnográficos: interação, contexto, comparação. São Paulo: Editora Unesp;

Alagoas: EDUFAL, 2015.

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DIDI-HUBERMAN, G. Cascas. Tradução André Telles. São Paulo: Editora 34, 2017.

GLEDHILL, J.; HITA, M. G.; PERELMAN, M. Disputas em torno do espaço urbano: processos de

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JACQUES, P. B.; PEREIRA, M. D. S. Nebulosas do pensamento urbanístico: tomo I - modos de pensar.

Salvador: EDUFBA, 2018. 335 p.

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RIBEIRO, A.C.T.; SILVA, C.A. da; CAMPOS, A. de O. (Orgs.) Cartografia da ação social e movimentos

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SANTOS, M. Pensando o Espaço do Homem. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, 2004.

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SARLO, B. A cidade vista: mercadorias e cultura urbana. São Paulo: Editora WMF Martins Fontes,

2014.

SOARES, Luis Eduardo; BILL, MV; ATHAÍDE, Celso. Cabeça de Porco, Rio de Janeiro: Objetiva, 2005.


Arquitetura moderna em Maceió: registros da

memória.

MESTRADO | Linha 1 | Conceituação, percepção e representação do espaço

habitado

Tamires Aleixo Cassella

tamiresacassella@gmail.com

Orientadora: Profa. Dra. Roseline Vanessa Santos Oliveira

Palavras-chave: Patrimônio arquitetônico; Fotografia de arquitetura; Modernismo em Maceió.

A cidade de Maceió, Alagoas, conta com mais de trinta tombamentos, em nível estadual,

em edificações de vários períodos. Dentre elas, há somente um exemplar modernista – o

Palácio dos Trabalhadores – o qual foi tombado, prioritariamente, em razão da sua

representatividade política da força sindical (decreto nº 37.934 de 28/12/98). Em âmbito

municipal, a cidade conta atualmente com 56 Unidades Especiais de Preservação (UEPs),

compostas por exemplares de diversas épocas, inclusive relativos ao Movimento Moderno.

Contudo, apesar de algumas destas obras estarem incluídas na medida de proteção do

Plano Diretor, parte desse conjunto está modificado, abandonado e, até, destruído, a

exemplo da recente demolição da antiga residência Afonso Lucena, UEP número 27. Sabese

que resguardar e preservar o patrimônio arquitetônico são algumas das formas mais

conhecidas para que se possa referenciar, de geração para geração, a história de uma

sociedade. Porém, quando a paisagem edificada se esvai, temos o seu registro que, de

alguma maneira, a fixa. Nesse sentido, poderia a fotografia de arquitetura contribuir para

a manutenção da memória da cidade de Maceió no que diz respeito à preservação do

patrimônio moderno? E se o registro fotográfico ajudar a preservar a memória de uma

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cidade, qual história as imagens podem contar sobre a modernidade em Maceió? Acreditase

que a fotografia, enquanto documentação, marca no tempo a arquitetura e faz com

que, mesmo se ela deixar de existir fisicamente, sua memória possa permanecer na

história, fazendo da imagem por si só um patrimônio, portanto, um bem a ser preservado.

Assim, esta dissertação tem como proposta compreender a memória da Arquitetura

Moderna da cidade de Maceió através da fotografia e, com isso, contribuir para a

ampliação da documentação desse movimento e da própria história da cidade. Para tanto,

partiu-se da revisão de literatura sobre os temas: patrimônio edificado, tempo, memória,

fotografia e arquitetura moderna. Após esta etapa, foi feita uma lista inicial com mais de

40 edificações modernistas da cidade (utilizando como base o livro “Arquitetura Moderna

– a atitude alagoana”, dissertações do DEHA e por escolha própria) e selecionou-se para o

estudo o conjunto edificado cujo endereço foi encontrado após pesquisas, composto por

32 edifícios, resultando em um mapa virtual disponível em: https://goo.gl/xZUaum. Uma

primeira impressão desse produto sugere que o percurso dessas construções foi bastante

esquecido ao longo dos anos e inúmeros prédios acabaram sendo praticamente apagados

da história da cidade. Iniciou-se também a busca por conteúdo iconográfico existente da

modernidade em periódicos, jornais e livros da época, os quais indicam que, a julgar pelo

contraste com suas atuais condições, a arquitetura moderna tenha nos tempos áureos de

mudança do passado o seu maior legado, composto não exclusivamente por contribuições

físicas, mas também pelo sentimento de avanço e mudança dos intelectuais da época na

cidade. A partir desse material, pretende-se realizar visitas in loco na intenção de verificar

o atual estado de preservação dos prédios em questão e produzir material fotográfico

como forma de contribuir com a história imagética dessa arquitetura em Maceió. Utilizarse-á

a fotografia também como experiência, onde em alguns pontos da cidade (Praça

Sinimbú; Praça dos Palmares; Rua do Livramento; Praça das Graças), os participantes

deverão selecionar uma edificação para registrar e, feito isso, responderão um

questionário justificando a sua escolha, o qual incluirá perguntas como: por que você

escolheu essa edificação? Você acredita que ela deva ser preservada? E a imagem desse

edifício, ela é importante? Segundo MORTIMER (2017) “dar a ver o invisível sugere tanto


construir visibilidades ao que não é percebido corriqueiramente, sobretudo na esfera

social, quanto atualizar ou evidenciar em imagens a dimensão do desconhecido, do que

nos foge ao controle do conhecimento e que constitui igualmente o mundo.” (p. 96) E é,

talvez, com isso, que a memória possa transformar-se em história. Dessa maneira, a

abordagem da fotografia na presente pesquisa justifica-se não apenas pela relevância em

catalogar as situações contemporâneas dos exemplares previamente citados, como

também por construir uma narrativa sobre a arquitetura moderna enquanto patrimônio,

na tentativa de entender que espaço ocupou e ocupa o moderno na história de Maceió.

Rastrear e registrar suas trajetórias para, então, contribuir e dar importância a essa

memória é o que se espera deste estudo, o qual toma a fotografia como via de acesso ao

passado e presente de uma paisagem que, cada vez mais, morre na cidade.

Referências Bibliográficas

AMARAL, Vanine. Expressões Arquitetônicas de Modernidade em Maceió: uma perspectiva de

preservação. 2009. 176 p. Dissertação de Mestrado – Faculdade de Arquitetura e Urbanismo,

Universidade Federal de Alagoas, Maceió, 2009.

CASSELLA, Tamires. ENTRE O ETERNO E O EFÊMERO: revisando o reconhecimento patrimonial da

Arquitetura Moderna em Maceió-AL. 2017. 93p. Trabalho final de graduação - Faculdade de

Arquitetura e Urbanismo, Universidade Federal de Alagoas, 2017.

MORTIMER, Junia. Arquiteturas do olhar: imaginários fotográficos do espaço construído. Belo

Horizonte: C/Arte, 2017. 268 p.

SILVA, Maria Angélica da. Arquitetura Moderna: A Atitude Alagoana. Maceió: SERGASA, 1991.

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Memórias de praças do bairro da Ponta Grossa –

Maceió/AL a partir de percepções e representações

da “Cidade Sorriso” idealizada na gestão do prefeito

Sandoval Caju (1961-1964)

MESTRADO | Linha 1 | Conceituação, percepção e representação do espaço

habitado

Henrique Eugênio de Carvalho Gomes

henriquegomesarq@yahoo.com.br

Orientadora: Profa. Dra. Josemary Omena Passos Ferrare

Palavras-chave: Memória; Sandoval Caju; Praças de Maceió; Ponta Grossa; Patrimônio Histórico.

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As memórias constituídas a partir das relações estabelecidas entre pessoas e um

determinado espaço são importantes mecanismos para a construção de um pensamento

histórico que possibilite o entendimento da ação do tempo na cidade ou de um conjunto

de acontecimentos históricos relevantes. A partir dessa ideia de memória, considerações

e questionamentos tem sido propostos por estudiosos, filósofos, cientistas sociais e

historiadores, que entendem a relação entre espaço, tempo e homem como ponto nodal

da hoje imprescindível reflexão sobre memória coletiva e suas relações com a história.

Assim, a presente dissertação utiliza-se de considerações produzidas por teóricos que

pesquisam essa temática, a exemplo de, Nora (1993), Benjamin (1995), Le Goff (1990),

Ecléa Bose (1994) e Willi Bolle (1994) para construir reflexões sobre o Bairro da Ponta

Grossa nos anos 1960, recorte estabelecido para o estudo, observando impactos e relações


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produzidas quando na gestão do prefeito Sandoval Caju (1961 a 1964) o local foi provido

de oito novas praças entre construídas e reformadas, procurando expor a

representatividade histórica e ressonância destes conjuntos arquitetônicos junto aos

moradores do bairro na época através de suas memórias pessoais, suas apropriações

cotidianas e investigando as posteriores modificações e ressignificâncias sofridas por esses

espaços, relacionando memória e história num contexto amplo e significativo.

Essas praças, expoentes da “Cidade Sorriso”, alcunha que o político costumava utilizar em

seus discursos onde prometia restituir o “sorriso” a cidade de Maceió, constituíram um

importante marco para a conformação que o bairro adquiriu naquele momento,

imprimindo um novo caráter morfológico e estrutural ao local. Elas definiram uma ruptura

no desenho da paisagem da Ponta grossa, uma novidade, uma inovação. Apresentavam

simbologia única, representando o caráter populista do prefeito, enquanto exibiam em

seus equipamentos constituintes o “S” de Sandoval ou de sorriso, como ele preferia dizer

e estética personalista nos materiais que eram utilizados em suas composições como o

azulejo colorido, o concreto armado e o marmorite.

Contudo, as arquiteturas do ideário do então prefeito, não encontraram ecos como

repertório merecedor de manutenção/preservação, estando hoje, já distantes de qualquer

ordenamento, devido as várias intervenções sofridas em seus elementos arquitetônicos

constituintes, as formas de apropriação por parte das administrações públicas

conseguintes e ainda as mudanças de atividades de seus entornos.

Dada a sua natureza qualitativa, a pesquisa procura analisar esses espaços públicos

historicamente, investigando as relações estabelecidas entre eles e os moradores do bairro

da Ponta Grossa. Seus processos de transformação pós 1964 e os fatores que contribuíram

para sua descaracterização, procurando constatar a importância desses espaços para a

memória do bairro e de sua população e, decorrentemente, de Maceió.

Para isso, foram estabelecidos como procedimentos metodológicos visitas ao bairro para

estudos de campo com o objetivo de entender conformidades espaciais particulares das


praças e seus entornos; levantamento fotográfico; entrevistas semiestruturadas de história

oral com moradores do bairro; pesquisa documental em arquivos e hemerotecas para

percepção e apreensão dos pormenores projectuais das áreas físicas e aspectos

morfológicos particulares e revisão bibliográfica sobre temas pertinentes ao

desenvolvimento da dissertação; para finalmente constituir uma análise do conteúdo

coletado numa perspectiva plural e heterogênea que melhor aproxime a pesquisa da

realidade que este estudo busca compreender.

A interpretação desses espaços coletivos e suas especificidades, transformações e

ressignificâncias se faz necessário para o entendimento dos processos de evolução,

configuração e reconfiguração histórica e mnemônicas de espaços públicos de Maceió. Por

que, de ícones de um apogeu imagético silenciaram, totalmente? Que fatores alimentaram

esse processo?

Nesse sentido, a pesquisa busca investigar meios de acesso ao real significado dessas

arquiteturas e as relações entre as mesmas e a paisagem, identificando territórios e

representações possíveis a partir de memorias de moradores entrevistados, examinando

realidades diversas, sentimentos opostos, multiplicidades e singularidades de modo a

produzir percepções e entendimentos sobre esses importantes marcos de um período da

História da cidade de Maceió, já que “ essa arquitetura identifica pactos políticos e anseios

solidários rumo ao novo e poderia ser mantida enquanto testemunha viva de pedaços de

uma história acontecida se fosse descartada uma visão maniqueísta da memória” (DA

SILVA, 1991, p.246), fomentando estudos posteriores sobre a potencialidade desses

conjuntos, ou o que resta deles, passarem a ser preservados como patrimônio histórico.

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Referências Bibliográficas


64

BENJAMIN, Walter. Obras Escolhidas: Magia e Técnica, Arte e Política. Volume 1, 3.ed. São Paulo:

Editora Brasiliense, 1987.

BOLLE, Willi. Fisiognomia da Metrópole Moderna. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo,

1994.

BORGES, Vanine. Expressões Arquitetônicas da Modernidade em Maceió: Umas Perspectiva de

Preservação. Maceió: FAPEAL: imprensa Oficial Graciliano Ramos, 2018

BOSI, Ecléa. Memória e Sociedade: lembranças de velhos. 3.ed. São Paulo: Companhia das Letras,

1994.

CAJÚ, Sandoval. O Conversador (memórias). Maceió: SERGASA. 2.ed, 1991.

LE GOFF, Jacques. História e Memória. Campinas, SP: Editora da UNICAMP, 1990.

NORA, Pierre. Entre Memória e História: a problemática dos lugares. In: Les liex de mémoire. I La

République, Paris: Editions Gallimard, 1984, p.18 – 42.

SILVA, Maria Angélica da. Arquitetura Moderna: a atitude alagoana. Maceió: SERGASA, 1991.


O percurso das áreas livres de uso público: ideias,

projetos e intervenções no bairro Centro, Maceió-AL

MESTRADO | Linha 1 | Conceituação, percepção e representação do espaço

habitado

Tuanne Monteiro de Carvalho

tuannemdc@gmail.com

Orientador: Prof. Dr. Geraldo Majela Gaudêncio Faria

Palavras-chave: Centro de Maceió; Áreas Livres; Patrimônio Urbano.

Introdução:

A história de Maceió, capital do estado de Alagoas, está intrinsecamente ligada ao bairro

Centro, desde a gênese da cidade, no início do século XIX, o bairro estabeleceu-se como

palco de importantes acontecimentos. Data-se que foi no pátio de um engenho, nas

proximidades da atual Praça Dom Pedro II, que se constituiu o primeiro povoado de Maceió

(COSTA,1981). Por situar-se em uma rota de escoamento de produtos agrícolas para o

Porto de Jaraguá o, então, povoado passou a progredir determinado por uma forte

dinâmica mercantil, tornou-se vila em 1815 e, posteriormente, capital do estado de

Alagoas em 1839. Ainda hoje, o bairro Centro apresenta um papel relevante no âmbito

municipal e estadual, pois, articula diversos atores e atividades, abriga uma importante

área comercial, de serviços e institucional. Contudo, ao longo das últimas décadas o bairro

sofreu mudanças na sua função territorial e, seguindo a tendência de outras capitais

brasileiras (NAKANO, 2012), Maceió obteve um expressivo crescimento periférico e um

esvaziamento populacional na sua área do central. Nesse contexto, a ideia do bairro

enquanto patrimônio é reconhecida, sobretudo relativamente à necessidade de

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manutenção de seu conjunto de edifícios ecléticos, por outro, as propostas públicas

sugerem uma sutil fragilidade no entendimento do termo quando se observa a feição das

intervenções que envolvem suas áreas livres de uso público as quais são redesenhadas,

dilaceradas, revestidas e recorrentemente constrangidas pelos movimentos de veículos

motorizados. Assim, esta pesquisa tem como objetivo geral compreender o percurso das

áreas livres de uso públicos do bairro de Centro de Maceió-AL.

Metodologia:

Os procedimentos metodológicos adotados até essa etapa da pesquisa consistiram,

primeiramente, na revisão da literatura e compreensão acerca do contexto histórico,

socioeconômico e político do bairro Centro e da cidade de Maceió, por meio de livros,

publicações especializadas, teses, dissertações, entre outros. Por conseguinte, iniciou-se a

caracterização das áreas livres urbanas de uso público no bairro Centro, etapa que foi

desenvolvida na disciplina CID 101 – Temporalidade e Intervenções em Centros Históricos.

Onde foram realizadas visitas a campo para coleta de dados e aplicação da metodologia

SWOT (sistema para elaborar planejamento de ações estratégicas por meio da análise de

fatores positivo-negativos). Uma terceira etapa da pesquisa, ainda em fase inicial, visará

identificar as propostas (ideias, projetos e intervenções) elaboradas para as áreas livres,

por meio de pesquisa nos acervos históricos dos órgãos públicos responsáveis pela gestão

e manutenção da área, entre outros.

Resultados e discussões parciais:

Como resultados parciais, verificou-se uma vasta literatura acerca do bairro Centro, as

quais reforçam a sua importância histórica para a cidade de Maceió e sua região

metropolitana. O bairro em estudo é definido como Zona de Especial de Preservação (ZEP)

2 no plano Plano Diretor Municipal (2005), apresenta 27 Unidades Especiais de

Preservação (UEPs) e 12 edificações tombadas pelo estado, além da Praça Marechal

Floriano Peixoto (Praça dos Martírios) que é tombada como conjunto urbano. O caráter

comercial, marca da história do bairro, reverbera até os dias atuais, sendo um dos


principais pólos comerciais do estado, conta com cerca de 600 estabelecimentos

comerciais, dentre os quais empregam direta e indiretamente aproximadamente 7.000

pessoas, apresenta um vasto número de comerciantes informais, como ambulantes e

feirantes, distribuídos regular ou irregularmente entre nas ruas de maior tráfego de

pessoas e veículos e na área do atual Calçadão. Atestou-se também que o número de

moradores do bairro Centro alcança um valor inferior a 0,5% do total de habitantes do

município de Maceió (IBGE, 2010). A porcentagem, certamente, não reflete o real número

de pessoas que "habitam" a área em estudo diariamente, resultante das dinâmicas sociais

atreladas ao funcionamento comercial e de serviços. Nos resultados parciais da aplicação

da metodologia SWOT, pode-se identificar problemas relacionados à infraestrutura, um

número significativo de imóveis abandonados/subutilizados e um evidente contraste entre

o uso dos espaços públicos, onde as ruas apresentaram grande quantidade de pessoas e

mobiliários e, por outro lado, as praças indicaram uma dinâmica de uso muito menor.

Conclusão parcial:

Pretende-se no decorrer dessa pesquisa compreender as propostas elaboradas nas últimas

décadas para as áreas livres de uso público no bairro Centro, no sentido de historiar não

apenas o percurso paisagístico desse espaço de memória coletiva, como também para

oferecer subsídios para ampliação e aprofundamento da compreensão das áreas livres

enquanto patrimônio.

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Referências Bibliográficas

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68


Avaliação Pós-Ocupação em Habitação de Interesse

Social: estudo de Caso com ênfase no idoso na

cidade de Maceió-AL.

MESTRADO | Linha 2 | Concepção, construção e adequação do espaço habitado

Laís Ianara Souza Abreu de Vasconcelos

lais_vascon@hotmail.com

Orientadora: Profa. Dra. Morgana Maria Pitta Duarte Cavalcante

Palavras-chave: Idoso; Habitação de Interesse Social; Avaliação Pós-Ocupação

1. Introdução

O aumento da expectativa de vida da população no Brasil impacta em diversos aspectos a

sociedade. Também por consequência deste acréscimo, nota-se que a cidade exige uma

maior adequação em várias questões como acessibilidade e habitação voltadas à

população idosa.

Segundo o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, 2015) o número de idosos

no Brasil dobrou nos últimos 20 anos e dados comprovam que o país possui cerca de 23,5

milhões de brasileiros nesta faixa etária. De acordo com a OMS (Organização Mundial de

Saúde) em 2030, o Brasil terá a quinta população mais idosa do mundo. Dessa forma, os

dados levantados comprovam que o Brasil está envelhecendo e que existe a necessidade

de estudar sobre essa faixa etária.

Desde a Constituição Federal de 1988, existem leis que se referem ao idoso, porém,

percebe-se que os direitos avançaram de modo mais específico, com o decreto da Política

69


70

Nacional do Idoso (Lei nº. 8.842/1994) e com o Estatuto do Idoso (Lei nº. 10.741/2003) que

tem como objetivo promover uma integração das políticas públicas no âmbito municipal e

relacionando vários aspectos, como saúde, educação e moradia. Apesar do progresso notase

uma disparidade entre as leis suas aplicações.

Além das legislações mencionadas, a Norma Brasileira 9050 (NBR 9050), é a única norma

que estabelece critérios e parâmetros técnicos para a elaboração de projetos,

fundamentados no Desenho Universal e se refere às condições de acessibilidade, apesar

de não ser voltada só para o ancião.

Sabe-se que uma das questões que mais sensibilizam os idosos refere-se à moradia.

Conforme o conteúdo disponibilizado pela Secretaria Nacional de Habitação em 2008, o

país possuía um déficit habitacional de aproximadamente 5.546 milhões de domicílios

(BRASIL, 2011).

Com a intenção de amenizar o déficit habitacional no país, o Governo Federal lançou em

1960 o programa de Habitação de Interesse Social (HIS) e atualmente em parceria com a

Caixa Econômica Federal (CEF) implantou o Programa Minha Casa Minha Vida (PMCMV)

designada à construção de habitação popular (BRASIL, 2014).

Diante do exposto, a pesquisa tem como objetivo avaliar a qualidade ambiental com

destaque para a acessibilidade espacial em Habitação de Interesse Social (HIS) do Programa

Minha Casa Minha Vida (PMCMV) com ênfase no usuário idoso.

2. Metodologia

Com a intenção de alcançar os objetivos da pesquisa, foi escolhido o método de Avaliação

Pós-Ocupação (APO) que é fundamentado em uma abordagem de múltiplos métodos que

podem ser classificados em qualitativos e quantitativos.

Segundo Villa (2015), a avaliação pós-ocupação permite analisar o desempenho em uso de

edificações e ambientes construídos que leva em consideração não somente o ponto de

vista dos especialistas, mas também a satisfação dos usuários, possibilitando diagnósticos


consistentes e completos sobre os aspectos positivos e negativos encontrados nos

ambientes construídos e que irão fundamentar as recomendações e as intervenções para

os edifícios estudos de caso.

Dessa forma os procedimentos metodológicos elencados para aferir a qualidade

habitacional se darão com as seguintes etapas:

2.1 Levantamentos de dados

Informações iniciais sobre o objeto de estudo; dados sobre o programa habitacional;

localização dos empreendimentos; infraestrutura urbana instalada; aspectos relacionados

à mobilidade urbana; plantas e demais desenhos técnicos.

2.2 Walkthrough

Identificação de aspectos positivos e negativos do ambiente; objetivo: verificar a

percepção inicial dos espaços avaliados, as apropriações imediatas dos usuários

(moradores), às principais alterações realizadas nos espaços; possui três escalas de análise:

entorno, conjunto e unidade.

2.3 Questionário

Aferir o nível de satisfação geral dos moradores tanto em relação aos espaços privados –

relativos à unidade habitacional – quanto aos coletivos e públicos.

2.4 Análise de usos

Analisar o comportamento dos moradores nos espaços; objetivo: entender como se deu a

adequação funcional dos ambientes.

2.5 Matriz de descobertas

Identificar e analisar as descobertas.

3. Resultados esperados

71


Através do material obtido com a metodologia aplicada, buscam-se avaliar a qualidade do

ambiente construído, com a intenção de entender quais são as aspirações do usuário idoso.

4. Conclusão

É importante refletir sobre a habitação em todas as suas etapas e de extrema relevância,

principalmente com o aumento da expectativa de vida, entender as necessidades do

usuário idoso para que as futuras construções sejam mais adequadas.

72

Referências Bibliográficas

Referências

ABNT - ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 9050. Acessibilidade a edificações,

mobiliário, espaços e equipamentos urbanos. Rio de Janeiro, 2015.

BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília, DF: Senado

Federal; 1988.

BRASIL. Lei Federal nº 10.741, de 01 de outubro de 2003. Estatuto do Idoso. Brasília, DF: Secretaria

Especial dos Direitos Humanos, 2003.

BRASIL. Lei 8.842 de 04/01/1994. Política Nacional do Idoso. Brasília: MPAS, SAS, 1997.

BRASIL. Base de dados PMCMV. Brasilia: Ministerio das Cidades, 2012c.

CAMARANO, AA. TD 1840 – Estatuto do Idoso: Avanços com Contradições. Rio de Janeiro (RJ):

Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada; 2013.

GONÇALVES, T. G. O. Centros de atenção psicossocial álcool e drogas: abordagem arquitetônica de

um estudo de caso situado em Maceió-AL sob a ótica da avaliação pós-ocupação. Dissertação de

Mestrado. Universidade Federal de Alagoas, 2019.

HAZIN, M.M.V. Os espaços residenciais na percepção dos idosos ativos. Dissertação (Mestrado).

Programa de Pós-Graduação em Design, Universidade Federal de Pernambuco, Recife, 2012.


IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). Perfil dos Municípios Brasileiros. 2011.

Disponível em: ftp://ftp.ibge.gov.br/Perfil_Municipios/2011/munic2011.pdf. Acesso em: 30 jul.

2016.

LOURENÇO, R. B. B. Avaliação da acessibilidade espacial em instituições de longa permanência par

idosos com ênfase nas normas NBR 9050/ABNT e RDC Nº283/ANVISA - Estudo de caso nos abrigos

Casa do Pobre e Casa para Velhice Luiza de Marillac em Maceió/AL, 2016-2017. Dissertação de

Mestrado. Universidade Federal de Alagoas. Maceió, 2018.

MONTENEGRO, F. C. Avaliação dos Parâmetros de Acessibilidade Espacial para Idosos: Estudo de

Dois Apartamentos em Maceió - AL. Dissertação de Mestrado. Universidade Federal de Alagoas.

Maceió, 2013.

ONO, R; ORNSTEIN, S. W; VILLA, S.B; FRANÇA, A. J. G. L. Avaliação Pós-Ocupação na arquitetura, no

urbanismo e no design: da teoria à prática. 1.ed. São Paulo: Oficina de Textos, 2018, v. 1. 302p.

VILLA, S. B; ORNSTEIN, S. W. Qualidade Ambiental na Habitação: avaliação pós-ocupação. São Paulo:

Oficina de Textos, 2013.

YOSHIDA, D.M. Instrumento para avaliar a acessibilidade espacial na habitação destinada a

moradores idosos. Dissertação (Mestrado). Programa de Pós-Graduação em Arquitetura e

Urbanismo, Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho, Bauru, 2017.

73


74


Luz Natural e Habitação de Interesse Social: Impacto

de Reformas Autogeridas no Desempenho

Luminoso de Unidades Habitacionais do Conjunto

Jardim Royal em Maceió-AL

MESTRADO | Linha 2 | Concepção, construção e adequação do espaço habitado

Edilson Nunes dos Santos

ednunes2012@gmail.com

Orientador: Prof. Dr. Ricardo Carvalho Cabús

Palavras-chave: Iluminação Natural. Habitação de Interesse Social. Reformas Autogeridas.

75

INTRODUÇÃO:

Um ambiente com boas condições de iluminação natural melhora muito a qualidade de

vida dos usuários, trazendo uma ótima produtividade e economia. Porém, a má utilização

dessa estratégia pode ocasionar um alto índice de consumo energético, sendo que grande

parte da eletricidade é consumida durante o dia, horário com disponibilidade de luz natural

(FERRARI; SALES, 2012).

O consumo de energia elétrica afeta principalmente a população de baixa renda, a qual é

beneficiária de inúmeros programas habitacionais desenvolvidos pelo governo. Esses

programas têm sido criados por meio de políticas públicas que visam minimizar o déficit

habitacional brasileiro, através da construção de novas unidades habitacionais (PASSOS;

MELYNA; CABÚS, 2014).


76

Apesar dos benefícios gerados pelos programas habitacionais, a necessidade de produção

de habitações em massa e a baixos custos reduz a qualidade ambiental das residências,

gerando desconforto aos usuários, além de baixa eficiência energética. Outro fator que

agrava isso são as reformas autogeridas, adaptações promovidas pelos moradores, que

buscam suprir necessidades espaciais e funcionais das residências. Essas adaptações não

levam em conta aspectos como a iluminação natural, o que acaba comprometendo seu

desempenho.

Diante disso, é necessário verificar a qualidade das unidades habitacionais em relação à

iluminação natural, visto seu potencial em minimizar o consumo de energia elétrica e

demais benefícios à qualidade de vida dos moradores. Assim, o objetivo do trabalho é

avaliar o desempenho da iluminação natural em unidades habitacionais de um Conjunto

Residencial localizado em Maceió, antes e após reformas autogeridas.

METODOLOGIA:

Adotou-se como estudo de caso o Conjunto Residencial Jardim Royal, em Maceió/AL. Esse

conjunto foi implementado através do Programa Minha Casa Minha Vida e é composto por

2.122 unidades habitacionais distribuídas em cinco módulos (CONTRATO ENGENHARIA,

2012). Desde sua implantação, em 2014, o conjunto vem sofrendo diversas alterações na

estrutura original.

Na primeira etapa do trabalho foi realizada a avaliação do desempenho luminoso da

unidade unifamiliar padrão. Utilizou-se o software TropLux 8.0 (Cabús, 2002) como

ferramenta para a simulação computacional; as métricas Autonomia da Luz Natural

Espacial (ALNe), Exposição Solar Anual (ESA) e a Iluminância Média Anual (EMA); os planos

de trabalho da sala de estar/jantar e cozinha (locais de maior permanência dos usuários

durante o dia); o período correspondente ao intervalo das 8h30 às 17h30 para todos os

dias do ano; e a orientação (nordeste, sudeste, sudoeste e noroeste), conforme

implantação adotada no projeto.


A próxima etapa será o levantamento de campo, onde serão realizadas caminhadas

exploratórias (para percepção das unidades modificadas) e levantamento planimétrico das

amostras. Serão realizadas ainda entrevistas aos moradores para verificar o nível de

satisfação deles quanto à iluminação natural.

Por fim, serão elaborados modelos representando as amostras (unidades com reformas

autogeridas) e posteriormente novas simulações. Nesses modelos, serão adotadas

orientações conforme a implantação real no lote.

RESULTADOS E DISCUSSÃO:

A discussão do trabalho divide-se em três etapas: análise do modelo de referência; análise

das variáveis (reformas autogeridas); e confrontação dos dados técnicos com a percepção

dos usuários. Aqui será apresentada uma síntese da primeira etapa.

Nos dois planos de trabalho avaliados (sala de estar/jantar e cozinha) a ALNe foi superior a

75%. Isso significa que, em todas as situações, as iluminâncias atingiram o valor mínimo de

250lux em 50% da área do plano, durante todas as horas simuladas, ou seja, desempenho

“favorável” segundo a LM-83-12 (IES, 2012). Assim, observa-se que a variação da

orientação não influenciou significativamente nos níveis mínimos de iluminância.

Os resultados da ESA obtidos para o plano de trabalho da cozinha foram satisfatórios em

todas as orientações, pois obtiveram índice igual a 0%. Em contrapartida, o plano de

trabalho da sala de estar e jantar apresentou algumas ocilações, mas não ultrapassou os

7% admitidos pela LM-83-12 (IES, 2012).

A EMA no interior da sala de estar e jantar com orientação sudoeste alcançou o maior

índice em relação às demais orientações, chegando a 1.205 lux. Situação semelhante

acontece no interior da cozinha, onde a EMA no respectivo plano de trabalho com

orientação sudoeste chegou a 779,4 lux.

77


CONCLUSÃO:

De forma geral o desempenho luminoso da unidade habitacional apresentou um

comportamento favorável da ALNe nos dois planos de trabalho para as quatro orientações

estudadas; e um desempenho da ESA e EMA dentro dos limites admitidos pela LM-83-12

(IES, 2012) e NBR 15575 (ABNT, 2013), respectivamente. Confrontando esses dados com

os dados das próximas etapas serão geradas possíveis recomendações para o estudo de

caso e futuros conjuntos habitacionais, com foco em iluminação natural.

78

Referências Bibliográficas

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS (ABNT). NBR 15575: Edificações Habitacionais -

Desempenho. Rio de Janeiro, 2013.

CABÚS, R. C. Tropical daylighting: predicting sky types and interior illuminance in north-east Brazil.

2002. Tese (Doutorado em Arquitetura). University of Sheffield, Sheffield, England, 2002.

CONTRATO ENGENHARIA. Residencial Jardim Royal. Maceió, 2012. Disponível em:

<http://www.contratoengenharia.com.br/obras_concluidas.php?id_obra=36>. Acesso em: 13 de

setembro de 2019.

FERRARI, T. C.; SALES, M. T. Sistema para iluminação natural: painéis prismáticos. Engevista, Rio de

Janeiro, v. 14, n. 1, p. 99-103, abril 2012. Disponível em:

<http://periodicos.uff.br/engevista/article/view/8900>. Acesso em: 07 mar. 2020.

ILLUMINATING ENGINEERING SOCIETY. LM-83-12 – Approved method: IES Spatial Daylight

Autonomy (sDA) and Annual Sunlight Exposure (ASE). United States of America: Illuminating

Engineering Society of North America, 2012.

PASSOS, I.; LAMENHA, M.; CABÚS, R. Análise comparativa entre desempenho luminoso e eficiência

energética utilizando o TropLux. In: XV Encontro Nacional de Tecnologia do Ambiente Construtivo,

2014, Maceió. Anais eletrônicos... Maceió, 2014. p. 53-62. Disponível

em:<http://www.infohab.org.br/entac2014/artigos/paper_50.pdf>. Acesso em: 07 mar. 2020.


Caminhar como mobilidade urbana: Maceió e

outros casos

MESTRADO | Linha 3 | Apropriação, organização e gestão do espaço habitado

Ana Luiza Cavalcanti Mendonca

analuizacavalcanti@hotmail.com

Orientadora: Profa. Dra. Débora Teixeira Cavalcanti Fonseca

Palavras-chave: políticas públicas; mobilidade urbana; caminhabilidade; maceió.

Introdução

A presente pesquisa trata do caminhar como forma de se locomover na cidade, tema que

ganha mais atenção em diversos países ao redor do mundo, após longo período de

predominância do carro. A princípio, o trabalho abordará o tema do caminhar e suas

políticas públicas a nível internacional e nacional, demonstrando sua importância

enquanto forma de mobilidade urbana. Em seguida, o objetivo principal é identificar os

principais fatores que influenciam no caminhar em Maceió, estudando-se dois trechos da

cidade, um de renda alta e outro de baixa renda, com o intuito de observar a

caminhabilidade e as diferenças socioespaciais, econômicas e culturais entre eles com foco

no caminhar. Para isto, serão realizadas visitas e entrevistas com moradores, nas quais eles

poderão expor várias questões relacionadas ao caminhar no cotidiano. Com isso, entenderse-á

mais sobre as dinâmicas dos pedestres em Maceió, e os resultados obtidos poderão

ser uma base para estratégias de mobilidade urbana.

Problemática

79


80

A mobilidade é um dos tópicos do planejamento urbano bastante complexo, relacionando

diversas questões sociais, culturais, econômicas, tecnológicas e políticas. O caminhar tem

papel importante na história humana (SOLNIT): é a primeira forma de locomoção e não

dispende nenhuma energia além da do próprio corpo. Caminhando vê-se melhor o mundo

ao redor e as pessoas, há mais presença no mundo (JACOBS; GEHL; SOLNIT).

Após décadas de priorização do automóvel, hoje existem locais no mundo todo que foram

reestruturados para valorizar o pedestre, o que normalmente está aliado a políticas

públicas de transporte público e bicicleta. Com isso, as cidades ganham de várias maneiras:

mais vitalidade urbana e inclusão social, menos emissão de gases poluentes, etc.

Maceió é uma cidade que não tem o pedestre como elemento-chave do planejamento

urbano, dando bastante ênfase ao carro. A partir da própria experiência como pedestre,

criou-se a hipótese de que este sofre uma série de dificuldades, tais como calçadas

inapropriadas, iluminação precária, falta de arborização e consequente desconforto

climático, ausência de faixas de travessia, sensação de insegurança, etc., o que pode estar

ligado à própria forma da cidade, com muros altos e fechados (ROLNIK), falta de

diversidade urbana e mistura de usos, e isso faz com que se busque outras formas de

locomoção, mesmo quando as distâncias são curtas. Junto a isto, a hipótese é que cada

bairro, rua, avenida tem características e qualidades distintas, o que aqui se entende estar

também relacionado ao nível de renda dos moradores e sua disposição na cidade, de modo

que os espaços públicos de melhor qualidade localizam-se onde há população de renda

mais elevada, e mais problemas se concentram onde estão os mais pobres.

Objetivos

• Discutir a mobilidade e políticas públicas com foco no pedestre, destacando sua

importância para a cidade e as pessoas em contexto internacional e nacional;

• Estudar e identificar os principais fatores que influenciam no ato de caminhar

tendo como base dois trechos de Maceió, sendo um de alta renda e outro de baixa renda,

no intuito de observar as diferentes percepções, vivências e espaços físicos;


• Identificar quais os fatores têm mais peso no ato de caminhar em Maceió;

• Ampliar o debate sobre o pedestrianismo em Maceió, contribuindo com ideias de

diretrizes.

Metodologia

- Revisão de literatura: estudar o pedestrianismo, sua importância, transformações e

exemplos ao redor do mundo de estratégias urbanas que visaram priorizar o pedestre;

- Elaborar e aplicar entrevistas com moradores de dois locais de Maceió, um de alta renda

(Ponta Verde) e outro de baixa renda (Ocupação do MTST Dandara, no Benedito Bentes)

para apreender as percepções, problemas e espaço físico do pedestre em diferentes

contextos;

- Visitas para mapeamento e estudo do local quanto a sua vitalidade urbana, usos,

qualidade do espaço e forma urbana;

- Correlacionar os fatores que influenciam no ato de caminhar elencados, buscando

entender quais interferem mais no ato de caminhar na cidade.

Resultados e discussão

Baseados na própria experiência de pedestre na cidade, em um questionário realizado

online e em conversa com moradores da Ocupação Dandara, a princípio, alguns dos

resultados esperados são:

1. Apesar das facilidades (boa infraestrutura física) e proximidade de diversos locais

do cotidiano, na Ponta Verde, há uma parcela da população que evita caminhar devido à

sensação de insegurança e assim é dependente do carro;

2. Já no caso da ocupação Dandara, devido à escassez de recursos financeiros e à

distância da ocupação até os terminais de ônibus, as pessoas necessitam andar mais e em

locais com infraestrutura mais precária.

81


Ainda é necessária uma pesquisa mais aprofundada in loco, para observar e elencar as

problemáticas, necessidades, diferenças entre os dois locais, assim como mais questões

socioculturais que estão ligadas à forma como as pessoas se locomovem na cidade.

82

Referências Bibliográficas

GEHL, Jan. Cidades para pessoas. 3. ed. São Paulo: Perspectiva, 2015.

JACOBS, Jane. Morte e vida de grandes cidades. 3. ed. São Paulo: WMF Martins Fontes, 2011.

ROLNIK, Raquel. Quanto mais altos os muros e grades, mais proteção, certo? Errado! Blog da Raquel

Rolnik. Publicado em 16 de agosto de 2012. Disponível em:

<https://raquelrolnik.wordpress.com/2012/08/16/quanto-mais-altos-os-muros-e-grades-maisprotecao-certo-errado/>.

Acesso em: 10 set. 2019.

SOLNIT, Rebecca. A história do caminhar. São Paulo: Martins Fontes – selo Martins, 2016.

SPECK, Jeff. Cidade caminhável. São Paulo: Perspectiva, 2017.


Impactos socioambientais advindos da gestão dos

resíduos sólidos no entorno da APA do Catolé-

Fernão Velho: aplicação das políticas públicas

MESTRADO | Linha 3 | Apropriação, organização e gestão do espaço habitado

Flávia Michelle Sampaio da Silva

flaviamsamp@gmail.com

Orientadora: Profa. Dra. Débora de Barros Cavalcanti Fonseca

Palavras-chave: impactos socioambientais; expansão urbana; unidades de conservação; conflitos

socioambientais.

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A presente pesquisa tem como objeto de estudo o entorno da Área de Preservação

Ambiental – APA do Catolé-Fernão Velho. O objetivo geral do trabalho é analisar as

condições de criação e de implantação de uma APA em área urbana através da elaboração

do seu diagnóstico, destacando os problemas socioambientais, advindos principalmente

da disposição inadequada de resíduos sólidos na área. Os objetivos específicos se

constituem em: a) compreender o processo de criação e implantação de uma APA,

entendida como política pública; b) caracterizar a relação da APA com o entorno da área

apresentando exemplos de expansão urbana nos entornos de APAs; c) analisar os conflitos

socioambientais existentes na APA do Catolé-Fernão Velho principalmente os relacionados

com os resíduos sólidos; d) discutir os resultados da política pública de criação e

implantação de APA em áreas de expansão urbana, observando como se pode melhorar os

seus processos de planejamento e gestão. Pretende-se trabalhar no trecho localizado no

Bairro Santos Dumont. Em termos de metodologia será realizada uma revisão bibliográfica

sobre os principais eixos temáticos da pesquisa, que se baseiam em: impactos


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socioambientais, expansão urbana, unidades de conservação e conflitos socioambientais.

Será feita ainda uma análise da Política Nacional de Resíduos Sólidos, do Estatuto da Cidade

e do Sistema Nacional de Unidade de Conservação – SNUC, afim de avaliar como estas se

correlacionam. Serão realizados registros fotográficos da área de estudo, assim como

entrevistas com representantes dos órgãos públicos que possuem interesse na área em

questão, sendo estes: o Instituto do Meio Ambiente – IMA, o Batalhão de Polícia Ambiental

– BPA, a Companhia de Saneamento de Alagoas – CASAL, e entrevistas com lideranças da

Associação dos Moradores do Bairro Santos Dumont e os moradores. Serão realizados

grupos focais com moradores e representantes dos órgãos anteriormente citados. Serão

produzidos mapas temáticos com adensamento populacional e com os locais de

concentração de resíduos sólidos. Atualmente é possível encontrar, em sites e jornais,

notícias relacionadas à degradação de Áreas de Proteção Ambiental e impactos

socioambientais negativos advindos da ocupação do seu entorno e falta de infraestrutura

adequada (saneamento básico, zona de amortecimento, etc.) para uma boa qualidade de

vida de seus residentes. No caso da APA do Catolé-Fernão Velho há uma ocupação

descontrolada do entorno da área de proteção e a invasão de seus limites em alguns

trechos. Tal fato ocasiona tensões entre órgãos como a Companhia de Saneamento de

Alagoas – CASAL, o Instituto do Meio Ambiente – IMA, o Batalhão de Polícia Ambiental e

os moradores do local. O presente trabalho almeja realizar uma caracterização destes

conflitos, dada a importância da área para o abastecimento da cidade e a precariedade dos

serviços de infraestrutura do local, o que pode trazer riscos à qualidade da água e a vida

dos cidadãos ali presentes e inclusive do restante da cidade que se beneficia das águas do

Rio Catolé. Em termos de impacto ambiental, o foco deste trabalho será os resíduos

sólidos, visto que abranger todos os impactos ambientais da área, se tornaria de difícil

realização dado o tempo de realização da pesquisa, deixando para trás a possibilidade de

estudar os temas de forma superficial. Em termos de critérios de análise se buscará cruzar

os aspectos de interesse descritos nas metodologias de Avaliação Pós-Ocupação (APO) e

de Estudo de Impactos de Vizinhança (EIV). Acredita-se que a dissertação pode trazer

contribuições para a articulação entre as questões ambientais e urbanas, além de levantar


questões pertinentes referentes a uma área importante para a cidade de Maceió, visto que

nela está contido o reservatório que abastece parte da cidade, além da possibilidade de

estabelecimento de um entendimento de todas as partes interessadas na área, dando voz

principalmente aos moradores, que normalmente não são considerados na definição das

políticas públicas.

Referências Bibliográficas

_________. 1992. Lei N° 5.347, de 27 de maio de 1992. Disponível em:

http://www.ima.al.gov.br/wp-content/uploads/2015/03/Lei-nb0-5.347_92

PECCATIELLO, Ana Flávia Oliveira. Políticas públicas ambientais no Brasil: da administração dos

recursos naturais (1930) à criação do Sistema Nacional de Unidade de Conservação (2000).

Desenvolvimento e Meio Ambiente, n. 24, p. 71-82, jul./dez. 2011. Editora UFPR.

CORREA, Lobato. O espaço Urbano. 4° ed. São Paulo: Editora Ática, 2005.

_________. 2001. Lei N° 10.257, de 10 de julho de 2001. Estatuto da Cidade. Disponível em:

http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/leis_2001/110257.htm

SÁNCHEZ, L. E. Avaliação de Impacto Ambiental: conceitos e métodos. 2° ed. São Paulo. Oficina de

Textos, 2013.

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Metodologias de Planejamento Participativo: o caso

da Charrete em Cruz das Almas.

MESTRADO | Linha 3 | Apropriação, organização e gestão do espaço habitado

Ana Caroline Alves Barbosa

a.carolbarbosa1@gmail.com

Orientador: Prof. Dr. Lindemberg Medeiros de Araujo

Palavras-chave: Planejamento Participativo; Charrete; Cruz das Almas; Expansão Urbana

O planejamento urbano como forma de prever as mudanças e transformações da cidade

torna-se fundamental para gerir os interesses e o bom funcionamento das novas

centralidades que surgem com as novas demandas. As políticas urbanas aparecem como

facilitadores, capazes de setorizar diversos elementos como mobilidade, moradia, uso e

ocupação do solo dentre outras. Aliado a elas, Plano Diretor e Código de Urbanismo e

Edificações específico de cada localidade, são fundamentais para apontar diretrizes

auxiliadoras aos habitantes que venham a construir ou planejar algo para a cidade.

O bairro de Cruz das Almas em 2015 por incentivo da prefeitura de Maceió, foi palco para

a dinâmica Charrete, planejamento multidisciplinar participativo desenvolvido nos Estados

Unidos, que pode reduzir retrabalhos e encurtar o tempo de desenvolvimento de projetos

para uma área específica. A Charrete contou com a participação de diversos profissionais

de diversas áreas para gerar uma discussão onde o produto final seria constituído de

projetos que minimizem impactos e beneficiem não só a população, mas também toda a

paisagem urbana.

A problemática surge quando se analisa os motivos que levaram para a implantação da

metodologia charrete para a área, diversos fatores podem contribuir para a necessidade

87


88

de planejamento específico e a área, além de situar-se numa zona de expansão urbana,

contava com incentivos imobiliários (algumas construtoras são donas de glebas na área).

De acordo com MACEIÓ (2015), todos os investimentos na área, como tempo (a charrete

durou 4 dias de trabalho intenso por meio dos participantes) e dinheiro (foi contratada a

empresa Neourbix de Curitiba, com a urbanista Maria Elisa que esteve à frente de toda a

programação, juntamente com o auxílio do consultor Noaldo Dantas), somaram um grande

interesse público e privado para sua concepção. O objetivo principal é entender qual o

motivo que levou para a escolha dessa metodologia e não de outra semelhante e

principalmente, qual o papel da população em sua execução.

Pretende-se através de uma análise crítica observar quais os interesses que se

sobressaíram nesse planejamento e se houve a participação de todos os agentes

formadores do espaço, segundo CÔRREA (1989). Para isso é necessária entrevista com os

organizadores e interessados que estiveram à frente desse processo assim como uma

análise do que foi proposto para a área e do que foi realizado.

Com o auxílio do método hipotético-dedutivo, com base em hipóteses sobre a

aplicabilidade e os interesses desse planejamento para a poligonal da charrete, espera-se

compreender qual das hipóteses podem ser asseveradas, mediante a análise das

entrevistas e dos documentos atualizados. Com natureza aplicada e abordagem

qualitativa, a pesquisa pretende por meio de descrição de como se deu a charrete em Cruz

das Almas, fomentar um estudo de caso.

Metodologias aplicadas como a Charrete, em Cruz das Almas, são importantes para

promover à reunião de diversos profissionais ligados a cidade, juntamente com a

população, o déficit maior no processo se deu com a mínima participação popular,

resultante da pouca divulgação sobre o evento. Preliminarmente foi possível constatar que

a população local não se fez presente, poucos compareceram e, dos presentes, uma

parcela menor ainda opinou ou comentou algo sobre o que estava sendo feito.


Para a concepção de um plano de tamanha proporção com o intuito de prever os novos

caminhos de um bairro é de suma importância a presença dos agentes excluídos que o

compõem em conjunto com os demais agentes já citados por CORREA (2013). Mesmo com

abertura ao público, é importante garantir que a mensagem do evento chegue a todos,

não somente aos que possuem o privilégio da informação. Um planejamento deveras

importante para a cidade necessitaria da participação ativa de todos os indivíduos que a

compõem, em vista que sua aplicabilidade fomentará as dinâmicas do espaço em questão.

Referências Bibliográficas

Charrette de Cruz das Almas, disponível em:

< http://www.maceio.al.gov.br/sempla/noticias/charrette-especialistas-discutem-o-crescimentode-cruz-das-almas/

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CORRÊA, Roberto Lobato. O espaço urbano. Ed. Ática: São Paulo, 1989.

CORRÊA, Roberto Lobato. Segregação Residencial: Classes sociais e espaço Urbano. In:

VASCONCELOS, Pedro; CORRÊA, Roberto; PINTAUDI, Silvana. A cidade contemporânea. Segregação

espacial. São Paulo: Contexto, 2013.

MACEIÓ. Pré-diagnóstico Físico e Territorial de Cruz das Almas. Maceió: Sempla, 2014.

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Os imóveis públicos da União e a viabilidade de sua

destinação para prover habitação de interesse

social.

MESTRADO | Linha 3 | Apropriação, organização e gestão do espaço habitado

Larissa Fernandes Oliveira da Silva

larissafdeoliveira@hotmail.com

Orientadora: Profa. Dra. Débora de Barros Cavalcanti Fonseca

Palavras-chave: Habitação de Interesse Social; Imóveis Públicos; Direito à cidade; Moradia

Adequada;

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Esta dissertação tem como objeto de estudo os imóveis edificados que compõem o

Patrimônio da União, localizados em áreas dotadas de boa infraestrutura, nas principais

cidades brasileiras, e que se encontram vazios, sem destinação legal. Tem como objetivo

principal investigar a viabilidade de destinar imóveis como esses ao provimento de

habitação de interesse social - HIS.

A União, enquanto ente federativo, possui sob sua salvaguarda um grande número de bens

imóveis, que estão definidos no art. 20 da Constituição Federal de 1988 e no Código Civil

brasileiro. Parte destes bens é representada por edificações e terrenos localizados nas

áreas centrais das cidades brasileiras e estão destinados para uso de órgãos públicos da

Administração Pública Federal.

Os dados disponibilizados no site do Ministério da Economia, do Governo Federal, datados

de fevereiro de 2020, informam que a União tem cadastrado como seus 707.654 imóveis,


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divididos entre bens dominiais, funcionais e de uso especial. Em Alagoas, são 18.123

imóveis, sendo que deste total, 9.135 estão localizados na capital, Maceió.

Dado o número de imóveis a serem administrados, as dificuldades burocráticas para

manutenção e a gestão ineficiente deste patrimônio, existe um grande número de imóveis

pertencentes à União sem destinação, que tem se deteriorado ao longo do tempo,

tornando-se espaços propícios para cometimento de atos ilícitos ou problemas de saúde

pública, como acúmulo de lixo e foco de vetores de doenças, causando a degradação do

ambiente urbano onde estão inseridos.

De outro lado, tem-se o Programa Minha Casa Minha Vida - MCMV, principal política

habitacional no Brasil desde 2009. Como a produção massiva de unidades habitacionais, o

programa influenciou a expansão urbana das cidades que receberam seus

empreendimentos, pois, em razão do preço da terra, mais barato em áreas menos

urbanizadas, acabou instalando um grande número de pessoas nas áreas periféricas,

impactando negativamente sobre a mobilidade urbana e a necessidade de prover serviços

e equipamentos públicos.

Expostas essas problemáticas, acredita-se que, aliar o uso de imóveis públicos em áreas

centrais para prover HIS poderá proporcionar a reocupação de áreas urbanizadas que

estão esvaziadas; reduzir os custos da produção de moradia popular e também de

investimentos na expansão de serviços públicos essenciais; aproximar as pessoas de seus

locais de emprego, reduzindo o impacto nos transportes públicos, entre outros benefícios.

Viabilizar-se-ia assim, o acesso à cidade e à moradia adequada e o cumprimento da função

social da propriedade urbana, nesse caso, de propriedade pública.

Autores como Raquel Rolnik e Ermínia Maricato abordam a necessidade de destinação dos

imóveis vazios para provisão de moradia, visando principalmente a redução da segregação

socioespacial e a melhoria da qualidade de vida da população excluída do mercado

imobiliário formal. A função social da propriedade urbana será abordada à luz do Estatuto

da Cidade e o Direito à cidade, a partir dos pressupostos de Henri Lefebvre.


Tem-se como objetivos específicos compreender o arcabouço legal brasileiro que

caracteriza o patrimônio da União, a possibilidade de destinar seus imóveis vagos e o

processo de destinação desses imóveis à HIS; caracterizar os imóveis selecionados para o

estudo e seu entorno, a partir de sua tipologia arquitetônica e construtiva e da legislação

urbanística municipal; e caracterizar a demanda por HIS para área de estudo, a partir da

perspectivados diversos atores envolvidos.

A metodologia se baseia em revisão de literatura e da legislação federal que trata do

patrimônio da União, seus instrumentos de destinação e possibilidades legais de

destinação desses imóveis para prover HIS e análise do programa MCMV, seus objetivos e

impactos na conformação das cidades brasileiras nos últimos 10 anos; mapeamento do

processo de destinação de um imóvel da União que tenha sido exitoso, com vistas a

identificação de potencialidades e dificuldades na execução do processo; caracterização

de três imóveis do INSS, localizados no Centro de Maceió e que estão vagos, por meio de

ficha cadastral e registro fotográfico e ainda, gerar mapas do entorno onde estão

localizados, identificando os principais equipamentos e serviços públicos disponíveis;

realização de entrevistas com atores ligados à promoção de moradia e com beneficiários,

incluindo a liderança e moradores da Ocupação Dandara, no Benedito Bentes.

Espera-se após os resultados das análises, que seja possível construir um diagnóstico

acerca da viabilidade de ocupar a área em estudo novamente com habitação; apontar

estratégias para utilização dos imóveis vagos da União em Maceió, a partir da análise e do

mapeamento das potencialidades e dificuldades.

Acredita-se que esta investigação pode contribuir para melhorias na política pública de

habitação e na gestão mais eficiente do patrimônio público, voltando sua finalidade para

atender às demandas da sociedade.

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Referências Bibliográficas

Raquel Rolnik; Ermínia Maricato; Henri Lefebvre; Estatuto da Cidade; Leis Federais


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