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Digital e BEPS – Impactos<br />

no setor industrial<br />

Tributação Digital<br />

PEDRO PAIVA<br />

Partner, Tax Services<br />

O setor industrial<br />

debate-se<br />

atualmente com<br />

um conjunto de<br />

desafios associados<br />

a diversas tendências<br />

que decorrem de<br />

um conjunto muito<br />

diversificado de<br />

fatores, que, em<br />

muitos casos, estão<br />

ligados ao ambiente<br />

digital que marca<br />

os nossos dias.<br />

Essas tendências, com algumas diferenças<br />

claras dentro do próprio<br />

setor industrial, vão desde a Indústria<br />

4.0, à necessidade de transformação<br />

de modelos de negócio<br />

em resultado da digitalização da<br />

economia, a uma aceleração do<br />

número de aquisições por parte<br />

de grupos industriais, sobretudo<br />

de empresas tecnológicas que<br />

possam trazer valor acrescentado,<br />

bem como à manutenção do foco<br />

na inovação para continuar a assegurar<br />

crescimentos numa época<br />

em que se perspetiva uma falta de<br />

talento e de recursos adaptados a<br />

estes desafios.<br />

Os diversos stakeholders do setor<br />

estão a ser impactados por todas<br />

estas alterações que sucedem a um<br />

ritmo vertiginoso e que estão a afetar<br />

todo o ecossistema industrial.<br />

A tecnologia, a economia digital, o<br />

desenvolvimento das comunicações<br />

e a cada vez maior mobilidade<br />

do capital e do trabalho estão a<br />

alterar a forma como toda a cadeia<br />

de produção e distribuição, quer<br />

de entidades domésticas, quer de<br />

grupos multinacionais, está organizada.<br />

Por exemplo, no setor automóvel<br />

os construtores começam<br />

a adaptar as suas estratégias a um<br />

maior foco na prestação de serviços<br />

do que no produto (e.g., em resultado<br />

de novos modelos de consumo<br />

como o “car sharing”) sofrendo<br />

pressões em diversos sentidos dos<br />

próprios governos quanto à mobilidade<br />

individual.<br />

Todas estas alterações continuam<br />

a alimentar o debate público que<br />

influenciou a iniciativa BEPS (Base<br />

Erosion and Profit Shifting) da<br />

OCDE. Este debate continua a reflectir<br />

sobre se o enquadramento<br />

fiscal internacional ainda se mostra<br />

adequado a esta nova realidade e<br />

se os grupos empresariais contribuem<br />

com um nível de “fair share”<br />

de pagamento de impostos em<br />

cada jurisdição. A OCDE e a União<br />

Europeia têm tentado contrariar<br />

esta perceção com ações que aumentam<br />

o nível de reporte fiscal<br />

e que reforçam as regras de substância<br />

e de transparência num ambiente<br />

de maior escrutínio.<br />

Paralelamente, e neste âmbito,<br />

há também interesses conflituantes<br />

entre os diferentes países que<br />

igualmente afetam o setor industrial.<br />

Os mercados mais maduros<br />

estão a tentar criar um enquadramento<br />

fiscal que aloque os lucros<br />

às entidades que inovem e que<br />

sejam responsáveis pela tomada<br />

de decisões estratégicas, enquanto<br />

que os mercados emergentes pretender<br />

alocar os lucros à produção<br />

e ao consumo. Esta tensão vai criar<br />

ainda maior complexidade e riscos<br />

do ponto de vista fiscal, dependendo<br />

dos mercados em que grupos<br />

empresariais têm atividade.<br />

Neste contexto, os grupos empresariais<br />

industriais deverão avaliar, à<br />

luz das regras fiscais e do BEPS, a<br />

forma como se encontram organizados,<br />

o que resultará, em muitos<br />

casos, na necessidade de reequacionar<br />

o seu modelo de negócio e<br />

a própria estrutura corporativa e<br />

financeira. A mera escolha do local<br />

em que se colocam os centros de<br />

controlo da manutenção remota de<br />

produtos industriais através de sensores<br />

ou a adaptação das cadeias<br />

de valor de produtos industriais à<br />

economia digital que as torna mais<br />

colaborativas com novos parceiros,<br />

são apenas exemplos de aspetos<br />

que determinam alterações com<br />

impactos fiscais relevantes.<br />

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