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RCIA MARÇO ED 176 2020

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Victorinho Barbugli

na Alameda Paulista

VELHOS TEMPOS, BELOS DIAS

SALVATORE AMATO

PREPARADOR DE MOTORES E SONHOS

Quando em Interlagos naquele dia cheguei, meu mundo transformou-se em sonhos, eu

me beliscava, abria e fechava meus olhos para ter certeza que eu estava ali, olhava para o

autódromo e só enxergava um templo sagrado de dimensões continentais, com imagens,

instalações, fotografias e uma acústica emocionante de ouvido absoluto que pelas entranhas

da minha alma se alojaram em definitivo. Tudo maravilhoso.

Quando vi Salvatore Amato de

muito pertinho fiquei um tanto estupefato,

mistura de perplexidade e

admiração. Aquele senhor da capital,

que eu de nome tanto conhecia,

tinha o rosto com a forma de um

índio guerreiro, os cabelos já grisalhos

como de meu pai e o corpo com

pequeno sobrepeso de Eduardo Luzia,

araraquarense radicado em São

Paulo e de prestígio similar no meio

do motociclismo nacional. Amato, de

aproximados 1,70 metro de altura, de

macacão preto e capacete nas mãos,

era naquele instante inquieto, conversava

e gesticulava com sotaque “italianado”,

e para sua equipe descrevia

com tamanha desenvoltura a performance

de sua motocicleta, falando

de virtudes e defeitos, vantagens

e desvantagens, aproveitamento e

desempenho de trechos alternados,

que eu fiquei ali imobilizado. O que eu

mais queria na minha vida, naquele

momento, era isso mesmo, estar ali.

Não enxergava nada do mundo exterior,

não tinha saudades de ninguém,

não me lembrava de mais ninguém,

apenas queria ouvir, aprender, observar

seus trejeitos para no futuro

Texto: Benedito

Salvador Carlos,

o Benê, com a

colaboração

de Leandro

Pardine e Deives

Meciano

também imitá-lo. Ele, naquele fim de

semana, competia com uma Ducati,

prateada, 900 cc, 2 cilindros em L,

um verdadeiro foguete, marca que eu

tanto conhecia, pois também tinha

uma, ainda que com “somente” 250

cc, mas que embasava meu aprendizado.

A Ducati é uma motocicleta

única, tem o som diferente, a batida

do motor descompassado que aparentemente

parece desregulada, um

bam, bambam, bambambam, bam,

som que só arredonda quando o contagiro

cruza os 4.000 RPM, enlouquecendo

quem estiver por perto.

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