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A Sutil Arte de Ligar o F_da-se - Mark Manson

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O atual ambiente da mídia tanto encoraja quanto perpetua essas reações,

porque, no final das contas, dá lucro. O escritor e comentarista Ryan Holiday se

refere a isso como “pornografia do ultraje”: em vez de reportar histórias e

problemas reais, a mídia acha muito mais fácil (e lucrativo) encontrar algo

levemente ofensivo, transmitir o caso para uma ampla audiência, criar a sensação

de ultraje e depois transmiti-la de um jeito que também cause ultraje a outra

parcela da população. Isso desencadeia um eco de asneiras que ricocheteia entre

dois lados imaginários e ao mesmo tempo distrai dos verdadeiros problemas e

injustiças da sociedade. Não é de se estranhar que estejamos mais politicamente

polarizados do que nunca.

O maior problema da injustiça chique é desviar a atenção das vítimas reais. É

como uma overdose de alarmismo. Quanto mais gente se autoproclama vítima

de pequenas infrações, mais difícil é enxergar quem realmente sofre.

As pessoas se viciam em se sentir constantemente ofendidas porque isso lhes

traz euforia: ser hipócrita e moralmente superior provoca bem-estar. Como disse

o cartunista político Tim Kreider, em um editorial do The New York Times: “O

ultraje é como várias outras coisas agradáveis que com o tempo nos devoram de

dentro para fora. E é ainda mais insidioso que a maioria dos vícios, porque

sequer o reconhecemos conscientemente como um prazer.”

Parte do ônus de viver em uma sociedade livre e democrática é termos que

lidar com opiniões e pessoas de que não necessariamente gostamos. É o preço a

se pagar. Podemos até dizer que é o objetivo do sistema. Mas parece que cada vez

mais gente está esquecendo isso.

Devemos escolher nossas batalhas com cuidado, ao mesmo tempo em que

tentamos simpatizar um pouco com o suposto inimigo. Devemos encarar as

notícias e a mídia com uma dose saudável de ceticismo e evitar ideias

preconcebidas sobre os que não concordam conosco. Devemos priorizar valores

como honestidade, fomento à transparência e à aceitação da dúvida em vez da

necessidade de estar sempre certo, de se sentir bem e se vingar. Os três primeiros

valores são “democráticos” e mais difíceis de manter em meio ao ruído constante

de um mundo conectado, mas nem por isso devemos negligenciar nossa

responsabilidade de cultivá-los. A estabilidade do sistema político talvez dependa

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