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A Sutil Arte de Ligar o F_da-se - Mark Manson

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sozinho havia mais de um ano e, ao se deparar com Suzuki, acolheu a

companhia, desesperado para saber o que estava acontecendo no mundo exterior

por uma fonte japonesa confiável. Os dois se tornaram meio que amigos.

Suzuki perguntou a Onoda por que ele havia permanecido e continuado a

lutar. Simples, respondeu Onoda: ele recebera a ordem de “jamais se render”,

então ficou. Passara quase trinta anos simplesmente obedecendo a uma ordem.

Então Onoda perguntou a Suzuki por que um “garoto hippie” como ele foi

procurá-lo. Suzuki explicou que tinha deixado o Japão em busca de três coisas:

“O tenente Onoda, um panda e o Abominável Homem das Neves, nessa ordem.”

Os dois homens foram unidos pelas circunstâncias mais improváveis: dois

aventureiros bem-intencionados em busca de falsas visões de glória, como um

Dom Quixote e um Sancho Pança japoneses, juntos nos confins úmidos de uma

floresta filipina, ambos se considerando heróis mesmo sozinhos, sem nada e com

objetivos vazios. Onoda já desperdiçara a maior parte da vida numa guerra

fantasma. Suzuki também desperdiçaria a dele. Depois de encontrar Hiroo

Onoda e o panda, ele morreria alguns anos mais tarde, numa avalanche,

enquanto buscava o Abominável Homem das Neves no Himalaia.

É comum que os seres humanos escolham dedicar grandes períodos da vida a

causas aparentemente inúteis ou destrutivas. À primeira vista, são sem sentido. É

difícil imaginar como Onoda pode ter sido feliz naquela ilha durante trinta anos

— comendo insetos e roedores, dormindo na terra, assassinando civis década

após década. Ou por que Suzuki se jogou em direção à própria morte, sem

dinheiro, sem companhia e com o único propósito de encontrar o fictício yeti.

Tempos depois, Onoda declarou não se arrepender de nada. Disse que se

orgulhava de suas escolhas e do tempo que passara em Lubang; que foi uma

honra dedicar parte considerável de sua vida a um império já inexistente. Se

Suzuki tivesse sobrevivido, provavelmente teria dito algo similar: que estava

fazendo exatamente o que queria, que não se arrependia de nada.

Esses dois homens escolheram como queriam sofrer. Hiroo Onoda escolheu

fazê-lo por lealdade a um império morto, enquanto Suzuki escolheu sofrer em

nome da aventura, por mais imprudente que fosse. Para eles, o sofrimento tinha

um significado, servia a uma causa maior. E foi por esse motivo que ambos

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