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A Sutil Arte de Ligar o F_da-se - Mark Manson

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políticas, eu flutuava de uma euforia a outra.

Em 2011, fui a São Petersburgo, na Rússia. A comida era uma droga. O clima

estava uma droga. (Neve em maio? Estavam de sacanagem com a minha cara?)

Meu apartamento na cidade era uma droga. Nada deu certo. Tudo era muito

caro. As pessoas eram grosseiras e tinham um cheiro estranho. Ninguém sorria e

todo mundo bebia demais. Mas eu adorei. Foi uma das minhas viagens

preferidas.

A cultura russa tem uma aspereza que costuma desagradar os ocidentais.

Ficam para trás as falsas simpatias e as cortesias verbais. Ninguém ali sorri para

desconhecidos nem finge gostar de alguma coisa por educação. Na Rússia, se

alguma coisa é ridícula, você diz que é ridícula. Se alguém está sendo babaca,

você diz que está sendo babaca. Se você gosta de alguém e se sente muito feliz

quando está com essa pessoa, você diz a ela que gosta muito dela e que se sente

muito feliz quando está com ela. Mesmo que a pessoa em questão seja um amigo,

um estranho ou alguém que você conheceu há cinco minutos na rua.

Na primeira semana, achei tudo isso muito desconfortável. Fui tomar café

com uma garota russa, e três minutos depois de nos sentarmos ela me olhou de

um jeito estranho e falou que o que eu tinha acabado de dizer era uma idiotice.

Quase engasguei. Não havia nenhum traço de agressividade em sua voz; ela falou

como quem conta um fato trivial — o clima naquele dia ou quanto ela calçava —,

mas mesmo assim fiquei chocado. Afinal de contas, no Ocidente esse tipo de

franqueza é considerado altamente ofensivo, sobretudo vindo de alguém que

você acabou de conhecer. Mas todos agiam assim. Todo mundo parecia grosseiro

o tempo todo, e, como resultado, minha mente ocidental mimada se sentia

atacada por todos os lados. Inseguranças resistentes começaram a vir à tona em

situações em que não apareciam havia anos.

Fui me acostumando à franqueza com o passar das semanas, bem como ao sol

da meia-noite e à vodca que descia como água gelada. Depois comecei a apreciála

pelo que realmente era: expressão pura. Honestidade no sentido mais

verdadeiro da palavra. Comunicação sem cláusulas de condições, sem

parcialidade velada, sem segundas intenções, sem desespero por agradar.

Após anos de viagem, foi ali, no lugar menos americano de todos, que conheci

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