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A Sutil Arte de Ligar o F_da-se - Mark Manson

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Quando nossa mente processa as experiências, a prioridade é interpretá-las de

forma que sejam coerentes com acontecimentos anteriores, assim como

sentimentos e crenças já conhecidos, mas com frequência passamos por situações

sem correlação entre passado e presente. Em tais ocasiões, o que se passa no

momento se perde diante de tudo que tomamos como verdadeiro e razoável a

respeito do passado. Em nome da coerência, nossa mente pode inventar

lembranças. Ao relacionar as experiências presentes com aquele passado

relembrado, conseguimos manter o significado que já estabelecemos.

Como já notamos antes, a história de Meredith não é única. Muito pelo

contrário: nos anos 1980 e começo dos anos 1990, centenas de pessoas inocentes

foram acusadas injustamente de violência sexual sob circunstâncias parecidas.

Muitas foram presas por isso.

Para aqueles insatisfeitos com a vida, essas explicações sugestivas, combinadas

com a mídia sensacionalista — havia uma epidemia real de abusos sexuais e

violência ritualística se desenrolando, e qualquer pessoa podia ser vítima —,

davam ao inconsciente um incentivo para exagerar ligeiramente as lembranças.

Esse mecanismo fundamentaria o sofrimento do indivíduo, colocando-o no

papel de vítima e isentando-o da responsabilidade. A terapia de memórias

reprimidas agia como um meio de extrair esses desejos inconscientes e moldá-los

na forma de lembranças aparentemente tangíveis.

Esse processo, e o estado de espírito resultante, se tornou tão comum que

ganhou nome: síndrome da falsa memória, e gerou mudanças nos tribunais.

Milhares de terapeutas que utilizavam esse método foram processados e

perderam a licença de trabalho. A terapia da memória reprimida foi substituída

por métodos mais comprovados. Pesquisas recentes só reforçam a dolorosa lição

daquela época: nossas crenças são maleáveis e nossa memória é bem pouco

confiável.

Clichês desagradáveis como “confiar em si mesmo” e “seguir seu coração”

estão por toda parte. Talvez o melhor seja confiar menos em si mesmo. Afinal, se

nosso coração e nossa mente são tão falhos, precisamos questionar ainda mais

nossas intenções e motivações. Se está todo mundo errado o tempo todo, não

seriam o ceticismo e a rigorosa objeção a nossas crenças e suposições o único

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