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solitário, deprimido e doente. Aí decidiu mudar seu estilo de vida. Falava com
uma inveja feroz dos amigos que tinham um relacionamento estável e eram mais
“sossegados”. Mas esse cara nunca mudou de comportamento. Manteve o ritmo
por mais anos e anos, insistindo em noites vazias e garrafas após garrafas.
Sempre com alguma desculpa. Sempre com alguma razão para não diminuir o
ritmo.
Abrir mão do seu estilo de vida ameaçava demais sua identidade. Ele só sabia
ser o Fanfarrão. Desistir daquilo seria cometer um haraquiri psicológico.
Todos temos valores pessoais. Protegemos esses valores. Tentamos viver de
acordo com eles, justificá-los e mantê-los. Mesmo sem perceber, é assim que o
cérebro funciona. Como observado antes, somos injustamente tendenciosos em
relação ao que já sabemos, às nossas certezas. Se eu acreditar que sou um cara
legal, evitarei situações que possam vir a contradizer essa crença. Se acreditar que
sou um ótimo cozinheiro, sempre buscarei oportunidades para provar isso a
mim mesmo. A crença é sempre a prioridade. Até mudarmos a forma como
enxergamos a nós mesmos, o que acreditamos ser e não somos, não temos como
superar a evasão e a ansiedade. Não temos como mudar.
Nesse sentido, “conhecer a si mesmo” ou “se encontrar” pode ser perigoso.
Pode prender você a um papel rígido e colocar expectativas desnecessárias nas
suas costas. Pode fechá-lo para seu potencial interno e para oportunidades
externas.
Quer saber? Não se encontre. Nunca conheça quem você é. Porque é isso que
faz você se empenhar e viver em estado de constante descoberta. Essa postura vai
forçá-lo a ser humilde nos julgamentos e na aceitação das diferenças.
Se mate
Segundo o budismo, a ideia do “eu” não passa de uma construção mental
arbitrária e, por isso, é preciso abandoná-la, porque ela sequer existe. Segundo
essa filosofia, a medida arbitrária pela qual nos definimos é, na verdade, algo que
nos aprisiona, e, portanto, é melhor abrir mão dela. Em certo sentido, daria para
dizer que o budismo nos encoraja a ligar o foda-se.