A Sutil Arte de Ligar o F_da-se - Mark Manson
— Isso é o que vamos ver — disse ele.Então ele voltou a atenção para minha mochila, que aparentemente tinha cembolsos, cada qual com os objetos adolescentes mais bobos: canetas coloridas,bilhetinhos passados durante a aula, CDs do começo dos anos 1990 com acaixinha rachada, marcadores secos, um velho bloco de desenho sem metade daspáginas, inutilidades, poeira e fiapos acumulados durante toda uma existênciaenlouquecedoramente monótona no ensino fundamental.Meu suor devia estar jorrando à velocidade da luz, e o tempo se prolongava ese dilatava de tal forma que os poucos segundos naquele relógio da aula debiologia tinham se transformado em éons. Cada minuto suficiente para crescer,envelhecer e morrer. Somente eu, o sr. Price e minha mochila sem fundo.Em algum momento da era Mesolítica, o sr. Price terminou de revistar amochila. Sem ter encontrado nada, parecia nervoso. Virou a mochila de cabeçapara baixo, deixando cair tudo no chão, e começou a suar tanto quanto eu, sóque, se no meu caso era pavor, o que ele sentia era raiva.— Nada de drogas hoje, hein? — Ele tentou parecer casual.— Não. — Eu tentei também.Ele espalhou minhas coisas, separando cada item e os reunindo em pequenaspilhas ao lado do meu uniforme de educação física. Meu casaco e minha mochilaestavam agora esvaziados e murchos em seu colo. Ele suspirou e olhou para aparede. Como todo bom adolescente de treze anos trancado numa sala com umhomem que acabou de jogar suas coisas no chão furiosamente, eu queria chorar.O sr. Price analisou os itens espalhados. Nada ilícito ou ilegal, nenhumnarcótico, nem mesmo algo que infringisse as regras da escola. Ele suspirou e,depois, jogou no chão também o casaco e a mochila. Então se inclinou e apoiouos cotovelos nos joelhos, o rosto na altura do meu.— Mark, vou lhe dar uma última chance de ser sincero comigo. Se você forsincero, vai ser muito melhor para você. Se estiver mentindo, vai ser muito pior.Como se ouvisse a minha deixa, engoli em seco.— Agora, diga a verdade — exigiu o sr. Price. — Você trouxe drogas para aescola hoje?Tentando conter as lágrimas, os gritos querendo escapar pela garganta,
encarei meu torturador e, em tom de súplica, louco para me livrar daquelehorror adolescente, respondi:— Não, eu não tenho nenhuma droga. Não faço a menor ideia do que vocêestá falando.— Tudo bem — disse ele, sugerindo rendição. — Pode pegar suas coisas evoltar para a aula.Ele deu uma última olhada para a mochila vazia, jogada como uma promessaquebrada no chão de sua sala. Então, casualmente, pisou de leve na mochila, umaúltima tentativa desesperada. Esperei ansiosamente que ele se levantasse e saísse,e assim eu poderia seguir com a minha vida e esquecer aquele pesadelo. Mas o pédele encontrou alguma coisa.— O que é isso? — perguntou o sr. Price, dando umas pisadinhas.— Isso o quê?— Ainda tem alguma coisa aqui.Ele pegou a mochila e começou a tatear o fundo. A sala ficou embaçada aosmeus olhos; tudo ao redor oscilava.Eu era inteligente, quando jovem. Era simpático. Mas também era um idiota.Digo isso no sentido mais amoroso possível. Eu era um idiota rebelde ementiroso, irritado e cheio de ressentimento. Aos doze anos, modifiquei osistema de segurança da minha casa usando ímãs de geladeira para sairescondido à noite. Meu amigo e eu colocávamos o carro da mãe dele em pontomorto e o empurrávamos até a rua para dirigir por aí sem acordá-la. Eu escreviaredações defendendo o aborto porque sabia que a professora de inglês era umafanática religiosa. Outro amigo e eu roubávamos cigarros da mãe dele e osvendíamos atrás da escola.Eu abri um compartimento secreto no fundo da minha mochila para escondermaconha.Foi esse compartimento que o sr. Price encontrou depois de pisar na minhadroga escondida. Eu tinha mentido. E, como prometeu, o sr. Price não pegouleve comigo. Algumas horas depois, como todo bom adolescente de treze anosalgemado no banco traseiro de uma viatura policial, eu achava que a minha vidatinha acabado.
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encarei meu torturador e, em tom de súplica, louco para me livrar daquele
horror adolescente, respondi:
— Não, eu não tenho nenhuma droga. Não faço a menor ideia do que você
está falando.
— Tudo bem — disse ele, sugerindo rendição. — Pode pegar suas coisas e
voltar para a aula.
Ele deu uma última olhada para a mochila vazia, jogada como uma promessa
quebrada no chão de sua sala. Então, casualmente, pisou de leve na mochila, uma
última tentativa desesperada. Esperei ansiosamente que ele se levantasse e saísse,
e assim eu poderia seguir com a minha vida e esquecer aquele pesadelo. Mas o pé
dele encontrou alguma coisa.
— O que é isso? — perguntou o sr. Price, dando umas pisadinhas.
— Isso o quê?
— Ainda tem alguma coisa aqui.
Ele pegou a mochila e começou a tatear o fundo. A sala ficou embaçada aos
meus olhos; tudo ao redor oscilava.
Eu era inteligente, quando jovem. Era simpático. Mas também era um idiota.
Digo isso no sentido mais amoroso possível. Eu era um idiota rebelde e
mentiroso, irritado e cheio de ressentimento. Aos doze anos, modifiquei o
sistema de segurança da minha casa usando ímãs de geladeira para sair
escondido à noite. Meu amigo e eu colocávamos o carro da mãe dele em ponto
morto e o empurrávamos até a rua para dirigir por aí sem acordá-la. Eu escrevia
redações defendendo o aborto porque sabia que a professora de inglês era uma
fanática religiosa. Outro amigo e eu roubávamos cigarros da mãe dele e os
vendíamos atrás da escola.
Eu abri um compartimento secreto no fundo da minha mochila para esconder
maconha.
Foi esse compartimento que o sr. Price encontrou depois de pisar na minha
droga escondida. Eu tinha mentido. E, como prometeu, o sr. Price não pegou
leve comigo. Algumas horas depois, como todo bom adolescente de treze anos
algemado no banco traseiro de uma viatura policial, eu achava que a minha vida
tinha acabado.