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Para quem está na situação, da perspectiva de cada uma dessas pessoas, são
perguntas extremamente complexas — charadas existenciais embrulhadas em
desafios lógicos e jogadas num balde cheio de cubos mágicos.
Dúvidas videocassete são engraçadas, porque a resposta é difícil para quem
está com a dúvida e facílima para todo o resto do mundo.
O problema é a dor. Preencher a papelada necessária para abandonar o curso
de medicina é uma ação direta e óbvia; lidar com o desapontamento dos pais,
não. Convidar a orientadora para sair é simples, basta uma frase; assumir o risco
de intenso constrangimento e rejeição é muito mais complicado. Pedir que as
pessoas arranjem uma casa para morar é um caminho objetivo; sentir que está
abandonando os filhos é bem diferente.
Eu lutei contra a ansiedade social ao longo da maior parte da minha
adolescência e juventude. Passava os dias jogando videogame e as noites
sufocando a inquietude com álcool e cigarro. Durante muitos anos, achei que
fosse impossível falar com um desconhecido — ainda mais se esse desconhecido
fosse muito bonito ou muito interessante ou muito popular ou muito inteligente.
Foram anos de mesmice e estupor, repetindo as mesmas perguntas videocassete:
Como? Como é que eu simplesmente vou lá e falo com alguém? Como as pessoas
fazem isso?
Eu mantinha todo tipo de crença equivocada sobre o assunto, como a ideia de
que era proibido puxar assunto com alguém a menos que houvesse algum
motivo real para isso, ou de que as mulheres me veriam como um estuprador
simplesmente se eu dissesse um “oi”.
O problema residia em deixar minhas emoções definirem a realidade. Como
eu sentia que as pessoas não queriam falar comigo, passei a acreditar nisso. Daí
veio minha pergunta videocassete: “Como é que eu simplesmente vou lá e falo
com alguém?”
Por não conseguir separar sentimento de realidade, eu era incapaz de mudar
minha perspectiva e ver o mundo como um lugar onde duas pessoas podem se
aproximar a qualquer momento e conversar.
Diante de algum tipo de dor, raiva ou tristeza, muita gente larga tudo e se
concentra em entorpecer o sentimento ruim. O objetivo é voltar a “se sentir