PARQ_65
João Peste, Filipe Sambado, André Teoman
João Peste, Filipe Sambado, André Teoman
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JOÃO PESTE
FILIPE SAMBADO
ANDRÉ TEOMAN
NEW BALANCE
GUERRILLA
GIRLS
texto por Maria São Miguel
↖ RAQUEL
top DAVID FERREIRA
calças e meias
NEW BALANCE
ténis NEW BALANCE 850
↖ VANESSA
top HYENA
calções e meias
NEW BALANCE
ténis NEW BALANCE 850
↖ ISABEL
top e calças N E W
BALANCE
casaco CARLOS GIL
ténis NEW BALANCE 850
fotografia FREDERICO SANTOS
styling PEDRO APARÍCIO
ass. styling MADALENA NUNES
make-up RAQUEL SOEIRO
hair RODRIGO SANTOS
NEW BALANCE
850
Solidários com a luta que as
mulheres travam todos os dias para
criarem um ambiente mais igualitário
inspirámo-nos no GULABI GANG (gang
rosa), um movimento de mulheres
indianas que recentemente teve
destaque nos media, por se terem
revoltado contra o machismo no seu
país, manifestando-se com roupas
coloridas e bastões em punho.
Revoltaram-se contra os poderes
instituídos de um país que se tem
mostrado indiferente ao número
de casos de mulheres indianas
vítimas de violação. Chamámos
três mulheres portuguesas que
personificam essa vontade de
mudança que se faz no quotidiano de
cada uma. Com percursos díspares,
ISABEL SILVA, RAQUEL SAMPAIO e
VANESSA MARTINS, têm em comum,
uma grande visibilidade na esfera
pública. Estão conscientes do peso
da sua mensagem para a construção
de uma sociedade mais igualitária,
que é implantada no seu exemplo
diário. Juntamos à mensagem das
nossas GUERILLA GIRLS os valores
na NEW BALENCE, marca que saiu do
universo do desporto para o lifestyle e
que desde sempre teve uma política
interna de tolerância e de inclusão.
A NEW BALANCE trouxe para a
atualidade um clássico dos anos
90, que se tornou um dos velhos old
school nos EUA, país onde a marca
teve a sua maior projeção mundial.
Os 850 apareceram pela primeira
vez em 96 e destacavam-se, na
época, pela sua silhueta minimalista,
colocando-se à frente do seu tempo.
Era um modelo que combinava a
tradicional camurça com partes
sintéticas e uma malha respirável
aliados à introdução da tecnologia
ABZORB na sola, tornando-se um
sinónimo de conforto ao caminhar.
Os 850 não trazem o famoso "N"
das laterais para dar espaço às
formas onduladas e coloridas que os
caracterizam. As combinações de
cores possíveis são muitas, grande
parte delas remete para as originais,
para uma época que deu preferência
a cores ácidas e florescentes.
02
NEW BALANCE
↖
camiseiro CARLOS GIL
casaco NEW BALANCE
camisa FERRACHE
ténis NEW BALANCE 850
MODELO / APRESENTADORA TV
RAQUEL
SAMPAIO
Sentes-te uma guerreira?
Em que momentos?
Sinto-me guerreira quando
luto pelo que quero alcançar
e provo a quem duvidou de
mim que estavam errados.
A luta pela igualdade entre os
géneros ainda faz sentido?
Fará sentido enquanto não
houver igualdade. Por isso,
sim. Infelizmente, ainda
faz todo o sentido.
Qual a pior coisa que te
disseram por seres mulher?
Coisas do género, —"Vais
estudar engenharia? Mas
isso é curso de rapazes!"
03
NEW BALANCE
↖
casaco NEW BALANCE
sweat e calças M MISSONI
ténis NEW BALANCE 850
ACTRIZ
VANESSA
MARTINS
Sentes-te uma guerreira?
Em que momentos?
Sinto me uma guerreira quando
consigo cumprir com os meus
objetivos, e não tem que ser
necessariamente grandes
feitos. O objetivo de conseguir
realizar tarefas ou gerir a
minha agenda de forma a que
consiga fazer tudo, isso já me
faz sentir guerreira. Atualmente
as mulheres estão a conseguir
cargos melhores em empresas,
mas continuam sempre a ter a
desigualdade de um pós laboral
sobre elas, filhos, casa e tantas
outras responsabilidades… e
há imensas guerreiras por ai.
A luta pela igualdade entre os
géneros ainda faz sentido?
Fará sempre. Não tem de haver
diferenças pelo género. Somos
todos seres humanos e temos
de ser visto como tal. Não
tenho de me sentir diferente
pela negativa por ser mulher.
Acredito que no futuro haverá
pessoas importantes em cargos
decisivos sejam eles homens
ou mulheres. Mas a mudança
parte das próprias mulheres
que não sabem o que é o
feminismo e nem sequer têm
curiosidade em saber. Encaram
a luta pela igualdade como
uma perca de tempo. E isso
está errado, e por essa razão é
que a mudança demora mais.
Qual a pior coisa que te
disseram por seres mulher?
Que estava onde estava porque
era bonita e sensual, e que
isso obviamente me trazia
oportunidades. Como se a
minha capacidade de trabalho
fosse medida pelo padrão de
beleza da sociedade. Ou então
perguntarem-me se o meu carro
foi oferecido pelo meu marido
ou se é dele. Eu sou uma mulher
que adora carros topo de gama.
E tenho todas as capacidades
tal como um homem para
ter um, pelo meu trabalho
ou porque qualquer pessoa
pode pedir um empréstimo ao
banco. E esse tipo de padrões
continua a existir e não muda.
04
NEW BALANCE
APRESENTADORA TV
ISABEL
SILVA
Sentes-te uma guerreira?
Em que momentos?
Sinto-me. E ser guerreira para
mim significa ser persistente
naquilo que eu acredito e
sinto. Neste ponto eu nunca
desisto... acredito que a nossa
intuição nunca nos apanha na
curva. Também vacilo e fico
indecisa, mas estas são as
alturas que me escuto e reflito
mais. Mesmo quando avanço,
às vezes é com medo. Mas
não faz mal, desde que esteja
alinhada com a minha intuição.
A vida pede-nos todos os dias
para sermos guerreiros. E ainda
bem. A vida é feita de desafios.
A luta pela igualdade entre os
géneros ainda faz sentido?
Continua a fazer sentido hoje,
como sempre fez. No tempo
das minhas avós as coisas
eram muito diferentes do que
são hoje, e as lutas que elas
travaram para se tornarem
mulheres independentes não
eram as mesmas de hoje. Mas,
na verdade, em algumas coisas,
também eram. No mundo do
trabalho, por exemplo, era
impensável encontrar uma
mulher a conduzir um autocarro
ou a ser diretora de uma grande
empresa. Hoje, as coisas
mudaram. Já provamos o nosso
valor. E acho que está à vista.
A igualdade entre os géneros
faz sentido, sim. Para um lado...
e para o outro também.
Qual a pior coisa que te
disseram por seres mulher?
Nada. Honestamente. Pelo
menos que me lembre. A única
coisa que posso dizer é que,
por exemplo, quando estou a
correr as minhas provas de
42.195m ou mesmo as Meias
Maratonas, ouço muitas vezes:
“lá vai ela, corre mais e melhor
do que muitos... e muitas”.
Sempre senti respeito
e admiração. Também
porque me dou a isso.
↖
top e calções NEW BALANCE
capa CARLOS GIL
ténis NEW BALANCE 850
05
NEW BALANCE
JOÃO PESTE
FILIPE SAMBADO
ANDRÉ TEOMAN
JOÃO PESTE
FILIPE SAMBADO
ANDRÉ TEOMAN
VANESSA MARTINS e ISABEL SILVA
fotografadas por FREDERICO
SANTOS, styling PEDRO APARÍCIO.
(Vanessa) vestido PINKO, top N E W
BALANCE, brincos CAROLINA
QUINTELA, ténis NEW BALANCE 850
(Isabel) top NEW BALANCE,
laço e saia RICARDO ANDREZ,
ténis NEW BALANCE 850.
PARQ: Revista de tendências
de distribuição gratuita.
Rua Quirino da Fonseca, 25 – 2 o esq.
1000-251 Lisboa
Assinatura anual: 12 euros
You Must
08 Oje
10 Savage Sally
12 Silver Box Studio
13 Cindy Sherman
14 The Golden Glove
16 Bombshell
18 Favela
19 Oito Cds
20 Velvet Kills
21 Festival MIL
22 Ás de Espadas
24 Merrellite + Jott
25 Fila + Polaroid
26 Igual Mag + Pallashock
27 Beleza
28 Produto
Soundstation
30 Lina_ Raül Refree
32 João Peste
Director: Francisco Vaz Fernandes (francisco@parqmag.com)
Editor: Conforto Moderno
Editor de Moda:
Design: Valdemar Lamego (www.valdemarlamego.com)
Periocidade: Bimestral
Depósito legal: 272758/08
Registo ERC: 125392
Edição: Conforto Moderno Uni, Lda.
NIF: 508 399 289
Propriedade: Conforto Moderno Uni, Lda.
Rua Quirino da Fonseca, 25 – 2 o esq. 1000—251 Lisboa
Telef: 00351 218 473 379
Impressão: Eurodois. R. Santo António 30, 2725 Sintra
12.000 exemplares
Distribuição: Conforto Moderno Uni, Lda.
A reprodução de todo o material é expressamente
proibida sem a permissão da PARQ. Todos os direitos
reservados. Copyright © 2008 — 2020 PARQ.
Textos
Rui Miguel Abreu
António M. Barradas
Sara Madeira
Bárbara Pires
Sara Pereira
Carla Carbone
Carlos Alberto Oliveira
Fotos
Diana de Nóbrega
Andy Dyo
Francisco Vaz Fernandes
Cristina Gameiro
Joana Teixeira
Diana Neto
Liliana Pedro
Frederico Santos
Luís Sereno
Frederico OM
Margarida Santos
Maria São Miguel
Styling
Miguel Rodrigues
Daniela Gil
Patrícia César Vicente
Marta Lobo
Rafael Moreira
Pedro Aparício
Rafael Vieira
Roger Winstanley
www.parqmag.com
/parqmag
/parqmag
youtube
/parqmag
Central Parq
36 Tiago Paiva
38 André Teoman
40 António Faria
42 Santiago Beruete
44 Filipe Sambado
Fashion ed.
56 Sunlight
Parq Here
65
64 Essencial
65 Boullé
66 Lucien Blondel
06
MARÇO 2020
FREDPERRY.COM
FRED PERRY STORES:
NORTE SHOPPING, MATOSINHOS / PORTO
ARRÁBIDA SHOPPING, V. N. GAIA
RUA DO OURO, LISBOA
SHOP-IN-SHOP:
EL CORTE INGLÉS GAIA / PORTO
EL CORTE INGLÉS LISBOA
MARQUES & SOARES, PORTO
LISTEN TO BLACK / CHAMPAGNE / CHAMPAGNE
TOMÁS PIRES a.k.a.
ÔJE
texto por Sara Pereira
TOMÁS PIRES nasceu em Lisboa
em 1987 e cresceu no campo, no
concelho de Mafra o que permitiu
estabelecer uma ligação com a
natureza desde cedo. Confessa
que sempre teve tendência para
desenhar retratos bem expressivos
e o primeiro contacto com a arte do
graffiti surge através de um primo
que já explorava outros tipos de
lettering. A licenciatura em Design
de Ambientes clareou a ideia de que
queria vingar no mundo das artes
e o seu primeiro trabalho surge a
partir de uma pintura criada para um
projeto de reabilitação subterrânea
de Alcântara. A Human Nature que
vai apresentar no Art Room em
Lisboa de 27 a 29 de fevereiro será
a sua primeira exposição individual
e conta-nos que "nesta exposição
vou mostrar uma técnica que
tenho andado a desenvolver em
madeira desde 2018. São expressões
humanas recriadas em madeira em
que recorto as feições em forma
de puzzle. Utilizei expressões de
pessoas que vivem da terra ou em
harmonia com a mesma o que para
mim representa a nossa Natureza
Humana". Apesar de a mensagem ser
subjetiva confessa que o principal
foco destas obras são o equilíbrio e
a harmonia da natureza com o ser
Humano e representam a ligação
ao nosso meio. Inspira-se no que
o rodeia, em casa, no estúdio,
em viagens, mas sobretudo nas
pessoas pois afirma que é nelas
que se baseia o seu trabalho e
convida-nos a uma instrospeção,
ao que nos define como seres
e à nossa natureza humana.
@oje_artist
ART ROOM
Rua do Tejolo, 1 a Rua D.Pedro V
Príncipe Real
Lisboa
08
YOU MUST SEE
SAVAGE
SALLY
texto por Joana Teixeira
Mafalda é uma tatuadora portuguesa
mais conhecida como SAVAGE SALLY.
Os seus flashes a linha preta não
são convencionais, nem podem
ser facilmente colocados numa
gaveta de estilo. A olho nu podem
parecer apenas imagens estranhas
—monstros, animais, mulheres com
cabelos compridos, figuras míticas...
Mas, observando os seus desenhos
originais com atenção, conseguimos
extrair o estilo oriental como uma
forte inspiração da sua arte.
Além de caracteres japoneses em
algumas tatuagens, encontramos
também a estética da mitologia
japonesa. SAVAGE SALLY é, no fundo,
uma mescla de influências artísticas
que originam tatuagens de linha
únicas e numa onda ignorant style
—um estilo de tatuagem com um
toque irónico ou de dry humor, que
não está preso a convenções e que,
basicamente, presta homenagem
à liberdade de expressão.
@savage.sally.tattoo
10
YOU MUST SEE
UM RETRATO PARA A VIDA TODA
SILVERBOX
STUDIO
texto por Joana Teixeira
Vivemos na era das memórias
curtas —com as redes sociais,
as imagens que só estão visíveis
durante 24 horas e as centenas de
fotografias esquecidas no telemóvel
(que só ocupam espaço e mesmo
assim nunca são apagadas). E nesta
era onde todos os momentos são
efémeros e não há rolos fotográficos
que nos valham, o S I LV E R B OX
STUDIO, em Lisboa, vem trazer‐nos
a intemporalidade de volta.
FILIPE ALVES e RUTE MAGALHÃES
abriram em 2012 o S I LV E R B OX
STUDIO, no nº88 da Rua Braamcamp
em Lisboa. Queriam que as pessoas
voltassem a ir ao fotógrafo para
fazer retratos, como nos bons velhos
tempos. No seu espaçoso estúdio,
a tecnologia é da velha guarda,
mas não deixa de ser intrigante.
Aqui tiram-se retratos em chapa
de vidro, recorrendo à técnica do
colódio húmido. Esta técnica leva o
seu tempo —aliás, como a exposição
pode durar até 15 segundos, não é
aconselhado sorrir, apenas respirar
fundo e ficar imóvel. Aqui, tudo
é feito com muita calma... mas
a memória fica para sempre.
www.silverbox.pt
@silverboxlisboa
12
YOU MUST SEE
FONDATION LOUIS VUITTON and
CINDY
SHERMAN
texto por Francisco Vaz Fernandes
Em abril, a Fondation Louis Vuitton
inaugura a maior exposição
alguma vez dedicada à carreira
de CINDY SHERMAN na Europa.
A norte americana, com uma
carreira iniciada nos anos 70, é
uma das mais reputadas artistas
de arte contemporânea do seu
país. Trabalhou sempre a partir
da fotografia, focando-se sobre a
natureza da imagem e do seu poder
de representação. No rescaldo
de uma geração feminista, C I N DY
SHERMAN questionou-se sobre o
papel da fotografia na massificação
dos clichés que dominavam na sua
sociedade sobre a representação
da mulher. Toda a sua obra
passou então a ser um processo
de travestismo em que a artista
se coloca no centro da imagem
reconstruindo a imagem desses
clichés. Procurava assim abrir
um diálogo sobre a construção
da imagem da mulher na sua
sociedade. Nesse sentido, C I N DY
SHERMAN refez as imagens que
passavam nas revistas de moda, no
cinema, guias práticos e em todos
os outros media em que a mulher
aparecia representada. Nos últimos
anos as imagens de mulheres que
reconstroí tem tido uma carga
psicológica mais forte. A mostra
disso dá conta porque são 170
obras que vão de 1975 a 2020. A
exposição foi pensada em estreita
colaboração com a artista que dá
especial foco às peças produzidas
no início de 2010, assim como alguns
trabalhos inéditos da artista.
↘
☺ CINDY SHERMAN, Untitled,
2004, fotografia
www.foundationlouivuitton.fr
13
THE
GOLDEN
GLOVE
by KAITH AKIN
texto por Sara Madeira
O cinema alemão tem dificuldades
em cruzar fronteiras. The Golden
Glove de KAITH AKIN, consegue-o
pela perplexidade da questão que
levanta: O que acontece quando
uma realidade particularmente
dolorosa se une ao humor?
Será possível retratar a história
real de um homem que violou e
esquartejou dezenas de mulheres
nos anos 70, dentro de um género
cómico sem despoletar a ira
de uma memória traumática?
Aparentemente não, mas o filme
de AKIN sobrevive nos limites da
ética, porque transformou o The
Golden Glove, o bar que se tornou
o epicentro dos acontecimentos,
numa espécie de esgoto. Todas
as figuras que por ali gravitam
são propositadamente grotescas.
São feias, sujas, desdentadas e
bêbadas. O riso perde assim a
leveza, porque o espectador está
sempre a ser confrontado com
um certo desconforto, perante
a quantidade de cenas caricatas
que o filme proporciona.
De repente estamos perante uma
história de monstros em que todos
se equivalem. Todas as figuras
são igualmente ridicularizadas.
As mulheres são patéticas,
entregam‐se ao carrasco sem
contestação. Fritz Honka (JONAS
DASSLER), coberto de próteses,
também não é um vilão cativante e
a ação vai-se transformando numa
sequência de mulheres que entram
e saem do seu apartamento
movidas pela promessa de
álcool e de um pouco de afeto
entregando‐se à sua sorte. A
câmara de AKI aproxima‐se o
mais possível desses corpos para
gerar a máxima repulsa dentro
desse teatro de horrores em
que o minúsculo apartamento
de Fritz, imundo e coberto
de fotos pornográficas se
transforma. Na sequência de
acontecimentos vamos tomando
consciência que o único elemento
que permite o criminoso ficar
impune durante tanto tempo é
a falta de interesse a que todos
estão votados. Fritz, sem laços
sociais, e as suas vítimas são na
verdade invisíveis, encurralados
num refúgio de marginalidade.
14
YOU MUST SEE
A BOMBA QUE É O PODER FEMININO
BOMBSHELL
by JAY ROACH
texto por Bárbara Pires
Nomeado para 3 Óscares, Bombshell
– O Escândalo já deu muito que falar
e não se resume apenas à sua
realização. O filme realizado por
JAY ROACH retrata as denúncias
de jornalistas da Fox News e de
outros órgãos de comunicação
social vítimas de assédio sexual
contra ROGER AILES. Composto
por um elenco de luxo, CHARLIZE
THERON, NICOLE KIDMAN e M A R G OT
ROBBIE no papel de três jornalistas
focadas em chamar a atenção
de outras mulheres que também
sofrem de assédio sexual e levá-las
a perceber que não estão sozinhas.
No fundo, mostrar um padrão que
nada tem a ver com o filme em
si, mas, sim, com a mensagem
que quer atingir. Permitir que as
mulheres que estejam elas em que
situação estiverem ou qualquer
que seja o cargo que ocupem
consigam expor todos os abusos
sem sentir receio ou medo das
consequências a nível profissional.
Através da representação brilhante
de CHARLIZE THERON como Megyn
Kelly, a sua determinação e o seu
atrevimento meteram-na frente a
frente com o presidente dos EUA.
Claramente que DONALD TRUMP
não é esquecido neste escândalo.
Como é que poderia ser? O que
é certo é o assédio sexual estar
a ganhar cada vez mais força
e consequentemente existirem
mais pessoas a perceberem do
que se trata, divulgarem quem
são os seus assediadores ou
eventuais casos que possam
saber de quem sofre estes
comportamentos e, sobretudo,
darem a cara. A clara mensagem
de Bombshell é o empoderamento
feminino. E isso diz tudo o resto.
16
YOU MUST SEE
Photo: Ricardo Santos. Art direction: Cláudia Barros. Model: Diogo Gomes, Just. Graphic Design: Joana Areal
MODALISBOA
LISBOA FASHION WEEK FW 20/21
5-8 MARÇO 2020
OFICINAS GERAIS DE FARDAMENTO E EQUIPAMENTO DO EXÉRCITO
Uma iniciativa conjunta
Cofinanciado por
Parceiro Tecnológico
Patrocínios
Viatura oficial
Hotel oficial
Apoios
Parceiros
Tv oficial
Rádio oficial
Tv internacional
Digital Partner Educational Partner Parceiro de Media
FAVELA
LACROIX
texto por Sara Pereira
FAVELA LACROIX, a drag queen do
momento, personagem criada por
JÚNIOR OLIVEIRA, lança agora um
novo hit, “Louca”, e contou‐nos
mais sobre o seu percurso. JÚNIOR
nasceu no Brasil e mudou-se para
Portugal com apenas 5 anos.
Confessa que começou a trabalhar
desce cedo em diversas áreas, mas
o mundo da música foi sempre
uma evidência. Começou a cantar
na igreja e fez a sua primeira
aparição em televisão em 2014, no
programa Fator X e um ano mais
tarde conquistou os jurados do The
Voice. A oportunidade de entrar
no mundo drag surge no clube
noturno Trumps, onde é convidado
a dar vida a uma drag queen e nasce
então a FAVELA LACROIX, uma
personagem que é uma mistura
explosiva de energia, voz, dança
e espetáculo. A diva é uma porta
para a sua mais arrojada expressão
artística e musical, contando‐nos
que a personagem é o oposto
de si próprio —“O Júnior é mais
pacato, mais tranquilo, mais calmo.
A Favela é poder, é segurança, é
ousadia”. Apesar disso, o nome
da artista transmite muito da sua
personalidade —“Sou muito da favela
e é daí que nasce a Favela Lacroix”.
O hit “Sextou” que estreou em
2019 em colaboração com os N O
MAKA chegou ao top 1 do iTunes
e já conta com mais de 1 milhão
de visualizações no Youtube.
Em setembro do mesmo ano
apresenta “Quem Manda Aqui?” em
parceria com PUTZGRILLA. Estes
hits de sucesso conduziram-na
aos grandes palcos, um deles o do
Meo Sudoeste ao lado da B L AYA.
Lança agora o seu novo single,
acompanhado de videoclipe e é das
músicas com que a artista mais se
identifica, “Louca é um hit que me
caracteriza”, confessa a artista.
Apesar de estarmos em 2020,
admite que o caminho a ser feito
contra o preconceito é longo —“Ainda
é preciso mudar mentalidades. Nós
somos livres, devemos ser livres”.
Não havendo muitas referências no
mundo drag em Portugal, sente-se
representante desta comunidade e
pretende fazer-se ouvir —“No Brasil
já existe muita gente a representar
a comunidade drag, em Portugal
não —pretendo mudar isso”.
@favela_lacroix
18
YOU MUST LISTEN
OITO
DISCOS
texto por Carlos Alberto Oliveira
O produtor e compositor de música
eletrónica berlinense PANTHA DU
PRINCE levantou o véu do seu
novo disco com o single Pius in
Tacet, que antecede o novo álbum
Conference of Trees. O álbum
será lançado a 6 de Março.
LA Priest, o projeto de SAM DUST,
dos LATE OF THE PIER, marca o
regresso aos discos em cinco
anos, com o álbum GENE. A nova
coleção de canções será lançada
a 24 de Abril via Domino.
A singular artista sueca, que assina
as suas criações artísticas no mundo
da música como I BREAK HORSES,
está de volta à edição de um novo
registo de originais com Warnings.
O álbum será editado a 8 de Maio
pela Bella Union/Pias. Death Engine e
I’ll Be The Death Of You são graciosas
promessas de um grande disco.
TOKIMONSTA nome artístico
da produtora musical e Dj
norte‐americana JENNIFER LEE,
tem um novo álbum a sair a 20
de Março, de seu nome Oasis
Nocturno. A artista já mostrou
o single Fried for the Night, que
conta com a participação dos
rappers de Atlanta EARTHGANG.
O solstício da primavera musical
marca sempre o inicio de um
novo ciclo, apetrechado de
novas e múltiplas sonoridades.
Eis oito possíveis discos para
alimentar os nossos sentidos.
Os FOUR TET contaram com
a participação vocal de ELLIE
GOULDING no single Baby, que
serviu como aperitivo para o
novo álbum do produtor, Sixteen
Oceans. O disco sairá em Março.
A americana KATIE CRUTCHFIELD,
que assina as suas composições
musicais a solo como WA X AHATCHEE,
tem um novo disco chamado
Saint Cloud, que sairá a 27 de
março pela Merge Records.
A banda britânica ULTRAÍSTA,
trio composto pela vocalista/
produtora LAURA BETTINSON, o
multinstrumentalista/produtor N I G E L
GODRICH e o baterista/produtor J O E Y
WARONKER, estão de volta com o
seu segundo disco de estúdio Sister.
O sucessor do álbum homónimo
de estreia lançado em 2012, será
editado a 13 de Março pela Partisan.
Murais foi o nome que HÉLIO MORAIS,
dos LINDA MARTINI e dos PAUS,
encontrou para dar expressão
às músicas que compôs a solo.
O disco está previsto para ser
editado em Abril pela Sony Music.
O músico partiu da premissa de
encontrar um espaço só seu,
diferente daquele que partilha
com os seus demais projetos.
19
YOU MUST LISTEN
VELVET
KILLS
entrevista por Sara Pereira
O grupo eletro rock/glam, VELVET
KILLS atualmente em residência em
Portugal prepara-se para lançar em
março um novo álbum de originais
com o nome Bodhi Labyrinth. O
duo constituído por SU EKO e
HARRIS IVESO, desvendaram-nos o
que está por detrás do projeto.
Como é que nasce esta
dupla VELVET KILLS?
HARRIS IVESON: Conhecemo‐nos
na pista de dança no BOOM
FESTIVAL. Nessa época eu estava
a morar em Los Angeles, a gerir
um estúdio de música e a SU
EKO, que se tinha mudado recentemente
de Paris, estava a trabalhar
noutro projeto chamado
LIKEWOLF. Começamos a conversar
e percebemos que ambos
fazíamos música. A conversa
girou em torno de instrumentos
musicais e chegamos à conclusão
de que ambos tocávamos
as raras guitarras dos anos 80
—chamadas STEINBERGER— e que
para além disso, ambos os instrumentos
eram brancos, o que
para estas guitarras já é muito
incomum. Parecia bom demais
para ser verdade, então decidimos
que algum dia deveríamos
fazer música juntos.
SU EKO: Um mês mais tarde, voei
para Los Angeles e começamos
a compôr música juntos. A partir
daí nunca mais nos separamos.
Em 2005 lançámos Memory, o
nosso primeiro EP. Desde então, a
experiência de tocar música juntos
tem sido cada vez melhor.
Três anos após o Mischievous
Urges, considerado pela Rádio
Radar entre os melhores álbuns de
2017, que mensagem pretendem
trazer em Bodhi Labyrinth?
SU EKO: Este álbum traz-nos à
realidade da nossa sociedade
atual. As mensagens vêm codificadas
em sarcasmo, eufemismo,
hipérbole e ironia, onde escavamos
os arquivos de uma civilização
solitária e questionamos o
propósito da vida versus estruturas
governamentais, onde dinheiro
é prioritário e onde o amor é
esquecido. Dentro do ruído de
uma sociedade atual egoísta, os
VK passam a mensagem e apelo
ao universo para elevar os humanos
a um estado superior de
vibração positiva. A chave é o
amor.
Entrevista completa em parqmag.com
20
YOU MUST LISTEN
MIL →
LISBON
INTERNATIONAL
MUSIC
NETWORK
texto por Bárbara Pires
↓
☺ MANEL CRUZ
↓
☺ SUNFLOWERS
Se ainda não tem planos para
os dias 25, 26 e 27 de março,
pode já marcar na sua agenda
um festival de música. Não é um
festival de música como os outros
e é isso que o torna especial. O
MIL – LISBON INTERNATIONAL MUSIC
NETWORK recebe 70 novos artistas
provenientes de todo o mundo
para atuações em nove salas de
espetáculo e clubes noturnos no
Cais do Sodré. O festival dedicado à
música popular contemporânea vai
contar com artistas de nacionalidade
espanhola, russa, francesa, belga
e muito mais. Entre os nomes
confirmados estão também
portugueses como AURORA PINHO,
PAPILLON, MANEL CRUZ e MARINHO.
E destacam-se ainda as bandas
nacionais como SUNFLOWERS e
MURAIS, um projeto a solo de H É L I O
MORAIS, dos PAUS e LINDA MARTINI.
Além da parte musical, há ainda
outras oportunidades para
visitar o MIL. Paralelamente ao
programa musical, o festival
apresenta uma forte aposta em
formações na forma de debate,
masterclasses, keynotes e workshops.
M I L
Cais do Sodré
25 → 27.03.2020
www.millisboa.com/mil/
↘
☺ MURAIS
→
☺ MARINHO
21
YOU MUST LISTEN
ÁS DE
ESPADAS
by LOUIS APPLEMANS
entrevista por Sara Pereira
LOUIS APPLEMANS foi uma das
agradáveis surpresas que a
plataforma Sangue Novo da Moda
Lisboa trouxe na última edição.
O belga finalista do curso de
moda da La Cambre apresentou
uma coleção de roupa masculina
a que intitulou Ace of Spades.
“Ace of Spades”, a tua coleção
SS2020 apresenta fusão de
padrões, cores e tecidos.
Fala‐nos sobre estas peças.
LOUIS: De facto sim, os materiais
e as cores seguem diferentes
direções. A ideia dos padrões
era desempenhar um efeito negativo,
onde o padrão e a cor
compartilham quase o mesmo
espaço no mesmo tecido; ao
misturar tudo, perde-se a proporção
real das roupas e o espaço
que o corpo ocupa nessa
roupa. A ideia era realçar “a amplitude
de um indivíduo” pelas
suas roupas e revelar uma certa
indiscrição e uma noção desproporcional
de espaço e valores
das coisas com tecidos rápidos
e sedosos que têm a precedência
sobre tecidos de alfaiate. É
dessa ideia que surge o nome
“às de espadas” que é a primeira
carta do jogo de cartas com
uma figura anónima e singular.
Como surge a moda na tua vida?
LOUIS: Digamos que ela entra sozinha
desde que nasci como entra
na vida de qualquer pessoa.
Para mim a moda absorve a
mente de cada indivíduo, gostemos
ou não. Não querer estar na
moda, negá-la, opor-se ou não
demonstrar interesse, faz parte
do mundo da moda. Comecei por
interessar-me, desenhava e estudava
este mundo e quando chegou
a altura de escolher o curso
que queria tirar no ensino superior,
acabei por me dirigir para a
moda e tive a sorte de frequentar
um curso rico em aprendizagem
que hoje me levou até esta área.
Penso que a moda surge por si
só, trabalhar neste universo não
significa que goste mais do que
de qualquer outra pessoa. O termo
“moda” faz parte do vocabulário.
É, para mim, das palavras
mais abstratas do dicionário… Eu
já ouvi definições que nada se
parecem com a ideia que eu tenho
dela; como se essas definições
e a minha própria definição
falassem de duas coisas diferentes.
Em francês, a palavra “moda”
significa também coisas mais
abstratas que a palavra “fashion”.
Na língua francesa falamos de
mode de vie, mode d’expression.
22
YOU MUST BUY
Que mensagem pretendes
transmitir com esta criação?
LOUIS: Para mim o ás de espadas
representa uma personalidade,
diria até um arquétipo muito
atual nos dias de hoje. Trata-se
um indivíduo que, através
seu ego generalizado, consegue
alcançar o poder e impor o seu
lugar. Hoje, uma enorme figura
política com uma identidade democrática
reflete uma imagem
imperial que rapidamente contraria
o seu papel e o seu status.
Eu peguei nas figuras emblemáticas
de poder excêntrico
como o Luís XIV, Coreia do Norte
e no visual das cartas de um
baralho, para trazer o meu olhar
para um volume pesado e invasivo.
Cada uma das minhas silhuetas
veste calças, camisas e
jaquetas de trabalho ou jaquetas
que são derrubadas nalgum
momento por uma onde de extravagância.
A minha maneira
de expressar esse contraste é,
claro, ingénua, as formas parecem
quase como o rei de um
jogo de cartas e o chapéu passa
a anonimizar o meu famoso “Às
de Espadas”. Não estou a tentar
atacar os nossos representantes
políticos em particular, mas sim
o caráter individualista que está
a invadir todos nós hoje em dia.
O que te inspira quando
crias uma peça?
LOUIS: Muitas coisas diferentes.
Peças de vestuário vintage ou
autênticos, materiais, a iconografia
atual e histórica (ou até
vídeo-performance),
desenho…
Também trabalho muito no aspeto
3D, faço modelos…
Quais são as tuas referências?
LOUIS: Para esta coleção, principalmente
o retrato de Luís XIV
em traje de coroação pintado
por HYACINTHE RIGAUD e a estética
misteriosa da Coreia do Norte.
Eu tinha um monte de referências
como os meus jogos de cartas,
continua a ser uma inspiração,
entre outras, que devem
ceder o lugar a outras ideias e
conceitos que afastam a minha
mente de um propósito fixo. Fiz
muita pesquisa sobre as roupas
que integrariam o guarda-roupa
do personagem que tentei criar,
como a jaqueira de trabalho, o
traje de trabalho, a capa de chuva…
Explorei também outras referências
artísticas que me ajudam
a situar no que gosto, no
que me representa e no que me
atrapalha.
@louis.applemans
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YOU MUST BUY
MERRELLITE
texto por Maria São Miguel
↑
CATALYST CANVAS
↑
KAHUNA WEB
↑
ALPINE SNEAKER
Olhando para o cabaz de ofertas
da MERRELL para esta estação, a
PARQ fixou-se nas Catalyst, uma
das novidades da marca que em
versões em lona ou em camurça,
foram criadas para andar tanto
na cidade como seguir trilhos.
Procuraram unir o melhor destes
dois mundos pensando no conforto,
proteção, respirabilidade e estilo,
inspirado no ar livre. As novas
sandálias masculinas Kahuna Web
são também muito bem-vindas.
Introduzem um design inspirado
nos arquivos da MERRELL mas com
tecnologias e desempenho moderno.
Com tiras ajustáveis e uma sola de
borracha que maximiza a tração
até nos pisos mais escorregadios,
as Kahuna Web são perfeitas para
os dias de calor passados perto
da água. Já os Alpine, outra das
jóias recuperadas do arquivo,
regressam com cores vibrantes e
padrões irreverentes, bem próprias
da estação e dos dias quentes.
JOTT
texto por Maria São Miguel
Criada em 2010 em Marselha por
MATHIEU e NICOLAS GOURDIKIAN,
a JOTT (Just Over The Top) é uma
marca conhecida pelos seus blusões
térmicos acolchoados e ultraleves,
desenhados para uma utilização
transversal a todas estações do ano.
A JOTT é direcionada para um estilo
urban sporty que procura reinventar
a moda com combinações únicas
entre conforto e estilo. Entrou no
mercado nacional há dois anos de
desde Novembro de 2019 abriu a sua
primeira loja no Arrábida Shopping,
onde se poderão esperar muitas
novidades relacionadas com o
universo JOTT. Os tão famosos Down
Jackets feitos com penas e plumas
serão os elementos de destaque,
tanto pelos materiais, detalhes ou
pela infinidade de tonalidades. As
novidades no universo JOTT não têm
fim porque apresenta por ano duas
colecções e duas semi‐colecções
entre estações. Agora estão a
chegar coleções on‐the-go de
praia e outros acessórios aptos
para as quatro estações.
24
YOU MUST BUY
POLAROID
texto por Maria São Miguel
Em 1929, com apenas 20 anos, EDWIN
H. LAND patenteou o primeiro material
sintético polarizante do mundo para
uso comercial. Oito anos mais funda
a POLAROID tendo por base o uso das
lentes polarizadas que acabava de
criar. Ao longo de décadas, os óculos
POLAROID foram desempenhados um
papel pioneiro. Nos anos 50 quando
o uso de óculos de sol começa a
massificar-se já eram considerados,
os melhores, contudo projetados
para proteger as pessoas contra o
ofuscamento refletido. Desde então
tem continuado a trabalhar na melhor
proteção para os olhos sem nunca
se esquecerem do componente
estilo. Hoje as colecções de óculos
de sol e graduados da marca são
muito diversificadas destacando‐se
pela ampla gama de cores vivas,
realçando a sua atitude pop e ao
mesmo tempo mantendo o foco
nas lentes polarizadas funcionais.
TARTAN CHECK BY
FILA
texto por Maria São Miguel
A FILA procura mudar o jogo. Numa
atualização de silhuetas desportivas
e padrões clássicos, acenando ao
seu passado ímpar, intimamente
ligado ao mundo do ténis, a FILA
apresenta a nova linha Tartan Check,
inspirando-se na década de 70, e nos
seus padrões listados e axadrezados.
Procura elevar o fato de treino a
verdadeiro statement de moda.
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YOU MUST BUY
PALLASHOCK
texto por Maria São Miguel
Depois do lançamento, na estação
passada, da colaboração exclusiva
com a casa de moda francesa KENZO,
cujo foco foram as silhuetas retro
Pallashock, a PALLADIUM destaca
precisamente estes modelos na
sua nova coleção primavera-verão
2020. Saltando dos vastos arquivos
da marca para as ruas das cidades,
os Pallashock OG e os Pallashock
Mid OG trazem consigo uma vibe
anos 90 que vai deixar os fãs das
tendências revivalistas nas nuvens,
graças à sua sola compensada mais
alta e robusta. Nesta estação entra
no estilo retro com a PALLADIUM.
IGUAL
by ANTÓNIA ROSA e DAVID MOT TA
texto por Maria São Miguel
foto por Frederico Santos
@igualmagazine
Fazendo IGUAL pode-se ser
completamente desigual. Esta
parece ser a mensagem que motiva
ANTÓNIA ROSA e DAVID MOT TA
os mentores da nova revista de
moda que sai em versão on-line
nesta edição da Moda Lisboa. A
sobejamente conhecida make-up
artist, que acaba de fazer 30 anos
de carreira e o produtor de moda,
uniram esforços para realizar algo
que rompesse com o normativo e
com todos os clichês. Procuram ser
diferentes. “Não só nos conteúdos
e sua apresentação mas também
no modus operandi”. Em termos de
conteúdos, o foco “será a beleza e o
futuro previsto nesta área, sempre
com os olhos bem abertos para as
questões da sustentabilidade”. Nesta
primeira edição contaram com uma
equipa formada por jovens talentos,
aqueles em que eles acreditam
e pensam que venham a marcar
o futuro da moda em Portugal.
Basicamente dirigiram a cada um
deles um convite à liberdade. Quanto
ao público, a IGUAL foi pensada para
“aqueles que pensam por si próprios,
desenvolvem uma identidade própria
com consciência ética”. Para os
mentores é uma revista essencial
para todos os que abraçam a
mudança e não querem ser... iguais.
www.palladium.com
26
YOU MUST BUY
DIOR
HOMME
EAU DE TOILETTE
texto por Liliana Pedro
Dior Homme Eau de Toilette traz
uma nova abordagem à sensualidade
masculina com a aposta numa
fragrância protagonizada pelo
cheiro da madeira lisa e crua.
Dior Homme Eau de Toilette é um
perfume fresco, poderoso e sensual.
MAKE UP FACTORY
PASTEL
BREEEZE
CHLOÉ
NOMADE
ABSOLUT
ANNY
NY FASHION
WEEK COLLECTION
texto por Liliana Pedro
texto por Liliana Pedro
texto por Liliana Pedro
A primavera pede cores pastel e,
por isso, a Make Up Factory decidiu
lançar uma coleção dedicada à
próxima temporada. A linha de
produtos de Trend Look Spring/
Summer – Pastel Breeze para além
de incluir um primer refrescante,
uma base de boa cobertura e pó
compacto, inclui também sombras,
máscara de pestanas e um blush
rosado para finalizar o look.
Chloé Nomade Absolu evoca a
primavera com uma mistura de
aroma de frutas e almíscar. Algumas
das notas de topa incluem ameixa
cereja, davana e musgo. Chloé
Nomade Absolut é a fragrância
ideal para quem procura a frescura
e a leveza da primavera.
A marca de vernizes Anny lançou
uma coleção especial para a Semana
de Moda de Nova Iorque. Com a
cidade que nunca dorme como
inspiração, a paleta de cores dos
novos vernizes apresenta uma
cor aveludada e com um toque
brilhante. Runaway Talk, Prêt-à-
Porter, Front Row Babes, Flashlight
Tornado, Choose The Muse, Devil’s
Choice são os vernizes disponíveis
em cores como o salmão, o
vermelho, o preto e o verde.
27
YOU MUST BUY
↓ DIOR HOMME
↓ DIOR HOMME
↓ HUGO
↓ KARL LAGERFELD ↓ F E N D I ↓ STELLA Mc CARTNEY
↓ PERSOL
↓ MARC JACOBS
↓ DIOR
↓ VYSEN FONSI
28
YOU MUST BUY
↓ BUFFALO
↓ FILA
↓ FILA
↓ DIADORA PINK PANTHER
↓ MERRELL
↓ MERRELL
↓ PUMA x CARA DELEVINGNE
↓ NEW BALANCE
↓ LE COQ SPORTIF
↓ FRED PERRY
↓ FRED PERRY
↓ CONVERSE TWISTED
↓ PALLADIUM
29
YOU MUST BUY
LINA_ RAÜL
REFREE
PARA UM
FADO DIFERENTE
30
SOUNDSTATION
O produtor que lançou ROSALÍA na senda do sucesso e uma
voz formada no Clube de Fado, mais um monte de sintetizadores
resulta num dos mais incríveis registos do ano a
que a imprensa internacional já se rendeu.
No próximo dia 23 de Julho vai assinalar-se o centenário
do nascimento de AMÁLIA RODRIGUES, data redonda e simbólica
que há-de, certamente, inspirar inúmeras homenagens.
E será fácil prever que o peso da efeméride vai funcionar
como um vórtice que arrastará tudo e todos para
esse passado glorioso que a nossa maior diva representa.
Mas AMÁLIA foi sempre futuro, foi sempre uma força de
renovação, uma artista que nunca se esquivou à novidade,
ao risco. Em 2020, celebrar AMÁLIA olhando apenas para
o passado será não a compreender em todas as suas múltiplas
dimensões. Aplauda-se, portanto, Lina_ Raül Refree,
álbum que comprova que é de facto a olhar em frente que
se presta a melhor das vénias.
O produtor e músico catalão RAÜL REFREE explicou os cuidados
que teve com a voz de LINA: “Tive sempre uma fraqueza
pessoal pela voz. Creio que apesar de existirem muitos
músicos e instrumentistas que se queixam da importância
que se dá à voz na música, é uma realidade que não podes
negar. A voz é algo que todos temos, quase toda a gente
se atreve a cantar, mesmo que não cante bem, e eu acho
que o timbre é o que mais nos emociona internamente. Isto
foi uma coisa que sempre tive clara desde que me dedico
à música e que é: se há voz, é importante tratá-la e encontrar
a melhor maneira de emocionar o máximo possível,
porque esse será o veículo para fazê-lo. Não sei explicar,
e perguntam-me muitas vezes nas entrevistas, quais
são os mecanismos com que trabalho a voz. Há alguns que
obviamente posso contar, como a eleição do microfone ou
o espaço onde gravo as vozes. Depois há outras que são
mais difíceis de explicar, que surgem no momento em que
estou sentado no estúdio e tenho a LINA a cantar o fado. É
difícil explicar porque é uma reacção muito epidérmica que
tenho. Não se explica”. Neste “não se explica”, o espanhol
revela, afinal de contas, a procura de uma dimensão que
ultrapassa as normas técnicas, que extravasa aquilo até
que as máquinas são capazes de garantir. E isso sente-se
logo nos primeiros segundos de “Medo” (tema que AMÁLIA
gravou originalmente em 1966), quando LINA começa, sozinha,
por cantar “quem dorme à noite comigo” antes de
uma camada de tremores analógicos a envolver, como uma
densa névoa, deixando imediatamente claro que este vai
ser um disco diferente. E em que a voz surge ao centro,
em toda a sua nobre e dramática dimensão, como a figura
que no teatro se posiciona no palco, ladeada por espartano
cenário, recortada apenas pela luz para nos declamar
a sua verdade.
LINA chega aqui vinda do Clube de Fado, em Alfama, habituada
a fazer-se ouvir num espaço de solenes rituais, sem
microfones, mas sempre com o peso da história a sentir-
-se à volta, como bem sabe quem já por lá possa ter-se
maravilhado nalgumas noites. E RAÜL REFREE é produtor de
créditos firmados, com um currículo vasto e variado que
se estende de LEE RANALDO (com quem acaba de editar o
novíssimo Names of North End Women) a ROSALÌA (assinou a
produção de Los Ángeles, álbum de estreia da agora superestrela
latina, lançado em 2017). Juntos, RAÜL e LINA assinam
aqui um prodígio, um álbum em que o fado amaliano
é ponto de partida para um estudo fundo sobre a emoção
e o poder da voz, sem que se sinta qualquer tentação de
mimetismo ou submissão à tradição. E, portanto, como
tantas vezes acontece com grandes discos, este Lina_ Raül
Refree, é também um paradoxo, porque ao abraçar um reportório
com peso histórico não deixa de o entender como
ponto de partida e não de chegada, como sugestão e não
como dogma, como matéria para construção e não como
monumento intocável.
E é isso. Simplicidade, ausência de temor, emoção real, honestidade
e entrega sem reservas a uma ideia. Não é preciso
muito para fazer um grande disco. Neste caso bastou a
paixão, a inteligência, o bom gosto e a coragem para fugir
ao óbvio e experimentar coisas novas. Como AMÁLIA sabia.
fotos por Luís Mileu
texto por Rui Miguel Abreu
31
SOUNDSTATION
JOÃO PESTE
POP DELL'ARTE
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SOUNDSTATION
Uma das bandas portuguesas mais icónicas dos anos 80 regressa
este ano com mais um disco de originais. Transgressio
Global, surge 10 anos depois com a promessa de transgredir
a estética e os géneros musicais, misturando o passado
e o presente na mesma linha temporal.
No ano em que celebram 35 anos de carreira, editam um
novo disco. Consideram ser uma celebração, visto que dista
10 anos do álbum anterior?
JP: Apesar de distar 10 anos, começamos
a pensar no novo trabalho logo após o
lançamento de Contra Mundum, resultando
em 7 anos de trabalho. Naturalmente,
faz com que seja um disco muito extenso.
Na verdade, estamos a pensar
na possibilidade de uma edição em vinil,
apesar de ainda não estar confirmado,
o que teria que ser um disco duplo, uma
vez que a edição em CD terá oitenta
minutos. Se fosse avaliado ao metro
com certeza já teríamos um prémio.
A extensão do disco justifica, na vossa opinião o espaço
entre as duas edições?
JP: Um disco com 21 temas e a demorar
cerca de 10 anos a ser feito é um
disco mais complexo, de difícil explicar
em duas palavras. É um disco dos P O P
D E L L’A R T E, reconhecível como tal, seja
lá o que isso for, mas creio que as pessoas
quando ouvirem os temas, mesmo
eles sendo muito diferentes entre
si, reconhecerão a nossa sonoridade.
Nesse caso, existe algum fio condutor entre os temas do
disco?
JP: A palavra chave do disco, digamos,
é a palavra transgressão, daí o titulo
Transgressio Global. A palavra chave servirá
para as pessoas compreenderem
melhor o disco.
JP: O disco tenta também ser uma viagem
por vários tempos, unindo-os numa
espécie de um só tempo, ou seja uma
amálgama de tempos num só tempo.
Aliás o penúltimo tema do disco chama-se
“In Diferent Times (At the Same
Time)”, exatamente com esse espírito
e portanto tem a ver por um lado com
o presente, contendo temas da atualidade
como “A New Identity”, sendo a
questão identitária hoje tão importante,
ou o tema “The King of Europe” que
tem a ver com o estado atual da União
Europeia, ou o “Freaky Dance” que é
uma celebração da mitologia do rock
com referências que vão desde a PAT T I
SMITH ao JIMMY MORRISON.
JP: Por outo lado, tem temas que remetem
para outros tempos, há um tema
que é uma versão do VITOR JARA, “El
Derecho de Vivir en Paz”, que é um tema
bastante conhecido, e depois tem três
poemas que resolvemos adaptar a música,
um deles o de Camões do séc. XVI
que é o “Cá, Nesta Babilónia”, que é um
dos poemas com um sentido mais critico
e mais cáusticos de CAMÕES. Temos
também um poema em latim do G AYO
CATULO, que é um poeta do séc. I a.C.,
contemporâneo do JÚLIO CÉSAR. E temos
também um poema, de autor e
data desconhecida, mas que é um poema
ao estilo de ANACREONTE, um poeta
do séc. V AC, com grande influência
para a poesia dos séculos seguintes.
À primeira vista, o que é que estes autores têm a ver uns
com os outros sendo eles de tempos tão diferentes?
JP: A amálgama de referências é propositado.
Acho que apesar de diversidade
estética, a diversidade de referências
e diversidade de épocas, penso que
seja coerente e por isso é que a palavra
chave é a transgressão. Entendo a
transgressão como o ultrapassar limites.
Na arte entendo que devem-se ultrapassar
os limites estéticos que nos
são impostos e que nos condicionam.
Na arte pode não haver só transgressão
em termos estéticos mas pode haver
em termos ideológicos, e até em termos
morais. Quando se transgride pode-se
transgredir ideologicamente uma obra
sem transgredir a estética ou pode-se
transgredir esteticamente sem o fazer
ideologicamente ou moralmente.
Como os POP DELL’ARTE veem as novas músicas das bandas
atuais em termos de transgressão no tempo atual?
JP: Eu acho que infelizmente está a
haver uma atitude muito pouco transgressiva
na maior parte das bandas e
na maior parte das coisas que estão
a ser feitas. Considero que as bandas
das décadas de 60, 70 e 80 foram bastante
transgressivas, criaram-se bastantes
coisas novas e essas coisas
novas muitas vezes correspondiam a
movimentos socias. Não era só a musica.
Ser punk não era só ouvir a música
punk, era mais do isso, era uma
atitude, era uma maneira de estar na
sociedade. Por exemplo o maio de 68
em França foi influenciado pela geração
do verão do amor de 67, que tinha
sido uns meses antes. E o movimento
hippie, que era contra a guerra e pelo
amor livre, teve muito a ver com o movimento
do maio de 68, porque surgiu
por questões como o uso das casas de
banho comuns por homens e mulheres,
os dormitórios comuns e levou a uma
revolta pelos estudantes.
JP: Isto para dizer que nas últimas décadas
curiosamente não tem surgido
nada muito novo. Se as pessoas acharem
isso devem então apontar-me um
movimento musical, dentro da cultura
jovem, completamente novo como esses
que referi. Eu acho que não há. Não
neste sentido nem com aquelas dimensões.
Há coisas boas e há bons músicos,
mas não há uma vertente nova, um
caminho novo. Há pessoas que inovam
dentro das coisas que fazem mas não
há, em meu entender, uma linguagem
musical nova, pelo menos nas ultimas
décadas.
SOUNDSTATION
fotos por Céu Guarda
34
SOUNDSTATION
Os POP DELL’ARTE já tiveram várias formações na sua carreira.
Porque se mantém a banda viva, uma vez que a grande
maioria das bandas acaba por cessar atividade e em que
medida este disco entra no ADN dos próprios POP DELL’ARTE?
JP: Acho que a pergunta deveria ser ao
contrário, perguntar às bandas que acabaram
porque é que acabaram e às que
se mantiveram porque é que se mantiveram.
Parece-me normal que quem
faça música e opte por fazer música,
continue a fazer música durante uma
série de anos. Se é um projeto musical
e se a pessoa acha que as pessoas envolvidas
nesse projeto musical acham
que ele não se esgotou, não vejo porque
não devam continuar e manter durante
mais anos. Estranho é porque é
que as bandas acabam em vez de as
bandas continuarem. Embora nalguns
casos compreendo que as bandas que
não têm mais nada a dizer resolvam
acabar ou ir fazer outra coisa. No dia
em que achar isso é porque acho que o
projeto POP DELL’ARTE morreu e eu considero
que o projeto ainda não morreu.
Poder-se-ia dizer que a banda POP DELL’ARTE é um projeto
de vida pessoal?
JP: É uma pergunta difícil de responder.
O que é que é um projeto de vida?
Acaba por ser em parte, mas um projeto
de vida parece que a pessoa só vive
para aquilo. Mas existem outras coisas
que são importantes. Claro que os P O P
D E L L’A R T E ao fazerem música fazem parte
da minha identidade. Eu não gosto
muito da expressão “Projeto de vida”
porque as pessoas podem ter vários
projetos numa só vida. Digamos que
tem sido o meu projeto de vida principal.
Os POP DELL’ARTE têm uma teatralidade muito vincada, à
partida era expectável que houvesse mais registos em vídeo
dos singles. Há alguma razão em particular?
JP: Há motivos para isso. Em termos
pessoais, não falo pelo resto da banda,
não sou grande fã de videoclipes.
Prefiro primeiro conhecer a música.
Entendo o vídeo como um complemento.
Porque acho que quando ouvimos
só a música temos uma liberdade
total de criar na nossa mente as imagens
que quisermos. Podemos associar
aquilo ao que quisermos. Não estamos
condicionados por nada. Sempre achei
que os videoclipes condicionam muito
a assimilação e a própria liberdade
criativa do ouvinte. Mas entendo que
seja uma necessidade para promover
a música. Como é quase uma inevitabilidade
de se fazerem vídeos, vamos
fazê-lo. Estão programados dois vídeos.
Um está a ser acabado e outro está-
-se a tratar da logística. Um dos temas
“Sem Nome”, o vídeo será da responsabilidade
do PAULO MONTEIRO, e penso
que em breve estará disponível. É um
tema com uma linguagem mais próxima
do rock e com uma letra em português.
E o outro tema é um pouco mais sofisticado
no sentido em que é um vídeo
do tema “The king of Europe”, um olhar
irónico sobre a União Europeia atual, a
partir de um personagem como sendo
o rei da Europa. É uma personagem inventada
que tenta caricaturar o estado
da europa, e que seria simultaneamente
xenófoba, racista, homofóbica, machista,
pretensiosa e neoliberal. Portanto
tudo o que nós não gostamos. Esse vídeo
é da responsabilidade do CA R LO S
CONCEIÇÃO, um realizador com quem
trabalhámos no vídeo de uma versão
de “Lady Godiva’s operation” dos VELVET
UNDERGROUND.
Sendo o disco Trangressio Gobal, um cruzamento temporal
de referências a coexistirem numa mesma linha temporal,
em que medida é que o fizeram?
JP: Tentámos cruzar os tempos e os
estilos numa linha temporal única. O
tema “Freaky Dance” é uma celebração
do rock, provavelmente o tema mais
rock do disco e é uma homenagem ao
imaginário do rock. No fundo, não podendo
referir todos os nomes, destacamos
MARC BOLAN dos T-REX, JIM
MORRISON dos DOORS, JOHN LYDON dos
SEX PISTOLS, PATTI SMITH, IAN CURTIS
dos JOY DIVISION e BOB MARLEY. Há um
tema que brinca um pouco com a ideia
do universo da moda, “Style is The Answer
(to almost everything)”. Selecionamos
para integrar no alinhamento do disco
o tema “Anominous”, mas que tem uma
nova roupagem. Saiu há quatro anos,
provavelmente precipitamo-nos nessa
altura, mas agora editamos com uma
versão nova.
JP: O tema “Post-Romantic Lover” vai resgatar
o poema ao estilo ANACREONTE,
que já referi. Incluímos três pequenas
miniaturas: que é talvez o material mais
experimental que compusemos, mas são
faixas muito pequenas, que rodam um
minuto, uma espécie de interlúdio, têm
todas o mesmo nome com uma variante:
“3 Things About Foucault (you must
love)”, “3 Things About Arvo Pärt You Must
Remeber” e “3 Things About Orpheus You
Must Understand”. Musicalmente são
diferentes do resto do alinhamento do
álbum porque foram compostos só com
colagens, ninguém toca nem ninguém
canta nada. É uma das outras vertentes
que sempre exploramos. Estamos
a colar elementos de uma outra realidade
numa coisa para a qual ela não
tinha sido inicialmente feita. Numa espécie
de corte e colagem, ao estilo do
movimento artístico Dada.
entrevista por Carlos Alberto Oliveira
35
SOUNDSTATION
GAME ON
TIAGO PAIVA
36
ACTOR
A verdade é que muita gente o conhece da série portuguesa
4PLAY, mas quem será o TIAGO por trás das câmaras?
Conhecido pelos vários talentos, TIAGO PAIVA tem-se vindo
a destacar cada vez mais em Portugal: representação,
guionismo, música e humor são as principais paixões deste
“gajo de 30 anos com muita ambição e que não desiste
das suas ideias e devaneios mentais”.
Foi desde muito cedo que o mundo do espetáculo se destacou
na sua vida, principalmente a vertente musical. O seu
avô foi violinista da Orquestra Sinfónica do Porto e a sua
mãe é professora de música, e por isso foi-lhe apresentado
o violino apenas com 7 anos de idade, quando iniciou a sua
formação musical. Com apenas 16 anos integrou uma banda
de rock alternativo, os RAISE, que foi quando a música
passou a ser uma prioridade na sua vida. Tiago Paiva Violin
Performance foi o projeto iniciado em 2009 onde se lançou
a solo com performances de violino em discotecas, o que
o permitiu um ano depois, ser agenciado pela L AYJA N ao
lado de grandes nomes nacionais como ANGÉLICO VIEIRA,
DIOGO MORGADO, JOSÉ CARLOS PEREIRA, ou até mesmo SOFIA
ARRUDA. Em discotecas, atuou em mais de 20 países, como
por exemplo Espanha, Estados Unidos da América, França,
Inglaterra... E atualmente, tem um projeto (criado em 2017)
chamado O Badalhoco Gourmet, onde são publicados sketches
com doses de humor sobre os mais variado assuntos.
muitos elogiaram. “No primeiro mês houve pouca gente a
abordar-me, mas no segundo mês já notei diferença muito
grande e começaram a abordar-me diariamente.” A verdade
é que a série foi um grande sucesso, mas o que os fãs querem
saber é quando chegará a segunda temporada. “Não
conseguimos o objetivo do crowdfunding. Temos milhares
de fãs, mas é difícil hoje em dia dar dinheiro a quem quer
que seja, e com a 4PLAY foi igual”, afirma admitindo que a
maior dificuldade da realização da 1ª temporada foi o orçamento,
12.000€ por episódio e pessoas a desempenharem
o trabalho de três profissionais. “Neste momento estamos
a ver outras possibilidades para que haja a segunda temporada.
Ou acontece este ano ou já não acontece.” Refere
que estamos num país onde o audiovisual “é desvalorizado
e os próprios canais acabam por desvalorizar o meio com
os conteúdos” que fazem, acabando por não existir um estímulo
para a produção nacional. Ainda este ano podemos
esperar Blind Date, um talk show gravado para a NIT TV onde
TIAGO irá fazer uma refeição com um convidado surpresa
numa entrevista casual. Para o futuro, espera continuar a
trabalhar em projetos que o apaixonam, sem nunca deixar
de lado a comédia, porque “ser ator é a minha prioridade,
mas também gosto de fazer rir e passar boas energias a
terceiros através de sorrisos”.
Mas afinal, como surgiu a ideia da criação da série 4PLAY?
TIAGO era “um miúdo que estava a viver da música e estudava
arquitetura com o sonho de ser ator”, e então resolveu
deixar a sua vida no Porto para fazer o que realmente
lhe dava prazer. Decidiu mudar-se para Lisboa para estudar
representação, interpretação e produção musical na
Act School e foi aí que tudo começou.
Estava a viver no Bairro Alto e passava o dia a ver séries e
vivia uma vida boémia com o seu núcleo de amigos que era
composto por três rapazes e uma rapariga. O facto de não
haver uma série portuguesa que interessasse uma grande
parte da população, com o objetivo de criar o seu próprio
lugar no mundo do espetáculo, começou a escrever a série
que acabou por retratar as suas vivências e histórias,
de uma forma mais ou menos exagerada. Foi um processo
bastante demorado, mas depois de vários contactos com
produtoras e canais, foram aproximadamente 2 meses de
pré-produção, 2 meses e meio de filmagens e mais 3 meses
de pós-produção para terem o resultado na RTP2 que
texto por Rafael Moreira
37
ACTOR
ANDRÉ TEOMAN
↑
ZOO
UM CRIADOR COMPULSIVO
↑
ZOO
↑
TESOUROS DE BARRO
38
DESIGN
Com alguns prémios internacionais e referências em publicações
de design prestigiadas, ANDRÉ TEOMAN (1989) é
mais um caso de um designer português a ganhar destaque
na esfera internacional. Nascido em Viana do Castelo,
mas com raízes turcas, lançou-se desde 2015 num projeto
pessoal com propostas díspares, em geral alicerçadas na
inovação e irreverência, doseadas de um saber fazer artesanal
pátrio que, bem conduzido, pode fazer a diferença num
mercado global. Propõe-se criar peças de grande impacto
que se distinguem pela sua forte raiz identitária e por um
calor humano que muitas vezes escasseiam em projetos de
design mais massificado. Entre os seus projetos podemos
destacar a Zoo Collection composto por vasos modulares
em cerâmica e vidro que agrupados na vertical compõem o
corpo de pequenos animais fantásticos. Já em Tesouros de
Barro, o artista emerge no universo da olaria portuguesa e
cria uma série de utensílios, alguns com piercings que tanto
nos remetem para silhuetas jovens urbanos contemporâneos
ou para formas de arte pré-colombiana com um
toque galináceo. Em geral a fonte das suas referências
são múltiplas, cruzam culturas, épocas e saberes. A PARQ
entrevistou ANDRÉ TEOMAN que nos deixou uma visão geral
do seu trabalho, do design nacional e das perspetivas de
crescimento do made in Portugal.
Refere que nasceu no seio de uma família que tinha interesses
culturais que o instigaram desde jovem a ver e a
participar em atividades que o meio artístico à sua volta
lhe oferecia. Por isso desenvolver uma carreira criativa
impunha-se com alguma naturalidade, independentemente
de em certas alturas ter parecido mais orientado para o
lado musical, outras vezes para as artes visuais. Optou por
se formar numa escola de artes visuais na cidade natal e
nessa altura a sua entrega e paixão pelos processos criativos
já faziam com que fosse sempre o último a abandonar
o atelier, para não dizer literalmente empurrado para fora.
Era um período em que vivia tudo muito intensamente e
quando saía do atelier mergulhava nas artes do teatro,
nomeadamente no das marionetas, uma segunda paixão
que, num olhar atento, continua a estar presente nos
seus processos criativos. Algumas das suas criações hoje
aclamadas prendem-se ainda a estes primeiros passos no
mundo das artes ultrapassando muito a questão do objeto
utilitário. ANDRÉ TEOMAN coloca-as num trânsito que vai
do design à arte e as suas criações trazem sempre uma
narrativa, fazem parte de histórias e mostram-se com um
certo sentido cénico que dão uma razão de ser.
Grande parte das peças que cria são únicas ou pertencem
a séries limitadas, necessariamente dirigidas ao colecionismo.
Esta relação com o mercado mais exclusivo e elitista
acaba por ser uma continuação da experiência que teve em
empresas de design portuguesas como a BOCA DO LOBO e
KOKET, onde deu os seus primeiros passos e desenvolveu
peças como a Newton, Piccadilly ou o Hypnotic que se tornaram
peças icónicas que hoje moldam positivamente a
imagem do design nacional lá fora. Quando o interrogamos
sobre este lado mais positivo em notoriedade e quantidade
do que se está a produzir em Portugal, confessa que se
podia ir mais longe se o sector soubesse criar um plano
nacional, como o calçado soube criar. Sabe do que está a
falar, porque não obstante do seu portfolio resultar de uma
pequena seleção daquilo que cria, no fundo uma imagem
daquilo que quer passar enquanto designer, há muitas outras
coisas que desenvolveu, nomeadamente para a indústria,
onde soube sempre ter um pé. Pedidos de colaboração
não faltam, porque a “indústria tem visto no design uma
mais-valia para se diferenciar num mercado internacional
se bem com reticências e sempre a olhar para a galinha do
vizinho como melhor que a nossa.”
Considera que não há políticas do design em Portugal “está
tudo por fazer”. Também refere que não podemos pensar
que a projeção de pode fazer com iniciativas esporádicas
privadas como tem acontecido mais recentemente. “Num
país com pequeno poder de compra é essencial mostrar-te
lá fora e ir lá para fora tem custos acrescidos. Vão aparecendo
algumas oportunidades e eventos, mas não com
regularidade e a expressão necessária para criar uma cultura
de design interna como aconteceu na Itália ou nos países
nórdicos”. Considera que uma projeção internacional do
design português até iria ter reflexos positivos no mercado
interno, já que este está muito pouco informado quanto aos
seus criativos e às suas criações. “A maior parte do público
nacional não dá valor ao “Quem”, “Quando” e “Porquê?”
porque não foram ensinados a tal e os que dão muitas vezes
não tem capacidade para adquirir esses objetos. Se os
designs italiano e nórdico são conhecidos é graças à aliança
entre a indústria, o estado e os criativos que levou a uma
cultura de design próxima da sua população”.
Gosta de trabalhar para a indústria, mas implica atitudes
completamente diferentes porque para a indústria os fatores
mercado e das tendências tem que ser observadas
com mais atenção. Enquanto criador da ANDRÉ TEOMAN
STUDIO muda de postura, procura “criar gostos novos, quer
haja alguma ligação atual ou se tenha que começar uma
ligação emocional do zero sem pressão das necessidades
básicas da indústria. Quanto a objetivos futuros confessa
que não procura fazer grande projetos porque o seu próprio
trajeto nunca foi linear, nem tal como os projetos. Vendo
de longe foram sempre os desvios e a sua capacidade de
os aproveitar que tornaram possível estar onde está. “Por
isso tenho-me focado em manter boas parcerias e aliar-me
a projectos que façam sentido dentro daquilo que tenho
desenvolvido”.
texto por Francisco Vaz Fernandes
←
KALEIDOSCOPE TABLE
39
DESIGN
ANTÓNIO
FARIA
Um artista que, no seu atelier, tenha como companhia, uma
cadeira do EERO AARNIO, como a Ball Chair, ou um candeeiro
Arc Lamp de ACHILLE CASTIGLIONI, ou ainda uma cadeira
Tulip, de VERNER PANTON, não pode ser vulgar. Sobretudo
se, justamente muito próximo do seu processo de trabalho
se encontrarem peças de design. E as referências não
se ficam por aqui. Multiplicam-se. Algures um candeeiro
de TOM DIXON ilumina um móvel de LUÍSA CODER. A própria
mesa onde trabalha é uma peça desta designer. A N T Ó N I O
FARIA realiza um desenho evocando uma trama difusa de
ramos que se desenvolvem, de forma plana, na superfície
da folha. Um labirinto que se desenha, mas sem perder de
vista a noção contemporânea de estrutura. Por esse motivo
fomos entrevistá-lo, para melhor conhecermos o seu
mundo e entendermos a forma gulosa como nos deliciamos,
em prazeres múltiplos de fruição, simultaneamente, quer
com os seus desenhos, quer com o seu design gráfico, quer
com os objetos de design que povoam a sua casa soalheira.
TUDO É
DESENHO
Qual é a intenção de aplicar motivos vegetativos nos seus
desenhos?
AF: Não há uma intenção, há uma necessidade.
E a necessidade é passar
uma ideia de melancolia e claustrofobia.
Apesar dos motivos que aludem a um bosque, a um labirinto.
Não é um fim em si mesmo?
AF: Não, não me interessa nada o desenho
no sentido naturalista, da representação.
É utilizar esta forma, para
dizer outra coisa.
Quem olha para os teus desenhos fica intrigado pelo modo
como os ligas.
AF: Há desenhos que são feitos para se
ligarem uns aos outros. Mas é um só
desenho, tem é a situação de ser composto
por partes. Quando a intenção e
a necessidade é a mesma obviamente
que eles vão criando pontos de ligação
entre si. Mas não tenho essa intenção
de quase criar um cenário.
Fale-nos dessas grandes escalas. Houve uma maior intencionalidade
de ligação entre os elementos?
AF: Tem que haver. Porque a minha preocupação
é fazer um só desenho. Ele é
feito por partes mas é um só desenho.
É só uma ideia. As escalas têm a ver
com a minha necessidade de eu me
posicionar, enquanto pessoa, no próprio
espaço. Fazer uma escala em que
o espaço do desenho toma conta de
mim. Me envolve no próprio desenho.
E que pode estar ligada a essa questão da claustrofobia?
AF: Sim. Gosto da ideia de imensidão.
Do desenho ser maior que nós. Do desenho
ser capaz de nos envolver ou de
nos fazer sentir aquilo que queremos
representar.
Porquê o amarelo?
AF: As cores são algo estranho para
mim. São uma coisa emocional. Tem
uma vibração de luz que me interessa.
Desta vez foi o amarelo. Não há nenhuma
carga simbólica. O que me interessa
é a vibração luminosa que a cor me
provoca. De qualquer maneira também
me pareceu, inicialmente, despropositado,
e isso foi o que me agarrou mais
à ideia de usar o amarelo.
40
ARTE
No fundo, sair um pouco da zona de conforto e daquele
fundo maioritariamente branco em contraste com o negro.
AF: Depois há um contraste que me
interessa muito, a vibração do amarelo
com o preto, é uma coisa que funciona
muito bem graficamente, para
mim. Aprendi que era o maior contraste
possível para a leitura das informações.
Coisas de obra, ou das sinalética,
muitas vezes apresentam as cores
amarelo e preto.
Esse poderá ser o seu lado de gráfico a falar. Talvez a sua
experiência enquanto designer o tenha levado a selecionar
essas cores, e a concluir que o amarelo tinha essa força.
AF: Sim, essa vibração. Mas o engraçado
é que nem toda a gente vê o amarelo,
e isso acho muito interessante. É óbvio
que são amarelos. Mas já aconteceu
pessoas virem-me dizer “ah, a tua série
verde". Porque de facto o amarelo
em proximidade com o negro provoca
uma sensação de verde. Aquele verde
azeitona é feito a partir do amarelo e do
preto. Há pessoas que só veem o verde.
Eu acho que as pessoas deixam-se
levar pela representação da natureza.
Estão a ver o lado naturalista.
Falamos agora nesta relação dos objetos de design com o
espaço onde trabalhas. Eles estão muito presentes no seu
espaço de criação.
AF: Eu sou um apaixonado por design.
Sou apaixonado pela forma. É uma coisa
muito importante para mim. E não
deixa de ser uma forma de desenhar. É
um outro desenho. São coisas que me
agradam, que gosto. Que eu gosto de ter
Os objetos são importantes.
AF: São. Eu raramente consigo sobreviver
com coisas que não gosto por
perto. Não sou capaz de ter em casa
um objeto de que não gosto. É difícil
eu ter em casa uma cadeira que ache
feia. Não consigo olhar para as coisas.
O teu espaço é o teu descanso.
AF: Sim, numa conversa que tive há
muitos anos, sobre a ideia de conforto,
encontravam-nos a discutir essa
questão dos objectos que são estéticos
e desconfortáveis. Isso para mim
não existe, eu prefiro ter uma cadeira
que me faça magoar as costas e que
seja agradável ao olhar do que uma que
seja confortável, mas que me fere os
olhos. Para mim o conforto é visual. De
facto, a pessoa com quem eu estava
a falar, numa dessas discussões disse:
"Engraçado, eu nunca pensei nisso. Eu
também sou essa pessoa". E apesar dessa
pessoa assumir isso, o nosso conforto
visual era o oposto, mas a ideia
era a mesma. O que nos interessou na
nossa conversa foi essa ideia de conforto
visual.
Mas, existe um conforto visual que é espontâneo, digamos,
e outro que é educado. E é isso que é curioso nessa relação
que se estabelece entre os objectos e o teu trabalho, enquanto
desenha. Trabalhas na companhia, digamos assim,
de objetos desenhados por designers de grande renome.
AF: Sim, eu escolho os objetos e sei
que histórias têm os objetos e quem
são os autores.
Outra característica em ti que considero peculiar, e que não
vejo em muitos artistas, é justamente esse interesse pelos
objetos, no seu desenho.
AF: Para mim é tudo desenho.
Tens uma percetiva horizontal do desenho. No sentido do
desenho em todas as vertentes disciplinares.
AF: Sim, no sentido em que posso gostar
de roupa de estilistas, embora não
as use. Mas gosto de apreciar, pelo
seu desenho.
Pergunto se a mesa onde está o desenho que estás a desenvolver,
neste momento, enquanto conversamos, é da
LUÍSA CODER.
AF: Sim. Ela fez uma edição limitada destas
mesas, e com a escala que a pessoa
quiser. Sim, esta é única. Existem
3 e são todas diferentes. Esta mesa foi
pensada para ser uma mesa multidisciplinar,
e para pessoas que não queriam
ter uma tábua de engomar. Eu não
passo a ferro em cima da mesa. Eu não
passo a ferro em lado nenhum, mas
é uma bela mesa para trabalhar. Tem
uma superfície lisa. Não deixa registos
nenhuns no desenho. Fácil de limpar.
Fale-me dos candeeiros, que também se encontram próximo
da mesa.
AF: Não são originais. Gosto muito de
design dos anos 60.
E gostas de contrastes?
AF: Sim, gosto sobretudo de contrastes
e considerei que resultaria num bom
equilíbrio com a mesa.
E os candeeiros ainda têm um apontamento a cor laranja.
AF: Houve uma fase em que eu estava
obcecado com a cor laranja. Em tudo
colocava essa cor. Agora já não se nota
na casa. Sobraram algumas peças. E
achava muita graça ao MARC NEWSON
que partilhava essa obsessão pelo laranja.
Eu procurei, durante muito tempo,
uma réplica em miniatura do carro
desenhado por ele para a FORD, que
se chamava 021, e que é o número do
pantone cor de laranja. Vi o carro ao
vivo no museu de design em Londres,
mas não era cor de laranja era verde.
Muitos trabalhos gráficos que realizei,
até as pessoas começarem a chamar-
-me à atenção eram feitos a laranja.
E as cadeiras onde estamos sentados, são de quem?
AF: São da LUÍSA CODER, também.
E organizas jantares nesta mesa?
AF: Sim, retiro os desenhos, coloco
uma toalha e depois do jantar observo
e aproveito os desenhos deixados pela
refeição na toalha.
Estava a olhar para este monte de desenhos que repousam
sobre a mesa. Estão tão bem arrumados que parecem mil
folhas. São tantos.
AF: Claramente é um mil folhas.
entrevista por Carla Carbone
foto por Cristina Gameiro
41
ARTE
42
UM
JARDIM COMO
FILOSOFIA
DE VIDA
SANTIAGO
BERUETE
"A natureza ensina-nos outras formas de sermos humanos".
Quem o diz é SANTIAGO BERUETE, que há vários anos investiga
e avalia como uma mentalidade ecológica, os estilos de
jardinagem e a ciência botânica podem nutrir o pensamento
humano. Esta sua teoria filosófica relacionada com a natureza
tem um principal objetivo: a busca da tranquilidade.
Desde o início da civilização, o jardim tem sido um reflexo
da sociedade para muitos pensadores, políticos, arquitetos
e artistas. É um veículo de transmissão de pensamentos e
saberes. Este é também um local de culto para SANTIAGO
BERUETE (Pamplona, 1961). BERUETE divide o seu tempo a
escrever em jardins e a dar aulas de Filosofia e Sociologia,
temas nos quais se formou.
alcançar um determinado status e uma “boa vida” (enquanto
sinónimo de riqueza e acumulação).
“Qual é a nossa ideia de uma boa vida? Vi muita riqueza
acumulada e grandes vazios emocionais. O caminho da acumulação
não tem fim e não leva a parte nenhuma: somente
a se desconectar da realidade e de si mesmo. O jardim
ensina outra via, porque se lhe dás demais, mata-lo”, revelou
em entrevista ao El País.
Neste sentido, “somos a natureza, mas também a sua pior
ameaça”, porque “entendemos que o crescimento não pode
ser ilimitado, mas não renunciamos ao conforto”, destaca
o autor de "Jardinosofía".
“Seja como fragmentos do paraíso ou como esboços de um
mundo melhor, os jardins invocam as aspirações atemporais
da filosofia e permitem visualizar como seria uma vida mais
plena e alegre. São uma metáfora visível da felicidade”, afirma
BERUETE sobre a relação entre a filosofia e os jardins.
BERUETE já lançou vários poemas, livros de histórias e romances.
No entanto, mais recentemente que casou nas
suas obras o valor da filosofia com a sua experiência como
jardineiro. Primeiro lançou o livro "Jardinosofía: Una historia
filosófica de los jardines" (2016) e mais recentemente
"Verdolatría: La naturaleza nos enseña a ser humanos" (2018)
(ambos editados pela editora espanhola Turner).
Nos seus livros, o antropólogo espanhol incita a nossa mente
a refletir sobre importantes aspectos da nossa existência
que ainda se encontram camuflados. Usamos as plantas
para obter remédios e drogas para os males do corpo.
Contudo, segundo este investigador, devíamos utilizar a
natureza para obter valiosas lições para a humanidade.
"Os valores implícitos na criação e no cuidado de um jardim
—paciência, perseverança, humildade, esperança— incentivam
e induzem outras formas de compromisso com a
terra e a sociedade. Muitos dos prazeres físicos e benefícios
psicológicos que cultivam —serenidade, liberdade, descanso
e inocência— constituem ingredientes essenciais de
uma boa vida", disse numa entrevista para o El Hedonista.
Para o escritor, a nossa relação e o contacto com espaços
verdes pode pôr fim ao ciclo de insatisfação que muitas
vezes vivemos. Ciclo esse baseado em expectativas
inalcançáveis.
“Temos expectativas que não podem ser satisfeitas porque
o mundo em si é organizado para que elas não se cumpram.
Isso gera ansiedade. Isso leva-nos a ser individualistas
e torna-nos consumidores. O contato com a natureza
rompe esse ciclo porque tem outro ritmo. Muito do que
consideramos avanços passa por romper esse ritmo da
natureza: levar água onde não há, construir sobre a água.
Ou atacamos a natureza ou a idealizamos”, constatou na
mesma entrevista.
Ainda assim sublinha que não há uma receita universal para
uma alma saudável. “Não existe felicidade de garrafa. Cada
um tem de desenvolver a própria fórmula. Para mim tem a
ver com uma viagem para dentro”. Tal como VOLTAIRE propôs
no final de “Cândido ou O Otimismo” (1759), a fórmula
de SANTIAGO BERUETE também passa por cultivar o seu jardim,
de modo a reconhecer quem realmente é. E para isso
é preciso paciência e perseverança.
Estes são os valores que para o autor importam. A experiência
com a natureza prepara a mente e os sentidos para
viver no presente. Crítica as pessoas que se esforçam para
texto por Miguel Rodrigues
43
FILOSOFIA
texto PATRÍCIA CÉSAR VICENTE fotografia FREDERICO OM styling PEDRO APARÍCIO
assistente MADALENA NUNES make-up RAQUEL SOEIRO
↘
casaco DECENIO x
ALEXANDRA MOURA
MOMENTO
MOMENTO
MOMENTO
MOMENTO
MOMENTO
MOMENTO
MOMENTO
MOMENTO
MOMENTO
MOMENTO
MOMENTO
MOMENTO
MOMENTO
SAMBADO
SAMBADO
SAMBADO
SAMBADO
SAMBADO
SAMBADO
SAMBADO
SAMBADO
SAMBADO
SAMBADO
SAMBADO
SAMBADO
→
saia INÊS TORCATO
44
MÚSICA
45
MÚSICA
FILIPE SAMBADO tem um novo disco, uma descoberta com
novas experiências naquela forma muito própria de quem
sabe comunicar com o mundo através da arte. Quem ouve
identifica a diversidade, a honestidade e percebe que acompanhar
o percurso deste artista permite viajar por vários
universos sem sair do mesmo lugar.
Nesta entrevista falámos sobre o seu novo trabalho, o seu
percurso, medos, certezas, crenças e tudo aquilo que fazem
de FILIPE SAMBADO a pessoa certa, que nos faz pensar
sobre a forma de ver o mundo que tanto questionamos.
O teu percurso começa em 2012 com o EP “Isto Não É Coisa
Pra Voltar a Acontecer”. Estamos em 2020, foste convidado
para o Festival da Canção e é editado o teu novo álbum
de originais Revezo. Como é que têm sido estes anos de
crescimento?
FILIPE SAMBADO: Tem sido em crescendo.
Tem sido um desenvolvimento pessoal
e musical, mas faz parte de uma
timeline de um filme. Já não tenho bem
noção da ordem cronológica das coisas.
Comecei a fazer estes trabalhos
a solo, fui ganhando alguma confiança
e fui crescendo.
Qual foi o teu processo de composição/criação para este
novo álbum?
FS: Eu fui fazendo logo muitas das canções
no final do processo do disco anterior.
Já tinha uma grande parte escrita
e era sobretudo um trabalho feito
á guitarra e voz, com muitas melodias
gravadas no telemóvel. Um processo
variado que se podia fazer em qualquer
sítio. Depois houve uma parte mais parada
e naturalmente decidi que ia para
estúdio fazer o resto.
Quanto tempo demoraste?
FS: O disco demorou menos de dois
anos a ser feito, mas o período de estúdio
que é a parte mais cansativa demorou
cerca de um ano.
FS: Gostava que o disco tivesse saído
mais cedo, mas também percebi
que era um processo de redescoberta
e isso acaba por levar mais tempo,
foi um processo mais isolado. Tive o
acompanhamento de pessoas que foram
trabalhando comigo, que me ajudaram
bastante e estavam presentes,
mas também havia uma fase em que
precisava de estar sozinho. Deparavame
com erros e tentava resolvê-los.
Precisava de descobrir a forma para
que aquilo resultasse e tinha inúmeras
versões das mesmas canções. Há músicas
que têm cinco versões diferentes
e comecei a perceber que havia alguma
transversalidade nos arranjos. Foi
preciso fazer o trabalho de pesquisa
de tradições, como a música do cancioneiro
dos anos sessenta e setenta.
Comecei a decidir o que é que queria
ouvir enquanto estava a ouvir o disco,
comecei a orientar o disco para um sítio.
Ele começou a parar aí e eu quis
orientá-lo, foi um encontro.
FS: Pretendia que a minha música não
fosse só atemporal, mas que fosse um
bocado geográfica.
Quais são as pessoas e géneros musicais que mais tiveram
influência ao longo do teu percurso? E porquê?
FS: A minha música vai um bocado do
excesso e da velocidade com que as coisas
chegam. Eu vou estando a par das
coisas que acontecem e posso estar
a ouvir uma música que me leva mais
para aqui ou para ali, em determinados
momentos. Quando fiz Isto não é coisa
para voltar a acontecer tinha acabado
de descobrir My Blood, por exemplo.
Ouvia algum folk tipo COHEN e DYLAN,
estava a ouvir música que entre si não
se relacionava, mas tinha o formato de
canção. Houve uma altura em que andei
a redescobrir o DAVID BOWIE e foi
importante o lado mais espalhafatoso
da música. Existem sempre bandas
que me vão acompanhando, como os
ANIMAL COLLECTIVE. E também estive
numa fase em que ouvia muito A R I E L
PINK. Portanto, não posso escolher só
um ou dois estilos. Há uma ligação com
o tempo, tem um lado que marca o
tempo. Podem-se dizer que são para
sempre mas marcam um tempo. E a
parte boa de uma coisa ser para sempre
é que tem uma carga de nostalgia.
Quando ouves e pensas: "Nesta altura
isto era feito" e essa é a inscrição temporal
importante.
FS: O que faz com que as coisas sejam
para sempre, embora o para sempre
tenha uma baliza muito concreta. Não
há nada que seja para sempre, mas
essa sensação de tempo é importante.
O álbum Filipe Sambado & Os Acompanhantes de Luxo, editado
em Abril de 2018 foi aclamado pela crítica e reconhecido
como o melhor disco nacional do Ano pela Antena3, Radar,
Vodafone FM e foi nomeado para os prémios SPA 2019.
Existe aquilo a que se chama de peso da responsabilidade
para que este novo álbum seja tão ou mais bem-sucedido?
FS: Não. Senti até mais espaço para trabalhar.
Foi o que isto me trouxe acima
de tudo. Este reconhecimento da crítica
deu-me mais calma para trabalhar.
Devido a este reconhecimento tive a
oportunidade de trabalhar em mais
sítios, permitiu-me deixar o trabalho
que tinha para me dedicar só á musica.
Portanto, não. Não sinto o peso
da responsabilidade. Acho que se as
pessoas não gostarem vão ouvir outra
coisa. Não vão ficar muito preocupadas
se este disco não é assim tão bom
como o anterior. Vão virar-se para outro
lado e ouvir outra coisa. Para mim
é importante sentir que quando acabo
um disco é melhor do que o anterior,
gosto de sentir isso. A única preocupação
será uma autossuficiência monetária,
de não poder viver da música
e ter de arranjar outro trabalho. Mas
se o tiver de voltar a fazer, faço-o. E
continuarei a fazer discos, só que com
menos frequência.
De que forma recebeste/sentiste este convite para o Festival
da Canção. E de que forma é que tens preparado, uma vez
que certamente irá causar impacto na tua carreira?
FS: Eu estava apreensivo quanto ao
convite. Quando medi a importância da
46
MÚSICA
↑
top DINO ALVES
calças LUÍS CARVALHO
47
MÚSICA
48
MÚSICA
←
calças LE COQ SPORTIF
estrutura DINO ALVES
49
MÚSICA
minha participação e o que significa a
montra do Festival da Canção, não estava
confiante. Não sinto que me integre
totalmente e não lido bem com a
ideia de concurso musical, não gosto
da forma como o comportamento social
do festival acontece. As pessoas
extravasam um bocadinho naquilo que
são os seus julgamentos e isso faz-me
alguma confusão. Tento ser um bocadinho
impermeável a isso, mas acabo
por sofrer um bocado e tento distanciar-me.
Decidi fazer uma letra para o
festival que falasse um pouco sobre
esse tema e de todo esse fenómeno
em que o festival se insere. Um bocado
como um case study em que as pessoas
sentem intimidade suficiente para dizerem
tudo aquilo que querem, sobre
tudo o que é feito e não estão muito
preocupadas com o percurso do artista.
Aproveitaste esse receio e relutância em participar no festival
da canção pelos motivos que mencionaste e escreveste
uma canção sobre isso mesmo?
FS: É sentir que a minha resposta está
dada antes do problema acontecer e
depois claro que percebo que o efeito
da canção é mais abrangente do que o
festival. É quase global, tal como disse
antes, o festival é um case study.
Qual foi o momento em que se deu aquele "click" e percebeste
que a música se tinha tornado num caso sério?
FS: Eu sempre fui fazendo música na
expectativa de que um dia se tornasse
algo sério.
FS: A urgência que tenho em fazer canções
é por ser uma forma de expressão.
A canção é um veículo, não preciso de
entrar numa discussão para dizer o que
penso. Para mim o privilégio da criação
é tu poderes sustentar o que estás a
dizer sem entrares em conflito. Aquilo
é válido por si e eu sempre senti que a
música tinha esse espaço e esse lugar
em mim. Fui fazendo sempre com gosto.
Claro que sentia sempre que se isto
funcionasse enquanto ganha-pão seria
um privilégio, mas não foi uma busca.
Houveram dois marcos diferentes. Na
altura do Vida salgada, quando o fui fazer,
as decisões que tomei e usar o dinheiro
que tinha guardado. Tudo isto
para não estar a trabalhar durante algum
tempo, para tentar conceber um
disco que para mim seria um marco e
estaria a destacar o rigor desse trabalho
em comparação com os EPs e com
as bandas com que tinha trabalhado. A
mudança maior é quando percebo que
não preciso de trabalhar no que fazia
antes e a música passou a ser o meu
único trabalho.
Um conselho que te tenham dado e que tenha sido importante
para ti e para o teu desenvolvimento enquanto artista?
FS: Não me lembro de quase nenhum,
normalmente são pessoais e não musicais.
Sempre fui um bocado teimoso e
quis descobrir muitas das coisas sozinho
porque seria mais interessante. Há um
lado nisso que funcionou contra mim,
muitas vezes. Existe um personagem do
livro Sinais de fogo do JORGE DE SENA,
que é um rapaz que não estuda, não lê
livros, mas é um grande inventor. Está
a par do que os seus colegas de escola
estão a fazer e a sua velocidade de
aprendizagem é muito próxima da dos
seus colegas. Só que ele não estuda e faz
experiências sozinho. Ele não se tornou
melhor do que os seus colegas, acabou
por estar ao mesmo nível. Só que chegou
lá de forma diferente, aprendeu da
forma que lhe deu mais prazer. Sei que
deve ser teimosia da minha parte e o
facto de eu não querer mostrar como
está mal e tentar fazer bem. Incorro no
erro várias vezes antes de mostrar. Sei
que podem ser os meus receios e isso
pode atrasar a aprendizagem.
Erraste ao longo do teu percurso?
FS: Sim, errei. Mas vivo bem com isso,
lá que eu não faça mal a ninguém para
mim está tudo bem.
Sentes que os teus videoclipes têm uma estética que contribuem
para a cultura visual, que felizmente tem aumentado
em Portugal nos últimos anos?
FS: Antes para fazer um vídeo eram precisos
recursos que nunca mais acabavam,
hoje em dia consegues fazer um
vídeo com menos recursos. Continuas
a não conseguir pagar ás pessoas envolvidas
e isso é um problema gigante,
em termos de sustentabilidade continua
a ser zero. Em termos de resultados
conseguimos orgulhar-nos um bocadinho
mais das coisas.
FS: Acho importante comunicar no vídeo
porque é mais um veículo de leitura.
Para mim é interessante poder dizer
mais alguma coisa e criar texto na
imagem. Na minha opinião, o problema
da falta de cultura visual deve-se á falta
de dinheiro e capacidade de investimento.
Tanto dos artistas como das
plataformas que apoiam a arte. A democratização
da expressão artística vem
mais da democratização tecnológica
do que do investimento que tem sido
feito. As camaras fotográficas agora
filmam, hoje em dia com uma placa de
som gravamos um disco, já não precisamos
de ir para estúdio, por exemplo.
A tua imagem e a forma como te apresentas ao publico
é uma forma natural de expressão ou uma afirmação enquanto
artista?
FS: As duas porque estão ligadas ao
meu crescimento de forma cronológica.
Tem a ver com os meus medos e libertar-me
dos meus medos, de conclusões
que pudesse ter. Pintar as unhas
para mim foi uma primeira descoberta
de expressão e depois com o tempo fui
crescendo e tenho tido cada vez mais à
vontade. Descobrir isso foi importante.
Falando nisso houve uma vez que deste um concerto e estavas
todo nu. Porquê? Não me digas que não tinhas nada
para vestir…
FS: Nesse concerto havia um manequim
vestido com a minha roupa, eu estava
a dar os primeiros passos no meu
à vontade e na minha caminhada de
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MÚSICA
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top BEJA VENTURA
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MÚSICA
expressão. Era a apresentação de um
disco que ainda não tinha saído e pensei
que seria interessante dar um concerto
despido de julgamentos e aberto
a interpretações. Apresentei musicas
que nunca tinham sido ouvidas, só a guitarra
e voz, tudo no seu formato mais
despido e por isso decidi apresentar-
-me sem roupa.
Com que artista nacional gostavas de trabalhar, fazer um
dueto quem sabe?
FS: Não penso muito nisso, não tenho
uma visão muito utópica dessas possibilidades.
Estou muito português, nós
temos uma dimensão muito pequena e
eu não me sinto próximo dessa dimensão.
Adorava trabalhar com a ROSALIA,
mas é algo que nem penso, porque sei
que nunca iria acontecer.
Quais são os teus sonhos/ambições/metas profissionais?
FS: Continuar a fazer discos até já não
querer continuar a fazer discos ou se
deixar de sentir que isto já não é o meu
maior veículo de expressão. Se puder
continuar a fazer canções enquanto me
sinto pertinente, vou fazendo. Enquanto
puder pagar contas a fazer música,
melhor. Se puder ter filhos e pagar a
vida dos meus filhos e estando eu a
fazer canções, melhor ainda. Se tiver
de ir trabalhar noutra coisa para além
da música, será tão nobre como fazer
canções. Não tenho problema com nada
disso e estou-me um bocado a borrifar
para a minha situação porque já percebi
que vivo stressado e ansioso tendo
um trabalho ou estando só a fazer
música. Os meus estados de espírito
são tão voláteis estando só, seja estar
a fazer música ou não. Pretendo chegar
a mais pessoas, porque é terapêutico
para mim partilhar. Se eu estou a
querer comunicar, não quero que me
faltem receptores. Acho que chegar a
mais gente é um objectivo mas não é
um objectivo tocar em palcos maiores,
já toquei em quase todos os festivais
nacionais e não sou uma pessoa que
procure a internacionalização.
Queres comentar aquilo que acabou por gerar polémica
recentemente? O cancelamento do concerto de dia 14 de
Fevereiro no Hard Club, pondo em causa um espaço que esteve
aberto a comício do Partido Chega que tem uma agenda
e um programa racista, xenófobo, homofóbico, transfóbico,
misógino e tantos outros adjetivos depreciativos de
opressão e intolerância, contra os quais lutas. Quando decidiram
tomar essa posição alguma vez pensaram que se
tornasse numa notícia?
FS: Na minha ingenuidade não tive noção
da dimensão que isto ia ter. Era um
comunicado para ser feito na internet,
era uma posição, uma expressão de
incómodo. No fundo, como se gosta
de dizer, era uma moção de censura…
FS: Como tu estavas a referir na tua
pergunta, o que eu transmito no que
digo não coabita no mesmo espaço. O
que eu queria era que tivesse havido
uma tomada de posição do Hard Club
e aconteceu. O Hard Club mostrou
uma consciência reflectida depois do
que aconteceu e apercebeu-se de que
aquilo que fez não foi o ideal. Isso para
mim foi mais importante.
FS: A dimensão que isto tomou foi algo
que não controlei. Quando soubemos
do encontro do partido. Chega foi numa
quinta-feira e no sábado quando tivemos
a certeza, decidimos emitir um
comunicado a informar que o local do
concerto ia ser trocado. Para nós foi
importante esclarecer que a nossa posição
era esta. Quero poder ir tocar a
um lugar onde a tolerância existe, não
quero ir a um sítio onde há intolerância.
Não quero tocar no mesmo lugar onde
há um comício de um partido, cujo o
líder, chama aberrações a transexuais
ou manda para a sua terra uma colega
sua que também é deputada. Não
posso compactuar com isso. Para mim
é um posicionamento, o nosso posicionamento.
Não quero entrar numa guerra
de palavras.
FILIPE SAMBADO actua no:
dia 17 de Março no Jameson Arraial St. Patricks'
dia 20, no Hub Criativo do Beato, em Lisboa.
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MÚSICA
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top M MISSONI
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MÚSICA
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MÚSICA
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vestido M MISSONI
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MÚSICA
SUNLIGHT SUNLIGHT
fotografia DIANA NETO (@dianavmneto) styling DANIELA GIL (@gildanielar)
make-up and hair TOM PERDIGÃO (@tomperdigao)
model RAFAELA VARELA (@rafaelavarela13 + @centralmodels)
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top FILA
vestido AHCOR LAB
calças DECENIO x ALEXANDRA MOURA
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SUNLIGHT
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vestido PINKO OFFICIAL
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top AHCOR LAB
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top AHCOR LAB
calças BUZINA
sandálias MIGUEL VIEIRA
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saia GUESS
kimono JOYKECH
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top DINO ALVES
vestido INÊS TORCATO
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top DINO ALVES
blazer e calções CARLOS GIL
collans CALZEDONIA
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vestido RICARDO ANDREZ STUDIO
calças RELISH
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RESTAURANTE
ESSENCIAL
texto por Francisco Vaz Fernandes
ESSENCIAL
Rua da Rosa, 176, Lisboa
(Bairro Alto)
2ª → Dom. 19h → 23h
T. 211 573 713
www.essencialrestaurante.pt
Há lugares que dizem muito sobre
o seu conteúdo. No essencial toda
a cenografia do espaço é uma
espécie de embrulho que serve de
antecâmara ao que se pretende
servir. Ou seja, uma arquitetura de
interiores depurada, assente na
essência da matéria e no detalhe que
reveste as superfícies, despida de
atavios tal como a cozinha do chef
ANDRÉ LANÇA CORDEIRO que, depois
de ter cozinhado ao lado de três
chefes Meilleur Ouvrier de France (MOF),
a maior distinção possível em França,
abriu na rua da Rosa o ESSENCIAL,
onde agora deposita todo o seu
conhecimento acumulado. Todo o
espaço remete-nos para aqueles
pavilhões de showcase de cozinha, ou
então um sushi bar, onde está tudo
à vista. Nada a esconder, como se
todo o processo por si já fizesse
parte da experiência. Sente‐se
no ESSENCIAL a formação do seu
Chef em alta cozinha francesa, que
introduz na carta alguns dos grandes
clássicos gauleses, como o foie gras
ou pâté en croût, pratos considerados
fixos. Ainda assim não se trata
propriamente de um restaurante
francês, pelo contrário, encontramos
uma cozinha de fusão onde a
portugalidade está lá em muitas das
propostas baseadas em produtos do
mar. Os valores rondam entre os 7
euros, referentes a algumas entradas
e os 22 euros para alguns dos pratos
principais. A carta de vinhos que
oferece uma oferta diversificada e
de qualidade acima da média é um
fator a ter em atenção, porque é
aí que uma ida ao ESSENCIAL pode
encarecer. De resto, pode ser uma
experiência memorável. Nessa
noite, numa refeição para dois, as
Lulas e aipo em tagliatelle, óleo de
alho francês e molhos feito através
da caramelização das cabeças
das lulas, brilharam. Isto só por si
ter‐nos-ia deixado satisfeitos. Porém
continuamos com tártaro de novilho
com ouriço do mar e alga nori que
era igualmente surpreendente em
frescura e explosão de sabores.
Depois gnocchis salteados com
“chanterelles” e emulsão de cebola
fumada e salmonete com couve
coração grelhada e temperada com
vinagrete de limão confitado. Ainda
molho de fígados de salmonete,
todos eles a cumprir o que se espera
em termos de técnica e sabor. Por
fim um recomendado mil-folhas com
caramelo salgado que se tornou um
clássico do restaurante. Sorriu-nos
na mesa com um volte sempre.
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PARQ HERE
DESIGN by
BOULLÉ
texto por Francisco Vaz Fernandes
BOULLÉ é uma reputada marca
de design brasileira que acaba de
se instalar na Casa da Guia em
Cascais. Com vistas para o mar,
ocupam parte do edifício principal,
o antigo Palacete dos Condes de
Alcáçovas, cenário perfeito para
evidenciar a contemporaneidade
de uma marca que tem por base a
herança do design brasileiro que nos
últimos anos tem sido reconhecido
a nível mundial pela singular forma
como misturaram o legado europeu
com a expressão indígena. Estarão
expostas no novo espaço cerca de
70 criações baseadas no recurso
a madeira maciça nobre do Brasil,
toda ela certificada. Consciente
das grandes questões ambientais
que hoje se colocam ao Brasil,
nomeadamente no que refere à
exploração da madeira proveniente
da floresta amazónica, a BOULLÉ
recorre apenas a reaproveitamento
de troncos de árvores que chegam
através das correntes depois
do tempo das chuvas, em geral
colhidas em campos agrícolas. As
imperfeições que surgem desse
processo tornaram-se uma das
imagens de marca da BOULLÉ. No
novo espaço da BOULLÉ vamos ainda
encontrar outra marca associada,
a LOVATO que é especializada em
móveis do exterior e que trabalha
com base em alumínio e fibras
sintéticas de grande durabilidade.
BOULLÉ
Casa da Guia, lj.16
Av. Srª do Cabo, 101, Cascais
www.boulle.pt
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PARQ HERE
ATELIER FLORAL
LUCIEN
BLONDEL
texto por Maria São Miguel
PASCAL BLONDEL é um reputado
florista londrino que decidiu
mudar‐se para Lisboa, fundando o
LUCIEN BLONDEL, um novo atelier,
entre o Rato e Campo de Ourique,
dedicado à arte do arranjo floral. O
seu percurso passa pela M c QUEENS,
uma das floristas mais requisitadas
no Reino Unido, que tem como
clientes os hotéis de luxo de Londres
como o Claridge’s, The Berkeley, The
Connaught e o Mandarin Oriental.
O novo espaço tem 170 metros
quadrados e para além de servir de
base para a realização de arranjos
florais para casamentos, eventos
e hotéis, terá ainda uma sala para
workshops dedicados à criação de
composições de flores. Segundo
PASCAL BLONDEL, Lisboa está em
franca ebulição, tornou-se uma
cidade que oferece oportunidades e
o seu objetivo agora é “trazer para
a capital portuguesa toda a sua
experiência de Londres e combiná‐la
com a sua essência francesa”.
LUCIEN BLONDEL — Atelier Floral
Rua da Arrábida, 66, Lisboa
2ª → 6ª 9h → 12h30 14h30 → 18h30
www.lucienblondel.com
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PARQ HERE
6ªFEIRA 16H-22H
SÁBADO E DOMINGO
13H-22H
MODALISBOA
ANTIGAS OFICINAS GERAIS
DE FARDAMENTO E EQUIPAMENTO
DO EXÉRCITO
POP-UP STORE DE
MARCAS SUSTENTÁVEIS
Uma iniciativa conjunta
Cofinanciado por
Parceiro Tecnológico
Patrocínios
Viatura oficial
Hotel oficial
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MANY PATHS, ONE TRAIL.