Inteligencia-emocional-Daniel-Goleman

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15.01.2020 Views

como um modelo da segunda maneira de desescalar a ira:esfriar psicologicamente, esperando que passe o surto adrenal,num ambiente não propício à alimentação da ira. Numadiscussão, por exemplo, isso significa afastar-se, naquele exatomomento, da outra pessoa. No período de esfriamento, a pessoairada pode frear o ciclo de crescente pensamento hostil,buscando distrações. Zillmann constata que a distração é umpoderosíssimo artifício moderador do estado de espírito, por umsimples motivo: é difícil continuar zangado quando estamos nosdivertindo. O segredo, claro, é, em primeiro lugar, esfriar araiva a ponto de a pessoa poder divertir-se.A análise, feita por Zillmann acerca de como a raivaaumenta e diminui, explica muito das constatações de DianeTice sobre as estratégias que as pessoas comumente dizem usarpara aliviá-la. Uma delas, que é bastante eficaz, consiste em daruma volta para ficar só, enquanto esfria. Muitos homens dão essavolta de carro — um achado da pesquisa que serve de alertapara quando estivermos dirigindo (e que, disse-me Diane, ainspirou a dirigir com mais atenção). Talvez a alternativa maissegura seja sair para uma longa caminhada; o exercício ativotambém ajuda em casos de raiva. O mesmo efeito é obtidoatravés de métodos de relaxamento do tipo inspirar fundo erelaxar a musculatura, talvez porque essas medidas alterem afisiologia corporal, da alta estimulação provocada pela raiva aum estado de baixa estimulação, e talvez também porqueretirem a atenção do que tenha desencadeado a raiva. Oexercício ativo pode esfriar a raiva por algo do mesmo motivo:após altos níveis de ativação fisiológica durante o exercício, ocorpo recai para um baixo nível assim que pára.Mas um período de esfriamento não funcionará se essetempo for usado para prosseguir na cadeia de pensamento queinduz à raiva, uma vez que cada um desses pensamentos é, emsi, um disparador menor de outras cascatas de raiva. O poderda distração está em interromper essa cadeia. Em sua pesquisasobre as estratégias utilizadas pelas pessoas para o controle daira, Diane Tice constatou que, em geral, as distrações ajudam aacalmá-la: TV, cinema, leitura e coisas do gênero interferem nospensamentos furiosos que alimentam a raiva. Mas ela constatouque se entregar a prazeres como fazer comprinhas e comernão produzem muito efeito; é muito fácil permanecer numacadeia de pensamento indignado enquanto se passeia numshopping center ou quando se devora uma fatia de bolo dechocolate.A essas estratégias, acrescentam-se aquelas criadas por

Redford Williams, psiquiatra da Duke University que buscouajudar pessoas hostis, as quais correm maior risco de contrairdoenças cardíacas, a controlar suas irritabilidades.7 Uma de suasrecomendações é usar a autoconsciência para captarpensamentos cínicos ou hostis, assim que surjam, e anotá-los.Agindo desta forma, é possível que esses pensamentos sejamcontestados e reavaliados, embora, como constatou Zillmann,esse método funcione melhor antes que a raiva se transformeem fúria.A falácia da catarseTão logo entro num táxi em Nova York, um jovem queatravessa a rua pára na frente do carro para esperar umabrecha no trânsito. O motorista, impaciente, buzina e gesticulapara que ele saia da frente. A resposta é uma cara feia e umgesto obsceno.— Seu filho-da-puta! — berra o motorista, com arrancosameaçadores, usando o acelerador e o freio ao mesmo tempo.Diante dessa ameaça letal, o rapaz se afasta mal-humoradoe esmurra o carro, que avança, centímetro a centímetro, notrânsito. O motorista berra-lhe uma enxurrada de palavrões.Quando nos afastamos, o taxista, visivelmente ainda agitado,me diz:— Não se deve levar desaforo pra casa. Tem que devolver...pelo menos isso faz a gente se sentir melhor.A catarse — o dar vazão à raiva — é, às vezes, louvadacomo um meio de controlar a raiva. Dizem que “faz a gente sesentir melhor”. Mas, como sugerem as constatações de Zillmann,há um argumento contra a catarse. Tem sido usado desde adécada de 1950, quando psicólogos começaram a testarexperimentalmente os seus efeitos e descobriram que, muitasvezes, dar vazão à raiva não funcionava ou funcionava muitopouco para eliminá-la (embora, devido à natureza sedutora dosentimento, possa dar a sensação de satisfação).8 Pode haveruma condição específica na qual soltar a raiva funcione: quandoela é expressa diretamente à pessoa visada, quando devolve osenso de controle ou corrige uma injustiça, ou quando inflige o“dano certo” à outra pessoa e faz com que ela modifiquealguma atividade ofensiva sem fazer retaliação. Mas, devido ànatureza incendiária da raiva, isso pode ser mais fácil na teoriado que na prática.9Diane Tice constatou que dar vazão à raiva é uma daspiores maneiras de esfriar: as explosões de raiva geralmenteinflam o estímulo do cérebro, deixando as pessoas com mais

Redford Williams, psiquiatra da Duke University que buscou

ajudar pessoas hostis, as quais correm maior risco de contrair

doenças cardíacas, a controlar suas irritabilidades.7 Uma de suas

recomendações é usar a autoconsciência para captar

pensamentos cínicos ou hostis, assim que surjam, e anotá-los.

Agindo desta forma, é possível que esses pensamentos sejam

contestados e reavaliados, embora, como constatou Zillmann,

esse método funcione melhor antes que a raiva se transforme

em fúria.

A falácia da catarse

Tão logo entro num táxi em Nova York, um jovem que

atravessa a rua pára na frente do carro para esperar uma

brecha no trânsito. O motorista, impaciente, buzina e gesticula

para que ele saia da frente. A resposta é uma cara feia e um

gesto obsceno.

— Seu filho-da-puta! — berra o motorista, com arrancos

ameaçadores, usando o acelerador e o freio ao mesmo tempo.

Diante dessa ameaça letal, o rapaz se afasta mal-humorado

e esmurra o carro, que avança, centímetro a centímetro, no

trânsito. O motorista berra-lhe uma enxurrada de palavrões.

Quando nos afastamos, o taxista, visivelmente ainda agitado,

me diz:

— Não se deve levar desaforo pra casa. Tem que devolver...

pelo menos isso faz a gente se sentir melhor.

A catarse — o dar vazão à raiva — é, às vezes, louvada

como um meio de controlar a raiva. Dizem que “faz a gente se

sentir melhor”. Mas, como sugerem as constatações de Zillmann,

há um argumento contra a catarse. Tem sido usado desde a

década de 1950, quando psicólogos começaram a testar

experimentalmente os seus efeitos e descobriram que, muitas

vezes, dar vazão à raiva não funcionava ou funcionava muito

pouco para eliminá-la (embora, devido à natureza sedutora do

sentimento, possa dar a sensação de satisfação).8 Pode haver

uma condição específica na qual soltar a raiva funcione: quando

ela é expressa diretamente à pessoa visada, quando devolve o

senso de controle ou corrige uma injustiça, ou quando inflige o

“dano certo” à outra pessoa e faz com que ela modifique

alguma atividade ofensiva sem fazer retaliação. Mas, devido à

natureza incendiária da raiva, isso pode ser mais fácil na teoria

do que na prática.9

Diane Tice constatou que dar vazão à raiva é uma das

piores maneiras de esfriar: as explosões de raiva geralmente

inflam o estímulo do cérebro, deixando as pessoas com mais

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