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persistia para alcançá-lo; visualizava, agia, tolerava as rejeições e fracassos,
levantava-se e tentava de novo. Era implacavelmente positiva. Tinha a si mesma
em alta conta. A mulher alegava curar gatos como Jesus curou Lázaro!
Mas os valores dela eram tão escrotos que nada disso importava. O fato de
fazer tudo “certo” não significava que ela estivesse certa.
A certeza de Erin se recusava a ceder. Ela até já me dissera isso com todas as
letras: que sabia que sua fixação era completamente irracional e insalubre e que
trazia infelicidade para nós dois. Só que, por alguma razão, aquilo lhe parecia tão
certo que ela não conseguia esquecer nem parar.
Em meados da década de 1990, o psicólogo Roy Baumeister começou a
pesquisar a maldade como conceito, analisando pessoas que cometiam atos ruins
e por que os faziam.
Na época, supunha-se que as pessoas faziam maldades porque se sentiam mal
consigo mesmas — ou seja, tinham baixa autoestima. Uma das primeiras
descobertas surpreendentes de Baumeister foi que muitas vezes isso não se
aplicava. Em geral, era o contrário. Alguns dos piores criminosos se sentiam
muito bem consigo mesmos, e era essa sensação boa, apesar da realidade ao
redor, que parecia justificar seus atos de ferir e desrespeitar os outros.
Para que indivíduos justifiquem os próprios atos terríveis, é preciso que
tenham certeza inabalável de sua retidão, suas crenças e seu merecimento.
Racistas fazem o que fazem porque têm certeza de sua superioridade genética.
Fanáticos religiosos dinamitam o próprio corpo e assassinam centenas porque
têm certeza de seu lugar no céu como mártires. Homens estupram e agridem
mulheres porque têm certeza de seu direito sobre o corpo delas.
Pessoas más nunca acreditam que são más; elas acreditam que todos os outros
são maus.
Em experimentos controversos (posteriormente denominados Experimentos
Milgram, em homenagem ao psicólogo Stanley Milgram), pessoas “normais”
foram orientadas a punir voluntários por desrespeitarem regras. Foi o que elas
fizeram, chegando à violência física em certos casos. Raras foram as que fizeram
objeção ou pediram explicação. Muitas até pareceram gostar da sensação de
retidão moral obtida durante o processo.