29HORAS - Fevereiro 2020

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07.02.2020 Views

22 HORA H DETOX Vale sagrado Uma estada no Matutu, em Minas Gerais, permite imersão profunda na natureza e nas coisas que realmente importam POR SERGIO LUIZ PEREIRA FOTOS MARTA ALVIM PARA QUEM ANDA CANSADO da muvuca das praias lotadas de todos os Carnavais e deseja escapar dos intermináveis sons dos bloquinhos, felizmente ainda existem alguns paraísos intocados entre as montanhas de Minas Gerais. Neles, os maestros que comandam as trilhas sonoras são os pássaros das matas e o fluxo das cachoeiras. São ambientes propícios para o relaxamento profundo, a desintoxicação física e mental e até mesmo para que o viajante faça um ajuste fino da sintonia com a própria espiritualidade. Um desses recantos perdidos e ainda não corrompidos pelo turismo predatório – que procura pasteurizar tudo e todos em um monocromático padrão – é o abençoado Vale do Matutu (na língua indígena dos ancestrais, Matutu significa Cabeceira Sagrada). O vale fica a 18 quilômetros de estrada de terra da charmosa cidadezinha Aiuruoca – “Casa do Papagaio” na língua tupi –, que, por sua vez, dista apenas 46 km de Caxambu. O Matutu fica encravado e protegido no fundo do vale que forma uma grande ferradura entre os contrafortes do Pico do Papagaio e o Morro Cabeça de Leão. Toda essa exuberante natureza que contém diversos biomas da mata atlântica fica às margens do parque Estadual Serra do Papagaio, que faz parte de uma franja da Serra da Mantiqueira.

23 A bela visão do Pico do Papagaio, com as cerejeiras em flor Segundo relatos, a primeira fazenda que ali se instalou foi de migrantes do Rio Grande do Sul, em 1860. O casarão, sede dessa fazenda, resistiu ao tempo e é hoje a sede da Associação de Moradores e Amigos do Matutu. Porém, foi no início dos anos 1980 que um novo movimento migratório se consolidou para dar a atual forma de ocupação da região. Os novos migrantes, entre outras atividades, também fundaram a Comunidade Reserva Matutu, plantaram cerca de 35 mil araucárias nesses quase 40 anos e permitiram que as matas se regenerassem. Dessa forma, rios, cachoeiras e toda a fauna e a flora retornaram ao seu estado quase natural de pureza e magia. São trilhas e mais trilhas, cachoeiras e matas que podem ser visitadas a pé ou a cavalo, opções para todos os tipos de condicionamento físico. Entretanto, vale a pena destacar que sons altos e baladas não combinam em nada com o espírito do lugar. Não existem muitas opções de hospedagem e restaurantes no Vale do Matutu. Três excelentes pousadas são a Mandala das Águas, o Patrimônio do Matutu e a Pousada do Matutu. Como é comum na região, elas adotam a arquitetura ecológica e artesanal e servem refeições orgânicas, em geral vegetarianas e/ou veganas. Os restaurantes principais são o Fios da Terra, com cardápio de trutas e pratos com vocação oriental; a Tia Iraci, de comida mineira de primeira; e o Estrela Matutina, com ótimos hambúrgueres vegetarianos. A Mandala das Águas, gerida com carinho pelo casal Rickson e Marcia, é um lugar especial. À noite, os hóspedes e o próprio Rickson, que é músico, se juntam para conversar ou participar de saraus musicais na sala de estar da sede, equipada com piano e violões. As acomodações são confortáveis e todas têm vista para o Pico do Papagaio e a Cachoeira do Fundo. A hospedagem no Patrimônio do Matutu reserva uma vivência inusitada: para chegar até lá, o viajante deve percorrer uma trilha a pé de cerca de 40 minutos, enquanto a sua bagagem é transportada à moda antiga por cavalo. A pousada conta com chales e apartamentos acolhedores e charmosos e fica bem no coração do vale.

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A bela visão<br />

do Pico do<br />

Papagaio, com<br />

as cerejeiras<br />

em flor<br />

Segundo relatos, a primeira fazenda<br />

que ali se instalou foi de migrantes do Rio<br />

Grande do Sul, em 1860. O casarão, sede<br />

dessa fazenda, resistiu ao tempo e é hoje a<br />

sede da Associação de Moradores e Amigos<br />

do Matutu. Porém, foi no início dos anos<br />

1980 que um novo movimento migratório<br />

se consolidou para dar a atual forma de<br />

ocupação da região. Os novos migrantes,<br />

entre outras atividades, também fundaram<br />

a Comunidade Reserva Matutu, plantaram<br />

cerca de 35 mil araucárias nesses quase 40<br />

anos e permitiram que as matas se regenerassem.<br />

Dessa forma, rios, cachoeiras e toda<br />

a fauna e a flora retornaram ao seu estado<br />

quase natural de pureza e magia.<br />

São trilhas e mais trilhas, cachoeiras<br />

e matas que podem ser visitadas a pé ou<br />

a cavalo, opções para todos os tipos de<br />

condicionamento físico. Entretanto, vale a<br />

pena destacar que sons altos e baladas não<br />

combinam em nada com o espírito do lugar.<br />

Não existem muitas opções de<br />

hospedagem e restaurantes no Vale do<br />

Matutu. Três excelentes pousadas são a<br />

Mandala das Águas, o Patrimônio do Matutu<br />

e a Pousada do Matutu. Como é comum na<br />

região, elas adotam a arquitetura ecológica e<br />

artesanal e servem refeições orgânicas, em<br />

geral vegetarianas e/ou veganas. Os restaurantes<br />

principais são o Fios da Terra, com<br />

cardápio de trutas e pratos com vocação<br />

oriental; a Tia Iraci, de comida mineira de<br />

primeira; e o Estrela Matutina, com ótimos<br />

hambúrgueres vegetarianos.<br />

A Mandala das Águas, gerida com<br />

carinho pelo casal Rickson e Marcia, é um<br />

lugar especial. À noite, os hóspedes e o<br />

próprio Rickson, que é músico, se juntam<br />

para conversar ou participar de saraus<br />

musicais na sala de estar da sede, equipada<br />

com piano e violões. As acomodações são<br />

confortáveis e todas têm vista para o Pico do<br />

Papagaio e a Cachoeira do Fundo.<br />

A hospedagem no Patrimônio do Matutu<br />

reserva uma vivência inusitada: para chegar<br />

até lá, o viajante deve percorrer uma trilha a<br />

pé de cerca de 40 minutos, enquanto a sua<br />

bagagem é transportada à moda antiga por<br />

cavalo. A pousada conta com chales e apartamentos<br />

acolhedores e charmosos e fica<br />

bem no coração do vale.

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