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A Sutil Arte de Ligar o F_da-se - Mark Manson

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uma liberdade nova: poder dizer o que eu pensava e sentia, sem medo da

repercussão. Aceitar a rejeição era uma estranha forma de libertação. E, por ter

desejado a expressão direta durante a maior parte da vida — primeiro por causa

de um ambiente familiar cheio de repressão emocional e, depois, pela falsa

segurança que passei a demonstrar de um modo construído meticulosamente —,

eu me embriaguei naquilo como se fosse a melhor vodca já produzida. O mês

que passei em São Petersburgo passou voando, e no final eu não queria ir

embora.

Viajar é uma ferramenta fantástica de desenvolvimento pessoal, porque nos

afasta dos valores da nossa cultura e demonstra que outra sociedade pode viver

com valores diferentes e ainda funcionar sem se odiar. Essa exposição a valores e

parâmetros diferentes nos faz reexaminar o que parece óbvio e considerar que

nossa forma de viver pode não ser necessariamente a melhor. Nesse caso, a

Rússia me fez reexaminar a falsa comunicação calcada em simpatia, tão comum

na cultura ocidental, e me perguntar se isso não nos deixa mais inseguros nas

nossas relações e menos aptos à intimidade.

Eu me lembro de ter discutido essa dinâmica com meu professor de russo um

dia, e ele me contou uma teoria interessante. Vivendo sob o regime comunista

por tantas gerações, com poucas oportunidades econômicas e imersa numa

atmosfera de medo, a sociedade russa descobriu que a moeda mais valiosa é a

confiança. E, para criar confiança, é preciso sinceridade — isto é, se as coisas

estão uma merda, você diz isso abertamente e sem se desculpar. Essas

desagradáveis demonstrações de honestidade eram recompensadas pelo simples

fato de serem necessárias para a sobrevivência: as pessoas precisavam saber em

quem podiam ou não confiar, e precisavam saber rápido.

Enquanto isso, no Ocidente “livre”, continuou meu professor de russo, havia

uma abundância de oportunidades econômicas — tantas que se tornou muito

mais valioso se comportar da maneira X, mesmo que fosse falsa, do que ser de

fato da maneira X. A confiança perdeu o valor. As aparências e o carisma se

tornaram formas de expressão mais vantajosas. Conhecer muita gente de forma

superficial valia mais a pena do que conhecer pouca gente com intimidade.

É por isso que nas culturas ocidentais passamos a seguir a norma de sorrir e

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