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A Sutil Arte de Ligar o F_da-se - Mark Manson

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conseguiram suportá-lo, talvez até gostar dele.

Se o sofrimento é inevitável, se os problemas da vida também são, a pergunta

que devemos fazer não é “Como paro de sofrer?”, e sim “Pelo que estou sofrendo?

Com que propósito?”.

Hiroo Onoda voltou ao Japão em 1974, onde se tornou uma celebridade.

Visitava programas de entrevistas na TV e estações de rádio; políticos faziam

questão de apertar sua mão; publicou um livro de memórias; o governo até lhe

ofereceu uma boa quantia de dinheiro em recompensa.

Mas o que ele encontrou quando retornou ao Japão o deixou horrorizado:

uma cultura consumista, capitalista e superficial, que perdera todas as tradições

de honra e sacrifício com as quais sua geração havia sido criada.

Onoda tentou usar sua súbita condição de celebridade para defender os

valores do antigo Japão, mas não entendia aquela nova sociedade. Ele era visto

mais como uma curiosidade do que como um pensador sério — um japonês que

saíra de uma cápsula do tempo para o deleite de todos, como uma relíquia num

museu.

A maior ironia nisso tudo foi que Onoda ficou muito mais deprimido no

Japão do que durante todos aqueles anos na floresta. Porque lá, ao menos, sua

vida tinha um propósito; um sentido. Isso tornava o sofrimento tolerável e até

um pouco prazeroso. Mas, no novo Japão, que ele via como uma nação vazia

cheia de hippies e mulheres fáceis em roupas ocidentais, ele foi confrontado com

a inevitável verdade: sua luta não valera nada. O Japão pelo qual vivera e lutara

não existia mais. E o peso dessa percepção o atingiu como nenhuma bala jamais

conseguira. Como seu sofrimento não significara nada, a conclusão se tornou

clara e real: trinta anos desperdiçados.

Então, em 1980, Onoda fez as malas e foi para o Brasil, onde morou

praticamente até morrer.

A cebola da autoconsciência

A autoconsciência é uma cebola: cheia de camadas, e quanto mais você descasca,

mais provável é que comece a chorar em momentos inadequados.

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