03.02.2020 Views

A Sutil Arte de Ligar o F_da-se - Mark Manson

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

Quando eu era jovem, sempre que minha família comprava um videocassete

ou aparelho de som novo, eu apertava todos os botões e tirava e recolocava todos

os fios e cabos só para ver o que cada parte fazia. Com o tempo, aprendi como o

sistema todo funcionava. E, como eu sabia toda a mecânica, normalmente era o

único da casa a de fato usar os aparelhos.

Como aconteceu com muitos millennials, meus pais achavam que eu era uma

espécie de prodígio. O fato de eu conseguir programar o videocassete sem olhar

o manual de instruções me tornava a reencarnação de Nikola Tesla.

É fácil olhar para a geração dos meus pais e rir da tecnofobia que os acomete.

Hoje, quanto mais avanço na vida adulta, melhor percebo que cada um age de

forma semelhante em algumas áreas da vida — sentamos, olhamos, balançamos a

cabeça e dizemos “Mas como?”, quando a verdade é muito simples.

O tempo todo eu recebo e-mails com perguntas nesse estilo. Por muitos anos,

eu não soube o que responder.

Teve o caso da garota cujos pais imigrantes economizaram a vida inteira para

que ela pudesse estudar medicina. Já na faculdade, ela odiou, descobriu que não

queria ser médica e o que mais queria era ir embora dali. Mas ela se sentia presa.

Tanto que enviou um e-mail para um desconhecido na internet (no caso, eu)

com uma pergunta boba e óbvia: “Como faço para largar a faculdade de

medicina?”

Teve também um cara apaixonado por sua orientadora na faculdade. Ele

sofria a cada suspiro, a cada risada, a cada sorriso dela, a cada brecha na conversa

que lhes permitisse sair de assuntos acadêmicos e contar casos descontraídos. Ele

me enviou por e-mail um arquivo de vinte e oito páginas contando toda essa

novela e concluía com a pergunta: “Como eu a chamo para sair?” E ainda a mãe

solteira cujos filhos terminaram a faculdade e agora ficam o dia todo em casa

coçando o saco, comendo a comida dela, gastando o dinheiro dela, sem respeitar

o espaço nem o desejo de privacidade dela. Essa mulher quer que eles toquem a

vida. Ela quer seguir com a própria vida, mas morre de medo de afastar os filhos,

por isso me pergunta por e-mail: “Como eu peço que eles saiam de casa?”

São perguntas videocassete. Para quem está de fora, a resposta é simples:

respira fundo e se joga.

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!