Inteligencia-emocional-Daniel-Goleman

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15.01.2020 Views

raiva ainda. Ela descobriu que, quando as pessoas falavam dasvezes em que haviam descontado sua raiva na pessoa que aprovocara, o verdadeiro efeito era mais um prolongamento doestado de espírito que o seu fim. Muito mais efetivo era quandoas pessoas primeiro esfriavam e, depois, de uma maneira maisconstrutiva ou assertiva, enfrentavam a outra para acertar adesavença. Como certa vez ouvi dizer Chogyam Trungpa, ummestre tibetano, quando lhe perguntaram como melhor controlara raiva:— Não a elimine. Mas não aja com base nela.O “RELAX” DA ANSIEDADE: COMO? EU ME PREOCUPAR?Oh, não, o silencioso está com um som estranho... Ese eu tiver de levá-lo pra oficina?... Não posso arcarcom a despesa... Teria de tirar o dinheiro da poupançado Jamie... E se eu não puder pagar a escola dele?... Oboletim escolar ruim na semana passada... E se ele nãoentrar para a universidade?... O silencioso está com umsom estranho...E assim a mente preocupada continua a girar numinterminável círculo de melodrama barato, um conjunto depreocupações levando ao seguinte e voltando ao começo. Oexemplo acima é apresentado por Lizabeth Roemer e ThomasBorkovec, psicólogos da Universidade do Estado da Pensilvânia,cuja pesquisa sobre a preocupação — núcleo de toda ansiedade— elevou a arte do neurótico ao nível científico.10 É evidenteque não há mal quando a preocupação funciona; tentandoresolver um problema — ou seja, empregando a reflexãoconstrutiva, que pode parecer preocupação —, talvez surja asolução. Na verdade, a reação que se esconde sob apreocupação é a vigilância para detectar perigos potenciais, oque, sem sombra de dúvida, tem sido essencial para asobrevivência no curso da evolução. Quando o medo dispara océrebro emocional, parte da ansiedade resultante fixa a atençãona ameaça direta, forçando a mente a obcecar-se sobre comotratá-la e a ignorar tudo mais que ocorra naquele momento. Apreocupação é, num certo sentido, uma antecipação daocorrência de um fato desagradável e de como lidar com isso; opapel da preocupação é o de projetar soluções positivas paraos perigos da vida, prevendo-os antes que surjam.O que é problema são as preocupações crônicas, aquelasque se repetem eternamente e nunca se aproximam de umasolução positiva. Uma análise cuidadosa da preocupação

crônica sugere que ela tem todos os atributos de um seqüestroemocional de baixa intensidade: as preocupações parecemsurgir do nada, são incontroláveis, geram um rumor constante deansiedade, são imunes à razão e prendem aquele que sepreocupa numa única e inflexível visão do tema que opreocupa. Quando esse mesmo ciclo de preocupação seintensifica e persiste, beira o limite de seqüestros neuraiscompletos, as perturbações da ansiedade: fobias, obsessões ecompulsões, ataques de pânico. Em cada uma dessasperturbações, a preocupação se dirige a focos distintos; para ofóbico, as ansiedades giram em torno da situação temida; para oobsessivo, fixa-se em prevenir alguma temida calamidade; nosataques de pânico, a preocupação se concentra num medo demorrer ou na perspectiva de ter uma crise de pânico.Em todas essas condições, o denominador comum é apreocupação exagerada. Por exemplo, uma mulher emtratamento de uma perturbação obsessivo-compulsiva cumpriauma série de rituais que duravam a maior parte do dia: banhosde chuveiro de 45 minutos várias vezes, lavagem das mãosdurante cinco minutos vinte ou mais vezes. Não se sentava semantes esfregar o assento com álcool para esterilizá-lo.Tampouco tocava numa criança ou animal — ambos eram“sujos demais”. Todas essas compulsões eram causadas por umsubjacente medo mórbido de germes; ela se preocupavaconstantemente pensando que, sem essas lavagens eesterilizações, pegaria uma doença e morreria.11Uma mulher em tratamento do “distúrbio de ansiedadegeneralizada” — nomenclatura psiquiátrica para a preocupaçãocrônica —, atendendo ao pedido para falar de sua preocupaçãodurante um minuto, o fez da seguinte maneira:Talvez eu não faça direito. Talvez saia tão artificialque não seja uma indicação do verdadeiro problema, ea gente precisa chegar ao verdadeiro problema... Poisse a gente não chegar ao verdadeiro problema, eu nãovou ficar boa. E se não ficar boa, eu nunca vou serfeliz.12Nessa virtuosística exibição de preocupação com apreocupação, o simples pedido de preocupar-se por um minutoelevou-se, em milésimos de segundos, à previsão de umacatástrofe para o resto da vida. “Eu nunca vou ser feliz.” Aspreocupações seguem, em geral, essas linhas, um monólogo quevai saltando de preocupação em preocupação e, na maioria dasvezes, inclui catastrofização, a imaginação de alguma tragédia

raiva ainda. Ela descobriu que, quando as pessoas falavam das

vezes em que haviam descontado sua raiva na pessoa que a

provocara, o verdadeiro efeito era mais um prolongamento do

estado de espírito que o seu fim. Muito mais efetivo era quando

as pessoas primeiro esfriavam e, depois, de uma maneira mais

construtiva ou assertiva, enfrentavam a outra para acertar a

desavença. Como certa vez ouvi dizer Chogyam Trungpa, um

mestre tibetano, quando lhe perguntaram como melhor controlar

a raiva:

— Não a elimine. Mas não aja com base nela.

O “RELAX” DA ANSIEDADE: COMO? EU ME PREOCUPAR?

Oh, não, o silencioso está com um som estranho... E

se eu tiver de levá-lo pra oficina?... Não posso arcar

com a despesa... Teria de tirar o dinheiro da poupança

do Jamie... E se eu não puder pagar a escola dele?... O

boletim escolar ruim na semana passada... E se ele não

entrar para a universidade?... O silencioso está com um

som estranho...

E assim a mente preocupada continua a girar num

interminável círculo de melodrama barato, um conjunto de

preocupações levando ao seguinte e voltando ao começo. O

exemplo acima é apresentado por Lizabeth Roemer e Thomas

Borkovec, psicólogos da Universidade do Estado da Pensilvânia,

cuja pesquisa sobre a preocupação — núcleo de toda ansiedade

— elevou a arte do neurótico ao nível científico.10 É evidente

que não há mal quando a preocupação funciona; tentando

resolver um problema — ou seja, empregando a reflexão

construtiva, que pode parecer preocupação —, talvez surja a

solução. Na verdade, a reação que se esconde sob a

preocupação é a vigilância para detectar perigos potenciais, o

que, sem sombra de dúvida, tem sido essencial para a

sobrevivência no curso da evolução. Quando o medo dispara o

cérebro emocional, parte da ansiedade resultante fixa a atenção

na ameaça direta, forçando a mente a obcecar-se sobre como

tratá-la e a ignorar tudo mais que ocorra naquele momento. A

preocupação é, num certo sentido, uma antecipação da

ocorrência de um fato desagradável e de como lidar com isso; o

papel da preocupação é o de projetar soluções positivas para

os perigos da vida, prevendo-os antes que surjam.

O que é problema são as preocupações crônicas, aquelas

que se repetem eternamente e nunca se aproximam de uma

solução positiva. Uma análise cuidadosa da preocupação

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