You also want an ePaper? Increase the reach of your titles
YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.
gente é louco. Então, começamos a acreditar na versão corrigida, e na vez
seguinte que contamos o que aconteceu, reproduzimos nossas invenções. Só que,
por não corresponderem à realidade, contamos as coisas de um jeito meio
incorreto. Um ano depois, bêbados, recontamos a história e a modificamos um
pouco mais — ok, sejamos honestos: inventamos completamente cerca de um
terço da história. Na semana seguinte, sóbrios, não queremos admitir a mentira e
por isso mantemos a versão revisada e expandida pelo álcool. Cinco anos depois,
nossa história — foi exatamente assim que aconteceu, juro por Deus e pela
minha mãe mortinha — é, no máximo, cinquenta por cento verdadeira.
Todo mundo faz isso. Eu faço. Você faz. Por mais honestos e corretos que
sejamos, estamos sempre sujeitos a enganar a nós mesmos e a outros, porque
nosso cérebro é programado para ser eficiente, não fiel.
Não só nossa memória é uma droga — a ponto de testemunhos oculares não
serem necessariamente levados a sério em um julgamento —, como nosso
cérebro tem um funcionamento nada imparcial.
Como? Bem, ele está sempre tentando analisar nossa situação atual com base
no que já acreditamos e já vivemos. Toda informação nova é avaliada segundo
padrões e conclusões prévios. O resultado é um cérebro sempre tendencioso em
relação ao que consideramos ser verdade em determinado momento. Se temos
um relacionamento maravilhoso com nossa irmã, por exemplo, vamos
interpretar a maior parte das lembranças com ela sob uma perspectiva positiva.
Quando o relacionamento azeda, é comum começarmos a ver as mesmas
lembranças sob nova ótica, reimaginando-as de forma a explicar a atual raiva que
sentimos. Aquele presente lindo que ela nos deu no Natal assume conotações de
condescendência. Aquela vez em que não fomos convidados para a casa de praia
passa de erro inofensivo para tremenda negligência.
A história falsa de Meredith faz muito mais sentido quando entendemos os
valores que guiavam sua mente naquele momento. Em primeiro lugar, o
relacionamento entre ela e o pai sempre foi tenso. Segundo, ela tivera uma série
de relacionamentos amorosos complicados, incluindo um casamento desfeito.
Assim, já de saída, “relacionamentos íntimos com homens” não eram a maior
maravilha para Meredith, em termos de valores.