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RCIA MARÇO ED 176 2020

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ARTIGO

Law and Economics

Ubiratan Reis

Inovações do setor privado e no

setor público. Inevitabilidade?

Àqueles com um pouco mais experiência de vida se

lembraram do desenho The Jetsons. Lá no início dos

anos 1960 foi lançada a séria animada que projetava o

cotidiano de uma família futurista, que interagia com inúmeras

inovações tecnológicas, como os carros voadores,

aparelhos de televisão ultramodernos, ligações “telefônicas”

com imagem e voz, aparelhos eletrodomésticos

multifuncionais, serviços prestados por robôs etc.

Hoje em dia muitas daquelas previsões são meras

realidades.

É verdade, também, que muitas tecnologias são

fruto do exponencial investimento público em pesquisa

e desenvolvimento, mas, fato é que, quer queiram, quer

não, os ideais do setor privado têm cada dia mais dominado

a administração pública, sendo vetores para os

serviços prestados pelo poder público.

Por mais que as vozes clamem em alardear na precarização

das relações de emprego e opor embargos as

implementações de novas formas de trabalho, a ineficiência,

a precariedade e as falhas grotescas nas prestações

de serviços públicos incentivam cada vez mais a introdução

dos métodos privados de contenção de gastos e

maximização de resultados.

Neste contexto, observa-se que no Estado de São

Paulo vigora o Decreto nº 62.648/2017que tem o objetivo

de proporcionar benefícios ao Estado e aos servidores,

instituindo e disciplinando o teletrabalho, consistente na

modalidade de prestação da jornada laboral em que o

servidor ou empregado público executa parte ou a totalidade

de suas atribuições fora das dependências físicas

do seu órgão ou entidade de lotação.

Inegável que, diuturnamente, tanto o setor privado,

quanto o setor público, almejam alinhar flexibilidade na

jornada de trabalho com o aumento de eficiência na

produção de bens e serviços, diminuindo os custos fixos,

sem mencionar na busca por melhor qualidade de vida

dos colaboradores.

As reivindicações do mercado de trabalho estimularam

a busca de novas formas de prestação de serviço,

como solução de várias circunstâncias adversas, como

o tempo perdido e estresse decorrentes dos transtornos

dos congestionamentos do trânsito das cidades. Esses

males atingem os trabalhadores públicos e privados, sem

distinção ou preconceito.

No setor público, assim como no setor privado, os

resultados positivos de desempenho do teletrabalho se

apresentam manifestos. Tanto isto é verdade que, em

âmbito estadual, várias searas da Administração Pública

já apresentam projetos tendente a implantar os teletrabalhistas.

A Secretaria da Fazenda SEFAZ é um dos exemplos do

acolhimento e expansão do programa progressivo de teletrabalho,

que poderá atingir cada vez mais um número

maior de servidores, desde que atingidas as metas de

desempenho, avaliadas semestralmente. As unidades do

TIT - Tribunal de Impostos e Taxas e as unidades responsáveis

pelos processos judiciais do DDPE - Departamento de

Despesa de Pessoal são outras searas a aumentar essa

forma de trabalho.

Em um futuro, não muito distante, a Inteligência

Artificial aperfeiçoará vários serviços públicos, especialmente

aqueles mais burocráticos, que tanto atrapalham

o crescimento e desenvolvimento da País. Haverá, no

entanto, espaço para novas contratações (concursos

públicos) nos moldes tradicionais? Ou haverá uma diminuição

do quadro de servidores?

Nem tanto ao céu, nem tanto ao inferno. A sucessão

de profissões é inerente à evolução da sociedade e das

tecnologias, sendo que muitas profissões deixarão de

existir, para o surgimento de outras.

Não se pode deixar de apontar que a busca em

diminuir custos e despesas, inclusive enxugar a folha de

pagamento do Poder Público, não é novidade, tampouco

consequência das novas tecnologias. As tecnologias

podem, como qualquer outra ferramenta, serem utilizadas

para potencializar uma ideologia, modo de vida,

conceito de administração, etc.

Entender que estamos vivendo a realidade da família

Jetsons é compreender que o tempo é finito para nós,

mas não em si mesmo. Temos que conviver com o fato de

que as projeções de hoje serão a realidade de amanhã.

Quem não ficaria satisfeito se, com apenas uma leitura

biométrica, todas as certidões públicas fossem emitidas

em frações de segundo?

O setor privado e o setor público se entrelaçam em

alguns aspectos, um deles, sem dúvida, se consubstancia

na impotência e na vulnerabilidade de controlar as futuras

profissões e formas de trabalho, ou seja, o Estado e

a iniciativa privada devem conviver com a inevitabilidade

da mudança na produção de bens e serviço em razão

das inovações tecnológicas, para que possam, cada um

dentro do seu escopo, atender as necessidades daqueles

que os procuram na busca de serviço eficiente.

Ubiratan Reis é advogado tributarista/econômico e escreve para a

Revista Comércio, Indústria e Agronegócio (ubreis@gmail.com)

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