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Sci-Fi Fantasy web-zine

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destino não está nas nossas mãos! Agora não posso falar contigo,

encontra-me na cafetaria daqui a meia-hora» e entranha-se no corredor,

deixando-me estupefacto e confundido, perguntando-me por que raio

esperaria um mínimo de racionalidade de uma pessoa que passa as noites

acordada para fotografar as estrelas? Depois ocorre-me que não posso

encontrar-me com ele, tenho uma reunião após o evento, mas já não

consigo avisá-lo.

«EUROPA CHEGOU AO FIM!»

A sala de conferências enche-se de ouvintes interessados, mais do que

os que se esperariam nesta era de vídeo e telepresença. Lanço um olhar

aos monitores que acompanham cada assento e noto que assistem à

mesma notícia, embora me encontre demasiado longe, aqui na cabina

de processamento, e demasiado ocupado para finalmente perceber de

que trata. Vou acompanhar a transcrição automática do discurso para

texto, para corrigir os defeitos da percepção automática e adaptá-lo ao

linguajar das cinco comunas em que sou versado. Dois outros colegas

acompanham-me para cobrir a diversidade linguística do nosso idioma.

Diversidade que, em certos casos, não passa de uma reformulação

gramatical ou substituição do léxico. Que o digam as equipas das

restantes línguas, mais vastas e especializadas. É mais ideológico que

necessário, o respeito extremo pelos regionalismos. Derruba-se o piso

térreo de Babel, ao invés de reforçar as vigas. Anteriormente, as fronteiras

estavam abertas e as vontades separadas por territórios; agora, o território

da vontade unida cria novas e pequeníssimas fronteiras nas quais se

promove a diferença. Disseram-no no passado: dividir para reinar.

Irrita-me e não consigo evitá-lo. Irrita-me mais por ter este emprego e

contribuir para isso.

«EUROPA CHEGOU AO FIM!»

Convenci-me de que iria falar da notícia-mor da actualidade, mas o

orador, Presidente da Conferência sobre o Desenvolvimento Economico-

Social da GEU, um homem demasiado baixo e franzino para suportar

com facilidade um título tão avantajado, abre o debate com outro

assunto. «Assistimos à transformação do que nos propuseramos

melhorar. Assistimos à integração europeia tornar-se lentamente

realidade, ao estabelecimento de uma presença mundial efectiva,

poderosa, com capacidade de intervenção. Assistimos ao encerramento

dos ódios regionais, e até por vezes, locais, em prol de uma identidade

supra-regional, supra-nacional, sem no entanto, e é bom salientar este

ponto, é bom que nunca o esqueçamos, pois trata-se da nossa maior

vitória, sem no entanto, dizia, subjugarmos as culturas locais, pequenas

e frágeis, sem as quebrarmos e aglomerarmos e resultar uma mistura

que, sem sombras de dúvida, seria intragável, sensaborona e real motivo

da nossa vergonha. Penso que é chegado o momento de fazermos o

ponto da situação. Temos mais consciência das forças que nos

condicionam como sociedade. As disciplinas da ciência contribuiram

para ficarmos mais cultos e alertas. Criámos espaços urbanos de

identidade definida, onde o indivíduo pode livremente encontrar o seu

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