03.02.2020 Views

A Sutil Arte de Ligar o F_da-se - Mark Manson

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

Consegui contê-la por um tempo, mas não consegui detê-la.

Anos antes de nos conhecermos, Erin tinha quase morrido num acidente de

carro. Ou melhor, ela de fato “morreu” por alguns instantes, fisiologicamente

falando — toda a sua atividade cerebral cessou —, mas, por algum milagre,

conseguiram revivê-la. Depois que “voltou”, tudo mudou, segundo ela. Erin se

tornou uma pessoa muito espiritualizada e mergulhou de cabeça em cura

energética, contato com anjos, consciência universal, tarô. Ela também

acreditava ter se tornado paranormal — capaz de curar e ver o futuro. E, sabe-se

lá por quê, ao me encontrar, chegou à conclusão de que estávamos destinados a

salvar o mundo juntos. A “curar a morte”.

Depois que a bloqueei, ela começou a criar novos endereços de e-mail, às

vezes me enviando uma dúzia de mensagens de ódio num único dia. Criou

contas falsas no Facebook e no Twitter, que usava para atormentar a mim e

pessoas próximas a mim. Criou um site idêntico ao meu e escreveu vários posts

alegando que eu era seu ex-namorado, que a traíra e mentira para ela, que

prometera me casar e que estávamos destinados a ficar juntos. Quando entrei em

contato pedindo que tirasse o site do ar, Erin disse que só faria isso se eu fosse

morar com ela na Califórnia. Essa era sua ideia de acordo.

Ao longo de tudo isso, sua justificativa era a mesma: eu estava destinado a

ficar com ela, Deus havia predeterminado isso, ela literalmente acordava no meio

da noite com a voz dos anjos dizendo que “nossa relação especial” seria o

prenúncio de uma nova era de paz permanente na Terra (juro).

No dia em que estávamos nesse restaurante japonês, já tínhamos trocado

milhares de e-mails. Se eu respondia ou não, se o fazia em tom respeitoso ou com

raiva, não fazia diferença: a psique de Erin era imune a abalos; suas crenças

nunca se alteravam. O problema já se estendia havia mais de sete anos na época.

E foi assim, naquele pequeno restaurante japonês, com Erin entornando

saquê e tagarelando por horas a fio sobre ter curado as pedras nos rins de seu

gato usando energia, que algo me ocorreu: Erin era viciada em

autoaperfeiçoamento. Ela gastava dezenas de milhares de dólares em livros,

seminários e cursos. E a parte mais louca de tudo isso é que ela colocava em

prática perfeitamente todas as lições que aprendia. Erin tinha um sonho e

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!