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numero 160 AARON SWARTZ - Guerrilheiro da internet livre

Manifesto livre acesso guerrilha Vida, morte e legado de programador e ativista genial, que via no conhecimento compartilhado caminho para superar mesquinhez capitalista

Manifesto livre acesso guerrilha
Vida, morte e legado de programador e ativista genial, que via no conhecimento compartilhado caminho para superar mesquinhez capitalista

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AARON SWARTZ, GUERRILHEIRO DA INTERNET LIVRE

Vida, morte e legado de programador e ativista genial, que via no conhecimento compartilhado

caminho para superar mesquinhez capitalista


MANIFESTO GUERRILHA LIVRE ACESSO

Informação é poder. Mas como qualquer poder, há aqueles que querem mantê-lo para si. Todo o

conhecimento científico e herança cultural, publicada por séculos em livros e jornais vêm sendo cada

vez com mais velocidade digitalizados e trancados por um punhado de corporações privadas. Quer ter

acesso aos mais famosos resultados da ciência? Você terá que pagar enormes quantias para editores

como Reed Elsevier.

Existem aqueles que lutam para mudar isso. O MOVIMENTO ACESSO LIVRE lutou com

valentia para garantir que os cientistas não assinassem suas publicações, mas ao contrário garantir que

seus trabalhos fossem publicados na internet, sob condições que permitem que todos tenham acesso a

isso. Mas, mesmo no melhor cenário, seu trabalho só será aplicado às coisas publicadas no futuro. Todas

as coisas criadas até agora terão sido perdidas.

Esse é um preço muito alto a pagar. Forçar acadêmicos a pagar dinheiro para ler o trabalho de

seus colegas? Escaneando bibliotecas inteiras mas permitindo apenas que as pessoas no google a leiam?

Fornecendo artigos científicos para aquelas universidade de elite no primeiro mundo, mas não para as

crianças do sul do mundo? È ultrajante e inaceitável.

“Eu concordo”, podem dizer, “mas o que podemos fazer? As corporações detém os direitos

legais, eles fazem enormes quantidades de dinheiro cobrando pelo acesso, e isso está dentro da lei – não

há nada que possamos fazer para pará-los.” Mas há algo que podemos fazer, uma coisa que já vem

sendo feita: podemos contratacar.

Aqueles com acesso a essas fontes – estudantes, bibliotecários, cientistas – vocês são

privilegiados. Vocês podem se alimentar desse banquete de conhecimento enquanto o resto do mundo

está trancado do lado de fora. Mas você não precisa – de fato, moralmente, você não pode – manter este

privilégio apenas para vocês. Vocês têm uma obrigação de compartilhar isso com o mundo.

Compartilhando senhas com os colegas e fornecendo downloads pedidos por amigos.

Enquanto isso, aqueles que foram trancados fora não estão esperando à toa. Eles têm rastejado

por buracos e passado por cima de cercas, libertando a informação protegida pelos editores e

compartilhando-a com seus amigos.

Mas toda essa ação segue no escuro, escondida no underground. É chamada roubo ou pirataria,

como se compartilhar conhecimento saudável fosse moralmente equivalente a saquear um navio e matar

sua tripulação. Mas compartilhar não é imoral – é um imperativo moral. Apenas aqueles cegados pela

ganância proibiriam a deixar um amigo fazer uma cópia.

Grandes corporações, claro, são cegadas pela ganância. As leis que elas operam exigem isso –

seus acionistas se revoltariam por muito menos. E os políticos que eles compraram, aprovam leis dando

a eles o direito de decidir com exclusividaade quem pode fazer cópias.

Não há jutiça em seguir leis injustas. Está na hora de sair para a luz e, dentro da grande tradição

da desobediência civi, declarar posição a este roubo particular da cultura pública.

Nós temos que pegar as informações, onde quer que estejam guardadas, fazer nossas cópias e

compartilhá-las com o mundo. Temos que pegar as coisas fora de catálogo e arquivar. Temos que

comprar informações exclusivas e colocá-las na internet. Nós temos que baixar jornais informativos e

colocá-los em redes de compartilhamento. Nós temos que lutar por “GUERRILHA LIVRE ACESSO”.

Com muitos de nós, espalhados no mundo, nós não iremos apenas enviar uma forte mensagem

contra a privatizzação do conhecimento – nós faremos disso coisa do passado. Você se juntará a nós?

2.

Vida, morte e legado de programador e ativista genial, que via no conhecimento compartilhado

caminho para superar mesquinhez capitalista

O (suposto) suicídio do gênio da programação e ativista Aaron Swartz não é somente uma tragédia, mas

um sinal da enorme dimensão do conflito político e ideológico envolvendo defensores de uma Internet livre e

emancipatória, de um lado, e grupos organizados dentro do sistema que pretendem privatizar e limitar o acesso à

produção intelectual humana, de outro. Neste sábado (12/01), colunistas de cultura digital de diversos jornais

escreveram sobre a morte do jovem Swartz, aos 26 anos, encontrado morto em um apartamento de Nova Iorque

(ler os textos de John Schwartz, para o New York Times; Glenn Greenwald, para o The Guardian; Virginia


Heffernan, para o Yahoo News; e Tatiana Mello Dias, para o Estadão). Diante da turbulenta vida do jovem

Swartz e seu projeto político de luta pela socialização do conhecimento, difícil crer que o suicídio tenha

motivações estritamente pessoais, como uma crise depressiva. A morte de Swartz pode significar um alarme para

uma ameaça inédita ao projeto emancipatório da revolução informacional. O sistema jurídico está sendo

moldado por grupos de interesse para limitação da liberdade de cidadãos engajados com a luta de uma Internet

livre. Tais cidadãos são projetados midiaticamente como inimigos desestabilizadores da ordem (hackers). Os

usuários da Internet, sedados e dominados pela nova indústria cultural, pouco sabem sobre o que, de fato, está

acontecendo mundo afora.

A visão pública da Internet do wiz-kid Swartz: os anos de formação

Nascido em novembro de 1986 em Chicago, Aaron Swartz passou a infância e juventude estudando

computação e programação por influência de seu pai, proprietário de uma companhia de software. Aos 13 anos

de idade, foi vencedor do prêmio ArsDigita, uma competição para websites não-comerciais “úteis, educacionais

e colaborativos”. Com a vitória no prêmio, Swartz visitou o Massachusetts Institute of Technology (MIT), onde

conheceu pesquisadores da área de Internet. Aos 14 anos, ingressou no grupo de trabalho de elaboração do

versão 1.0 do Rich Site Summary (RSS), formato de publicação que permite que o usuário subscreva conteúdos

de blogs e páginas (feeds), lendos-o através de computadores e celulares.

Aos 16 anos frequentou e abandonou a Universidade de Stanford, dedicando-se a fundação de novas

companhias, como a Infogami. Aos 17 anos, Aaron ingressou na equipe do Creative Commons, participando de

importantes debates sobre propriedade intelectual e licenças open-sources (ver a participação de Swartz em um

debate de 2003). Em 2006, ingressou na equipe de programadores da Reddit, plataforma aberta que permite que

membros votem em histórias e discussões importantes. No mesmo ano, tornou-se colaborador da Wikipedia e

realizou pesquisas importantes sobre o modo de funcionamento da plataforma colaborativa (ler ‘Who Writes

Wikipedia?‘). Em 2007, fundou a Jottit, ferramenta que permite a criação colaborativa de websites de forma

extremamente simplificada (aqui). Em pouco tempo, Swartz tornou-se uma figura conhecida entre os

programadores e grupos de financiamento dedicados a start-ups de tecnologia. Entretanto, sua inteligência e o

brilhantismo pareciam não servir para empreendimentos capitalistas. Tornar-se rico não era seu objetivo, mas

sim desenvolver ferramentas e instrumentos, através da linguagem de programação virtual, para aprofundar a

experiência colaborativa e de cooperação da sociedade.

Aos 21 anos, Aaron ingressou em círculos acadêmicos (como o Harvard University’s Center for Ethics) e

não-acadêmicos de discussão sobre as transformações sociais e econômicas provocadas pela Internet, tornandose,

aos poucos, uma figura pública e um expert no debate sobre a “sociedade em rede”. O vídeo abaixo, gravado

em São Francisco em 2007, mostra o raciocínio rápido e preciso de Swartz sobre a arquitetura do poder na rede e

as mudanças fundamentais da transição da mídia antes e depois da Internet.

Ativismo cívico e projetos políticos na rede: para além de empresas e lucros

A partir de 2008, Aaron Swartz – um “sociólogo aplicado“, como ele se autodenominava – engajou-se em

uma série de projetos de cunho político, voltados ao ativismo cívico de base (grassroots) e ao compartilhamento

de conteúdo on-line. Dentre eles, destacam-se três projetos específicos: (i) Watchdog, (ii) Open Library e (iii)

Demand Progress.

O Watchdog é um website que permite a criação de petições públicas que possam circular on-line. Tratase

de um projeto não lucrativo, cujo mote é Win your campaign for change. O objetivo é fomentar a prática

cidadã de monitoramento de condutas ilícitas, como se todos fossem “cães de guarda” da democracia. O segundo

projeto, Open Library, pretende criar uma página da web para cada livro já publicado no mundo. O objetivo é

criar uma espécie de “biblioteca universal” com bibliotecários voluntários, sendo possível o empréstimo on-line

de e-books. Trata-se de um projeto sem fins lucrativos, nos quais programadores são responsáveis pelo registro e

criação das páginas (em códigos abertos) para todos os livros (como diz o site: “Open Library é um projeto

aberto: software, dados e documentações são abertos, e sua contribuição é bem-vinda. Você pode corrigir um

erro, acrescentar um livro ou escrever um widget [programa complementar]. Temos uma equipe de

programadores fantástico, que avançaram muito, mas não podemos fazer tudo sozinhos!” (1) . O terceiro e mais

interessante projeto é o Demand Progress, plataforma criada por Swartz para conquistar mudanças progressistas

em políticas públicas (envolvendo liberdades civis, direitos civis e reformas governamentais) para pessoas

comuns através do lobbying organizado de base. A atuação do DP se dá de duas formas: através de campanhas

on-line para chamar atenção das pessoas e contatar líderes do Congresso, e através do trabalho de advocacia

pública em Washington “nas decisões por trás das salas que afetam nossas vidas”.

Em 2008, indignado com a passividade dos cientistas com relação ao controle das informações por

grandes corporações, Swartz publicou um manifesto intitulado Guerilla Open Access Manifesto (Manifesto da

Guerrilha pelo Acesso Livre). Trata-se de um texto altamente revolucionário, que encerra-se com um chamado:

“Não há justiça em seguir leis injustas. É hora de vir à luz e, na grande tradição da desobediência civil, declarar


nossa oposição a este roubo privado da cultura pública. Precisamos levar informação, onde quer que ela esteja

armazenada, fazer nossas cópias e compartilhá-la com o mundo. Precisamos levar material que está protegido

por direitos autorais e adicioná-lo ao arquivo. Precisamos comprar bancos de dados secretos e colocá-los na

Web. Precisamos baixar revistas científicas e subi-las para redes de compartilhamento de arquivos. Precisamos

lutar pela Guerilla Open Access. Se somarmos muitos de nós, não vamos apenas enviar uma forte mensagem de

oposição à privatização do conhecimento – vamos transformar essa privatização em algo do passado” (cf. ‘Aaron

Swartz e o manifesto da Guerrila Open Acess‘).

A força criadora do jovem Aaron Swartz residia em um profundo espírito crítico e questionador. Nesta

entrevista abaixo (sobre o Progressive Change Campaign), Swartz explica como seu ativismo começou: “Eu

sinto fortemente que não é suficiente simplesmente viver no mundo como ele é e fazer o que os adultos disseram

o que você deve fazer, ou o que a sociedade diz o que você deve fazer. Eu acredito que você deve sempre estar

questionando. Eu levo muito a sério essa atitude científica de que tudo que você aprende é provisório, tudo é

aberto ao questionamento e à refutação. O mesmo se aplica à sociedade. Eu cresci e através de um lento processo

percebi que o discurso de que nada pode ser mudado e que as coisas são naturalmente como são é falso. Elas não

são naturais. As coisas podem ser mudadas. E mais importante: há coisas que são erradas e devem ser mudadas.

Depois que eu percebi isso, não havia como voltar atrás. Eu não poderia me enganar e dizer ‘Ok, agora vou

trabalhar para uma empresa’. Depois que percebi que havia problemas fundamentais os quais eu poderia

enfrentar, eu não podia mais esquecer isso”. Nesta entrevista, Aaron (aos 22 anos), esclarece que livros como

Understanding Power (de Noam Chomsky) foram fundamentais para compreender os problemas sistêmicos da

sociedade contemporânea. Todavia, a situação não é imodificável. O primeiro passo é acreditar que é possível

fazer algo.

A luta e a resposta do sistema: do movimento Anti-SOPA à batalha judicial do JSTOR

No final de 2010, Aaron Swartz identificou uma anomalia procedimental com relação a uma nova lei de

copyright, proposta por integrantes dos partidos republicanos e democratas em setembro daquele ano. A lei havia

sido introduzida com apoio majoritário, com um lapso de poucas semanas para votação. Obviamente, segundo o

olhar crítico de Swartz, havia algo por trás desta lei. O objetivo camuflado era a censura da Internet.

A partir da união de três amigos, Swartz formulou uma petição on-line para chamar a atenção dos

usuários da Internet e de grupos políticos dos Estados Unidos. Em dias, a petição ganhou 10 mil assinaturas. Em

semanas, mais de 500 mil. Com a circulação da petição, os democratas adiaram a votação do projeto de lei para

uma analise mais profunda do documento. Ao mesmo tempo, empresas da Internet como Reddit, Google e

Tumblr iniciaram uma campanha maciça para conscientização sobre os efeitos da legislação (a lei autorizaria o

“Departamento de Justiça dos Estados Unidos e os detentores de direitos autorais a obter ordens judiciais contra

sites que estejam facilitando ou infringindo os direitos de autor ou cometendo outros delitos e estejam fora da

jurisdição estadunidense. O procurador-geral dos Estados Unidos poderia também requerer que empresas

estadunidenses parem de negociar com estes sites, incluindo pedidos para que mecanismos de busca retirem

referências a eles e os domínios destes sites sejam filtrados para que sejam dados como não existentes”, como

consta do Wikipedia).

Em outubro de 2011, o projeto foi reapresentado por Lamar Smith com o nome de Stop Online Piracy

Act. Em janeiro de 2012, após um intenso debate promovido na rede, a mobilização de base entre ativistas

chamou a atenção de diversas organizações, como Facebook, Twitter, Google, Zynga, 9GAG, entre outros. Em 18

de janeiro, a Wikipedia realizou um blecaute na versão anglófona, simulando como seria se o website fosse

retirado do ar (cf. ‘Quem apagou as luzes em protesto à SOPA?‘ e ‘O apagão da Wikipedia‘). A reação no

Congresso foi imediata e culminou na suspensão do projeto de lei. Vitória do novo ativismo cívico? Para Swartz,

sim. Uma vitória inédita que mostrou a força da população e da mobilização possível na Internet. Mas não por

muito tempo. Em um discurso feito em maio de 2012 — que merece ser visto com muita atenção –, Aaron foi

claro: o projeto de lei para controlar a Internet irá voltar, com outro nome e outro formato, mas irá voltar…

Mas não foi somente através da liderança no movimento de peticionamento on-line que culminou nos

protestos contra o SOPA que Swartz chamou a atenção das autoridades estadunidenses. Em 2008, ele foi

investigado pelo FBI por ter baixado milhões de documentos públicos do Judiciário mantidos pela empresa Pacer

(que cobra pelo acesso a documentos públicos!). A investigação, entretanto, não resultou em processo criminal

ou civil.

O processo kafkiano que pode estar relacionado com a morte de Swartz teve início em julho de 2011,

quando o ativista foi processado por “fraude eletrônica, fraude de computador, de obtenção ilegal de informações

a partir de um computador protegido”, a partir de uma acusação da companhia JSTOR – uma das maiores

organizações de compilação e acesso pago a artigos científicos. Aaron programara um dos computadores

públicos do Massachussets Institute of Technology (MIT) para acessar o banco de dados da JSTOR e fazer

download de artigos científicos de diversas áreas do conhecimento. Em poucos dias, baixou mais de 4 milhões


de artigos científicos (e não se sabe qual era seu plano inicial, ou seja, de que modo ele pretendia publicar esses

documentos de acordo com a tese do open acess movement). Pelo fato de Swartz ter feito o download de muitos

documentos ao mesmo tempo (mas o acesso pelo computador da instituição não permite isso?), foi processado

por fraude eletrônica e obtenção ilegal de informações.

O sentido de um processo kafkiano (referente ao Processo da obra literária de Franz Kafka) deve ser

melhor explicado. A questão é que Aaron Swartz não cometeu, a princípio, nenhum ato ilícito (ele poderia fazer

o download de artigos científicos como qualquer acadêmico logado a uma máquina com acesso ao JSTOR pode).

E mesmo depois de acusado, entregou-se à Justiça e afirmou que não tinha intenção de lucrar com o ato. Diante

do aviso de que a distribuição dos arquivos infringiria leis nacionais, Aaron devolveu os arquivos digitalizados

para a JSTOR, que retirou a ação judicial de caráter civil. Ou seja: caso encerrado, correto?

Errado. Após o acordo entre Aaron e a JSTOR, a Promotoria de Justiça de Boston, através da US

Attorney Carmen Ortiz, indiciou Aaron Swartz por diversas ofensas criminais, pedindo a condenação do ativista

em 35 anos de prisão (sic!) e o pagamento de 1 bilhão de dólares de multa. O processo penal teve início, sendo

oferecida a Swartz a oportunidade de fazer um acordo penal que reconhecesse sua culpa (plead guilty).

Irredutivelmente — mesmo sendo aconselhado por alguns advogados a agir em sentido contrário –, Swartz

recusou-se a declarar-se culpado, por não considerar seus atos como ilícitos. Mesmo com a intervenção da

JSTOR, que reconheceu não se sentir prejudicada pelos atos de Swartz, a Promotoria continuou a amedrontá-lo.

O processo penal — extremamente custoso nos Estados Unidos — esvaziou suas poucas reservas financeiras e

gerou um enorme trauma psicológico. O julgamento da ação penal estava marcado para abril de 2013 e Aaron

Swartz recusava-se a comentar o assunto em entrevistas, palestras e eventos. Alguns especulam que o suicídio

está ligado com o processo penal, considerado por muitos como uma resposta do governo dos Estados Unidos

contra o ativismo libertário de Aaron. Na opinião de Greenwald, o colunista do Guardian, ele “foi destruído por

um sistema de ‘justiça’ que dá proteção integral aos criminosos mais ilustres — desde que sejam integrantes dos

grupos mais poderosos do país, ou úteis para estes –, mas que pune sem piedade e com dureza incomparável que

não tem poder e, em especial, quem desafia o poder”.

Até o momento, não há cartas ou posts de Swartz sobre o assunto. Não há, aliás, confirmação concreta de

que houve suicídio (ou se foi uma morte herzogiana, comum na história brasileira). Trata-se de um grande

mistério. Para a família de Swartz, uma coisa é clara: se houve suicídio, o bullying judicial realizado pelo

Judiciário estadunidense foi um fator que levou o jovem ativista a encerrar a própria vida, em um sinal de

protesto contra todo o injusto sistema.

As lições de um jovem revolucionário

Há muito o que extrair das falas, dos textos e das ações do gênio da informática Aaron Swartz. Ativista

político, sociólogo aplicado, defensor da Internet livre, criador de mecanismos de compartilhamento de dados e

crítico da forma como a sociedade global está se estruturando contra as liberdades básicas, Swartz deixa aos

jovens da era da Internet um forte recado revolucionário: a mudança começa em cada um. Todo indivíduo possui

autonomia para pensar e contestar o que está posto. Além de contestar, a ação colaborativa pode modificar as

instituições existentes em uma perspectiva pós-capitalista. O conhecimento pode ser compartilhado, softwares

podem ser desenvolvidos em conjunto e projetos podem ser executados com o financiamento coletivo.

Informação é poder. Swartz enxergou muito além do que seus contemporâneos e tentou mobilizar os

usuários de Internet para construção de um outro mundo. Infelizmente, não foi apoiado da forma como

precisava. A reverberação de suas ideias e suas ações ainda é muito fraca. Mas isso não é motivo para

desistência. A brevíssima vida deste jovem estadunidense pode inspirar corações e mentes. Em tempos de

discussão no Brasil sobre o Marco Civil da Internet, corrupção da política e agigantamento do Judicário, o

resgate a seu pensamento é necessário. Ainda mais em um país que conta com mais de 80 milhões de usuários de

Internet. A questão é saber se as pessoas terão curiosidade e interesse em compreender o projeto de vida de

Swartz ou se irão continuar lendo matérias produzidas por corporações interessadas na limitação da liberdade na

Internet.

Eu fico com o projeto de Swartz. Aliás, fique livre para copiar esse texto.

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